"And way down we go
Way down we go
Say way down we go
Way down we go"
Acordei com a música tocando levemente baixa, o suficiente para me acordar. Abri os olhos e me sentei na cama. Nisso, ouvi minha mãe me chamando para o café com aquela doce voz dela. Aí, aí dona Helena, como você é boa. Realmente, acho que não existe melhor mãe no mundo, mas isso deve ser algo que todos os filhos falam de seus pais.
No meu caso, a frase correta seria "falam de sua mãe". Isso porque eu não tenho pai, nunca o conheci. Mas ele também nunca fez muita falta. Ser a filha única de uma mãe solteira pode parecer difícil e até triste, mas no meu caso não. Ter só a minha mãe, de algum modo, me fez muito próxima a ela, e desde sempre somos melhores amigas.
- Amanda, querida, já está acordada? - Escuto minha mãe falando através da porta do meu quarto.
- Estou sim, mamãe. Pode entrar. - Eu falo, buscando meus óculos no criado mudo e passando as mãos no meu rosto, me "acordando" um pouco mais.
Helena, minha mamãe, entrou no quarto carregando uma bandeja com o café da manhã. Sorri imediatamente. Minha mãe era sim a melhor do mundo. Ela havia lembrado que hoje era o dia da minha primeira prova na faculdade, e ela sabia que eu havia me preparado muito e estava nervosa. Cafe da manhã na cama era o nosso jeito de relaxarmos quando tínhamos algo importante a fazer no dia.
- Mamãe! A senhora lembrou! - Eu exclamei, dando espaço para ela deitar ao meu lado na cama de casal.
- Mas é claro, minha querida. - Ela se inclinou e deu um beijo na minha testa. - Fico tão feliz que você esteja já nessa fase da sua vida. Parece que foi ontem que você nasceu!
- Mãe, para, não é tão importante assim, é só uma prova da faculdade. - Eu dei uma mordida na torrada enquanto ela bebia um gole do suco. - Nem sei porque eu estou nervosa.
- Estar nervosa é normal, filha. Eu também passei por isso, mas você vai perceber que a faculdade não é um monstro de 7 cabeças como todo mundo falou para você no colegial. - Ela disse e eu não pude conter uma risada.
Era verdade, no Brasil, os professores colocavam muito medo na gente sobre vestibular, ENEM, carreiras e faculdade. Mas, pensando bem, não é tão difícil assim, só é preciso dar um passo de cada vez, como mamãe sempre dizia.
Terminamos o café juntas. Eu me levantei para me arrumar e mamãe foi lavar a louça. Em meia hora, estávamos prontas para o nosso dia. Eu, pronta para minha primeira prova, e ela, pronta para trabalhar na sua pequena loja de perfumes. O dia estava quente, mas não aquele calor infernal que existe no Brasil, e sim uma temperatura agradável, aquela em que a brisa refresca a pele mas o sol a esquenta, carinhosamente, de volta.
Entramos no carro e começamos nosso caminho. Mamãe iria me deixar na faculdade e ir direto para a perfumaria, depois, tínhamos marcado de almoçar juntas.
Como fui no banco do passageiro, era minha hora de escolher as musicas que iriamos escutar. Liguei a rádio e Way Down We Go começou a tocar.
-Engraçado. - Falei comigo mesma. - Duas vezes a mesma música no mesmo dia.
Comecei a prestar atenção na música. Não era la a mais positiva, mas o ritmo era bom. Além disso, era em inglês. Inglês sempre foi uma paixao minha, a língua me fascinava, os sotaques, pronuncia, tudo. Tanto que eu brincava com mamãe que havia nascido no país errado, que devia mesmo ter nascido na Inglaterra.
Estavamos agora na Marginal Tietê, com o típico trânsito, não tão ruim assim, da manhã de segunda em São Paulo, mas isso não me abalou muito. Eu tinha tempo de sobra para chegar a faculdade. Estava olhando para frente, enquanto minha mãe cantalorava a letra da música, me distraindo observando os prédios gigantes a nossa frente.
Passei a observar as motos que passavam por nós, e até fiquei feliz que estávamos andando rápido até, e o trânsito tinha sumido agora. Mas tudo aconteceu muito rápido. Uma moto passou por nós e perdeu o controle a poucos metros de distância do nosso carro. Mamãe tentou desviar. Perdemos o controle também.
Eu não consegui compreender o que estava acontecendo. Parecia que algo estava me puxando para o lado, repetidas vezes, sem parar. Ouvi o som de vidro quebrando. Metal batendo. Só então que entendi. Nosso carro havia capotado.
Estendi meu braço na direção de mamãe, mas não toquei nada, só o banco do carro e vidro quebrado. Um último movimento do carro e uma forte dor no meu braço esquerdo fizeram eu gritar. Mas não era um grito de dor, nem de terror. Era um grito pela minha mãe.
Meu ouvido começou a zunir e minha visão embaçou e logo depois escureceu. O cheiro de fogo e a sensação dos cacos de vidro em contato com a minha pele logo foram sumindo, aos poucos, até que eu não escutava mais nada. Não cheirava a nada. Não sentia nada.
Foi só então que perdi os sentidos.
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