POV Louis
Ainda estou surpreso, com raiva e uma pontada de medo com todas as informações que Rick nos trouxe sobre as loucuras do Adam, mas Harry reage mais rápido e entra em ação. Ele decide ir primeiro até a academia resolver o problema do funcionário espião, e eu até quero ir junto, mas surgem alguns problemas na obra que precisam da minha atenção.
-Eu vou e resolvo isso num instante, só preciso confirmar e demitir o sem vergonha. – Harry diz, nós dois ainda estamos no futuro escritório da livraria. –Depois volto aqui para te buscar e vamos almoçar em casa, ok?!
-Tudo bem. – concordo, mas continuo inquieto.
-Amor, fique calmo. – ele diz ao perceber o meu nervosismo. –Eu prometi que irei resolver isso e vou... Nós ficaremos bem, ok?! Não precisa se preocupar.
-É meio difícil não me preocupar, Harry... O Adam é louco. – resmungo, mas me afundo ainda mais nos braços dele e o aperto contra mim.
-Olha, vou ligar para o meu pai e pedir para ele conversar com o amigo policial dele, ver se podemos fazer mais alguma coisa, tomar alguma outra atitude, isso te deixará mais tranquilo? – ele sugere e eu assinto, mesmo achando que não poderemos fazer muita coisa.
-É que não estou só com medo, estou ficando com mais raiva... Ele não pode ficar interferindo na nossa vida desse jeito.
-E não vai mais! – ele exclama, posso ver que também está com raiva e surpreso, mas ele parece mesmo tranquilo na certeza de que o Adam não poderá nos atingir, e eu tento me agarrar nessa segurança dele para me sentir melhor. –Chega de Adam, vamos deixá-lo completamente no passado de uma vez... E vamos nos concentrar no nosso presente e futuro.
-É tudo o que eu quero. – seguro o rosto dele e fico na ponta dos pés para alcançar sua boca e beijá-lo.
Ele me segura pela cintura e intensifica o beijo, sua língua passeia pela minha boca e seus dentes mordiscam meu lábio... O beijo fica mais voraz e no fim eu estou tão ofegante que minha preocupação sobre o Adam fica um pouquinho menor.
-Volto logo. – Harry sussurra.
-Qualquer coisa me liga, por favor.
-Te mantenho informado. – ele garante e me dá mais um beijo antes de sair.
Volto a me recostar na mesa do canto e fecho os olhos por alguns instantes, tentando colocar os meus pensamentos e emoções em ordem, não se passou nem uma hora desde o momento em que Rick entrou aqui, eu chamei o Harry, e ficamos sabendo de todas essas informações absurdas sobre o Adam, foi tudo muito rápido, mas parece que dias se passaram e eu me sinto exausto e frustrado, além de me sentir extremamente impotente diante tudo isso porque não tenho muito que fazer.
Uma batida na porta me desperta e um dos funcionários da obra diz que estão precisando de mim, então respiro fundo e assinto, seguindo-o e tentando mergulhar de cabeça no trabalho, deixando os problemas para depois. Mas não é tão fácil assim parar de pensar em tudo aquilo e fico aliviado quando recebo uma ligação da minha mãe e posso desabafar um pouco, ela demonstra tanta indignação quanto eu, mas tenta me tranquilizar, acreditando, assim como o Harry, que ficaremos bem.
Quando enfim consigo resolver todas as pendências do dia na obra, Harry volta, já passou muito da hora do almoço, mas sequer tive fome para ir comer algo, e agora ele está parecendo mais cansado do que quando saiu daqui e também um pouco mais irritado.
-Como foi lá? – pergunto depois de beijá-lo.
-Rick tinha razão, o filho da puta estava mesmo nos espionando. – ele bufa. –Precisei me controlar muito para não socar o infeliz, mas isso só nos traria mais problemas, agora ele está no olho da rua e, no que depender de mim, vai ter que voltar para Londres porque não conseguirá mais nenhum trabalho por aqui.
-Ele disse tudo o que contou para o Adam?
-Só as coisas que ouvia, sobre a casa, nossa parceria na livraria, a viagem que fizemos... Ele também admitiu que conseguiu o número do telefone da minha casa e passou para o Adam, assim como o do seu celular.
-Merda, então aquelas ligações estranhas eram mesmo ele. – concluo e praguejo. –Mas para o meu celular ele nunca ligou.
-Sabe-se lá o que se passa na cabeça daquele infeliz. – ele acaricia o meu rosto. –Vamos? Vou preparar algo para comermos e depois vou ligar para o Adam.
Sinto certo nervosismo só de pensar nessa ligação, mas concordo e nós saímos. Estou com o meu carro hoje, e Harry com o dele, então vamos separadamente, mas um logo atrás do outro, e chegamos na sua casa ao mesmo tempo.
Tenho muito mais roupas no closet dele depois daquela conversa em que ele sugeriu isso, ainda não falamos sobre morarmos juntos oficialmente nem nada do tipo, mas, sendo bem sincero, essa já é praticamente a nossa realidade. Nós dois nos trocamos e vestimos roupas mais confortáveis antes de irmos para a cozinha e, juntos, preparamos algo rápido, que comemos ali mesmo, sentados lado a lado na bancada, nossos pés enlaçados... Não falamos muito, nem mesmo sobre o Adam, mas sei que ambos estamos pensando nisso e é ainda mais frustrante o fato daquele cara estar conseguindo exatamente o que queria, que é nos perturbar!
Harry seca a louça que eu lavo e depois segura em meus quadris, me encostando contra a pia e me dando um beijo longo e lento, mas extremamente intenso.
-Tudo bem, seus beijos são mesmo um ótimo jeito de me acalmar. – sorrio e ele ri antes de afundar o rosto na curva do meu pescoço e inalar meu perfume profundamente, me apertando um pouco em seus braços.
-Vem, baby, vamos acabar logo com isso. – ele pega em minha mão e ao olhar em seus olhos, percebo que o beijo foi para acalmá-lo também.
Nós seguimos para a sala e Harry me puxa para que eu sente em seu colo, então pega o seu celular e liga para o Adam, que já o perturbou tanto por ligações e mensagens a ponto de ele ter o número decorado. Ele deixa a ligação no viva-voz e enquanto ouvimos um toque atrás do outro, sinto minha raiva ultrapassar o sentimento de medo.
-Achei mesmo que você me ligaria. – é o jeito como Adam atende a ligação depois de quatro toques.
Só de ouvir a voz dele, e o jeito arrogante como nos atende, fico ainda mais irritado, e pelo jeito como Harry crava os dedos com um pouquinho mais de intensidade na minha cintura, sei que ele sente o mesmo.
-O meu ex-funcionário, seu comparsa, já te ligou contando que foi demitido? – Harry diz e Adam ri.
-Coitadinho, Harry, você o assustou, ele já está até fazendo as malas.
-Você tem ideia do quanto é repugnante? – não me aguento e acabo falando.
-Oh, Louis... Está participando da nossa conversa também? – ele não parece nem um pouco abalado.
-Chega de ironia e desse papo idiota, Adam! – Harry diz, sua voz continua calma e baixa, mas muito mais profunda, o que é uma bela prova da sua raiva. –Você acha mesmo que vai pagar alguém para vigiar a minha vida e do meu namorado, que vai ficar fazendo planos mirabolantes para nos perturbar e que ficará por isso mesmo?
-Mas eu não fiz nada disso, Harry. – ele nega com a maior cara de pau.
-Não se faça de besta, Adam! – Harry exclama.
-E está pretendendo o quê? Me denunciar? Você não tem prova de nenhuma dessas coisas...
-Tenho o Rick e o seu informante.
-Você tem a palavra deles contra a minha, e, repito, não fiz nada disso.
Dá para perceber que o Adam se diverte com a situação, o que só mostra o quão doente ele é.
-Você sabe que não conseguirá nada do Harry, que nós estamos muito felizes juntos... Isso te deixou desesperado, não foi, Adam? Você é tão patético. – deixo a raiva extravasar.
-Patético é você vivendo esse conto de fadas ridículo aí. – ele responde, sua voz não mais tão divertida e amena quanto antes.
-Não vejo nada de ridículo por aqui, eu amo um homem maravilhoso que também me ama, e, como você já bem sabe, estamos planejando um negócio incrível juntos... Meus dias são repletos de amor e felicidade, coisa que você jamais terá porque é tão podre e ruim que nem mesmo deve saber o que são esses sentimentos. – digo.
-Esse homem que tanto te ama já foi louco por mim, sabia?! – ele retruca, dessa vez com raiva, demonstrando que minhas palavras o atingiram.
-O que senti por você não foi nada, absolutamente nada, perto do que sinto pelo Louis... – Harry diz. –E agora me ouça bem porque só vou dizer uma vez: Você vai parar com essa palhaçada de planejar coisas para nos atrapalhar, entendeu? Vai seguir com a sua vidinha medíocre e esquecer que existimos.
Dessa vez a voz do Harry soa ainda mais rouca e profunda, a ameaça tão presente em seu tom que o Adam demora alguns instantes para responder.
-Está me ameaçando, Harry?
-Estou te avisando que a partir de agora sou eu que vou fazer de tudo para te atrapalhar... Você mexeu com a pessoa errada, Adam, seu maior erro foi sequer pensar em machucar o Louis para me atingir, aguentei por anos você me atormentando por causa de dinheiro, mas não ficarei nem um segundo parado enquanto você pensa em prejudicar o amor da minha vida... Entendeu?
-O que você vai fazer? – ele soa receoso, mas também irritado.
E eu, bem, o meu coração bate disparado ao ouvir o Harry se referindo a mim como o amor da sua vida!
-Quando acontecer alguma merda na sua vida a partir de hoje, saiba que sou eu por trás. – Harry diz. –Quando sua vida profissional e pessoal começar a afundar, tenha certeza de que tem dedo meu nisso!
-Você não pode fazer nada, Harry!
-Ah, posso sim.
-Não devia ter me feito essas ameaças! – Adam quase grita.
-Você é que não devia ter tentado aprontar pra cima da gente... Agora está avisado, e é melhor ficar com os olhos bem abertos. – Harry faz uma última ameaça antes de encerrar a ligação sem nenhuma cerimônia.
-Nossa! Até eu fico com medo quando você usa essa voz. – murmuro e ele me olha, a tensão sumindo de sua expressão e um sorriso lindo tomando conta.
-Aposto que ele ficará na dele por agora, mas antes preciso mostrar que não estou fazendo ameaças em vão, que estou falando bem sério.
-Como assim?
-Descobri onde ele trabalha e um dos donos da firma é um conhecido da minha família, além de dever alguns favores ao meu pai, vou garantir que o Adam seja demitido e ele vai saber que fui eu.
-Caramba, você não estava brincando!
-Não mesmo. – ele me beija.
-É mais do que merecido, mas e se isso deixá-lo ainda mais irritado e perigoso? – não consigo deixar de pensar nisso.
-É só uma amostra para ele do que posso fazer se continuar nos perturbando, amor. – Harry soa confiante. –Adam pode ser maluco e estar querendo vingança, mas não tem poder nenhum, ele vai acabar desistindo ao perceber que não tem como vencer essa, até porque não tem mais o Rick com ele e ninguém para continuar nos espionando.
As palavras dele fazem total sentido e conseguem me deixar mais calmo.
-Você tem razão. – suspiro e me aconchego contra o peito dele.
-Vamos esquecer aquele filho da puta, ok?! Deixa comigo, eu resolvo tudo. – ele me aperta com carinho.
-Você é maravilhoso, sabia?! – o empurro para que ele se deite no sofá. –E eu te amo tanto, aliás, você também é o amor da minha vida.
Ele dá um sorriso quase tímido quando faço referência ao que disse pouco antes. Suas mãos envolvem o meu rosto e me puxam para si, o beijo me deixa nas nuvens, afastando os problemas, a raiva e os receios... Só o Harry importa, só nós dois importamos, e nada pode atrapalhar isso!
****
Os três próximos dias são muito calmos em comparação com o furacão que a visita do Rick trouxe. Adam não ligou mais, porém Harry garantiu mesmo que ele fosse demitido e fico imaginando como ele reagiu a isso, mas ele sequer fez uma ligação ou mandou alguma mensagem raivosa e ameaçadora, então acho que finalmente entendeu que não tem como vencer uma guerra contra o Harry e nos deixou em paz... Ao menos é nisso que resolvo acreditar.
Niall estava disposto a ir até Londres e matar o Adam com as próprias mãos quando lhe contei tudo, assim como nossos outros amigos e os Styles, todos indignados e irritados, mas todos também acham que o infeliz não tem como nos atrapalhar mais e que ele percebeu isso.
Então me foco em continuar ocupado com a obra na livraria e cafeteria, cada vez mais avançada. Mas hoje tirei a tarde para dar uma volta com Zayn, Matheus e o Niall, passar um tempo com eles é sempre tão bom. Harry infelizmente está ocupado no trabalho, o David está dando aulas e Liam em um plantão no hospital, então somos nós quatro.
Almoçamos juntos, levamos o Matheus para brincar no parquinho da pracinha, rindo até chorar quando Niall resolve ir no escorrega, pequeno demais para adultos, e fica entalado por alguns preciosos instantes.
As horas voam quando estamos tendo bons momentos e nos divertindo, por isso nem me surpreendo quando, rápido demais, começa a escurecer e precisamos ir.
-Você e o tio Harry vão lá em casa logo? – Matheus pergunta quando me abaixo para abraçá-lo. –Quero mostrar o meu quarto novo.
-É claro que vamos, aposto que seu quarto está incrível. – beijo a ponta do nariz dele, que ri e faz o mesmo comigo.
-Você e o tio David também. – se vira animado para o Niall que concorda, se abaixando ao meu lado para abraçar o pequeno.
Zayn e Liam fizeram uma grande reforma no quarto de hóspedes para transformá-lo em um quarto perfeito para o Matheus e por culpa de toda a correria dos últimos dias não fomos ainda lá ver, mas faço uma nota mental para lembrar ao Harry de que precisamos ir amanhã mesmo.
-Estou indo encontrar o David, essa hora ele já saiu do colégio. – Niall diz. –Vem comigo, Lou?
-Hum, acho que vou para a casa do Harry, preparar algo para o nosso jantar.
-Que fofura... Vocês são tão domésticos! – Niall aperta minhas bochechas.
-Para com isso! – o afasto com um empurrão e uma risada.
Mais alguns abraços e despedidas depois, cada um parte por um caminho e eu sigo no meu carro para a casa do Harry. Uso a minha chave para entrar e decido tomar um banho rápido antes de ir para a cozinha, onde começo a preparar uma lasanha, mas o meu celular toca quando estou prestes a colocá-la no forno e suspiro profundamente ao reconhecer o número do empreiteiro da obra na livraria.
Já imagino que tenha surgido algum problema de última hora para resolver e estou certo, eles necessitam da minha opinião em alguns detalhes que precisam ser resolvidos ainda hoje, então, mesmo querendo apenas colocar essa lasanha no forno e depois me enrolar no sofá com um livro em mãos enquanto espero pelo Harry, eu digo para ele que em pouco tempo estarei lá.
Estou de moletom, chinelos e uma camisa fina de mangas compridas, mas vou de carro e não devo demorar mais do que alguns minutos, então nem me dou ao trabalho de trocar de roupa, pego apenas o celular e as chaves do carro e da casa, mas assim que abro a porta dou de cara com o Harry, prestes a entrar.
-Ei, vai aonde com tanta pressa? – ele ri pelo nosso encontrão e se inclina para me beijar.
-Preciso ir na livraria, problemas de última hora. – reviro os olhos e ajeito os fios de cabelo que caem sobre seu rosto, meio bagunçados pelo vento frio ali de fora.
-Merda, quer que eu vá junto?
-Não, você acabou de chegar do trabalho, entre, tome um banho e me espera que eu já volto. – digo. –Ah, e eu preparei uma lasanha, mas não tive tempo de colocá-la no forno ainda, você pode fazer isso?
-Claro. – ele me olha mais atentamente e franze o cenho. –Está frio, amor, você deveria colocar uns sapatos e um casaco.
-Eu vou e volto rapidinho.
-Mesmo assim... – ele retira o próprio casaco, que é bem macio e quentinho, e começa a colocá-lo em mim sem nem ao menos me dar chance de recusar. –Pronto, bem melhor.
E não posso negar que amo sentir o perfume dele na peça de roupa, então apenas o agradeço e o beijo profundamente.
-Liga se precisar de ajuda. – ele murmura com sua boca ainda pairando sobre a minha.
-Pode deixar. – aproveito nossa proximidade para lhe dar outro beijo e ele sorri. –Te amo.
-Também te amo, baby. – ele acaricia meu rosto com as pontas dos dedos e seus lábios roçam nos meus mais uma vez antes de eu enfim ir para o meu carro e ele entrar em casa.
Já escureceu e as ruas estão praticamente vazias, além disso, está mesmo mais frio agora, então fico grato pelo casaco do Harry me aquecendo quando desço do carro e entro rapidamente na livraria. Restam apenas três funcionários ali e eu me junto a eles para resolver as pendências do dia, mas, é claro, as coisas acabam demorando mais do que eu imaginei que demorariam, então mando uma mensagem rápida para o Harry avisando que levarei pelo menos mais uma hora aqui, para que ele não se preocupe.
Aproveito para revisar as cores escolhidas para a pintura das paredes, que acontecerá já nos próximos dias, e nem consigo acreditar que estamos mesmo na reta final.
-Por hoje é só isso, então? – confirmo com John, o responsável por tudo ali, e ele concorda.
-Desculpe ter perdido para você vir assim, Louis.
-Tudo bem, o importante é que está tudo resolvido agora. – o tranquilizo.
-Então amanhã cedinho estamos de volta. – ele aperta minha mão e os outros fazem o mesmo quando os acompanho até a porta, mas antes de ir embora, dou uma ajeitada rápida em algumas coisas e vou até o estoque deixar umas caixas que chegaram hoje mais cedo e que contém objetos mais frágeis, então quero deixá-las em segurança.
E estou justamente terminando de guardar a última caixa lá dentro quando meu celular toca e o retiro do bolso da calça, atendendo sem nem mesmo olhar o número porque suponho que seja o Harry.
-Oi... – digo enquanto uso o quadril para empurrar uma das caixas mais para o fundo e me xingo mentalmente por não ter pensado em pedir ajuda aos caras para fazer isso antes de eles irem embora.
-Olá, querido... – mas a voz que soa do outro lado não é nada parecida com a do Harry.
-Adam! – praguejo mais um pouco, quando eu soube que ele tinha o número do meu celular até pensei em trocá-lo, mas o filho da puta nunca tinha me mandado uma mensagem sequer e acabei achando que não era necessário.
-Fico feliz por você reconhecer a minha voz. – ele diz com seu tom irritante e sarcástico de sempre.
-Não tenho tempo para as suas babaquices, Adam... – estou pronto para desligar na cara dele quando ouço um barulho vindo do lado de fora do estoque.
-Se eu fosse você, me ouviria com muita atenção. – ele volta a dizer, ganhando minha atenção, e eu bufo, me recostando nas caixas.
-É mais uma ameaça idiota? Achei que o Harry tivesse deixado as coisas bem claras na nossa última conversa.
-Ah, ele deixou sim, principalmente quando conseguiu que eu fosse demitido.
-Bem, ele te avisou que era para nos deixar em paz, não foi?!
-Ele avisou sim... Mas eu também avisei, Louis... – outro barulho vem lá de fora e dessa vez eu começo a sair do estoque para ver o que é, na certa alguma madeira ou ferramenta caindo. -O Harry pode até ferrar com a minha vida, mas eu não estava brincando... Vem aqui fora, Louis!
Assim que saio do estoque, que fica bem nos fundos, percebo ter algo de errado lá na frente, um clarão, um cheiro forte... Adam desliga sem dizer mais nada e eu congelo por um instante... Vem aqui fora, Louis... O desgraçado está aqui?!
Ando rápido agora, alguns passos a mais e sou atingido por uma cena que me faz paralisar de novo.
-É uma pena eu já ter que ir embora, Louis, mas aproveite... O clima está bem quente aqui dentro. – Adam diz da porta, a porta que eu deixei aberta porque nunca tive que me preocupar com isso por aqui, a porta pela qual o Adam entrou sorrateiramente, muito provavelmente depois de ter ficado horas ali fora vigiando, de ter me visto chegar, visto os caras da obra indo embora e percebido que era uma boa hora para colocar o seu plano maluco em ação.
E agora, ainda paralisado pelo choque, eu percebo que a intenção dele era mesmo de me machucar... Ele realmente não estava brincando!
Observo-o sair de vez e fechar a porta com um baque, mas não posso segui-lo porque, entre o lugar onde estou paralisado e a porta de saída, labaredas cada vez maiores e mais assustadoras começam a se alastrar... Sei que são apenas segundos, mas parece uma vida inteira enquanto os meus olhos percorrem o fogo na minha frente... Não consigo acreditar que isso está mesmo acontecendo, mas está, posso sentir o calor ficando insuportável, a fumaça... Adam entrou aqui e em questão de minutos, enquanto me distraía no telefone, colocou fogo no sonho que o Niall, Harry e eu construíamos juntos... E, então, me deixou ali para queimar também.
O desespero vence a paralisia do choque e dou alguns passos pra trás, o casaco do Harry fica grande em mim, então uso a manga para tapar meu nariz e boca enquanto olho ao redor tentando encontrar uma saída.
Ainda não tem vitrines, os lugares onde elas ficarão estão ocupados por madeiras pregadas, e mesmo assim não tenho como chegar lá porque o fogo está avançando muito rápido, ao redor tem tanta madeira, papelão, plástico, e tudo alimenta o fogo com uma rapidez assustadora.
Não temos uma porta nos fundos e as grandes e bonitas janelas laterais seriam uma ótima saída, mas o fogo já está lá... Adam começou o incêndio exatamente no lugar onde me impediria de alcançar a saída, e agora eu só posso recuar, ir mais e mais para os fundos, onde não tenho como escapar.
E então, em meio a todo o choque e incredulidade, sinto o celular ainda em minha mão e suspiro trêmulo quando o ergo, só para sentir meu coração afundar em mais desespero.
-Merda de bateria. – grito.
Harry vive reclamando que eu deixo essa bateria acabar, nunca presto atenção quando ela está baixa demais e precisa ser recarregada... Mas não tinha pior hora para ela acabar, provavelmente a ligação do maluco acabou com o que restava dela. Não foi ligada a linha de telefone aqui ainda e eu não tenho como pedir ajuda, tento gritar, mas a fumaça me faz tossir e, de qualquer forma, as chamas já devem ter chamado atenção de alguém... Mas não posso ficar simplesmente parado esperando!
O fogo avança tão rápido, o barulho, o calor, o cheiro, minhas pernas tremem, mas corro para o mais longe possível e acabo indo parar dentro do estoque de novo... Minha mente não funciona direito, o meu corpo todo treme tanto, mas olho horrorizado ao redor, morrendo de medo do fogo me alcançar... E é quando vejo algo de que, em meu desespero, nem lembrei existir aqui.
-Isso tem que servir! – murmuro comigo mesmo ao encarar, bem no alto, uma pequena janela.
Não é nem exatamente uma janela, sequer dá para abri-la, apenas um quadrado não muito grande, já envidraçado, para permitir que um pouco de luz natural entre no pequeno estoque. E fica no alto, mas é a minha única saída, no escritório também terá janelas, mas elas também não foram envidraças ainda, lá eu só vou encontrar mais madeiras pregadas... E não tenho tempo a perder!
Tem uma mesa pequena com algumas ferramentas e madeiras em cima perto da porta e eu a arrasto até encostá-la na parede da janela... Ouço estalos lá fora, a fumaça começa a me alcançar mesmo ali dentro, sei que o fogo está chegando aqui, e sei que preciso correr.
Subo na mesa e suspiro de alívio ao constatar que assim consigo alcançar a janela, o vidro é o meu último obstáculo e alcanço um martelo em meio as ferramentas de cima da mesa, minhas mãos tremem tanto que tenho medo de não conseguir... Mas penso no quanto quero viver, no quanto ainda tenho para viver, penso na minha família, nos meus amigos... E penso no Harry, no sorriso dele, no jeito como me envolveu com o seu casaco antes de eu sair, como me beijou, ele está me esperando e eu preciso voltar para ele!
Seguro o martelo com minhas duas mãos, agora mais firmes, e uso toda a minha força para chocá-lo contra o vidro, preciso de três tentativas, mas ele enfim se estilhaça... Muitos cacos caem sobre mim e me machucam, mas é com o que menos me importo agora.
Tentando ser rápido, tiro o casaco e o uso para retirar os restos de vidro que ficaram na moldura da janela, deixando a abertura mais limpa e segura possível para que eu possa sair por ali.
É apenas um quadrado, mas pela primeira vez na minha vida agradeço por ser pequeno, Harry com certeza não passaria por ali, mas eu consigo. Volto a vestir o casaco e me impulsiono para cima, mesmo fazendo o possível para me livrar de todos os cacos de vidro, sinto minhas mãos cortando um pouco e a dor me faz arfar...
Não é fácil, voltei a tremer e tenho medo de cair, mas respiro fundo de novo e consigo passar a cabeça e metade do corpo para fora... Não tem ninguém ali na rua lateral, mas consigo observar movimentos lá na frente e grito por ajuda, minhas voz sai tão estranha aos meus ouvidos, meio estrangulada... Mas ainda estou gritando quando não consigo mais me equilibrar para sair com calma e cuidado, e em questão de segundos escorrego totalmente pela janela e caio com tudo na calçada. A queda não é muito alta, mas o impacto faz meu corpo inteiro doer e uma dor ainda mais forte irradia por todo o meu braço direito, fazendo com que eu me encolha no chão frio.
Repentinamente uma gota fria cai sobre o meu rosto e eu olho para o céu... Começou a chover!
Ouço passos se aproximando, pessoas perguntando se estou bem, mas não consigo falar nada, e só então percebo que estou chorando, o meu rosto está repleto de lágrimas, se misturando com as gotas de chuva que caem mais forte... Soluços rasgam minha garganta e eu não consigo controlar o choro, mas também nem mesmo tento... As pessoas desesperadas ao meu redor devem achar que estou chorando de dor, que estou gravemente ferido, mas, apesar do meu corpo todo dolorido e do meu braço possivelmente quebrado, apesar de saber que algo no qual venho trabalhando tanto nas últimas semanas está sendo consumido pelo fogo, o meu choro é de puro alívio...
Porque eu estou vivo... Estou vivo, estou vivo... É a única coisa que passa pela minha mente... Eu consegui sair de lá...
Deve ter se passado poucos minutos desde o momento em que o insano do Adam colocou fogo até eu escorregar por essa pequena saída, mas pareceu ter sido horas, dias, meses, anos... Foi como uma vida inteira enquanto eu estava lá dentro... Mas passou... Um mínimo sorriso surge em meio ao meu choro e penso no Harry me esperando em casa... Eu consegui e agora vou poder voltar para ele!
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