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História You Could Be Mine - Capítulo 6


Escrita por: Psycho-sama

Notas do Autor


Heyo!!! Sorry a demora!!

Prometo que vou responder todos os comentários amanhã... Provavelmente ><

Boa leitura!!

Capítulo 6 - Capítulo 6


Fanfic / Fanfiction You Could Be Mine - Capítulo 6

 

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Capítulo 06

Você Poderia Ser... Surpreendido

ϾϿ

“Toda história de amor é uma história de sofrimento em potencial.” —— Julian Barnes

. . .

 

17:34

———

Ele suspirou outra vez.

O sol estava quente demais para aquela época do ano, pensava. Já estava acostumado com o suor, certamente, mas ainda repudiava a sensação pegajosa que permanecia em sua pele.

O cheiro de seu perfume se misturava com o cheiro de suor, e mesmo que tivesse tirado a camisa encharcada, ainda conseguia senti-lo muito bem. Colocou o casaco sobre os ombros e as costas, protegendo-se um pouco do sol abrasador em sua pele, enquanto descansava depois da partida-treino contra a escola Ow, do subúrbio de Miyagi.

Sabia que eles não eram tão fortes, mas não esperava que não conseguissem nem mesmo dez pontos em ambos os sets. O fato de estar suando tanto assim não se dava pela dificuldade da partida, mas sim por que o ginásio da escola deles era mais baixo e pequeno do que estavam acostumados, e de alguma forma, mais quente.

Sem dúvida não era o único encharcado.

Assim que a partida terminou, decidiu sair para tomar um ar. Caminhara até a lateral do ginásio, onde havia os tanques e lavou o rosto, tirando a camisa e jogando o casaco sobre as costas. Sentou-se na lateral do prédio, apoiando os cotovelos nos joelhos, e apenas aguardando o momento que o treinador mandaria Iwaizumi atrás de si.

Como ele sempre acabava fazendo.

Já fazia quase vinte minutos que aguardava pacientemente, com suor e água pingando de seu queixo e têmporas. Quando fechou os olhos para apreciar a brisa fresca que vinha de algum lugar, sentiu água correr sobre sua cabeça, encharcando-o rapidamente.

Arregalou a vista, girando o rosto enquanto piscava para afastar o excesso de água que acumulava em seus olhos, apenas para ver Iwaizumi de pé ao seu lado, com uma garrafa d’água vazia de ponta a cabeça na mão e um olhar repreensivo.

—— Se está com tanto calor assim, deveria ter apenas se jogado no tanque d’água e se afogado, imbecil.

—— Iwa-chan! —— Choramingou, tirando o excesso do rosto. —— Qual o problema de sentar aqui um pouco?

Iwaizumi cruzou os braços sobre o peito, já com a roupa trocada.

—— Você está quase completamente nu em outra escola... E se alguma garota o visse assim?

Sorriu ladeiro.

—— Ela provavelmente ficaria encantada- ouch!

Cobriu a testa, local que Iwaizumi acertara quando tocou a garrafa em seu rosto.

—— Isso doeu!! Que brutalidade!!

—— Era a intenção, idiota! —— Respirou fundo, alisando a testa franzida. —— É melhor você voltar e se trocar... O treinador está puto com você. Vá logo que queremos voltar de uma vez.

E então girou nos calcanhares, começando a andar.

Oikawa não hesitou em se erguer também, retirando o casaco e vestindo a camisa rapidamente.

—— O que você tem ultimamente? —— A pergunta repentina do moreno o alertou. Oikawa ergueu a cabeça, arqueando uma sobrancelha.

—— O que quer dizer?

—— Você tem andado estranho nas últimas semanas... —— Murmurou, sem olhá-lo sobre o ombro. —— Isso tudo é por que não fomos ‘pras Nacionais?

Oikawa parou de andar, e logo Iwaizumi o imitou, olhando-o finalmente. O castanho riu, abanando a mão em frente do corpo.

—— Claro que não! Estou furioso, na realidade. Ainda não posso acreditar que perdemos para os corvos! —— Ergueu o queixo, como se isso fosse algo para se gabar, de uma forma ou outra. Aproximou-se de Iwaizumi. —— Estou triste por que temos pouco tempo ainda na Seijoh... E vamos para universidades diferentes. Só isso!

E então passou o braço em volta dos ombros dele, sorrindo de orelha a orelha.

—— Tente não morrer de saudades, Iwa-chan!

—— Vai se foder, Shittykawa! —— E o afastou com um safanão, ouvindo a risada do Capitão enquanto ele voltava a andar, seguindo em frente. —— Você deveria estar mais preocupado com o momento que formos nos enfrentar. —— Viu o amigo de infância olhá-lo sobre o ombro. Sorriu convencido. —— Tente não chorar quando perder ‘pra mim.

Tooru arregalou os olhos por breves momentos, antes de rir.

—— Só nos seus sonhos mais fantasiosos, Iwa-chan!

Tentou acertá-lo um chute nas costas, mas o levantador desviou rapidamente, rindo mais.

—— Vou chutar sua bunda na quadra...

—— E depois diz que aliens não existem. —— Oikawa riu, abanando a mão em frente do corpo displicentemente. Notou pelo canto periférico do olho como a aura do moreno ficou mais sombria.

—— Shittykawa! —— E então Iwaizumi correu, logo vendo o castanho fazer o mesmo enquanto seguiam em direção do ginásio.

As gargalhadas de Oikawa e os xingamentos de Iwaizumi maculando a música das cigarras ao redor.

 

ϾϿ

 

Karasuno Kōkō

———

Hinata nunca foi do tipo que fica emburrado por qualquer coisa ou por muito tempo.

Na verdade, duvidava que ele ficasse “realmente” de birra por alguma coisa.

Kageyama não precisava de mais do que uma semana com ele para saber disso.

Mas naquele dia, o ruivo não parecia o mesmo. Havia algo de diferente nele, e a constatação deixou Kageyama nervoso.

Tudo bem que também ficara irritado com a punição de ficar dois dias longe dos treinos, mas Hinata tinha quase duas semanas. Se ele não ficasse de mau humor, não diria que ele era normal.

Se bem que ele nunca era.

Entretanto, aquilo não fora algo que apenas o levantador notou. Tanaka e Nishinoya tentaram animar o ruivo sempre que o viam em seu campo de visão. Até mesmo Asahi e Yamaguchi lançavam olhares preocupados para o garoto vez ou outra, e palavras reconfortantes soltas ao ar; as quais Kageyama sabia que Hinata não estava nem mesmo ouvindo.

Sem mencionar Takeda, Yachi e Ukai, que pareciam divididos em reconfortar o garoto e deixa-lo quieto. Nenhum dos três era bom com palavras reconfortantes, e sabiam, conscientes o bastante, de que poderiam acabar piorando a situação se tentassem.

Mesmo Tsukishima pareceu tentado a uma tentativa, mesmo que Kageyama ainda tivesse suas dúvidas sobre isso. Ele nunca conseguia entender o que passava na cabeça perturbada do meio de rede loiro.

Suga e Daichi o chamaram no intervalo daquela manhã e os três discutiram sobre o comportamento anormal do ruivo. Daichi sugeriu que apenas conversassem com ele, mas Suga o cortou rapidamente e resmungou algo sobre isso deixar Hinata pior.

Seria como levar um sermão dos pais depois de fazer algo que você já sabia que era errado.

Apenas te deixava mais irritado.

E então com olhos brilhantes, Suga olhou para Kageyama e deu a ideia mais estúpida que Tobio podia pensar que ele fosse capaz de dar.

Tudo bem que ele e Hinata tinham um ótimo entrosamento em quadra, mas isso era demais até para os parâmetros dos dois. Não podia dizer que era tão amigo de Hinata fora da escola, quanto os demais julgavam. Eles não tinham a mesma relação que Tsukishima e Yamaguchi, por exemplo.

Mas então, ali estava ele, acompanhando Hinata até o ponto de ônibus, como se estivesse indo para o abatedouro.

Naquela manhã o ruivo viera de ônibus uma vez que seria ruim andar de bicicleta. E como estava fora dos treinos, podia vir mais tarde e voltar mais cedo, para alívio de sua mãe, conforme ele contara para os terceiranistas.

Como o ponto de ônibus era próximo da casa de Kageyama, não achou uma péssima ideia acompanha-lo pelo percurso. Assim podia achar o momento adequado para colocar em prática a ideia (estúpida) de Suga.

Quando Hinata se acomodou no banco de madeira e repousou sua mochila ao lado, Kageyama também parou, coçando a nuca e olhando sobre o ombro como se temesse alguém segui-los.

Voltou-se para o ruivo, vendo-o mirar com intensidade seus próprios tênis a cavoucarem o cimento da calçada. O som da sola do tênis raspando pelo chão cimentado, sendo a única coisa que preenchia o silêncio.

—— O que está fazendo, Kageyama? —— Ele meio perguntou, meio resmungou. —— Pode ir ‘pra casa!

O levantador grunhiu internamente, querendo acertá-lo um chute no meio do rosto, mas segurou seus instintos e apenas suspirou.

—— O ônibus vai passar aqui em uns quarente minutos, não?

—— Hum... —— Ele anuiu, ainda com aquela expressão estoica que passava a irritar Kageyama cada vez mais.

—— O... O... O q- urgh! —— Hinata ergueu a cabeça quando notou o desconforto do outro, inclinando a cabeça e tornando seu olhar estupidamente inocente.

—— Kageyama-kun, algum problema? Eu sempre soube que você lidava com as palavras como um bebê, mas isso chega a ser ridículo!

“Aahh... Filho da mãe!!”

Era simplesmente fodido como ele conseguia tirar sarro de sua cara com aquela expressão inocente.

Queria tanto agarrar seus cabelos e colar sua cabeça no banco... Queria tanto... Mas tanto...

Fechou as mãos em punho, tremendo de raiva.

—— Cala boca! O que quero dizer é... Se você não quer dormir lá em casa hoje! —— Hinata piscou, inclinou a cabeça para o outro, e piscou mais três vezes antes de franzir o cenho.

—— Você ‘tá com febre?

—— Não enche!! —— Rosnou entredentes. —— Vai querer ou não?

Hinata olhou para o chão outra vez, parecendo realmente avaliar suas opções.

—— Eu não tenho roupa extra.

—— Você pega uma muda minha.

—— E o uniforme?

—— Você sujou esse? —— Hinata se olhou, e ingenuamente negou. —— Então usa ele amanhã.

—— Tudo bem então! —— Ele se pôs de pé, sorrindo.

Kageyama pôde ver uma pontinha do antigo Hinata ali, e sentiu-se aliviar internamente.

Não que fosse contar isso para alguém, ou admitir para si mesmo.

Mas preferia Hinata quando ele sorria com frequência.

—— Pode ligar ‘pra sua mãe lá de casa! —— E começaram a andar calmamente.

—— Sua mãe não se importa?

—— Ah, acho que não. —— Deu de ombros. —— Ela sempre disse ‘pra eu levar meus amigos ‘pra lá...

—— Coitada. Ela não sabe que você não tem amigos? —— Kageyama nem pensou antes de acertar um chute na bunda do outro, vendo-o quase ser jogado para frente. —— MALDITO!!

—— Você é o MALDITO!! Não faça eu me arrepender disso!

Hinata apenas alisou o local dolorido com o braço bom, com lágrimas nos olhos.

—— Ei, podemos fazer a tarefa de biologia! —— Ele pareceu animado com a ideia, mas Kageyama não ousou tentar entende-lo. Essas mudanças de humor eram cansativas. —— Pela primeira vez na vida podemos fazer com um dia de antecedência e não minutos antes do professor chegar!

—— E você entende alguma coisa de biologia, ‘pra começar? —— Hinata pareceu ofendido, olhando-o com raiva.

—— Eu entendo mais do que você, Senhor Hitler-era-um-estudioso-que-gostava-de-brincar-com-frascos-e-componentes-químicos...

—— Que culpa eu tenho se Miller e Hitler parecem a mesma coisa? —— O ruivo deu de ombros.

—— Se você não dormisse nas aulas-

—— Olha quem falando! —— Ambos se bicaram por longos segundos, até o momento que a atenção de Kageyama foi roubada por uma máquina automática na beira da rua.

Hinata observou o levantador comprar uma caixinha de leite e uma de suco, a qual ele ofereceu para o ruivo com quase asco. Hinata realmente não sabia se era com a caixinha de suco ou com o meio de rede.

Voltaram a caminhar, desta vez em silêncio.

Quando chegaram à rua da casa de Kageyama, já haviam terminado suas bebidas e as dispensaram em uma lata de lixo próxima. Assim que pararam em frente do portão pequeno de madeira, Hinata não deixou de pensar que a casa não combinava nada com o que ele imaginava que fosse a casa de Kageyama.

O levantador a abriu, deixando o ruivo passar primeiro. Um caminho de lajotas o guiava até uma pequena área coberta. Dois vasos de flores ladeavam a entrada, e Hinata achou aquilo parecido com o costume de sua mãe, de sempre ter flores no quintal ou dentro de casa. Logo o levantador passou por si, abrindo a porta e o deixando entrar na frente de novo.

Um cheiro familiar atingiu seu nariz, e após alguns segundos olhando para o corredor em frente, notou que o cheiro era o de Kageyama. Um tipo de colônia que se desprendia de suas roupas quando o via tirar o uniforme da escola para vestir o do time, ou até mesmo quando o via vestir a camisa com o número 9.

Era um cheiro discreto, meio doce. Parecia cheiro de flores, mas depois não parecia cheiro de nada. Apenas um cheiro.

Que vinha de Kageyama.

Viu-o parar ao seu lado enquanto removia os sapatos. Seguiu o exemplo, mas diferente do outro que deixara o par revirado, ajeitou o seu no canto para não atrapalhar, seguindo-o pela casa.

—— Okaa-san? —— Olhou ao redor, notando que entravam na cozinha.

Era grande, e todas as coisas ali eram claras e pareciam quase brilhar.

“Caro...” pensou, um pouco surpreso.

Kageyama parou de andar, removendo a mochila e olhando ao redor. Mas era óbvio que a cozinha estava vazia com exceção deles dois.

—— Tobio? —— Uma voz respondeu, mas vindo de outro cômodo.

Logo ambos giraram nos calcanhares, seguindo para a sala, no cômodo em frente.

—— Okaa-san? —— Hinata parou de andar no portal, apertando a alça de sua mochila enquanto via o moreno se aproximar de uma mulher no fundo da sala, parada diante uma estante com livros onde ela os tirava, passava um pano branco, e os colocava de volta.

Quando ela olhou para o filho e sorriu, Hinata quase corou. Ela não era nada parecida com Kageyama com exceção da cor do cabelo, e sem dúvida era jovem. E muito, muito bonita.

—— Chegou cedo hoje. —— Ele anuiu, largando a mochila no sofá e apontando para Hinata.

—— Eu trouxe um colega ‘pra passar a noite. Tudo bem? —— E quando os olhos castanhos fisgaram Hinata, o ruivo quase pulou no lugar, curvando-se de forma desajeitada; esquecendo o fato de que Kageyama acabou de se referir a ele como “colega”.

Ela riu, levando a mão livre aos lábios.

—— Claro...

Kageyama concordou, pegando sua mochila e caminhando em direção de Hinata.

—— O-Obrigado por me deixar ficar, Kageyama-san!! Me chamo Hinata Shouyou!

Ela pareceu surpresa por alguns segundos, largando o pano e caminhando em direção do ruivo.

—— Oh, você é mais fofo do que eu pensava. —— Ele corou mais. —— Me chamo Hinoe. Pode me chamar de Hinoe-san!

Hinata nem teve tempo de processar o fato de que ela ouvira falar de si por Kageyama, antes que ela estivesse diante de si apoiando a mão em seu ombro e o deixando frustrado.

—— H-Hai!!! Hinoe-san!!!

Ele quase gritou, o que fez a mulher rir leve e Kageyama rolar os olhos.

—— Vamos imbecil!!

—— C-Certo. —— Hinata o seguiu rapidamente.

Hinoe olhou para o filho e bufou.

—— Não fale com seus amigos assim, Tobes! —— Ambos pararam no meio do corredor, Kageyama olhando para a mãe sobre o ombro, com as bochechas vermelhas e olhos arregalados, enquanto Hinata apenas parecia ter congelado naquela expressão, sem saber como processar o que acabara de ouvir.

—— O-Okaa-san!!

A mulher sorriu, quase sadicamente na visão do filho.

—— Vou preparar um chá e alguns biscoitos para vocês, e depois eu levo! —— E então seguiu para a cozinha como se nada tivesse acontecido.

Kageyama engoliu em seco, olhando para Hinata. O ruivo cobriu a boca com a mão e o olhava com lágrimas nos olhos enquanto tremia.

Obviamente da risada contida.

—— Se disser uma palavra sobre isso, te deixo sem levantamentos por um mês.

E logo Hinata estava tão sério que lembrava Ushijima levemente.

—— Vamos logo! —— Ele apressou o passo em frente.

Kageyama suspirou, ainda vermelho. Subiram as escadas, e teve que puxar o ruivo pela mochila quando ele ameaçou passar reto pela porta de seu quarto.

Acendeu a luz, jogou sua mochila sobre a escrivaninha próxima e caminhou até próximo de seu guarda roupa, para trocar o uniforme.

Hinata invadiu o cômodo e fechou a porta atrás de si, deixando a mochila cair a seus pés, enquanto olhava ao redor com quase fascínio. Vários pôsteres de times de vôlei e algumas bandas, pelo que ele presumia. Mesmo que não achasse que Kageyama fosse do tipo que escuta música.

O quarto tinha um cheiro forte de perfume masculino, o mesmo perfume que ás vezes sentia vindo das roupas do levantador. E sempre o mesmo, desde que se conheceram.

Levemente amadeirado, levemente cítrico. Lembrava chocolate branco, ás vezes. Em outras, lembrava uma erva.

Olhou pelo cômodo, notando a escrivaninha bem arrumada, o notebook repousado sobre, um guarda-lápis de metal, alguns livros que reconhecia da escola, algumas revistas de esportes. A cama de solteiro estava bem ajeitada também, o lençol tão esticado pela cama que parecia ter sido passado depois que Kageyama levantou. Cores em azul e branco, combinando com o leve tom azulado das paredes.

Na ponta da cama, Hinata viu uma rede familiar a que tinham na escola, com bolas de vôlei, e ao lado, alguns pesos para musculação.

Seus olhos brilharam, correndo até eles.

—— Você tem pesos, Kageyama-kun!! Que legal!!! —— Fez alguns movimentos com um braço, ainda rindo feito uma criança que simplesmente achara o brinquedo perfeito.

Kageyama o olhou, removendo o blazer preto e depois a camisa. Suspirou.

—— Idiota, larga isso!! Se quer começar a fazer musculação deveria começar com um de dois quilos.

—— Por quê? —— Logo Hinata o olhava, com beiço nos lábios vermelhos. Parou de erguer e abaixar o braço.

—— Por que você precisa acostumar seu corpo aos poucos. Desse jeito você só vai se machucar.

Achando que o levantador era mais experiente naquele quesito, apenas deixou de lado o peso. Quando lembrou de algo, sorria de forma diabólica, agachando-se embaixo da cama e enfiando a cabeça na escuridão que era ali embaixo.

Kageyama o mirou de cenho franzido irritadamente.

—— O que está fazendo agora?

—— Procurando revistas pornô. Garotos costumam guarda-las embaixo da cama.

O moreno rolou os olhos.

—— Deixa de ser imbecil. Quem disse que eu tenho?

Hinata se ergueu, evidentemente frustrado e se sentou na ponta da cama, pulando de leve e olhando ao redor mais uma vez.

—— Você é estranho então.

—— Você é o estranho.

—— Preciso ligar ‘pra minha mãe. —— Olhou sobre o ombro, vendo Kageyama separando uma muda de roupa que julgava ser aquela que ele iria emprestá-lo.

—— Tem o telefone na cozinha. —— Ele apontou. —— Vou tomar um banho enquanto isso.

Hinata anuiu, deixando o quarto e descendo as escadas.

Quando passou pelo portal pôde ver a mãe de Kageyama diante uma bandeja retangular e servindo chá fumegante em duas xícaras de cerâmica branca. Assim que ela o notou, um sorriso espalhou por sua face, e ela baixou a chaleira bonita, repousando-a de volta no fogão.

—— Algum problema, Shouyou-chan?

—— Ahm... Kageyama disse que posso usar o telefone ‘pra ligar ‘pra minha mãe... —— Coçou a nuca, vendo-a anuir, apontando para a parede ao seu lado.

Um telefone estava pendurado ali, e logo puxava-o do apoio, digitando o número da mãe. Esperou três chamadas e logo a voz da mulher o respondia do outro lado da linha.

—— Kaa-san?

—— Shou?

—— Eu vou dormir na casa do Kageyama, tudo bem?

—— Hum, certo. Mas por quê?

—— Eu não tenho certeza sobre isso... —— A mulher riu.

—— Tudo bem. Mas e quanto a seu uniforme?

—— Vou usar o mesmo!

—— E roupa para dormir?

—— Kageyama vai me emprestar!

—— Não se esqueça de agradecer depois de comer. —— Ele anuiu, com firmeza.

—— Certo!

—— E arrume sua cama depois que levantar. Seja educado com os pais do Kageyama-kun!

—— Sim Senhora! —— Sentiu um toque em seu ombro, e logo ergueu o rosto, vendo Hinoe fazer sinal para que ele passasse o celular para ela. —— Ahm, Kaa-san? Hinoe-san quer falar com você.

—— Quem?

—— A mãe do Kageyama... Vou passar ‘pra ela.

—— Oh, ok!! —— Hinata estendeu o telefone, e logo viu a mulher sorrir, iniciando uma conversa animada com sua mãe que o deixou estranho.

Por alguns segundos se perguntou o que estava acontecendo diante de seus olhos, quando Hinoe o mirou com diversão e apontou para a mesa de granito no centro da cozinha.

—— Shouyou-chan? Pode levar a bandeja e os biscoitos para o quarto, se quiser. —— O ruivo nem mesmo hesitou em fazê-lo, não querendo ouvir nem um pouco o que as duas estariam conversando.

Chegando ao quarto, deixou a bandeja na escrivaninha e puxou um chabudai posto embaixo da cama do levantador. Achando engraçado o fato de que ele fazia o mesmo em sua casa.

Colocou a bandeja sobre a mesa de madeira, e puxou sua mochila do meio do quarto, tirando seus materiais e procurando pelo caderno de biologia. Quando Kageyama voltou ao quarto, já estava lendo o capítulo no livro onde era suposto que estivessem as respostas dos exercícios, nem dispensando uma segunda olhada para o mais alto.

—— Você pode tomar um banho agora!

—— Vamos fazer isso primeiro!! —— Encarou-o, vendo Kageyama secar a ponta do cabelo que ainda pingava.

Usava uma camisa branca de mangas curtas e folgada nele, junto de uma calça moletom cinza escura. Quase piscou com a diferença de aura que Kageyama tinha fora da escola e dentro da própria casa. Com o cabelo jogado para trás ele era uma pessoa completamente diferente.

“Chocante...”

—— Tem certeza? Isso pode demorar! —— Kageyama largou a toalha na escora da cadeira de rodinhas, e se aproximou do chabudai, acomodando-se ali.

Hinata concordou energeticamente, sorrindo e apontando com a parte superior da lapiseira para uma questão.

—— Comecei a procurar a resposta da 1 agora!!

Kageyama suspirou, pegando sua mochila com lentidão e descaso, e tirando seus materiais. Quando voltou a se sentar, puxou uma xícara de chá e bebericou, reconhecendo como kukicha, pelo leve sabor suave e adocicado.

—— Posso ler? —— O levantador anuiu. —— A genética é responsável pelo estudo da hereditariedade. Considera-se que essa ciência tenha iniciado seu desenvolvimento após experimentos aplicados por um monge chamado?

—— Quais as opções?

—— Darwin, Lamarck, Mendel, Morgan e Dawkins...

Kageyama largou a xícara, puxando seu livro e abrindo-o na página sobre o assunto. Após uma breve lida, apontou um trecho na página.

—— Opção C... Gregor Mendel foi considerado o pai da genética em razão dos seus trabalhos realizados com ervilhas...

Hinata sorriu, assentindo.

—— Você até que é rápido achando as respostas. —— O levantador bufou.

—— Você que não sabe procurar direito.

Hinata não se deixou abalar, indo para a próxima questão.

Havia no mínimo vinte questões naquela folha, e ele começava a pensar que aquilo realmente ia demorar.

 

ϾϿ

 

Quando Hinata voltou ao quarto, já de banho tomado e usando uma camisa maior que seu torso e uma calça que fora obrigado a dobrar nas bainhas, Kageyama estava compenetrado no livro. Deixou a toalha de lado depois de secar o cabelo, e acomodou-se à frente dele, quando notou que os biscoitos haviam acabado e o chá havia sido reposto.

—— Você comeu todos os biscoitos!

—— Estavam aí ‘pra isso, idiota!

—— Eu também queria, idiota!! —— Espalmou a mão na mesa, indignado e frustrado. —— Quantas questões você fez, droga? —— O levantador nem mesmo comentou sobre a fala rosnada que lembrava Tanaka quando o careca queria provocar alguém.

—— Duas.

—— Em todo aquele tempo? —— Kageyama o olhou com o cenho franzido irritadamente.

—— Não enche! Acha que é fácil achar as respostas?

—— O professor disse que estava no livro, então sim, devia ser fácil. —— O levantador se endireitou, jogando sua lapiseira sobre o livro aberto e vendo-a rolar e cair sobre a mesa.

—— Então faça você!

“Tão sensível, nossa!”

Hinata grunhiu, notando que se contassem as duas que o outro fez, ainda faltavam oito questões.

Suspirou, começando a ler.

Não notou quanto tempo passou, mas soube que havia sido muito quando sua cabeça começou a latejar furiosamente e seus olhos a arderem. Tombou a cabeça sobre o livro e o caderno, desistindo na décima oitava. Odiava pensar demais. Pensar demais dói. Seu professor de filosofia dizia isso, então achava que não tinha problema nenhum.

—— Kageyama... Faça as duas últimas...

—— Não quero... —— Notou que a voz do outro saiu mais rouca que o normal, e ao erguer o rosto, viu-o caído sobre os livros também.

—— Vamos deixar ‘pra fazer na aula e copiar de alguém...

—— Boa ideia! —— E logo ambos fechavam seus cadernos e guardavam as coisas.

—— O que fazemos agora? —— Olharam-se por alguns segundos, antes que ambos se colocassem de pé em simultaneidade e corressem para fora da casa já calçando seus sapatos para uma corrida noturna.

Hinoe gritou para que não ficassem na rua até muito tarde e sem proteção ou acabariam doentes. Kageyama foi obrigado a voltar e pegar casacos ou sua mãe os trancaria no quarto até a manhã seguinte (e ele não duvidava nem um pouco que ela era capaz de fazer aquilo).

—— Por que suas roupas são tão grandes?? —— Hinata resmungou enquanto dobrava a única manga do casaco que ele passara por seu braço bom (com certa dificuldade já que o outro braço ainda estava com o protetor de cotovelo), e erguia o capuz, olhando para o levantador à sua frente com indignação.

—— Foi mal, não compro minhas roupas na seção infantil!

—— COMO É QUE É, MALDITO?? —— Kageyama não se deixou abalar, começando a correr antes que Hinata avançasse contra ele e iniciasse uma briga idiota ou saísse em sua frente.

Não tinham muito tempo para ficar na rua de qualquer forma.

Enquanto admirava a paisagem, Hinata recordou-se de algo, girando o rosto e olhando para as costas de Kageyama. Pela primeira vez não fazendo questão de ficar no mesmo ritmo que ele, ou tentando superá-lo.

—— Ei, Kageyama-kun...

—— O que é? —— Hinata fez uma pausa, alcançando-o.

—— Você considera o pessoal do clube seus amigos? —— Kageyama franziu o cenho.

—— Não tivemos essa conversa em Tóquio?

—— Foi diferente! Eu disse que considero a gente família, mas você nos considera seus amigos?

O levantador pareceu frustrado, um bico formando em seus lábios.

—— Eu acho...

—— Acha?

—— Não é como se nos encontrássemos fora da escola.

—— E por conta disso não podemos ser amigos? —— Hinata correu à sua frente, o olhando com firmeza. —— Eu considero todos meus amigos. Mesmo que os veja apenas na escola ou só no clube.

—— E por que isso de repente importa? Somos parceiros em quadra, isso não é o bastante?

Hinata se calou, olhando para a paisagem de novo.

Alguma coisa disse à Kageyama que aquela não era a resposta certa.

—— Eu só acho que... Seria bom se fôssemos amigos.

—— Urgh!!! Por que você tem que ser tão infantil?

—— Não estou sendo infantil! —— Olhou-o, ambos se bicando enquanto corriam e quase não vendo o poste de luz em frente. —— Você até me deixou dormir na sua casa... Isso nos torna amigos, então?

Kageyama suspirou, começando a ofegar.

—— Tanto faz!

Hinata riu.

—— Da próxima vez você dorme na minha casa então.

O levantador apenas suspirou pesadamente.

“Próxima vez... O que o faz pensar que terá uma próxima vez?”

Aquele garoto sem dúvida era idiota demais.

De repente Kageyama sentiu seu braço ser agarrado, e logo parou seus passos, olhando para Hinata com irritação.

—— Qual o maldito problema agora?

—— Olha! —— Hinata apontou para frente.

Quando o levantador seguiu seu dedo, seus olhos se arregalaram, um arrepio subindo sua espinha e o fazendo sentir frio mesmo com seu corpo levemente febril.

Aquela paisagem era... Incrível.

Por mais que nunca fora interessado em vistas, as luzes da cidade lá embaixo faziam Kageyama se perguntar por que nunca o fizera antes.

—— Não sabia que seu bairro tinha uma paisagem tão bonita, Kageyama!

“Nem eu...” pensou frustrado.

Sempre passara por aquele trecho em suas corridas, mas nunca olhara para os lados, sua atenção sempre focada à frente. Sentia-se estúpido.

Suspirou, olhando para Hinata e viu-o sorrir largamente, rindo baixo como se a melhor piada o tivesse sido contada.

—— Talvez...

O ruivo ergueu o rosto, o mirando curiosamente.

Notando o silêncio do levantador, Hinata arqueou a sobrancelha, inclinando-se para perto dele.

—— Talvez não seja tão ruim... Sermos amigos...

As palavras deixaram seus lábios, mas Tobio mal podia acreditar no que dissera. Seu rosto passou a esquentar, mesmo que a pouco ele ardesse pelo vento gélido que os cortava.

Hinata ficou em silêncio. Um conturbado e estranho silêncio.

Por longos segundos, Kageyama não se atreveu a erguer a cabeça, mas quando o fez...

E pensar que havia imaginado que não havia nada mais brilhante que aquela vista para a cidade.

Até ver o sorriso que Hinata dera naquele segundo, e notar quão estupidamente ele pensava. O quão frequentemente enganado ele se via estando, quando o ruivo estava por perto.

Maldito Hinata e seu sorriso como raios de sol.

 


Notas Finais


Então, gostaria de agradecer a todo o apoio e todos os comentários no capítulo anterior!! Eu li todos, só fui lezada o bastante para deixar por último ;_; Sorry minna!!!

E sobre a fic, bem, como puderam ver, o capítulo está menor em comparação com os anteriores (a partir do segundo), mas é pq eu fiquei sem saber exatamente oq escrever. Não queria apressar as coisas entre os casais, pq não gosto de escrever minhas fics com tudo acontecendo rápido demais e forçado demais, e então entrei em bloqueio pq minha cabeça pifou...

Soooo.... Prometo que a partir daqui, os capítulos vão ter de 5000 a 6000 palavras... Espera... Hum... Melhor dizer que vou tentar meu melhor, né?? uhauhauhauhaua

Vou responder todas vocês amanhã, isso eu posso garantir!! Obrigada pelo apoio e tenham uma ótima semana ^^

Capítulo não revisado!!!


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