Nunca achou o silêncio tão ensurdecedor.
Era muito melhor ter continuado a ouvir o choro, os soluços e os gemidos doloridos. Pelo menos assim ele saberia o que estava acontecendo lá dentro. Agora, tudo era uma grande incógnita. Por que Baekhyun havia parado de repente? Lembrou-se da janela mais uma vez e sentiu o peito apertar em desespero.
Continuou tentando arrombar a porta, mas não adiantava. Nada adiantava. Usava os pés, as mãos, os ombros... de que adiantava fazer academia cinco vezes por semana para não conseguir arrombar uma porta sozinho em uma emergência?
Tirou com a mão trêmula o celular do bolso da calça do pijama e procurou Jongin na lista de contatos. Não queria sair daquele corredor, pois caso Baekhyun decidisse abrir a porta ele estaria ali para ajudá-lo.
- Chanyeol? – A voz sonolenta atendeu do outro lado, e por um momento Chanyeol se sentiu culpado. Provavelmente havia acordado um bailarino que utilizava cada minuto de folga para descansar. Mas era uma emergência das grandes.
- Jongin, preciso da sua ajuda, me desculpe. – O empresário começou, tentando controlar a voz nervosa e o indício de choro. - Tem uma cópia da chave aqui do apartamento embaixo do tapete da entrada. Venha até meu corredor dos quartos no primeiro andar. Baekhyun se trancou em um dos escritórios e não consigo abrir a porta, ele está passando mal.
O bailarino nem respondeu, encerrando a ligação. Dois curtos minutos depois, Chanyeol pode ouvir a porta de seus apartamento ser aberta com chave e passos apressados pela extensão da sala até onde estava. Jongin apareceu meio descabelado, de meias e pijama, os olhos arregalados ao notar o empresário todo vermelho.
- Me ajude a arrombar – pediu Chanyeol, apontando para a porta na sua frente. Jongin concordou com a cabeça e engoliu em seco antes de seguir a contagem do mais velho e darem o primeiro chute sincronizado. Foi um avanço significativo, a porta cedeu um pouco mas permaneceu fechada. Só na terceira tentativa eles tiveram sucesso, e Chanyeol avançou para dentro do escritório logo notando o que havia acontecido e sentindo o chão se abrir e ser engolido por um abismo.
Baekhyun estava deitado no chão, desacordado. O corpo pequeno um tanto encolhido, em posição fetal, demonstrava sofrimento até naquele estado inconsciente. Chanyeol se ajoelhou ao lado do namorado, os olhos novamente marejados e as lágrimas ameaçando umedecerem a pele avermelhada.
- Baek... – Chanyeol murmurou, a voz embargada. Passou a mão pelo rosto do professor, ainda molhado de lágrimas, na tentativa de acordá-lo de forma delicada. Estava claramente respirando, o peito subia e descia como esperado, o que fez o desespero do empresário diminuir pelo menos um pouco.
- Ele desmaiou – Jongin comentou bem baixo. Seus pais eram médicos e ele provavelmente sabia algo a respeito de urgências daquele tipo.
Chanyeol concordou com a cabeça, ainda estava tão confuso... o que tinha acontecido para Baekhyun ter aquele surto? Tão grave a ponto de perder a consciência... meu Deus, ele não fazia ideia da gravidade do estado do namorado. Se sentiu péssimo.
O empresário puxou o tronco de Baekhyun com cuidado para cima e Jongin logo se aproximou melhor para ajudá-lo a colocar o professor deitado no sofá. O bailarino o segurou pelas pernas enquanto o namorado o levantava pelo tronco.
- Baek... amor, acorda... por favor... – Chanyeol se manteve ajoelhado ao lado do corpo agora deitado no sofá. Acariciava o rosto inanimado com dedicação e muita ansiedade.
- Chanyeol, posso colocar essas almofadas embaixo das pernas dele? Sei que o tronco e a cabeça precisam ficar mais baixos... – Jongin sugeriu, apontando para as almofadas reunidas no canto do sofá. O empresário concordou, observando o outro levantar as pernas do namorado com cuidado e posicionar as almofadas ali. – Quer que eu busque um pano úmido para refrescá-lo?
- Por favor... – Chanyeol pediu, logo sendo deixado sozinho. Segurou a mão de Baekhyun e acariciou seus dedos. Aquela espera o estava enlouquecendo. Sabia que levavam alguns minutos para que alguém desmaiado desperte, mas não imaginou que seria tão sufocante aguardar.
Quando as pálpebras se moveram e Baekhyun piscou pelas primeiras vezes, Chanyeol sentiu vontade de gritar de alívio. O namorado o encarou mas pareceu levar um tempo para focalizá-lo e reconhecê-lo, olhando também em volta e reconhecendo o ambiente.
- Yeol... – Baekhyun murmurou, levantando uma das mãos e agarrando o tecido da camiseta do empresário. Chanyeol sentiu seus olhos marejarem novamente, Baekhyun agora parecia lembrar dele. – O que houve? – A vozinha estava rouca de tanto que havia chorado e gritado. Rouca mesmo, mal ouvia-se o som.
- Você desmaiou, meu amor. Mas está tudo bem agora, só respire por um momento. Jongin foi buscar algo para refrescar seu rosto. – Chanyeol afastou a franja escura da testa suada, ele havia se agitado tanto que acabou suando bastante. Jongin voltou ao escritório e suspirou aliviado ao notar o professor acordado. Entregou o pano úmido ao empresário, que começou a passar pelo rosto do namorado com delicadeza.
- Me desculpe, acho que... gritei com você antes... eu não sei... – Baekhyun murmurava, perdido, os olhos fixos no rosto concentrado de Chanyeol, que limpava a pele do seu rosto e do pescoço.
- Não tem problema. Só respire. – Chanyeol não sabia o que dizer. Não havia entendido nada, então não tinha como compreender a situação e acalmá-lo. Ele estava totalmente no escuro. – Quer sentar devagar? – perguntou, receoso.
O namorado concordou com a cabeça e Jongin se aproximou para ajudar a puxá-lo e posicioná-lo da melhor forma possível. Deram alguns minutos para ele se orientar e apenas respirar. Chanyeol segurava sua mão e agora já estava sentado ao seu lado, enquanto Jongin o observava em pé.
- Baek... – Chanyeol começou, depois dos minutos de recuperação. – Eu não entendi direito o que aconteceu. Você desmaiou. Acho que gostaria de levá-lo ao pronto-socorro para que o examinem. Tudo bem?
Baekhyun concordou com a cabeça, balançando-a devagar. Chanyeol suspirou, aliviado. Ficou com medo que o namorado estourasse novamente por fazer alguma sugestão.
- Querem ajuda? Posso dirigir. Só me dê um momento para me vestir. – Jongin se ofereceu e Chanyeol lhe lançou um olhar agradecido, murmurando um silencioso “obrigado”. – Eu já volto. – O bailarino falou baixo, saindo do quarto e deixando os dois sozinhos.
Baekhyun encarava o rosto de Chanyeol com certa apreensão enquanto ainda controlava a respiração e tentava se orientar.
- O que eu fiz, Yeol? – O professor passou a palma da mão na bochecha, não deixando a lágrima que escorreu percorrer todo o seu caminho. – Gritei com você, não gritei? Eu não queria... me desculpe... sou um...
- Para, Baekkie... – Chanyeol o interrompeu, a preocupação tomando conta de si novamente ao ver o namorado voltar a chorar. Agora as lágrimas escorriam livremente apesar de ele não soluçar. Era um choro calmo e confuso. Seu pescoço foi envolvido pelos braços magros e ele foi puxado para um abraço um tanto ansioso.
- Me desculpa, por favor... não vou mais fazer isso. Não me deixa. Por favor. Eu disse que... que pensava se deveria libertá-lo, mas... não... não me deixa sozinho, por favor... – Enquanto ele apertava Chanyeol pelo pescoço, o empresário o puxou para que sentasse em seu colo e o envolveu pela cintura, devolvendo o aperto na mesma intensidade. A testa de Baekhyun estava apoiada em seu ombro e ele fungava.
- Não vou deixar, nunca. Estou aqui por você o tempo inteiro. Não importa o que aconteça, ouviu? Você não teve culpa do que aconteceu. Vamos resolver isso juntos para que você melhore. Confia em mim?
Baekhyun concordou com a cabeça, em silêncio, ainda o abraçando com força. Permaneceram naquela posição por alguns minutos até Jongin aparecer de novo na porta do quarto com a chave do seu carro nas mãos, já usando jeans e moletom.
- Consegue caminhar? – Chanyeol sussurrou, acariciando a bochecha ainda corada pela agitação. Baekhyun levantou o rosto e encarou Jongin na porta, com sua expressão solidária e paciente. Sorriu de canto e, com a ajuda de Chanyeol, levantou do colo do namorado e parou no meio do quarto, verificando sua própria estabilidade.
- Estou bem – O professor concluiu, passando devagar as mãos pelos cabelos desgrenhados. – Só vou andar um pouco mais devagar, eu acho. Ainda estou meio tonto.
Chanyeol lhe segurou a mão com firmeza enquanto concordava com a cabeça. Sendo delicadamente guiado pelo namorado, os três desceram até o estacionamento e entraram no carro de Jongin. Durante o percurso até o hospital que Chanyeol frequentou durante a vida – o mesmo onde Hyohee havia nascido – sentou no banco traseiro ao lado do namorado e não lhe soltou a mão em nenhum momento. Baekhyun ainda parecia muito confuso e um tanto culpado, como se não entendesse direito o que havia feito.
Como Chanyeol o ouviu lhe chamando de “Daeho” – nunca esqueceria daquela cena desesperadora – o empresário suspeitava que o surto tivesse algo a ver com os problemas ligados ao passado de Baekhyun. Mais uma vez confirmando que sim, o professor precisava de acompanhamento profissional. E provavelmente o que estava acontecendo dentro de Baekhyun era muito pior do que Chanyeol suspeitava. Não eram apenas pesadelos no meio da noite. Agora um surto havia ocorrido durante o dia. Ao pensar sobre isso, sentia a garganta fechar. O amava tanto e só queria vê-lo bem.
Ao chegarem na emergência do hospital, Chanyeol cuidou de tudo enquanto Jongin permanecia ao lado do professor, lhe dando assistência caso tivesse mais alguma tontura. Foi solicitado que aguardassem na sala de espera por alguns minutos enquanto o médico geral se preparava para atender Baekhyun.
Quando finalmente a vez deles chegou, o médico sugeriu que os dois passassem juntos, deixando Jongin na sala de espera. Chanyeol lhe deixou o número do telefone de Kyungsoo e lhe pediu que o bailarino explicasse o que estava acontecendo para o melhor amigo do professor. Jongin, prestativo e paciente, concordou na hora e pediu para que Chanyeol parasse de agradecer a cada cinco segundos.
No consultório do médico, os dois se sentaram nas duas cadeiras disponíveis em frente a escrivaninha. Baekhyun encostou-se para trás, descansando o corpo, mas Chanyeol manteve-se inclinado para frente, muito ansioso, toda hora lançando olhares para o namorado.
- Byun Baekhyun... – O médico murmurou, analisando a ficha na sua frente. – Tem certeza que está se sentindo bem agora para conversar um pouco antes de alguns exames? Caso contrário peço para o enfermeiro lhe levar até a sala de observação.
- Estou melhor. A tontura já passou. – Baekhyun falou, ajeitando-se e piscando por um momento. Chanyeol esticou o braço e lhe segurou a mão que descansava no colo. O professor lhe lançou um olhar nervoso enquanto o médico observava a cena.
- É o namorado dele? Como se chama, jovem? – Por mais incrível que pudesse parecer, o médico lidou com aquilo de forma tranquila. Apoiou os braços na mesa e aguardou Chanyeol se manifestar com uma expressão acolhedora. Era já um homem mais velho e o normal era se esperar que ele achasse aquilo no mínimo estranho. Pelo contrário, parecia muito bondoso e paciente.
- S-sim. Park Chanyeol – O empresário respondeu, acariciando os dedos de Baekhyun em sua mão.
- Park Chanyeol – O médico anotou algo na ficha de Baekhyun por um instante e então voltou sua atenção para os dois. – Por que não me explicam o que aconteceu, desde o início?
Baekhyun lançou um olhar perdido para o namorado, que concordou com a cabeça.
- Acho que ele ainda está um pouco confuso e não lembra muito bem... – Chanyeol começou, incerto.
- Pode me contar você, então, Chanyeol. Estava presente no momento do desmaio? – O médico agora falava diretamente com o empresário.
- Sim, estávamos conversando antes de ele desmaiar. Foi uma conversa... é, acho que um pouco estressante... hm... – Chanyeol lançou um olhar perdido para o namorado, que concordou devagar com a cabeça, os olhos um tanto vagos.
- Tem algo que vocês queiram me contar em particular? Não tem problema, se o desmaio envolver algo mais íntimo podemos conversar um de cada vez.
- Não, ele sabe de tudo – Baekhyun interrompeu, ainda vago. – Não tem problema. Eu... tive relacionamentos complicados antes de conhecer Chanyeol. O último foi... bem... infeliz. Venho tendo pesadelos relacionados ao meu ex namorado e hoje... fiquei nervoso e passei mal. Acho que é isso.
Enquanto Baekhyun falava em um tom bem baixo, o médico ia anotando informações em sua ficha.
- A conversa de hoje teve algo a ver com seu ex namorado? – O médico perguntou, e Baekhyun negou com a cabeça.
- Não... era sobre... – Ele franziu o cenho, se esforçando um pouco para se lembrar.
- Era sobre assumirmos nosso relacionamento. E sobre a consulta que eu marquei para ele em um psicólogo, porque ele vem tendo os pesadelos e achamos que era melhor assim.
O médico fez mais algumas anotações, concordando devagar com a cabeça.
- Baekhyun, enquanto o enfermeiro lhe encaminha para alguns exames básicos, eu vou ficar conversando um pouco com Chanyeol, tudo bem? Depois falamos em particular.
O professor concordou com a cabeça e logo um enfermeiro apareceu para levar Baekhyun para fazer os exames e verificar se estava tudo em ordem. Agora, Chanyeol estava sozinho no consultório com o médico.
- Chanyeol, quando ele diz que o relacionamento anterior foi infeliz, ele quer dizer o quê? Ocorria alguma forma de abuso?
- Sim – Chanyeol concordou, suspirando nervoso. – Ele... o ex namorado batia nele. E mandava nele. – O médico agora não anotava mais, apenas encarava o empresário com muita atenção.
- Relacionamento abusivo – O médico concluiu e Chanyeol balançou a cabeça. – Você diz que ele tem pesadelos frequentes... algo mais de diferente? Algo que você notou de estranho, que possa ter relação com isso?
- Hm... – Chanyeol pigarreou, sentindo-se um tanto constrangido. Não sabia se deveria lhe contar sobre as relações sexuais, mas julgou que sim, afinal, ele era médico. – Tem algo recente. Que mudamos, e tem a ver com o passado dele.
- Só me conte se se sentir confortável. Eu vou sugerir que Baekhyun compareça a consulta no psicólogo que marcou para ele e assim o caso seja melhor analisado. Provavelmente ele vai ser encaminhado para um psiquiatra, porque eu acho que estamos lidando com estresse pós traumático.
- Tudo bem. Eu só quero que ele fique bem, tenho medo que algo aconteça de novo. A situação toda é meio estranha e imprevisível. Não me importo em contar. Ele não vai falar com o senhor sobre isso, Baekhyun é muito discreto, mas estou com medo por ele. Bem... ele costumava ser ativo nas relações sexuais anteriores, e comigo ele foi passivo pela primeira vez. E faz pouco tempo que mudamos, ele voltou a ser ativo. Eu não sei se isso pode ter a ver, talvez ele tenha se lembrado do ex namorado com mais intensidade pela mudança... não sei...
- Hm, sim. É bem provável. O transtorno de estresse pós traumático funciona bem assim. Se a vítima passar por experiências que façam ela lembrar do trauma, podem ocorrer crises nervosas como essa de hoje. Mas não vou afirmar nada, sou clínico geral, compreende. Preciso que ele compareça a consulta com o psicólogo. É muito importante, entende?
- Sim, senhor. Vou levar ele no sábado.
- Isso. Até lá, sugiro que ele fique em repouso, sem ser estimulado de forma alguma. Não fale com ele sobre seu passado, faça de tudo para evitar maiores comoções. O psicólogo vai lhe explicar como lidar com a situação, não se preocupe. Mas até lá preciso que ele descanse. E caso alguma crise aconteça de novo, traga-o aqui, certo?
Chanyeol concordou com a cabeça. O médico escreveu por alguns minutos na ficha de Baekhyun e depois liberou Chanyeol para que ele aguardasse o namorado junto com Jongin na sala de espera.
Não se surpreendeu ao chegar lá e encontrar Kyungsoo conversando baixo com Jongin, os dois sentados um ao lado do outro encostados em suas poltronas de braços cruzados. Ao ver Chanyeol, Kyungsoo se levantou rápido e caminhou até ele, diminuindo a distância entre os dois.
- Ele está bem agora, não se preocupe. Jongin me ajudou bastante. Quando ele sair você conversa com ele. Aparentemente foi um surto nervoso, ou de ansiedade... não entendi muito bem. Levarei ele no psicólogo sábado.
Kyungsoo concordou com a cabeça e suspirou, voltando a sentar ao lado de Jongin. Chanyeol sentou do outro e os três aguardaram por quase meia hora até Baekhyun ser liberado, segurando um atestado nas mãos para que fosse dispensado no dia seguinte. Kyungsoo levantou feito um foguete e caminhou até o amigo, o abraçando sem muita delonga. Baekhyun gemeu de desgosto, fazendo Jongin e Chanyeol rirem um pouco.
- Não se preocupe, eu vou falar com a direção amanhã de manhã bem cedo. Explicar que está passando por um momento delicado, e eu vou me dispor a substituí-lo. Já fiz isso antes, lembra? Deu tudo certo. – Kyungsoo falava enquanto segurava a mão do amigo meio forte. Baekhyun concordou com a cabeça e tentou puxar a mão sem sucesso.
- Calma, Soo... eu estou bem. – Baekhyun resmungou, encarando o lábio inferior do melhor amigo ser mordido com uma intensidade exagerada.
- Vou ficar com ele amanhã durante o dia. Não se preocupe, mesmo. Qualquer coisa trago ele aqui de novo.
- O quê? – Os dois encararam Chanyeol, muito confusos. Baekhyun, já com as narinas infladas de impaciência, parou na frente do namorado e cruzou os braços. Ele já estava bem melhor agora e isso fez o empresário respirar mais tranquilo.
- Não vai deixar de trabalhar pra ficar comigo. Nem pensar. – O professor falou, autoritário. Chanyeol rolou os olhos e balançou de leve a cabeça.
- Eu sou dono da minha empresa. Se eu quiser, paro de trabalhar e me aposento agora mesmo. Sehun existe pra isso. E Seulgi vai entender, mandei uma mensagem pra ela enquanto esperava.
Baekhyun continuou balançando a cabeça em negativo, contrariado.
- Não. É sério, Chanyeol, já chega. Eu não vou aceitar você se prejudicar para...
Chanyeol esticou a mão e tampou a boca de Baekhyun enquanto o puxava para seus braços. Jongin riu, abrindo um sorriso de admiração, e Kyungsoo lançou um olhar de canto para o bailarino, rindo um pouco também.
- E quem disse que você precisa aceitar algo? – Chanyeol perguntou, abraçando Baekhyun por trás e ainda mantendo a mão em sua boca. - Eu vou ficar em casa cuidando de você amanhã e durante o final de semana. Hyohee vai aparecer por lá amanhã de noite e provavelmente vai querer ajudar no seu “resfriado”. – Ele usou a mão livre para simular as aspas com os dedos. - Se prepare para ser paparicado em dobro.
O professor bufou contra a mão do namorado mas acabou aceitando. Antes de se despedir, Kyungsoo pediu de canto para que Chanyeol lhe mandasse algumas mensagens durante o dia, lhe informando a situação do melhor amigo. Ainda abraçando um Baekhyun sonolento, Chanyeol observou Kyungsoo trocar algumas palavras com Jongin antes de sair da sala de espera da emergência e desaparecer pelo corredor em direção ao estacionamento.
Era sua impressão ou os dois estavam se aproximando? Sorriu discreto, tentando não demonstrar que havia notado algo.
- Seu namorado parece estar caindo de sono, Park – Jongin murmurou, os olhos em um Baekhyun descansando a cabeça no peito de Chanyeol. Se aproximou dos dois de braços cruzados. – Sugiro voltarmos para casa.
- Muito obrigado pela ajuda, Jongin – Baekhyun falou, a voz baixa e realmente sonolenta. – Desculpe atrapalhar.
- Vizinhos existem para isso. Para arrombar portas e dar caronas. E emprestar açúcar, apesar de ninguém na minha casa saber cozinhar. - Baekhyun e Chanyeol riram. – Vai descansar mesmo, não vai? E qualquer dúvida de medicação básica podem perguntar, meus pais estão sempre dispostos a ajudar Chanyeol.
Os três agora já saíam da emergência e atravessavam os corredores para alcançarem o carro de Jongin no estacionamento.
- Eu realmente não sei como agradecer, Jongin. Primeiro os ingressos, agora isso... podemos combinar um jantar? Leve alguém com você, quero pagar tudo. – Chanyeol pediu, fazendo o bailarino negar com a cabeça.
- Não precisa se incomodar... mesmo...
- Vamos, eu e Baekhyun gostamos de você. Queremos passar um tempo conversando.
Jongin pensou por um momento, tirando as chaves do carro do bolso enquanto as portas automáticas da saída se abriam para os três.
- Tudo bem. Quando Baekhyun estiver melhor podemos sair. Me avisem.
Chanyeol concordou e sorriu satisfeito, agora ajudando o namorado a entrar no carro, que não estava estacionado tão longe da entrada, abrindo uma das portas dos bancos de trás.
No percurso de volta Baekhyun pegou no sono pesado, deixando Jongin e Chanyeol sozinhos e uma música clássica calma e baixa tocando no ambiente aquecido.
- Você escuta música clássica no tempo livre? – Chanyeol perguntou, os dedos acariciando de leve os fios escuros do namorado adormecido. – Achei que bailarinos enjoavam.
- Oh, sim. É minha grande paixão, depois do balé. É muito clichê da minha parte dizer que é o ritmo mais gostoso de dançar?
Chanyeol riu, o observando pelo espelho retrovisor.
- Um pouco. E ao mesmo tempo de forma alguma. Sabe dançar outros ritmos?
- Sei. Danço de tudo, mas balé clássico é o meu favorito.
O empresário concordou em silêncio e os dois escutaram as notas calmas por um breve instante.
- Do Kyungsoo toca piano com maestria, sabia disso? Baekhyun já me mostrou alguns vídeos de apresentações de quando ele era mais novo. Ele toca diversos instrumentos, na verdade. É professor de música na escola da Hyohee.
Jongin lhe lançou um olhar curioso pelo espelho, um sorriso de canto nos lábios bonitos.
- Ele me falou. Enquanto esperávamos vocês, conversamos brevemente. Ele me perguntou como andava lá no teatro e então eu perguntei sobre a profissão dele. É uma bela profissão. Músico.
- Ele é ator também, mas pela formação dupla em música sua especialidade são musicais. Ele dá aulas de música e teatro pras crianças, Hyohee adora as aulas dele.
Jongin concordou com a cabeça, as sobrancelhas discretamente levantadas, processando e refletindo sobre a nova informação.
- E por quê está me contando tudo isso? – Jongin interrompeu a música que tocava com a pergunta curiosa, novamente espiando Chanyeol pelo espelho retrovisor.
- Ah... porque você está diretamente conectado à música e atuação, certo? – O empresário explicou, mas um sorriso esperto brincava no canto dos lábios. Jongin concordou, sorrindo desconfiado também. – E porque ele está solteiro e vocês combinam.
Jongin riu baixo, concordando com a cabeça.
- Sabia. Também estou solteiro. No momento feliz com minha solidão, me dedicando ao meu trabalho.
- Mas o que acontece se você se apaixonar?
O bailarino suspirou, ainda sorrindo de canto, obedecendo a sinalização da rua e parando no semáforo vazio.
- Bem, daí é outra história. Não estou em busca de um amor, mas caso eu me apaixone não vou resistir. Sou romântico, sabe. Mas sou um romântico muito independente.
Chanyeol riu e concordou. Baekhyun se mexeu em seu colo, passando um braço por cima de sua barriga e o abraçando melhor. O empresário o observou um tanto hipnotizado e Jongin percebeu.
- Como é amar alguém? Nunca me apaixonei antes.
Ele suspirou, sorrindo e pensando por um momento em como responder aquela pergunta tão simples e ao mesmo tempo tão complexa.
- Amor é admiração e respeito. É cuidado e carinho. – Chanyeol afastou a franja de Baekhyun da testa, que acabou caindo pela movimentação. – Eu amei muito a Sooyeon, minha ex mulher. De verdade. Era aquele tipo de amor que arrebata a gente, sabe? Arrebatou tanto que ela engravidou por descuido nosso. Só que a vida tem disso, algo tão pleno e forte pode acabar de um dia pro outro. Acredito que tudo tem seu tempo. Nossa paixão acabou, mas eu ainda a amo por ser a mãe da minha filha. E apesar de não nos darmos bem, nos respeitamos. Ela me enche de desaforos mas no final ela me respeita e eu respeito ela. Sooyeon não pensou duas vezes em apoiar a gente. No final, queremos a felicidade um do outro. Acho que isso é amor. Não é mais amor romântico, mas é amor pela nossa filha. Um laço que nunca vai arrebentar.
Jongin se distraiu com o discurso e recebeu uma buzina do carro de trás. Acordou da distração e arrancou, voltando a ficar atento.
- Uau – O bailarino murmurou, pensativo. – Então amor é pensar no bem do outro.
- É, acima de tudo é isso, sim. É quando a gente deixa de pensar só no que queremos pra nós mesmos e começamos a querer ver o outro sorrir, onde quer que esteja. Parece complexo, mas é muito simples.
- É simples e bonito.
- É, sim. Espero realmente que você possa sentir isso um dia, se for o seu desejo. É como colorir um desenho só de contornos. Os contornos são bonitos sem cor, tem o seu valor sem a cor, só que estão dispostos a serem coloridos e... fica incrível, não fica?
- Fica. De tirar o fôlego. – Jongin concordou, sorrindo. O silêncio caiu sobre os dois, sendo preenchido apenas pela música, e Chanyeol acabou fechando os olhos e descansando a cabeça no encosto até chegarem de volta nos apartamentos.
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