História You and I - Uma folha e um começo

Andar não era um dos meus exercícios prediletos mas confesso que era relaxante. Observar as pessoas na rua, ver as famílias se divertindo, pessoas felizes e outras nem tanto. Sempre gostei de olhar para as pessoas e tentar enxergar além, tentar adivinhar como seria a vida dela só de olhar dentro dos olhos.
Eu também sempre gostei de ser louca.

-Hey! - ouço minha melhor amiga - nem espera pra ir pro colégio né? - sorrio e quando Anna se aproxima nos abraçamos

-Bom dia também, suponho que acordou atrasada. - continuamos andando

- E como! Você acredita que o despertador não tocou? Eu não sei o que acontece com o meu celular, sério

-Eu também não sei o que acontece com o seu celular há cinco anos. - ri

-Eu tô falando sério Liv

-Eu não disse que não estava - levantei as mãos como sinal de rendimento ainda rindo. Era impressionante como Anna conseguia usar a mesma desculpa do despertados por cinco anos.
Chegando na escola era a mesma coisa de sempre pós-feriado: uma galera de ressaca dormindo em pé e outra parecendo que acabou de chegar da Tomorrowland.

-Bom dia flores do dia - Tyler diz se aproximando

-Bom dia Tyler - respondemos em coro - como foi o feriado? - perguntei

-Não o mesmo sem você - reviro os olhos e dou risada - não mas na boa, a festa da Jenna foi demais, vocês deveriam ter ido.

- O que teve de bom lá? - perguntou Anna enquanto íamos andando até os armários

-Bebidas e mulheres. As amigas delas são bem simpáticas, sabia? - ele falou em tom de malícia e eu revirei os olhos

-Eu imagino como, peitos geralmente dizem oi de uma forma bem simpática mesmo - fui sarcástica fazendo-os rir

Peguei meus livros de álgebra, história e francês seguindo para a minha sala.
-Bom gente, preciso ir. Vejo vocês mais tarde

-Beleza Liv, até.

Três aulas passaram do mesmo jeito que as broncas da minha mãe: dá dor de cabeça e parece que não acaba nunca.
Fiquei desenhando (rabiscando, na verdade) qualquer coisa no meu caderno enquanto não acabava a de francês.

-Alunos não se esqueçam do trabalho de literatura francesa para a semana que vem. Quero no mínimo cem linhas. - revirei os olhos ao ouvir aquilo, como eles conseguem? É chato pra gente que faz as cem linhas e chato para os professores que corrigem. Vamos facilitar a vida galera?
Peguei meus materiais e fui em direção ao meu armário para guardá-los. O sinal não tinha batido ainda, o professor de francês pelo menos nos liberou mais cedo.

Estou eu andando tranquilamente até que escuto um barulho bem atrás de mim, olho para trás e vejo que era só o balde da tia da limpeza, mas quando viro pra frente...
Eu sinto um choque tão grande de algo forte batendo em mim, que eu caí com tudo no chão. E doeu, doeu pra caralho na verdade. O ser humano vem correndo na minha direção que nem pra frente estava olhando, resultado: deu merda.

-Puta merda! - murmurei ainda caída no chão de olhos fechados

-Ai - a pessoa gemeu de dor na minha frente, provavelmente caída no chão também - nossa me desculpa - abro os olhos e vejo um garoto da mesma idade que eu, já devo ter visto ele por aí.

-Não, me desculpa eu que tava olhando pra trás que nem uma retardada - me ajoelho e começo a pegar os livros e folhas que caíram no chão, vejo que o menino está fazendo o mesmo

-Eu machuquei você? - olhei para ele que tinha um olhar de preocupação sobre mim e neguei com a cabeça. Seus olhos eram tão azuis e suas bochechas rosadas. Pele branca, cabelos castanhos claros e arrumados num perfeito topete.
Volto a pegar as coisas do chão e guardar mas nem percebo que o garoto está com uma folha na mão. Uma folha minha. Lendo.
Antes que eu possa explicar ele toma a frente:

- Você que escreveu? - ele me olha surpreso e sorri

-Ah isso não é nada demais, é só... - digo sem jeito ficando de pé. Ele faz o mesmo

-Parece uma letra de música - ele volta a olhar o papel e nesse momento eu acredito que minha cara esteja mais vermelha que um pimentão - Há quanto tempo escreve?

- Alguns anos já

-Eu achei muito boa. - eu meio que fiquei sem reação - é Olivia não é?

-Sim, como...?

- Me lembro de você no festival de dança. - agora eu tô roxa - Martin - ele estende a mão e eu aperto

-Ah sim, já ouvi falarem de você, você é..
- DJ - ele completa e eu confirmo - então, Olivia

- Liv por favor - sorrio

-Liv. Então Liv, como você sabe eu sou DJ, o que significa que eu faço músicas.

-Certo, e onde quer chegar com...?

-Eu gostei muito da sua letra, muito mesmo. E eu acho que seria muito bom fazer músicas usando, algumas de suas letras talvez

-Ah não, não. Isso tá horrível, eu escrevi sem pensar, foi só, só por escrever sabe

-E é por isso que ficou bom, porque foi natural. Você apenas... Escreveu

-Ta falando sério?

-Tô. E se você topasse eu poderia usar sua letra em algumas músicas, com direitos autorais claro, e podíamos escrever algo juntos, sei lá

-Eu acho que... Bom eu não garanto que vá ficar uma maravilha, mas eu adoraria tentar - sorrio sem jeito e ele abre um sorriso de orelha a orelha

- Ótimo! Me dá seu telefone, eu vou te mandar uma mensagem essa semana e podemos marcar um dia

- Ah sim - passei o telefone pra ele num pedacinho de papel - obrigada, eu acho

-Nos vemos então Liv. - ele acenou e saiu andando - E desculpa por te derrubar! - gritou do fim do corredor e eu ri. Que loucura!
Nem percebi que o sinal já havia tocado. Corri pra comprar o meu lanche e no refeitório encontro Anna e o pessoal.
Éramos um grupo de 5 amigos: eu, Anna (minha melhor amiga), Tyler, Mike e Sarah.

-Oi pra quem eu não vi ainda

- Oi Liv - disseram em coro - eu fui expulso da aula de inglês - Mike fala na maior cara de pau do mundo, o que me faz rir

-O que você fez cara? - Tyler pergunta rindo também

- O professor ficava jogando indiretas pra quem não não tinha entregue o trabalho na semana passada e eu falei que ele era um banana. - deu de ombros e voltou a comer seu sanduíche enquanto todos nós explodíamos em risadas.

-Chamou o gordão de banana?

- É o que ele é - riu - Anna tava na sala, ela viu

-Presenciei essa cena, vou guardar no fundo do meu coração.

- Acho bom, porque na próxima eu sou suspenso.
Terminamos de comer e lá se passam mais quatro aulas, a única que me prendia a atenção era redação. O resto tava difícil se concentrar.
Acabando a aula me despedi do pessoal e fui andando pra casa, a mesma coisa de sempre: chega, toma banho, almoça, lava a louça e dorme.
Pelo menos o almoço foi lasanha, e tava uma maravilha. Eu moro com a minha mãe e meu padrasto, meus pais são separados há 7 anos e eu me dou bem com todos. Minha mãe trabalha o dia todo o que significa que a maior parte do tempo eu passo sozinha.
Eu estava sem sono e então decidi assistir série, The Vampire Diaries, a minha preferida da vida.

*Martin*

Cheguei em casa exausto, e olha que ontem tinha sido feriado. Almocei maravilhosamente bem, repeti umas três vezes e como sempre subi pro meu quarto pra trabalhar.
Faziam duas semanas que eu estava criando uma nova música, agora só faltava terminar. É cansativo, mas amar o que você faz é a recompensa, e o dinheiro também é claro, se não eu não vivo né.
A letra de música que aquela garota com quem trombei mais cedo na escola me deixou muito intrigado, eu acho que seria uma boa trabalhar com ela, eu estava um pouco cansado de produzir sozinho. A maior parte do tempo eu estou no computador, ou dormindo. E aos finais de semana fazendo shows.
Resolvo mandar mensagem para Olivia:

Oii, é o Martin :)

Olivia
Oii Martin, resolveu se vai querer mesmo a letra?

Claro que eu vou! Ela é realmente boa, você tem mais alguma aí com você?

Olivia
Eu posso ver se tenho alguma guardada aqui, se minha mãe não tiver jogado fora... Mas eu te mando se achar

Ótimo! Se não for problema pra você, pode vir aqui em casa e escrevemos algo junto. Falando nisso, você sabe tocar algum instrumento?

Olivia
Sei tocar violino e piano. Ah e não é problema algum, podemos marcar sim!

Pode me ajudar com o teclado? Acredito que seja parecido com o piano

Olivia
Claro, eu te ajudo sim

Obrigado Liv, e tudo bem ser sexta depois da escola?

Olivia
Sem problemas

Beleza então, nos vemos amanhã ;)

Olivia
Até amanhã então!

Estava tudo certo com a Olivia, ou Liv, não sei como chamá-la ao certo. Mas eu estava feliz de algum forma, sábado eu iria para Ibiza tocar mais uma vez lá. Era um lugar realmente maravilhoso e com uma vibe muito boa.
Deitei na minha cama e fiquei mexendo no celular até que acabei dormindo, o legal é que eu só percebi que dormir quando acordei assustado com o telefone tocando. Prêmio Nobel pra você, Garrix.

- Fala cuzão - atendi Julian
- Uau, que simpático você. - ri
- Você me acordou cara, tem noção da gravidade disso?
- E nós vamos para Ibiza sábado, tem noção da gravidade disso?
- Tenho.
-Vem cá, você vai como pro aeroporto. Porque eu acho que minha mãe não vai poder me levar.
- Relaxa, você vai comigo. Dorme aqui na sexta, eu não quero me atrasar.
-Ui, senhor pontual. Fechou então, sexta eu vou pra aí
-Ok, e trás o meu fone que eu esque... - o filha da mãe nem esperou eu terminar e desligou. Ele sabia que eu ia falar do fone, não vai trazer, perdi um fone pra vida toda. Droga.

Olhei no relógio e eram umas 18:00 e pouco, peguei minha bicicleta e resolvi ir andar pelo bairro. O que eu mais amo é andar de bicicleta, a sensação é única.
Eu amava Amsterdam, tudo aqui é bonito e me trás uma paz incrível. Acabei indo para uma pracinha que tem aqui perto, eu sempre vou pra lá pra pensar. E ultimamente, por mais feliz que eu estivesse, cheio de trabalhos e pessoas me reconhecendo, eu sentia que faltava alguma coisa. Acho que o receio de talvez nada dar certo as vezes tomava conta de mim.

Dia seguinte

Álgebra, física e geografia. POR QUÊ DEUS? POR QUÊ, ? Dia mais chato, impossível.
- Martin, pode me explicar o porquê do x ser elevado à quarta?
Fechei os olhos, contei até 10 em dez milésimos, sorri amigavelmente para o velho na minha frente e disse:
-Não.
- Bom, alguém sabe? - fiquei feliz em ninguém ter respondido essa. Olhei para o outro lado da sala e lá estava Julian, mais mongo que meu vô quando o assunto é rede social. Pra variar, olhando pra Karla. Uma garota na qual ele tara desde a oitava série.
Ataquei uma bolinha no mongão que me olhou com cara de cu.
- Limpa, tá escorrendo -sussurrei e fiz sinal pra ele limpar o queixo, e recebi um dedo do meio lindo dele.
- Vai comer uma vai - respondeu ele irritado, o que me fez rir.
Depois de receber um olhar mortal do velho da álgebra, tentei prestar atenção na aula, e até que o tempo passou rápido, já que eu nem notei o sinal.
-E ai, tá animado pra sábado? -Julian perguntou enquanto íamos para o refeitório

-Tô, falou com a sua mãe sobre sexta?
-Falei, vou pra lá umas 19:00 horas

-Ai caramba - coloquei a mão na testa ao me lembrar que sexta a Liv ia pra lá

-O que foi?

-Sabe a Liv? Olivia?

- A bailarina?

- Ela é bailarina?

-Se for a mesma Olivia de quem a gente tá falando é. Mas o que tem, tá comendo ela?

-Não Julian, meu Deus. Eu descobri que ela escreve. Escreve músicas, e chamei ela pra ir lá em casa sexta pra gente tentar fazer alguma música juntos.

- É sério isso?

- É sério. Falei pra ela ir depois da escola

- Eu tô ligado no que vocês vão compor. - ele sorriu maliciosamente e eu revirei os olhos

- Enfim, ela vai me ajudar com as notas do teclado também.

- Caramba o que mais ela vai fazer pra você?

- Se continuar assim, peço pra ela te matar.

- Eu comeria antes - ele riu e eu bufei. -Julian é tão idiota que meu Deus.

Comemos vendo a linda cena do Joe (um galinha) se agarrando com a Lynn (minha ex) o que foi bem... Nojento.
Nós terminamos por uma traição dela, faz um tempo já. Mas ainda é desconfortável.
-Ei Martin! - chegou o Sam - fiquei sabendo que vai pra Ibiza sábado

-Pois é cara, estarei lá

-Ainda tem ingressos sobrando? Eu tenho uma prima que mora lá e ela queria muito ir.

-Fala pra ela dar uma olhadinha no site que com certeza tem ingressos ainda. Você devia ir Sam

- Eu estou louco pra ir, mas dessa vez não vai rolar. Boa sorte lá cara!

-Obrigado! - olhei pra Julian - estamos famosos irmão! - dei tapinhas em seu ombro.

- Você tá famoso, Martin. - ele deu ênfase no "você" e eu revirei os olhos - nós ainda vamos viajar o mundo com nossas turnês

- Definitivamente vamos! - sorri