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História You burned my soul. - Dead Inside


Escrita por: sweetdisasters

Capítulo 2 - Dead Inside


Nunca gostei do barulho dos metais em geral. Chaves, ferramentas, talheres, tudo me perturbava excessivamente. Estou ouvindo esse som que odeio a cada um segundo. 

Agora. Agora. Agora.

Meu pulso já estava dolorido quando eu soltei o garfo. Coloquei minhas duas mãos sob a bancada de granito negra e abaixei minha cabeça. 

Ao fechar meus olhos fui atingida bruscamente pelas memórias da noite passada. Se eu me concentrassse o suficiente podia sentir seu toque em mim. Seus lábios arrimados nos meus, suas mãos eletrizando todo meu corpo.

— Bri — Anne chamou, me puxando de volta para a realidade, me fazendo tomar um susto —, qual o problema?     

— O que você quer dizer? — Perguntei, virando-me para ela.

— Você. Agindo mais estranha que o normal. Isso ainda é por causa daquele cara de ontem? — Eu não havia contado nada a ela — Você ficou super bolada pelo fato dele ter o mesmo sobrenome que Kiran. Tem algum problema?

— Não! — menti. — Estou bem — outra mentira.

Ela acenou positivamente, dando um sorriso fraco que sempre me fazia sentir melhor. Eu voltei a bater os ovos para um omelete. 

Durante o café, Anne não parava de falar. Não escutei metade do que ela dizia, exceto as partes em que ela gritava aos risos. Eu ria junto. Ela era uma daquelas pessoas sempre alegres que nos fazem sentir seguros e felizes sempre. Não podia ter desejado uma amiga melhor. 

Estávamos comentando sobre um dos rapazes quando a porta principal chocou-se na parede. Kiran fez uma cara desajeitada, como se tivesse cometendo um crime. Eu ri. 

— Oi — falei num tom baixo e tímido.

— Oi Bri — as palavras saíram de sua boca, soando como um pedido de desculpas. Ah, Kiran... eu que devo me desculpar.

Anne se levantou de fininho, colocando seu prato na pia e seguindo até Kiran, dando um beijo em sua bochecha e indo até um dos quartos. Olhei para meu noivo. Ele parecia arrependido, com seus olhos de perdão destacando seu rosto. Nos encaramos por um tempo, até que eu abaixei meu olhar e encarei o nada. O que devo fazer? Contar a verdade e estragar nosso futuro ou mentir e me matar por dentro? 

Tortura psicológica era o que eu fazia comigo agora. Kiran estava na sala, assistindo alguma coisa estúpida enquanto eu lavava a louça. Nenhuma palavra fora dita. 

Eu lavava cada prato como se fosse passar o resto da minha vida ali. Estava com medo de fazer tudo rápido demais e ter que encarar o homem que sentava em meu sofá. Perguntei-me se ele sabia sobre seu irmão. Se sabia que ele estava em Boston. Senti duas mãos em minha cintura.

Não.
Não era Damian.

Meus cabelos foram afastados de meu pescoço. Uma boca percorria minha nunca. 

Não era ele.

Minha orelha foi mordiscada. 

— Não quero brigar com você — alguém sussurrou. — Eu te amo. Muito — sua mão seguia até minha barriga —, muito — mais baixo —, muito.

Soltei um dos pratos que segurava, tentando fugir de seu toque. 

— Droga, Brianna. O que tem de errado com você?

— Nada, eu só não me sinto no clima.

— É. Certo. 

Ele riu. Eu odiava sua risada irônica. Queria poder acabar com tudo isso, contar a verdade e me livrar desse peso que estou carregando, mas não podia. 

— Eu tenho que ir — ele disse num tom frio. Dei uma olhada rápida e pude ver que ele estava esperando que eu fizesse alguma coisa. O que eu poderia fazer? Kiran passou sua mão na testa, num ato de raiva.

Não fiz nada. Deixe-o ir, algo dentro de mim dizia. 

E eu deixei.


***


Eu poderia contar o número de voltas que Anne deu pela sala. Literalmente. Trinta e cinco. Trinta e seis. Estávamos em silêncio há mais de 20 minutos. Vinte longos minutos depois que eu havia contado sobre o incidente com Damian. Quarenta. Quarenta e um. Assim que contei ela fez poucas perguntas e se manteve em silêncio logo após. Cerca de dois minutos depois lá estava ela, percorrendo minha sala de estar.

Quarenta e oito. Quarenta e nove. Cinquenta.

— Ok — ela disse, parando de andar. Talvez ela também estivesse contando.

— O quê?

— Ok, eu sei o que vamos fazer.

Rapidamente ela se sentou ao meu lado e, com a mão em minha perna, começou a explicar. 

De todas as conversas que já tive com Anne, essa foi a que eu mais prestei atenção nela. Não que eu fosse uma péssima amiga ou algo do tipo, mas as coisas que ela fala geralmente são vagas e desnecessárias. Eu sei disso, ela sabe disso. Mas ela gosta de falar e então eu simplesmente a deixo.

Pouco a pouco, fui absorvendo suas palavras e me relaxando, em uma maneira estranha. Os acontecimentos recentes mexeram tanto comigo, que só de ouvir minha amiga com uma suposta solução já me deixava mais calma.

Depois de repassar tudo que ela disse em minha cabeça várias vezes, peguei o telefone.

— Isso é uma péssima ideia — eu reclamei, antes de discar os números.

— Anne. É uma ótima ideia. Ligue.

Receosa, disquei o número de Kiran. Fui atendida em um dos primeiros toques.

O convidei para um jantar. O jantar de Anne. Sinceramente, o único motivo pelo qual concordei com isso tudo foi a certeza que eu tinha de que Kiran iria negar o convite. Mas, assim como as surpresas que a vida vinha me dando constantemente, ele aceitou.

Na hora eu não acreditei. Fiquei perplexa, segurando o telefone com força. Talvez se eu desejasse o suficiente ele poderia dizer não. 

Desliguei. Olhei para minha amiga e ela, já ciente da resposta, correu até a cozinha, pronta para cozinhar. Ela estava pronta. Ela sempre estava pronta. Às vezes eu queria ser como Anne. Estar pronta para tudo que a vida me traz. Mas eu não sou. 

Eu não estou pronta.
Eu nunca estarei pronta pra nada.

— Brianna! — Ela gritou. 

— Estou indo — falei tão baixo que mal escutei. 

Fui até ela e comecei a preparar os ingredientes. Éramos uma dupla e tanto na cozinha. Sempre damos várias risadas ao cozinhar. A escolha de hoje foi branzino, meu peixe favorito. Óbvio que não foi minha escolha, já que a chefe no quesito escolher é ela, mas foi uma ótima aposta.

Não posso negar que não estou nervosa pela visita de Kiran mais tarde, eu estava mais do que nervosa. Era uma mistura de adrenalina com ansiedade. Me sentia como uma criminosa. Eu nunca fiz algo do tipo com ele, já que confio nele com a minha vida, então fazer algo assim me deixava realmente muito nervosa. Mas, apesar de toda minha ansiedade, o plano era bem simples. Era mais que simples, era perfeito. Limpo e perfeito. 

— Brianna, nós iremos convidar Kiran para um jantar. Não sei, você diz que quer conversar, se desculpar, ou qualquer coisa que atraia o precioso Kiran. Depois, você o chama para algum lugar e me dá um sinal ao fazer isso. Não se esqueça de ter certeza que ele deixou o celular em algum lugar visível. Nós duas sabemos que Kiran sempre larga o celular por aí. Você sai, me dá um sinal, e eu vou até o celular dele pegar o número do Damian. Depois você volta, despacha o noivo, ligamos para o irmão dele e fim. Sem drama, sem choro. Joga a verdade pra esse tal de Damian e pede pra ele deixar a cidade, guardar segredo, etcetera. Entendeu?

 


***


O jantar estava pronto. Eu estava pronta. Usava um vestido vermelho comprido, mas não muito extravagante. Segurava uma taça de vinho branco enquanto aguardava meu noivo. Se não fosse por Anne conversando sobre algo, eu provavelmente já teria surtado. 

Meu coração batia tão forte que eu podia não só ouvi-lo, como senti-lo.

Vai dar certo. Vai dar certo. Vai dar certo.

Três batidas. Não soavam com meu coração. Estavam vindo da porta. Anne bateu duas palminhas e saiu dali, pulando. É agora. Só eu e Kiran. Um jantar. Já fizemos isso dezenas de vezes. Respira. Fui até a porta, arrumei meu cabelo, ergui a cabeça e respirei fundo. Girei a maçaneta. A porta se abriu.

Eu iria precisar de muito mais ar.

— Bri, esse é o meu irmão, Damian. Espero que não se importe.



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