1. Spirit Fanfics >
  2. Xeque-Mate >
  3. Obsessão

História Xeque-Mate - Obsessão


Escrita por: ShewantsCamz

Notas do Autor


Olá, meus anjos!

Nem demorei dessa vez, viu? Obrigada a todo mundo que tem paciência e compreende minha rotina tão cheia. Todo tempinho que tenho livre, estou usando pra escrever.

Bom, antes de começar esse capítulo, queria chamar a atenção de vocês para algo importante. Queria pedir a ajuda de vocês, todos os leitores, em benefício de uma causa séria. Uma família de Belo Horizonte, perdeu a casa em um incêndio, ficando em uma situação bem complicada. A Gabriele, fez uma vakinha para arrecar fundos e ajudar essas pessoas que perderam absolutamente tudo. Dessa forma, quem puder ajudar, com a quantia que for, será muito bem aproveitada por essas pessoas que nesse momento estão precisando. Para entender melhor, vou colocar o link do tweet aqui abaixo, ela conta melhor. Então, de verdade, quem puder ajudar, com qualquer quantia, será muito bem vinda! Vamos ajudar eles a recomeçar!
O Twitter dela é: @jaguarscrazy

Link: https://twitter.com/jaguarscrazy/status/919962443287355392

Agora vamos ao nosso capítulo. Espero que gostem bastante!

Capítulo 36 - Obsessão


- Está gostando de suas novas acomodações, rei?

Minha voz soou firme e maliciosa, ecoando por aquele cômodo tão pequeno. Eu não conseguia evitar o sorriso que enfeitava minha boca. Era incrível o efeito que aquele momento me causava. Naquele instante, eu me sentia revigorada em poder desfrutar de uma grande realização como aquela. Christopher virou o rosto em minha direção, com uma expressão desacreditada por me ver ali. Ele tinha a testa franzida, estreitando aquele par de olhos claros em minha direção, evidenciando as olheiras de uma noite mal dormida. Ainda trajava uma blusa social, agora totalmente amassada, e descompensada. Incrível como a primeira noite em uma cela lhe caía perfeitamente bem, para mim, é claro.

- Como ousa aparecer aqui? – Esbravejou ao se aproximar das grades.

As mãos do empresário seguravam as barras de ferro com força, enquanto seu rosto se alinhava na direção do meu. Eu estava parada de frente para ele, fitando cada mínimo detalhe daquela cena, em uma tentativa de guardar como uma recordação preciosa. Christopher me encarava com fúria, com ódio. Eu via nitidamente em suas pupilas negras, envolvidas por aquele azul intenso.

- Achou mesmo que eu iria perder esse momento? – Indaguei com um sorriso.

Eu vi o maxilar dele trincar, ao mesmo tempo que suas narinas inflaram. Ele apertou com mais força as barras de ferro, a ponto de fazer as juntas de seus dedos esbranquiçarem.

- Esperei muitos anos para realizar esse momento, e não poderia simplesmente perder a oportunidade de me deliciar dessa vitória.

- Vagabunda! – Ele bateu com força contra o ferro. – Isso não vai ficar assim, se está achando que vai sair ilesa desse seu joguinho, está muito enganada.

Rolei os olhos de forma entediante, enquanto brincava com a ponta de meu cabelo, enrolando lentamente ao redor do indicador.

- Ai, querido! Não se estresse dessa forma, vai lhe fazer mal. Não deveria ficar tão irritado ao receber sua bela esposa, sabia? Muitos aqui adorariam me receber. – Meu tom de voz carregava um sarcasmo exagerado.

- Só se quiserem serem levados para o inferno. Você é um demônio!

- Adoro quando você me elogia, Chris. Me sinto ainda mais... – me fiz de pensativa, antes de voltar meus olhos para ele. – Poderosa.

- Não cante vitória antes do tempo, Camila. Eu posso virar esse jogo. – Murmurou de forma intensa.

Deixei que uma risada escapasse de minha boca, enquanto recuava alguns passos. Ele achava mesmo que ainda poderia fazer algo contra mim? Collins realmente não sabia com quem estava lidando, sabia?

- Está me ameaçando, meu bem? Se eu fosse você, tomava muito cuidado com o que fala. – Disse, enquanto caminhava lentamente de um lado para o outro. – Você não me conhece, Christopher. Não faz ideia de quem eu sou, e do que eu posso ser. Durante todos esses anos, tudo que você viu não passa de uma atuação. Ou acha mesmo que eu sou tão ingênua e manipulável por um merda como você?

Ele inseriu o braço entre uma brecha e outra da grade, em uma tentativa de me puxar para mais perto. Olhei para seu braço que se mexia de um lado para o outro, com um olhar esnobe e superior.

- Tsc, tsc. Não tente me agredir, isso vai aumentar sua ficha criminal. Que modéstia parte está linda para passar o resto da sua vida miserável na cadeia.

- Desgraçada, eu vou acabar com sua vida! – Gritou.

- Chega de desse showzinho barato. Você não pode fazer nada contra mim! – Desdenhei. - Não sabe a satisfação que sinto por vê-lo aqui. Eu esperei cada segundo por esse momento, e nossa! É mais prazeroso do que qualquer noite de sexo que tive com você.

A expressão feita por Christopher me rendeu uma boa gargalhada. Ele não conseguia reagir, não como eu sinto que gostaria. Talvez o impacto de ver minha verdadeira face; audaciosa, imponente, e cínica, lhe tirava as forças. Afinal, estava acostumado a mulherzinha obediente, que cumpria suas ordens como uma perfeita idiota.

Imbecil.

- Cala a boca! Cala a porra da boca! – Gritou ao bater com força nas grades da cela.

- Não gosta de ouvir as verdades? – Perguntei com um sorriso.

- Você está querendo me deixar louco. Eu não quero ouvir você! – Esbravejou.

- Nada disso, agora vai ouvir. Não está curioso em saber como foi feito de otário esse tempo todo? Eu faço questão de contar. – Me aproximei das grades, enquanto ele virava de costas para mim.

Notava-se facilmente como ele estava perturbado com minha presença, e confesso, aquilo me impulsionava a continuar. Eu queria poder descontar tudo, absolutamente tudo que um dia senti por culpa dele. Queria que Christopher Collins pudesse se sentir tão derrotado e sozinho como um dia me senti.  

- Eu não quero saber, saia daqui agora! – Ele levou as mãos à cabeça.

- Achou mesmo que conseguiria uma mulher tão boa como eu? Com aquele papo sem graça e esse sexo ruim? Você pode conseguir uma lesada, como Keana, mas eu não. Sou demais para você, rei. Se é que podemos chamar de rei... – deslizei os dedos de uma barra a outra, bem devagar. – Eu pesquisei sobre sua vida, eu vi cada mínimo detalhe do ser medíocre que você é. Eu estudei você por meses e meses, para enfim lhe encontrar. Você caiu tão facilmente... – uma risada baixa deixou minha boca. – Lembro do seu olhar galante e deslumbrado em minha direção.

Christopher respirava fundo, enquanto mantinha as costas viradas para mim.

- Como se sente? Como se sente sabendo que eu manipulei você durante todos esses anos?

As palavras deixavam minha boca com tamanha satisfação, que eu poderia sentir meu corpo inteiro vibrar com aquele momento. Finalmente eu poderia expor o que guardei durante tanto tempo. Por fim, ele sentiria o gosto amargo daquela derrotada, causada por mim.

- Eu usei você. – Sussurrei com um sorriso. - Os últimos anos de sua vida até agora foram minuciosamente articulados por mim. Eu adentrei no seu reino, e criei a minha fortaleza.

O homem negou com a cabeça repetidas vezes, como se tentasse afastar aquela voz de sua cabeça. Estava enlouquecendo.

- Não... – Protestou em um sussurro.

- Não precisei de um exército para lhe derrotar, Christopher. Eu só precisei das pessoas certas, e sobretudo, das melhores estratégias. – Eu sorri assim que ele voltou seus olhos em minha direção. – Inteligência, eu não sei se você sabe o que é isso.

- Como pude me deixar levar assim... – murmurou ele encarando-me. – Como deixei você entrar na minha vida? Maldita!

Ele engoliu em seco, estava suando. Eu poderia ver as gotículas de suor escorrerem por sua testa.

- Não pense que foi fácil para mim. Tem ideia dos anos torturantes que eu tive? Viver ao seu lado era um castigo. Um castigo diário que suportei friamente para degustar desse momento. – Ergui os braços, dando ênfase ao lugar em que estávamos. -  Ainda sinto nojo de mim mesma por ter me entregado a você, mas sou capaz de superar tal desgraça em minha vida.

- Quem mais está ao seu lado? Além daquela policialzinha vagabunda.

- Não interessa. Meu reino é feito apenas de uma rainha. – Retruquei firmemente.

Eu não queria envolver Lauren, por mais que soubesse que Christopher não era tão inocente em isentar o poder de Lauren em sua derrocada. Não queria que ela se tornasse um alvo, isso não.

- Ela esteve do seu lado esse tempo todo? Estava se deitando com ela? Fala, desgraçada! Ela pode perder esse cargo na polícia, sabe disso, não é? Pode ser presa, como você também pode.

- Você não tem como provar nada, meu bem. – Eu sorri. – De acordo com a situação atual, o único bandido que está atrás das grades aqui é você. Não há nada que consiga fazer. E espero que não tente, acho que já provei que posso ser pior.

- Eu vou... – Ele fechou o punho com força.

- Uh, não se altere tanto, meu amor. Sabe que odeio lhe ver tão exaltado. Quer que eu pegue um calmante? – Indaguei irônica.  – Está tão acostumado com eles em seus dias.

Christopher fechou os olhos, e piscou mais vezes do que o normal. Eu poderia jurar que a bagagem de memorias inundavam seus pensamentos agora. Que todas peças se encaixavam como um quebra-cabeça finalizado. Para ele, agora tudo fazia sentido.

- Você... – Ele murmurou quase sem voz. – Então era você! Me dopou esse tempo todo, vagabunda! Por Deus...

O homem avançou contra a grade residente, inserindo os braços entre as brechas em uma tentativa ineficaz de me capturar.

- Oh, fui tão boazinha, lhe fiz dormir tantas e tantas noites, e é assim que me trata?

 Me fiz de ofendida, enquanto repousava a mão sobre o peito.

- Vai me dizer que não gostou? Confesso que foi torturante para mim ter que te abandonar dormindo, para me deliciar de um sexo realmente gostoso nos braços dela. – Zombei.

Vi os olhos do homem me fuzilarem com repleta fúria. Queimavam em puro ódio, ódio contra mim, contra minha vitória. Enquanto em mim, aquele sentimento de realização se prolongava a cada reação revoltada do homem a minha frente.

- Vocês vão pagar caro por isso! Eu juro que vão pagar. Você não podia ter me enganado assim! – Ele gritava enfurecido, enquanto tentava me capturar.

- Como não percebeu? Eu não fazia a menor questão de esconder que a desejava. – Sorri ao lembrar dos momentos com Lauren. – Confesso que me senti quente no exato instante em que entrei aquele dia em sua sala, e me deparei com aquele par de olhos verdes. Devo contar que havia transado com ela uma única vez antes daquele dia? Por pura obra do destino eu a reencontrei.

Christopher permaneceu calado, talvez tentasse processar todas aquelas informações.

- Vou te contar!

Murmurei animada vendo o transtorno estampado no rosto dele.

- Uma das melhores noites, foi quando transamos em seu escritório em casa. Nunca fui fodida tão bem em toda minha vida. Era triste ter que voltar para o quarto e me deparar com... eca. – Suspirei enojada. - Você fode tão mal, eu precisava dizer isso. Foi um peso em minha consciência esse tempo todo ter que fingir que você fazia algo bom. Mas por sorte, Lauren alegrou meus dias, enquanto eu lhe fazia dormir com alguns remedinhos.

- Isso não vai acabar assim... – ele sussurrou. – Eu sei que não. Você e ela vão pagar caro por isso. Eu vou te destruir outra vez!

- Já acabou, não percebe? Não tem para onde correr. Não existe estratégias que reconstruam seu exército. – Meu tom de voz soava firme. - Eu derrubei de um por um, enquanto você se achava poderoso demais. Eu o enfraqueci! Eu derrubei você! – Esbravejei.

- Assim como eu derrubei Charlie? – Indagou ele ao erguer a cabeça, e encarar meu olhar, com aquele sorriso debochado. – O que ele era para você? Hum? Seu amante? Seu pai? Ou irmão? De que importa, não é? Está morto.

Christopher tinha os olhos fixados em mim. Eu sabia o que ele estava tentando fazer. De alguma forma ele sabia que tudo isso se resumia em Charlie, ele não era tão idiota assim. Eu me calei, e apenas o fitei friamente.

- Dói? Dói lembrar do seu queridinho? É por ele que fez tudo isso, não é? – Seu tom de voz me embrulhava o estomago. – Eu sinto que é por ele. Nada do que eu fiz, causaria tanta revoltada em alguém.

- É melhor não continuar... – Avisei tranquilamente.

- Achei seu ponto fraco. – Ele riu, e se afastou das grades. – Charlie, pobre Charlie. Não passou de um imbecil, ingênuo. Me custa acreditar como conseguiu todo aquele patrimônio, era tão bonzinho.

- Nem todo mundo precisa ser repugnante e traiçoeiro como você para alcançar o sucesso. – Retruquei.

- Eu alcancei o sucesso assim, nas costas dele. Com aquelas lindas e certeiras balas em seu peito. – Disse ele ao gesticular uma arma.

De repente, as últimas imagens de Charlie invadiram meus pensamentos, alastrando-se em questão de segundos. A voz da repórter que narrava o fatídico dia de sua morte ecoou no fundo de minha cabeça. Eu fechei os olhos com força, e respirei fundo.

- Isso acaba com você, não é? Pois saiba, eu teria feito outra vez. Eu teria matado aquele maldito verme quantas vezes fosse necessária! – Gritou, fazendo-me abrir os olhos.

Avancei contra a grade, e segurei em seu pescoço com força, cravando minhas unhas em sua pele. Collins agarrou meu pulso com força, mas eu não o soltei. Eu ainda sentia ódio. Ódio por ver o nome de Charlie sendo pronunciado por aquele homem. Talvez aquilo fosse o karma eterno para minha vida. Eu nunca me livraria daquele sentimento, não enquanto Christopher Collins fosse vivo. Aquele rancor me consumiria por todos os dias de minha vida?

- Eu devia ter matado você quando tive a oportunidade. Foram tantas... – Vociferei, enquanto cravava as unhas com força em seu pescoço. Eu sentia meu punho doer com aperto forte de sua mão. – Mas eu não queria manchar minhas mãos com seu sangue. Não queria me ver suja dessa maneira.

- Não teve coragem, rainha? – Debochou. – Fraca.

Ele se afastou, enquanto deslizava a mão por seu pescoço agora arranhado. Puxei o ar com força para meus pulmões, buscando me manter controlada o suficiente para não cometer uma loucura. Não seria agora, que eu colocaria tudo a perder.

- Fraca? – Eu ri ironicamente. – Acha mesmo que sou fraca? Olhe para você, e olhe para mim. Não sou eu que vou apodrecer o resto da vida em uma cela. Não fui eu quem foi enganada durante tantos anos. Não fui eu quem foi dopada, e traída por inúmeras noites. Não fui eu quem perdeu até os últimos dólares, sem poder fazer nada. Você não percebe? Você não é nada, absolutamente nada diante de mim. Eu te fiz cair, rei. Você caiu, e nada do que fizer vai te trazer de volta para esse jogo. Eu dei o xeque-mate.

Ele engoliu em seco, enquanto respirava fundo. Christopher suava. Havia um embate entre nossos olhares, que fuzilavam um ao outro.

- Eu vou matar você, grave isso. – Afirmou ele com aquele olhar diabólico. – Nós vamos nos encontrar no inferno, Karla.

Eu ergui a cabeça, e dei alguns passos lentos para frente, permitindo que meus saltos desses leves toques por aquele chão frio. Ofereci um olhar desafiador em sua direção, que foi recebido por outro do mesmo.

- Com certeza esse será o nosso lugar. Mas saiba, que até mesmo no inferno eu vou te encontrar, e te mostrar que sou mais forte e inteligente que você. Até no inferno eu vou derrotar você, Christopher Collins.

“Sra. Collins? O horário de visita acabou.”

Afastei o olhar do homem furioso a minha frente, para encarar o oficial no fundo do corredor. Assenti rapidamente em resposta, antes de voltar a fitar meu marido. Encarei seus olhos por alguns instantes, antes de sorrir confiante.

- Espero que aproveite seus dias aqui, logo terá que dividir seu quartinho de “luxo” com mais alguns amigos. Mas não se preocupe, vou cuidar bem de nossas coisas. -  Falei antes de acenar.

- Se prepare, Camila! Se prepare para o que lhe espera! - Gritou.

Eu me aproximei da cela pela última vez, fixando meu olhar no dele.      

- Sabe o que me espera, querido? Seu dinheiro, e uma bela mulher. É isso o que me espera agora. – Sorri satisfeita, e me afastei.

Caminhei em passos graciosos, enquanto fitava Lauren me esperando no final do corredor. Ao fundo, Christopher esbraveja furioso que se vingaria, que no final de tudo me mataria. Eu sabia que ele realmente poderia fazer alguma coisa, mas agora eu já não tinha medo da morte. Eu havia por fim, cumprido meu objetivo, e nada me deixaria mais realizada do que o ver no fundo do poço, como estava.

- Satisfeita? – Lauren indagou a contragosto.

Um sorriso nasceu no canto dos meus lábios, antes de pegar meus óculos escuros de sua mão, e acomodar em meu rosto.

- Muito. – Respondi confiante. – Quer dizer, ficaria muito mais se...

Me inclinei para frente, tocando em seu abdômen.

- Camila, podem nos ver.

- Tudo bem, tudo bem! – Ergui as mãos para o alto, arrancando um sorriso dela. – Tenho que fingir ser a esposa magoada, eu sei.

- Volte a atuação, rainha.

- Como desejar.

Voltei ao meu estado de esposa incrivelmente devastada assim que adentramos o corredor da delegacia. Lauren me acompanhava, enquanto mantinha uma conversa com um dos oficiais. Ao cruzar o meio do caminho, dois policiais saíram de uma das salas ao lado de Brandon. O antigo comissário agora tinha algemas envolta de seus pulsos, e um ar cabisbaixo. Assim que ele ouviu o falatório, ergueu a cabeça, deparando-se com minha presença. Eu pude vê-lo engolir em seco, ao mesmo tempo que seu olhar espantado me fitava. Continuei a caminhar, e no exato instante em que passei por ele, sussurrei com um sorriso:

“Aproveite ao lado dele.”

- Vocês precisam prender essa vagabunda! – O homem gritou ferozmente, assustando todos que estavam próximos. – Ela é culpada! Foi ela!

Os policiais o seguraram com força, enquanto ele tentava avançar contra mim. Lauren se pôs a frente, enquanto eu fingia inocência.

- O que pensa que está fazendo? – Esbravejou a oficial extremamente irritada.

- Você está do lado dela, todos vão saber disso, Jauregui!

- Você está ficando louco! Leve ele daqui, e o coloquem em uma das celas! – Ordenou de forma imponente, enquanto os soldados o puxavam com certa dificuldade. – Imbecil!

“Vai pagar isso, Camila!” – Brandon gritava, atraindo a atenção de todos.

- O que está acontecendo aqui? – Travis indagou assim que saiu de sua sala.

- Eu não sei, agente. – Murmurei assustada.

- Está tudo sob controle, Travis. – Lauren o tranquilizou, ainda com uma expressão fechada.

O investigador viu Brandon sendo arrastado, enquanto gritava para os quatro cantos que eu era culpada. Ele suspirou pensativo, e tão logo me fitou.

- Vejo que é muito visada.

- Quando querem se inocentar, procuram o alvo mais fraco. – Retruquei tranquilamente.

- É o mais fraco mesmo?

- Vou acompanhar você até a porta, sra. Collins. – Lauren o interrompeu, atraindo meu olhar.

- Obrigada, agente Jauregui.

O policial me encarou e fez um breve aceno com a cabeça, antes de Lauren me conduzir até a saída.

- Fique atenta. Eu vou continuar resolvendo as coisas por aqui. – Disse ela assim que chegamos ao lado de fora.

- Me parece nervosa. – falei de forma contida, quando minha necessidade de toca-la gritava em meu interior.

- Não quero que as coisas terminem mal.

- Nada vaia acabar mal. Está cansada, apenas isso. Quando sair, vá para sua casa. Eu vou encontrar com você lá.

Lauren deu um breve sorriso, e assentiu. Nos restringimos a uma distância segura, para que tudo continuasse o mais profissional possível. Nenhuma de nós conseguia esquecer a possibilidade de que todos ainda me vigiavam.

- Espero que fique bem, sra. Collins. – Lauren falou em um tom mais alto, enquanto alguns ao redor nos observavam.

- Obrigada, agente. – Respondi antes de me afastar, e seguir em direção ao meu carro estacionado em frente à delegacia.

Christopher point of view

Tamborilei com a ponta dos dedos a barra de ferro da cela no qual eu estava trancafiado. O metal frio entrava em contato com minha pele, fazendo-me frisar a cada segundo que ela era culpada por eu estar aqui. Camila foi a mente maliciosa por trás de minha derrocada.

- Maldita...

Era frustrante recordar cada mínimo detalhe dos últimos anos, sem me dar conta de que ela era o meu pior inimigo. Camila criou seu exército de poucos soldados na escuridão de minha visão. Se apoderou das melhores estratégias, identificou minhas fraquezas, e nunca me deu a chance de perceber. Sua mente diabólica, e seu corpo atraente me fizeram mergulhar em uma ilusão, como uma hipnose, que fazia daquela mulher o melhor que eu poderia ter. Foi astuta, em se mostrar tão fraca e sensível, quando na verdade era tão nociva quanto eu. Meneei com a cabeça em um sinal negativo, praguejando-me internamente por ter sido tão burro.

Ela havia me enganado por mais de cinco anos. Se fez a melhor esposa, a mulher que todo homem gostaria de ter. Me enfraqueceu, e me traiu. Eu não conseguia aceitar, não o fato de ter sido traído, mas o de não ter percebido que ela nunca foi real.

- Não, não pode ficar assim.

Eu sentia o sangue correr em minhas veias, acompanhando a velocidade arrebatadora de meus pensamentos tão confusos e revoltos. Eu sentia ódio, como nunca havia sentido antes em toda minha vida. Camila havia me derrubado da maneira mais cruel, e humilhante. Eu não poderia permitir, não poderia cair, e não leva-la comigo. Eu ainda não sabia o que Charlie era para ela, mas sabia que tudo aquilo era por causa dele. Infeliz, até mesmo depois de morto, ainda me causava prejuízos.

- Infeliz maldito! Espero que esteja queimando no inferno! – Esbravejei furioso.

Minhas têmporas latejavam constantemente. Eu me encolhi no canto da cela, enquanto rodeava meus joelhos com os braços. As horas naquele lugar pareciam se arrastar, e pensar que aquele seria o meu destino, aumentava ainda mais a minha sede de vingança. Eu fechei os olhos com força, quando as imagens de Camila inundavam minha mente. Seu olhar malicioso, sua postura confiante, suas palavras ofensivas. Aquilo se repetia a todo instante, como uma tortura psicológica. Naquele momento, tudo se encaixava, deixando claro todos os pontos que me recusei a ver. Minha vida nos últimos anos passou como uma sequência de flashes em minha cabeça, mostrando minha ascensão e minha derrocada.

- Você vai morrer, Camila... – sussurrei com um sorriso. – Eu mesmo vou cuidar disso.

Era a única coisa que eu conseguia pensar. Era meu único desejo. Eu mataria Camila, como um dia matei Charlie.

- Se amava tanto aquele imbecil do Charlie, é para o lado dele que vou te mandar, Camilinha. – Respirei fundo, sentindo aquela sensação de adrenalina me consumir pouco a pouco.

- Falando sozinho, Collins?

Ergui a cabeça, encarando o olhar minucioso de Lauren em minha direção. Audaciosa, não? Me levantei do chão rapidamente, sem tirar os olhos da policial. Eu sabia que ela era tão culpada como Camila, e eu me vingaria dela também. A dor da perda agora seria seu melhor fim, certo?

- Estou apenas conversando comigo mesmo.

- É bom se acostumar, é a única companhia que terá pelo resto da sua vida. – Disse antes de se afastar.

- Talvez esteja certa, agente. Eu vou ficar sozinho, mas você também irá. – Falei ao me aproximar das grades.

Lauren que já estava a alguns metros longe, estagnou seus passos e voltou os olhos em minha direção.

- O que quer dizer com isso?

Eu sorri para ela, um sorriso debochado, arrancando um olhar furioso da mulher.

- Acha mesmo que vão se sair bem dessa? Não vão, é melhor ter cuidado. Ela vai morrer.

Ela trincou a mandíbula, evidenciando o maxilar definido.

- Você não pode fazer nada, Christopher. É melhor ter cuidado com suas ameaças, não se esqueça, que eu mesma posso cuidar de você agora. E garanto, não serei amigável. – Retrucou em defesa.

- Você que pensa, agente. Posso estar aqui dentro, mas ainda tenho poder. Camila vai pagar pelo que está me fazendo, e você também. Ou acha mesmo que vou aceitar ser traído por vocês?

- Hm, então sabe que foi traído? – Ela deu de ombros, e se aproximou novamente.

O corredor era iluminado pelas frestas de luz que partiam das janelas pequenas, ocasionando apenas alguns focos de claridade sobre o corpo da mulher que se aproximava.

- Eu apenas fiz o que você não soube fazer esses anos todos. – Ela parou em frente a cela, encarando-me de cabeça erguida, com um maldito olhar superior. - Não me culpe por satisfazer muito bem a sua mulher, sr. Collins. Quer dizer...

Um sorriso cínico e vitorioso nasceu no canto de seus lábios, fazendo crescer em mim aquele ódio que a qualquer instante explodiria em meu interior.

- A minha mulher.

Eu respirei fundo, avançando contra grade. Lauren não se moveu um milímetro sequer, continuou ali, parada com um ar soberbo.

- Escute bem, policialzinha de merda. Você não vai ficar com ela, eu mesmo vou arrancar a vida daquela vagabunda. E mostrar para ela que ninguém pode me derrubar, ouviu bem? – Esbravejei diante a expressão séria, e furiosa.

Lauren avançou contra a cela, erguendo a pistola escura contra o meu peito em um ato visivelmente exaltado. Eu vi seus olhos verdes fixados em minha direção com um brilho quase sombrio.

- Não me faça cometer uma loucura, Collins. – Murmurou enfurecida. – Se encostar em um fio de cabelo daquela mulher, eu juro que acabo com sua vida. E acredite, será muito fácil para mim fazer isso com você sobre meus comandos.

Eu me afastei das grades, vendo ela se afastar também.

- Está avisado. – Ela recuou mais um passo, e guardou a arma no coldre posto em sua coxa. – Não brinque comigo, você não sabe o que posso fazer com você.

- Agente! – Exclamei.

Lauren parou, mas não virou em minha direção.

- Quero falar com meu advogado, tenho assuntos para tratar com ele.

A mulher não respondeu, apenas voltou a seguir seu caminho sem olhar para trás.

Apesar da falta de resposta, depois de algumas horas, fui conduzido até a sala de visitas da delegacia. Um dos oficiais se aproximou da cela, com uma expressão séria em minha direção. Assim que coloquei os pés para fora da mesma, o homem acomodou em meus pulsos as algemas prateadas. Caminhei em passos lentos até adentrar na sala pequeno, onde John me esperava.

- Recebi a informação que queria conversar comigo.

Esperei que o policial se retirasse da sala, antes de me sentar à frente de meu advogado.

- Como estão as coisas?

Vi ele respirar fundo, um tanto hesitante, para sem seguida me encarar.

- Bem complicadas, você será transferido para penitenciaria.

- O que?! – Exclamei assustado.

- Está sendo acusado de muitas coisas, existem provas concretas contra você, Collins.

- Eu ainda não fui julgado!

- Eu sei, mas não há nada que eu consiga fazer. Estou buscando todos os meios para diminuir esse caos, mas parece que tudo se voltou contra você. Inclusive sua esposa, o depoimento dela não trouxe sequer um benefício.

Fechei os punhos com força, sentindo toda aquela raiva tomar conta de minha cabeça. Ela havia conseguido fechar o círculo a minha volta, impedindo-me de pensar em qualquer escapatória.

- Acha que consigo sair dessa?

John se calou por alguns instantes, fazendo-me ter certeza de sua resposta.

- Não, Christopher. Sinceramente, meu trabalho será para diminuir sua pena, mas evita-la seria praticamente impossível. Você será condenado.

- Não, eu não posso ser condenado! John, eu sou um empresário, um dos mais importantes desse país! Eu fui roubado, ninguém consegue ver isso?

- Isso não se trata apenas do roubo, Christopher. Você matou alguém, criou uma empresa fantasma, roubou outro homem. Há um mundo de acusações contra você!

- Culpa dela... – Esbravejei furioso. – Isso não vai ficar assim...

- O que disse?

Voltei os olhos para ele, vendo sua expressão confusa.

- Eu preciso que faça uma coisa para mim. – Ordenei.

- Eu não quero me meter em confusão...

- Você não pode me abandonar agora, ouviu bem? Sabe que posso tirar tudo de você, mesmo daqui de dentro. – Murmurei em um tom confiante. – Você não quer ficar contra mim, John.

Vi seu olhar estático, seguido por um suspiro derrotado.

- O que você quer?

- Eu ainda tenho uma pequena quantia em uma conta no exterior. Preciso que use esse dinheiro para realizar meu último plano. Eu não vou ficar nesse lugar, não sozinho.

 

Narrator’s point of view

 

Algumas semanas depois...

 

As linhas eram rabiscadas com força e raiva. Christopher pressionava a ponta da caneta contra o papel machucado, formando letra por letra, enquanto seus pensamentos trabalhavam minuciosamente sobre o dia tumultuado que teria. Depois de semanas trancafiado em um presidio ao lado de outros detentos, seus pensamentos ficaram ainda mais conturbados. Alguns cogitavam dizer que ele estava enlouquecendo, outros apenas diziam que se tratava do estresse por ter que habitar em um lugar como aquele, mas no fundo, ninguém sabia o que se passava no interior daqueles pensamentos. Foi submetido a dividir um espaço ínfimo com outros criminosos, vestir uniformes, e cortar o cabelo a gosto dos oficiais. Estava colhendo as consequências de atos que um dia o fizeram crescer.

- Quem é essa mulher? – Um dos presos indagou ao vê-lo encarar a foto de uma latina com ar poderoso.

Christopher encarou cada mínimo traço do rosto de Camila estampado naquele pedaço de papel. Ela usava roupas claras, contrastando perfeitamente com o fundo em marrom; seus cabelos longos batiam na altura de sua cintura, onde recebia o encostar suave de um dos braços, que se apoiava o outro. A mulher carregava uma expressão séria, e um olhar desafiador, bem típico de sua personalidade. Ele adorava aquela foto, olhava para ela todos os dias desde que entrou naquela cela.

- Essa é minha esposa. – Disse ele com um sorriso diabólico.

O detendo ao lado franziu o cenho, um tanto confuso pelo olhar do homem para sua bela esposa.

- Não disse que sua esposa é a culpada por estar aqui? Por que está com a foto dela?

O homem deixou a imagem de Camila sobre o chão, ao lado do caderno aberto onde havia rabiscado o nome da latina por todas as partes. As folhas amareladas carregavam os nomes de todos aqueles que um dia passaram por sua vida, mas o dela se destacava por linhas grossas, e evidentes.

- Não quero esquecer um detalhe sequer do rosto dela. Logo, ela não irá mais existir. – Murmurou o empresário de forma confiante.

- Do que está falando?

- Vamos ficar juntos. – Disse ele enquanto acariciava o rosto de Camila impresso no papel.

- Você está preso, cara. Não pode ficar junto dela. – O detento exclamou incrédulo.

- Estaremos juntos no inferno. Brady. Faço questão de tê-la comigo, porque Camila é minha.

- Não faça nada que vá se arrepender, Collins. Hoje é o seu julgamento.

Christopher fechou os olhos e respirou fundo, antes de levantar daquele chão frio e acinzentado da penitenciaria. Faltavam apenas algumas horas para o sol nascer; logo, todos os interessados no caso Collins estariam adentrando o tribunal de justiça para decidir o destino do magnata do petróleo. Durante as últimas semanas, todos os depoimentos foram recolhidos, provas foram evidenciadas, e o inquérito havia sido fechado. Lauren sendo a grande estrela do caso, recebia todo reconhecimento pela gama de informações que condenavam o empresário diante a lista de crimes cometidos pelo mesmo. No entanto, não era nela que ele pensava durante cada segundo de seus dias naquele lugar, não era ela quem ganhavam a culpa por ele estar ali, não para Christopher. O homem sabia que existia uma mente maliciosa por trás, e sabia exatamente de quem se tratava.

Camila.

Era Camila o seu grande alvo.

Sua obsessão.

Era ela quem habitava em seus pensamentos a cada segundo do dia. Christopher se via totalmente mergulhado naquele lamaçal de rancor, vingança, e desejo por aquela mulher. Muitos profissionais diriam que ele havia criado uma obsessão doentia por ela. Collins havia decidido, ele passaria o resto de sua existência ao lado de Camila.

- Não se preocupe, amigo. Apenas irei buscar a rainha. – Ele encarou seu colega de cela, que o fitava um tanto assustado. – É assim que ela se denomina. Rainha, e eu sou o rei. Nada mais jutos, terminarmos essa história juntos, certo?

- Você está louco. – Disse o homem se afastar, enquanto balançava a cabeça em um sinal negativo.

Collins apenas riu. Ele sabia que estava ficando louco, mas não se importava. Hoje ele só precisava de uma única coisa, e não descansaria até ter. Hoje seria o grande dia em seu calendário de vida.

- Sou louco por ela. Só por ela.

O homem retirou um pequeno isqueiro que escondia consigo, abrindo a tampa de metal em um ato. Movimentou o polegar sobre o dispositivo, que logo emanou algumas faíscas antes de ascender a pequena chama. Com a outra mão, aproximou a foto de sua esposa em direção ao fogo reluzente, que tão logo tomou conta do material.  

- É melhor estar pronta para mim, querida. – Sussurrou ele com um sorriso diabólico, enquanto assistia a imagem da rainha sendo consumida pelo fogo.

 

[...]

 

Camila Cabello’s point of view.

 

Me remexi entre os lençóis desarrumados da cama de Lauren pela vigésima vez aquela noite, com todo cuidado para que a mesma não despertasse. Depois de uma noite maravilhosa ao seu lado, tudo que eu poderia oferecer era a oportunidade de deixa-la descansar, teríamos um dia cheio para suportar aquela manhã. Virei-me delicadamente, para poder encarar a expressão serena de minha mulher que se encontrava mergulhada em um sono profundo, e sereno. Vê-la dormir agora havia se tornado uma maneira estranhamente curiosa de me tranquilizar, como se mesmo na ausência de palavras ou atos, eu pudesse me sentir segura apenas com sua presença calma. Aquilo estava funcionando há algum tempo, já que nos últimos dias, sono era uma das principais dificuldades. Por inúmeras noites me via acordada, enquanto meus pensamentos se proliferavam com ideias assombrosas e macabras sobre meu fim. Confesso que no fundo, eu relutava contra o medo que a todo custo tentava me inibir. Eu não poderia simplesmente chegar no final do jogo, e me ver abatida por meus próprios pensamentos, poderia?

Meneei com a cabeça em um sinal negativo, e em seguida ergui a mão, que deslizou sutilmente pelas costas macias de Lauren. Um carinho sutil, como se quisesse aproveitar cada instante ao seu lado. Por vezes, cheguei a me perguntar se eu realmente merecia a sorte de ter encontrado Lauren. Minha vida havia se tornado tão conturbada, e falsa, que nada que eu fizesse poderia servir de sementes para uma boa colheita. Talvez Deus tivesse tido misericórdia de minha alma, para enviá-la ao meu encontro, e me salvar de um fim tão solitário.

- Camila... – Ouvi sua voz rouca e sonolenta me chamar. – Por que está acordada? Ainda é muito cedo.

- Só fui beber agua, não se preocupe. – Menti.

Lauren franziu o cenho com certa dificuldade, ela tentava abrir os olhos em minha direção. Eu sorri para ela, que me devolveu o sorriso em resposta, antes de estender os braços para que eu me aproximasse. E assim eu fiz, recebendo-os a minha volta, em um abraço carinhoso e calmo.

- Durma, ainda temos um tempinho antes para descansar. – Sussurrou ela, para em seguida depositar um beijo no topo de minha cabeça.

Me acomodei ao seu corpo, envolvendo seu tronco com um dos braços, enquanto minha cabeça repousava sobre o seu ombro. Lauren emanou um suspiro satisfeito, e tranquilo.

- Está ansiosa? Por isso não consegue dormir?

- Sim, estou. Mas não se preocupe, eu estou bem. – Menti novamente.

- Tem certeza? – Indagou, fazendo-me encara-la.

Os olhos de Lauren estavam clarinhos aquela manhã, carregavam um verde, quase mesclado em um tom de azul. Eu os amava pela manhã. Na verdade, eu os amava sempre. Eu assenti devagar, em meio a um suspiro.

- Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui com você.

- Sei que sim, confio em você.

Eu confiava em Lauren. Sabia que ela estaria ali para me proteger diante todo e qualquer perigo. Eu sabia disso, sabia porque eu sentia da maneira mais sincera, e via em seus atos tão protetores. Ela já havia me dado provas suficientes para concretizar nossa união. Me sentia culpada por mentir, como me senti durante todos esses meses, mas eu não queria preocupa-la. Não queria dizer que durante longas semanas, eu me via acordada em meio a madrugada por ter despertado diante o pesadelo que relatava minha morte. Eu não queria que ela soubesse o medo que se apoderava de mim sem uma razão explicável. Não queria desperdiçar nossos momentos juntas, mergulhando em inseguranças de meu futuro.

- Não me parece tranquila, o que está acontecendo?

Eu encarei seu olhar minucioso, enquanto ela me fazia um carinho leve nas costas.

- Eu estou bem, amor.

- Amor? – Lauren sorriu desacreditada.

- Ai, não...                      

Lauren ergueu seu corpo, virando-me na cama de uma só vez. Eu vi ela rir, antes de sentar sobre meu quadril rapidamente.

- A toda poderosa rainha me chamou de amor? É isso mesmo?

- Foi um deslize. – Retruquei em meio a uma risada. – Não se acostume.

- Aham, sei que está contando os minutos para assumir nossa relação publicamente. Quer sair de casalzinho pelas ruas com suas amigas? Depois que fez amor gostosinho comigo, ficou toda romântica!

- Não! Que mentira! Cala a boca! – Ordenei sem jeito, eu aposto que estava corando.

- Não minta para mim, sra. Collins. – Disse ela ao segurar minhas mãos, entrelaçando nossos dedos.

- Jamais, agente Jauregui.

Nossas risadas ecoaram pelo quarto, até se perderem no silêncio. Lauren ainda sorria, enquanto me encarava fixamente. Seus olhos eram brilhantes, amorosos, e tão acolhedores. Eu me sentia estranhamente única diante deles, como um dia me senti diante os olhos de Charlie. Claro, que os de Lauren acarretavam outros sentimentos, que se diferenciavam drasticamente de uma relação entre pai e filha. Mas os dois tinham amor, um amor sincero feito exclusivamente para mim.

- Eu..

- Queria dizer qu...

Falamos juntas, nos fazendo rir outra vez.

- Fala. – Ela concedeu.

- Quero que hoje seja a última página dessa história ruim. Que depois disso, tudo seja diferente.

- E vai ser, Camila. Eu prometo. – Ela falou antes de deitar ao meu lado.

Eu sorri para ela, que de maneira sutil tranquilizou meu coração ainda inseguro. Naquele momento, eu sentia que não estava sozinha, apesar do receio causado por aquela sensação ruim, eu sentia que ainda poderia contar com ela.

 - Lauren...

- Sim?

- Eu quero te agradecer pelo que está fazendo e sempre fez por mim.

Ela virou seu corpo de lado, agora nos deixando frente a frente. Seu olhar era um tanto confuso, mas ainda sim tranquilo. Vi sua mão se unir a minha, entrelaçando nossos dedos lentamente.

- Não precisa me agradecer, Camila.

- Preciso. Fui tão idiota com você esse tempo todo, fiz tantas coisas ruins. O mínimo que eu posso fazer é agradecer por ter me dado uma chance de explicar, de abrir a minha vida para você. Te agradecer por ter ficado a meu lado, e ter me protegido quando eu nem sequer mereci.

Eu conseguia ver a confusão estampada na expressão da mulher, mas ela não iria me interromper, estava disposta a me ouvir.

- Então obrigada, por tudo. Eu quero que saiba, que você foi a melhor coisa que me aconteceu desde o momento em que perdi o Charlie. Você é a razão para eu querer sair dessa história, e ter uma vida feliz. - Falei com certa dificuldade.

- Por que está falando tudo isso agora? Não fale assim, parece que está se despedindo... – Ela murmurou inquieta, puxando-me para seus braços. - Olha, vai ficar tudo bem. Não precisa mais se sentir culpada, eu compreendi os seus motivos, e é por isso que estou aqui, com você.

- É uma despedida.

Eu sentia uma estranha vontade de chorar. Como se meu peito estivesse prestes a explodir com tantos sentimentos, acompanhados de minha cabeça exausta com aqueles pensamentos, mas Lauren não precisava saber disso. Eu não queria transferir minhas inseguranças para ela.

- Camila... – Lauren sussurrou temerosa.

- Uma despedida dessa fase. Hoje é o julgamento do Christopher, e sinto que é uma grande virada nesse fim. – Sussurrei agora presa a seus braços. – Eu só quero que lembre todos os dias, que eu amo você, e que todos meus sentimentos por ti foram sinceros.

Ela segurou firme em minha mão, e olhou em meus olhos a todo instante.

- Eu acredito em você.

- Eu te amo, Lauren.

- Eu te amo, Camila. 


Notas Finais


É melhor irem se despedindo, nos vemos no penúltimo capitulo de Xeque-Mate


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...