História You Can't - Fifteen

O que eu achei mais estranho, foi o fato de SeungCheol não dirigir para a casa dele. Na rua que tinhamos que virar, ele passou reto, ignorando a entrada.

-Ei, idiota, você passou a entrada.-falei, olhando para trás.

-Fique calmo, Wonny.-ele sorriu.

Suspirei e me acomodei no banco de trás, olhando para a noite do lado de fora da janela.

O que eu estava fazendo da minha vida?

Eu estava mesmo abandonando tudo?

Não. Eu apenas precisava pensar.

Mas eu não queria voltar. Aquele mundo não era pra mim. Esse mundo não é pra mim.

Eu me perguntei novamente o que seria daqui pra frente, sentado no banco de trás do carro do pai de SeungCheol. Estavamos indo para um lugar que eu não conhecia e meu primo estava comigo.

O que estava acontecendo?

Foi tudo tão rápido. Teve as brigas e teve tudo aquilo. Eu perdi a cabeça, completamente.

Claro que eu sempre quis sair daquela prisão que era a minha casa, mas não assim. Não por causa da minha sexualidade.

Eu sempre pensei como seria quando eu fosse embora, mas foi diferente. Ao sair pela porta da sala, não chegou nem a parecer que eles iriam sentir minha falta.

Pareceu que eu nem ao menos existia.

E diferente dos meus pensamentos, doeu.

Eu sabia que eu podia contar com a minha mãe, mas não parecia igual.

Eu parecia um desconhecido dentro da minha própria família.

-Chegamos.-falou SeungCheol, me fazendo acordar de meus devaneios.

Olhei pela janela novamente, encontrando um prédio. Um prédio?

-Um prédio?-perguntei, abrindo a porta e descendo para pegar minha mochila.

-Sim, um prédio.-respondeu SeungCheol, sorridente.

-Você não mora em um prédio, SeungCheol.-falei.

-Meus pais, não.-ele fechou o porta malas e me olhou-Mas a gente, sim.

Minha cara de confuso deve ter sido muito engraçada, pois MinGyu e SeungCheol começaram a rir igual a loucos.

-Eu disse que a gente ia morar junto.-falou, andando na minha frente.

-Eu sei.-corri para alcançar ele.-Mas não disse que seria só nós três. Eu nem sabia que MinGyu vinha.

Ele riu novamente e MinGyu parou, me esperando o alcançar para poder segurar minha mão com a dele, cruzando os dedos.

-Foi de última hora.-começou, me fazendo virar para ele.-Eu não pretendia morar com vocês dois, mas pensei melhor e decidi que séria bom.

-E a sua mãe, MinGyu?

-Não se preocupe, amor.

Entramos no elevador e SeungCheol apertou o botão do 10° andar, fechando as portas em seguida. Ficamos em silêncio até o elevador parar e saimos dele, indo até o apartamento de número 1023.

SeungCheol fez um suspense para abrir a porta e ao abrir, encontramos um apartamento enorme.

-Bem vindos a nossa casa.-ele disse, sorrindo feliz e ligando as luzes.

-SeungCheol, eu sei que seus pais são ricos-começei, jogando minha mochila no sofá e encarando o local.-Mas não precisava de tudo isso.

-Conforto nunca é demais.-disse e se jogou no outro sofá.

-Aonde vamos dormir?-perguntou MinGyu, atraindo nossa atenção para ele.

-Já levo vocês lá.-falou SeungCheol.-Por que você está tão calado, MinGyu?

-Nada.-MinGyu falou e negou com a cabeça.

Andei até ele e segurei seu rosto com minhas mãos, vendo sua expressão cansada e triste. Associei na hora com seus pais e com a conversa que eles tiveram, começando a ficar levemente preocupado.

-Pode contar pra gente, amor.-falei baixo, dando um leve beijo em seus lábios.

Ele me encarou, em silêncio. Os olhos dele estavam mais profundos que o normal.

Na minha cabeça, veio SunHee. Me veio ele e todas aqueles xingamentos que ele disse pra mim e para MinGyu e após isso, me veio a ideia de que talvez ele tivesse haver com o silêncio de MinGyu.

-Muitas coisas, WonWoo. Tem os seus pais, meus pais, SunHee, tudo, WonWoo. Eu tive que ouvir as palavras do meu pai. Eu tive que engolir todos os xingamentos, um por um. Eu tive que ouvir as provocações de SunHee o tempo todo e o meu pai e o seu pai perguntando aonde eles tinham errado. Eu tive que escutar toda a briga dos meus pais porque minha mãe queria me defender e ele não. Eu tive que engolir tudo isso, WonWoo.

MinGyu chorava e eu também.

Encarei ele por mais um tempo e o abraçei, forte do jeito que eu sabia que o acalmava.

Ele demorou um pouco, mas logo retribuiu meu abraço, me apertando com tanta intensidade quanto eu fazia.

Ouvi SeungCheol sair da sala, em silêncio e o agradeci mentalmente.

Aquele era um momento apenas meu e de MinGyu.

Eu conseguia sentir a mágoa dele. Eu conseguia sentir todas aquelas palavras perfurarem meu coração do jeito que fizeram com o dele.

MinGyu era doce de mais para um mundo cruel como esse.

Ele não pensou nisso quando desistiu de tudo por mim. Ele não pensou que eu já saberia como lidar e que doeria menos em mim do que realmente deveria doer. Ele não havia se acostumado a viver sem seus pais.

-Eu amo meus pais, WonWoo.-falou, fungando no meu pescoço.-Tanto quanto amo você.

Nada falei, apenas o apertei contra meu corpo.

Ficamos assim por um tempo, até que nos afastamos.

-Ei, olha pra mim.-falei, levantando seu rosto.-Eu te amo, okay?

Ele sorriu mínimo.

-Também te amo.