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História Contrato de risco - Proposta


Escrita por: CombatLover

Notas do Autor


Agradeço as amorinhas que favoritaram, comentaram e acompanham. Me deixem saber o que estão achando s2
Essa fic vai ser meio tiro, porrada e bomba. Bora.

Capítulo 2 - Proposta


 

Finalmente a noite caiu e estou mais confiante e menos ansiosa. É apenas uma reportagem como qualquer outra; já esclareci que não são os serviços dele que quero, e hoje contarei da intenção de fazer uma matéria sobre seu trabalho. 

O restaurante escolhido é um ambiente requintado então não pude fugir de me arrumar bem, mas tão simples quanto consegui: um vestido preto clássico até a altura dos joelhos, um scarpin de altura média e uma maquiagem básica.

Finalizo com o pingente que meu irmão me deu na infância, do qual nunca me separo.

Quero passar a mensagem correta de uma profissional, e não parecer alguém usando uma desculpa para sair com um acompanhante.

Vai que ele acha que é um fetiche?!

Chego e sou conduzida à uma mesa em um canto discreto do ambiente; percebo que ele é atencioso com detalhes pois o local é reservado e não escondido, o que seria certamente pouco elegante.

Apesar de suas contratantes certamente quererem discrição posso apostar que ficariam decepcionadas se ele parecesse querer escondê-las.

Faz um tempo que estou em um canto protegido observando-a. É meu hábito fazer isso, assim como procurar informações a respeito da mulher que atenderei. Assim posso traçar um perfil que permita realizar o melhor atendimento, e isso vai muito além de sexo, que às vezes nem está no pacote.

Afinal, se buscassem apenas isso a maioria nem se preocuparia em pagar.

Ela está completamente absorta brincando com o pingente do colar que é, aliás, a única peça que destoa do conjunto perfeitamente harmônico que exibe. Certamente, algo de valor sentimental.

A mulher que senta em minha frente é jovem, deve ter no máximo uns 25 anos e é extraordinariamente bonita, e não apenas o tipo de corpo e rosto que chama a atenção pelos atributos físicos: passa uma confiança rara em jovens de sua idade e seus olhos escuros de formato amendoado são determinados, muito envolventes.

Se vestiu de forma clássica, os cabelos bem amarrados em um coque, o vestido sem decote e de cumprimento recatado mostrando que realmente não veio pensando em me seduzir, o que é até irônico se pensar o quanto a achei atraente.

Tudo isso corrobora o que disse ao telefone: seu interesse em mim é de outro tipo e estou morrendo de curiosidade de saber qual é.

— Milena? 

Meus pensamentos são interrompidos pela voz grave e bonita de Nathan. Fixo o olhar nele e o avalio, minhas bochechas ruborizando sem querer quando percebo a indiscrição. Já deve estar acostumado com isso, pois não se incomoda.

Dei um nome falso por segurança e porque não me sinto à vontade de revelar minha identidade para alguém que desconheço. Fora que provavelmente Nathan nem é seu nome verdadeiro, então estamos quites: depois dessa noite tornaremos a ser perfeitos estranhos.

É um homem certamente muito bonito, mas não exatamente o que eu esperava. Pelo que diziam nos relatos que encontrei imaginei algo muito mais Louis Garrel, só que seus traços são mais marcantes, quase ferozes decorados com uma cicatriz próxima aos olhos de um azul profundo que hipnotizam e despertam o interesse: como será que se machucou?

Infelizmente estou aqui para falar de sua profissão e perguntas desse tipo são inconvenientes e podem trazer lembranças dolorosas.

No entanto, minha aposta quanto à sua elegância estava correta: perfeitamente trajado em um esporte fino impecável, que combina estranhamente com o corte undercut que exibe sob o cabelo escuro e adiciona outro contraste em sua aparência peculiar.

A camisa índigo contorna com perfeição seus ombros fortes e realça bem seu físico: é possível notar que é bastante forte, embora não o tipo bombado.

Miro nos seus belos olhos azuis e sorrio, tentando quebrar o gelo.

— Nathan? É um prazer.

— Veremos, senhorita.

Coro fortemente ao ouvir a insinuação e começo a entender que o poder que ele tem é muito mais psicológico, apesar de ser realmente bonito; Nathan tem uma autoridade inata, uma força e uma firmeza extremamente atrativas.

As mulheres com as quais me encontro também coram, assim como ela. Porém, desviam o olhar, tímidas, coisa que não fez. Aparentemente o assunto que tem para tratar é realmente sério. Pena. Com ela, seria divertido passar uma noite.

E na verdade dependendo do tipo de trabalho que tiver para mim posso perfeitamente tentar estender nosso tempo juntos para alguma cama... algo casual e autêntico é bom de vez em quanto para quebrar a monotonia dos encontros planejados.

— Mas diga, o que você quer de mim?

Não sei se foi ou não intenção dele formular a pergunta desse jeito, mas o fato é que imediatamente meu cérebro começou a imaginar em detalhes todo o tipo de coisas que eu posso querer com alguém como ele.

E para minha surpresa percebo que são muitas, mais do que imaginei a princípio quando o vi: o conjunto de sua voz, seu aspecto selvagem com um toque gentil me balança demais.

Se tivéssemos nos conhecido em outro contexto provavelmente acabaríamos em um quarto.

Me forço a ser o mais objetiva possível para afastar esse tipo de pensamento antes que minha expressão me denuncie e Nathan entenda que me atrai.

— Uma entrevista!

Ele arqueou uma sobrancelha e me fitou curioso por pouco tempo, para logo depois voltar ao seu semblante normal. 

— Está falando sério? 

A proposta foi um verdadeiro banho de água fria. No entanto, ela parece muito animada com isso, como se fosse algo que quisesse mesmo. Será um fetiche esquisito? Pois se for, é um que nunca pensei em atender.

Só que essa gente inventa cada coisa... já me fizeram tantos pedidos esquisitos que basicamente nada mais me surpreendo no mundo dos desejos humanos.

— Por que eu brincaria com o senhor?

— Por muitos motivos. 

Novamente, ela corou. E como da outra vez, não desviou o olhar do meu um milímetro sequer, sustentando minha provocação. Deve ser uma delícia ver essa mulher perder essa compostura toda. 

Melhor, deve ser um tesão ser o responsável por fazê-la perder a cabeça.

— Enfim Nathan, é isso que eu quero de você. Uma entrevista.

— Minha atividade exige discrição. 

— Pode ser anonimamente. 

Ele pareceu pensar; pelo menos era o que eu achava que estivesse fazendo enquanto me encarava com aqueles olhos tranquilos e inquisidores.

Dar uma entrevista nunca esteve nos meus planos e o primeiro impulso foi recusar. A questão é que ganhar dinheiro falando por duas horas é fácil demais e já saí de casa mesmo... Pelo menos a noite não seria perdida, financeiramente falando.

Por fim, tomou sua decisão e agradeci internamente por isso: já estava muito difícil ignorar suas insinuações.

— Comece. Você tem pouco menos de duas horas agora. 

— Obrigada!

Seu agradecimento foi tão sincero e entusiasmado que achei melhor frisar a natureza de nosso encontro.

— Está pagando por isso, Milena. 

Foi desnecessariamente rude; mas eu também podia ser se é assim que ele prefere.

— Poderia recusar, já que não é o tipo de serviço que costuma prestar.

Percebo que ela tentou me cutucar, só que ignoro: a realidade é o que é, não adianta se aborrecer por uma ouvir uma verdade nem tão dolorida.

E ser acompanhante não me envergonha nem um pouco: já fiz coisas piores para colocar um prato de comida na mesa.

— De fato.

O garçom nos interrompe para tirar nossos pedidos e Nathan se adianta dizendo o que quer por nós dois. Pela pronúncia perfeita do nome dos pratos posso concluir que realmente fala francês e tive que erguer o cardápio um momento para esconder minha face vermelha ao lembrar das fantasias do dia anterior: agora que conheço sua voz elas ficaram ainda mais deliciosas.

Geralmente prefiro eu mesma fazer meu pedido, mas acho perda de tempo reclamar até porque não faço ideia do que são os nomes escritos no menu. Melhor acreditar no bom gosto de meu acompanhante do que perder tempo perguntando o que é cada coisa, principalmente porque estou pagando e caro por esse jantar.

O garçom retira os cardápios e encontro Nathan me fitando. 

— O que vocês têm com o francês?

É vergonhoso perceber que ele sabe o efeito que tem sobre mim e tento focar no fato de que é uma habilidade de profissão; lembrar o tempo inteiro do meu propósito vai ajudar a manter meus desejos longe da mesa.

Além disso sem querer, ou talvez para facilitar, ele deu a brecha que precisava para iniciar o assunto.

— Você deve saber. Duvido que nos traga a um restaurante francês por acaso. 

O canto do lábio dele se ergue num quase imperceptível sorriso que o deixa com uma aparência predatória e deliciosa. Esse homem é sem dúvida muito provocante. Diante de seu silêncio, continuo.

— O que exatamente você faz? 

— Ofereço serviço de acompanhante para mulheres. 

Não ajudou muito, embora tenha achado divertido perceber que ele frisou "mulheres". Mesmo sob anonimato homens são tão suscetíveis a qualquer desconfiança a respeito de suas masculinidades...

— Detalhe, por favor.

Fico em dúvida se entendi corretamente a pergunta e a qual tipo de detalhamento se refere; penso em sua reação se eu atender a seu pedido com riqueza de informações e é quase irresistível fazer isso só para vê-la corando de novo: é lindo.

Só não faço isso porque a cada memória que passa pela minha cabeça Marina assume como protagonista e a última coisa que eu quero no momento é ficar excitado no meio de um jantar e na frente de uma mulher que já deixou claro não querer nada comigo.

— Isso é embaraçoso...

— Como já lhe falei, garanto o anonimato.

Me obrigo a lembrar que é um trabalho como qualquer outro e devo oferecer o que ela quer.

— Você pagou, não é? Pois então. É bem variado, na verdade. Algumas vezes acompanho executivas em festas da empresa, já atendi clientes que queriam apenas me apresentar em uma festa familiar para evitar comentários da família, ou apenas janto com mulheres e proporciono uma noite agradável... Entre outras coisas. 

— Outras coisas?...

— É curiosa assim sempre?

— Minha profissão exige. Prefiro que não mude de assunto, temos pouco tempo. E então?

Desde que começou a fazer suas perguntas ela abandonou toda a timidez e assumiu o controle da conversa, o que me deixa desconfortável: sou acostumado a comandar.

Geralmente me contratam para que eu assuma o controle e possam relaxar de toda a carga do cotidiano: quando estão comigo são cuidadas, ouvidas e saciadas.

Milena inverteu esse jogo e não sei exatamente como me comportar nesse novo paradigma: a única coisa que sinto é vontade de assumir as rédeas com ela.

Domar essa mulher... ah, como isso seria bom.

— Satisfaço alguma fantasia, o que não envolve necessariamente sexo, ou pode envolver, se o interesse for mútuo. Tem muitos prazeres que não demandam tirar a roupa, Milena.

— E como é quando um dos dois quer e o outro não? Alguém que paga um acompanhante tem certas expectativas.

— Por isso que trabalho como acompanhante, e não como garoto de programa. O que ofereço é companhia e uma experiência diferenciada que pode resultar em sexo e elas sabem disso quando me contratam.

— Então já deixa isso claro desde o primeiro contato?

— Exatamente. É um contrato de prestação de serviços, mesmo que informal: devo deixar claro o que farei pela minha cliente e quanto espero receber por isso, e em troca elas pagam e esperam que eu faça o que foi combinado. Sexo é um plus.

Acho uma perspectiva interessante e certamente, uma raridade no mercado do entretenimento adulto.

— Já começou a trabalhar com essa visão ou isso é um privilégio pelo status adquirido na profissão?

Sua pergunta é interessante e capciosa: se eu não tomar cuidado acabarei revelando mais do que gostaria. É fácil conversar com ela, talvez porque não faça as questões que espero e isso me desperte genuíno interesse em continuar a conversa – seria ótimo se eu pudesse retribuir as perguntas e saber mais dela. Prefiro desviar o assunto.

— Decidir com quem você transa não é um privilégio, concorda?

Penso em dizer que infelizmente é um privilégio em um mundo tão dominado pela violência de gênero: quantas mulheres prestando o mesmo serviço que ele, podem se recusar a transar cama com um cliente? E se o fizessem, seriam respeitadas? Contudo meu bolso decide que não é hora nem local de aprofundar essa conversa e apenas concordo porque enfim, ele está certo.

— Claro. Acontece com frequência de um encontro acabar na cama?

Essa palavra na boca bem-feita de Milena é involuntariamente estimulante; quase consigo sentir a maciez de seu lábio inferior entre meus dentes enquanto afundo os dedos na carne macia de seu quadril.

Mesmo tentando manter meus pensamentos neutros está cada vez mais difícil sublimar a atração natural que me despertou.

— Na cama, chão, na mesa de jantar... É perturbador falar disso tendo consciência de que apenas esse vestido e talvez uma calcinha minúscula te protegem do meu olhar.

A tranquilidade com a qual ele trata o assunto me deixa totalmente desconcertada, ainda mais porque parece se divertir com meu embaraço. O problema é que sinto mais que isso: desde que citou a mesa de jantar só consigo imaginá-lo me virando sobre ela e... bem, já deu para entender.

Estou de fato apenas com calcinha já que dispensei o sutiã pelo tecido do vestido ser suficientemente grosso e firme para manter meus seios no lugar; o fato dele ter percebido que estou sem revela algo que é óbvio, mas assim explícita deixa meu corpo quente: ele me observa.

Felizmente, o garçom chega com os pratos e vinho. Levo a taça à boca, tentando reorganizar meus pensamentos.

— Geralmente, não bebo nem permito que as mulheres bebam durante os encontros. Mas como isso não é um encontro... Vou me dar ao luxo de beber com você.

Como eu queria que essa exceção terminasse comigo bebendo esse vinho derramado em sua pele... o líquido abrindo caminhos que eu seguiria com a língua ávida para chegar em um sabor bem melhor...

Tsc. Realmente, um grande balde de água fria e suja essa entrevista.

— Por quê?

— Evita arrependimentos. 

— Você deve ser muito bom nisso! 

Minha exclamação foi sincera: nunca imaginei tantos detalhes e cuidados no desempenho dessa função. Por essas e outras amo a carreira que escolhi: permite ter contato com tantas outras realidades, formas de pensar, conhecer o quanto o mundo é vasto e cheio de possibilidades.

— Pode experimentar, se quiser. 

Ele nunca perde uma oportunidade, impressionante. Apesar de difícil manter os pensamentos impróprios fora de alcance para mim isso é bom, pois sem querer me guia nas minhas perguntas.

Paradoxalmente, a sucessão de flertes também ajuda na percepção de que é um papel e conforme a noite avança, me deixa mais à vontade: não é para mim, Milena, que ele está olhando parecendo gostar tanto do que vê, e sim para uma cliente que deve ser convencida de que é desejada. É impessoal.

Como lidar com um ator, e já entrevistei alguns deles: aos poucos me solto e consigo neutralizar um pouco do poder que tem sobre mim.

— Já aconteceu de alguma cliente sair insatisfeita? Quero dizer... não insatisfeita por não transarem, pois é o combinado... Mas também por transarem... Enfim...

Me embanano um pouco na pergunta e ele sorri brevemente, um sorriso tão bonito e espontâneo que fico chateada por ser tão rápido.

— Já aconteceu nos dois casos. Fui contratado para um coquetel realizado em uma exposição; não era particularmente interessado em arte na época, então pequei como acompanhante: ofereci uma conversa pobre e não fui capaz de acompanhá-la de fato. Acabei dispensado bem antes do término do horário e desde então, converso muito antes de aceitar um contrato, até entender exatamente o que a cliente espera para que possa me preparar perfeitamente.

É muito interessante saber disso, só que minha experiência foi totalmente diferente em nosso primeiro contato.

— Não fez isso comigo.

— Gostaria que eu tivesse feito?

— Não... não é isso, é que você está me relatando algo que não condiz com nossa conversa.

— Milena, você foi muito objetiva ao dizer que não queria meus serviços de acompanhante, e muito rude ao bater o telefone na minha cara, aliás.

Sua cara de reprovação ao me censurar por desligar o telefone subitamente é o suficiente para me levar a imaginá-lo me punindo por isso e tomo mais um gole de vinho lutando contra esses pensamentos antes que esse cara me faça terminar a noite molhada apenas por uma conversa.

— Bem, era verdade... Estou terminando a faculdade e preciso de alguma matéria de destaque para ser notada e ter oportunidade de desenvolver outros trabalhos. Você faz o tipo de coisa que vende revista se a história for bem contada... É realmente só interesse profissional.

Começo a explicar o porquê estou aqui para provar que nunca tive nenhuma outra intenção com ele, mas paro assim que leio em sua expressão que ele sabe disso, assim como sabe que apesar disso estou sim excitada.

 Aliás, se não soubesse teria a confirmação agora depois dessa explicação desnecessária que dei.

Achei que ele usaria a deixa para mais alguns de seus flertes, só que para minha surpresa a conversa toma um rumo inesperado quando ele se mostra interessado.

— E que outros tipos de trabalho gostaria de desenvolver?

Quase respondo, só que acendi meus alertas pois já percebi que é fácil me deixar levar por ele e ainda tenho perguntas a fazer.

— Ei, eu faço as perguntas aqui Nathan!

Dessa vez ele não perde a oportunidade.

— Não sabe o quanto lamento que nossa única interação essa noite seja uma entrevista...

Me desconcerta o fato de que a essa altura também estou lamentando, até lembrar que manter esse clima é parte do que o faz tão procurado.

— Você nunca sai do personagem? 

A parte mais frustrante de ser acompanhante é que nas raras vezes em que um encontro pode ser genuinamente agradável, a mulher nunca vai me ver como um homem aproveitando alguns momentos ao seu lado.

O dinheiro envolvido tira toda a naturalidade.

Não sou o tipo de cara que sente falta de um relacionamento: me viro bem sozinho e acostumei com a solidão. Além disso sei que qualquer envolvimento colocaria a pessoa em risco, então me privo de pretensões a esse respeito.

Só que Milena é intrigante, divertida e sensual, o tipo de mulher que faz bater certa saudade de só deixar rolar e ver o que pode acontecer.

Queria demais poder simplesmente conversar um pouco com ela sem que a cada duas frases fosse lembrado de que ela não quer nada comigo e de que isso aqui não passa de um acordo, um contrato entre duas pessoas.

— Quando o encontro acaba. 

Nathan parece ter se convencido de que meu interesse é só uma entrevista pois desistiu de flertar e começou a responder de forma objetiva a cada questão.

— Disse antes que aconteceu de clientes se frustrarem nos dois casos... só me contou de um. Quando é quando se frustram no sexo? A entrevista é anônima, não precisa fingir que nunca aconteceu.

Sua predisposição em achar que eu contaria vantagem é divertida. De fato, é tentador dizer que nunca deixei uma mulher insatisfeita ou que eu nunca fiquei insatisfeito após uma transa, mas simplesmente não é verdade.

— Por que eu mentiria pra você? Às vezes parece que a química vai encaixar, mas simplesmente não acontece... Nem tudo é sobre técnica.

— E como você reage?

— Sou honesto, me desculpo e devolvo o dinheiro; é um risco da profissão.

— Nathan... E quando é você que sai insatisfeito? Como lida?

É engraçado que pergunte isso sendo que estou agora mesmo lidando com a frustração desse encontro não acabar como quero.

— Como qualquer pessoa lida com problemas no trabalho. Não estou nisso pela satisfação, estou pelo dinheiro.

Me impressiona sua sinceridade; faço mais algumas perguntas genéricas, recebendo respostas desinteressadas e até onde posso dizer, sinceras. Afinal, sob anonimato ele não tem razão alguma para mentir.

— Milena, o tempo acabou.

É frustrante que tenha acabado sem que ela me dê abertura para algo mais; Milena me despertou vontades que há tempos não sentia tão fortes e é inevitável perder um pouco do humor ao aceitar o fato de que não vou satisfazê-las.

Fico surpresa com a rapidez com a qual o tempo passou. Ele é uma companhia provocante na medida certa, charmoso, apesar de um pouco arrogante e irritante.

O tipo de pessoa com quem é fácil virar a madrugada conversando sobre qualquer coisa, e seu repertório parecia ser vasto.

Entendo o motivo das mulheres o contratarem e tenho certeza de que será uma história formidável. Pelo menos se eu conseguir terminar, e para isso preciso de mais tempo: cada resposta me despertou mais curiosidades e com o que tenho até o momento só serei capaz de fazer mais do mesmo.

O pior é que apesar de saber que falta o tempero final, não consigo saber exatamente qual é e por isso preciso de mais, para encontrar o diferencial que fará minha reportagem ser um sucesso.

— Nathan, eu ainda tenho mais perguntas...

— Marque outro encontro. Sabe o valor. 

Subitamente, o homem encantador de minutos atrás desapareceu e em seu lugar uma pessoa extremamente fria estava sentada à minha frente. Que sensação estranha. 

Só que se o problema é dinheiro posso contornar: me preparei para desembolsar certa quantia por essa história. Um investimento profissional, diria: espero que isso tudo me abra portas nas principais revistas e jornais da região.

— Tudo bem. Podemos continuar então.

Ah, é realmente tentador continuar. Mas saber colocar limite é um dos segredos da minha profissão, principalmente com mulheres que acham que seu dinheiro pode comprar além do meu tempo, a minha dignidade.

E Milena mostrou ser esse tipo de pessoa: se eu ceder diante de seus caprichos logo vai me ver apenas como um capacho. Sua atitude acaba de estragar meu humor que já não estava dos melhores, e dessa vez nem tento disfarçar o sarcasmo.

Afinal, ela está aqui pela entrevista, e não pelo acompanhante, fez questão de deixar isso claro milhares de vezes.

— Podemos? Não lembro de ter sido consultado.

É impressionante como agora ele está áspero, como se de alguma forma eu o tivesse ofendido.

— Posso pagar mais!

Mais uma vez acertei: é apenas uma menina mimada que acha que pode comprar qualquer coisa com dinheiro. Claro, é exatamente o perfil das pessoas que contratam esse tipo de serviço.

E por incrível que pareça, Milena me trata de forma pior que minhas clientes habituais: uma mulher que quer sexo me enxerga como um cúmplice de um desejo sujo, como um igual.

Já Milena me olha com certo ar de superioridade, como se eu fosse apenas um objeto peculiar de estudo, algo a ser avaliado de longe e tomando todas as precauções.

— Não é assim que funciona. 

— Como funciona então? 

Claro que não posso dizer tudo isso para ela então acabo dizendo algo que é verdade, mas nem de longe a razão pela qual não quero ficar mais tempo.

— Evito encontros seguidos... Às vezes confundem as coisas. E nunca saio mais de dez vezes com a mesma cliente. 

Foi impossível conter o sorriso. Ele acha que eu posso me apaixonar por ele por causa de algumas frases de efeito e atuação bem ensaiada? Chega a ser risível.

Sendo honesta, Nathan pode apenas ser precavido. É bem possível que alguma mulher carente se apaixone e ele se mostrou bem responsável com relação ao seu trabalho. Felizmente, nem de longe é meu caso.

— Relaxa, comigo você não corre esse risco.

Essa pirralha é curiosa, atrevida e mimada. Mas também absurdamente bonita – gostosa mesmo, tão meu tipo que amaldiçoei de novo o fato de não ser apenas mais uma mulher atrás de diversão.

Talvez fosse uma boa oportunidade de quebrar meu tédio: ela acabou de mudar meus planos me menosprezando. A farei correr o risco. 

Começarei saindo de seu terreno de perguntas e respostas frias e trazendo-a para o meu, de sensações e experiências.

— Entendo. Sua proposta então é mais um encontro, e mais perguntas? 

— Exatamente. 

— Te faço uma contraproposta.

Estou hipnotizada pela forma como segura sua taça de vinho, os dedos longos dobrados sobre a borda superior, o indicador traçando semicírculos lentos e ritmados e só consigo imaginá-lo fazendo esses padrões em minha pele nua; me forço a olhar para seus olhos e controlar o rubor antes de questionar.

— Qual?

— Ao invés de falar sobre o meu trabalho, permita-me que eu te mostre.



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