História Life Sucks - O passado sempre volta II

"Só começamos a reparar no céu, quando estamos apaixonados."

...

~¥~

Sasuke 

O colégio era um saco na maioria das vezes. Nada de interessante acontecia, era sempre a mesma rotina e as mesmas panelinhas. Alunos novos? Todo ano tinha a turma de calouros em Konoha's High School, seja do Ensino Médio ou do Ensino Superior.

O problema é que não havia ninguém que fizesse a diferença por aqui. Era um sistema hierárquico, antigo mais funciona até hoje, basicamente, a elite do colégio é quem manda. 

Estudar aqui é o sonho de qualquer um, todo ano tem as provas pra alunos bolsistas, temos os intercambistas e aqueles que pagam metade da bolsa porque possui parentes trabalhando aqui como faxineiro ou sei lá. Não preciso nem dizer que se você faz parte de algum desses grupos, sua vida social nesta escola já foi pré-programada pra ser um grande nada.

 Simplificando, você não tem uma vida social. 

Eu? Digamos que dei sorte no quesito popularidade. Último ano, capitão do time de futebol,  bad boy gostosão, eu podia ter qualquer garota desta escola, inclusive as universitárias. Eu era praticamente um Deus por aqui, todos me respeitavam, eu sou convidado pra qualquer festa que haja no Campus e sem falar que logicamente, a maioria das festas eram minhas. E pode acreditar quando eu digo que são as melhores.

Dinheiro? Tinha de sobra. Mulher era o que não faltava. Notas? Eu sempre estava classificado no ranking de melhores alunos. Amigos? Éramos os top10 do colégio. Minha vida podia ser o quê chamamos de perfeita, qualquer um nessa escola gostaria de ser eu. Então, será que alguém pode me explicar, por que eu estou tão entediado com a porra da minha vida??!!.

- ...uke! Sasuke!. Ei! Ei!

- O que foi?.

- Poxa, Sasuke. Estou te chamando faz tempo.

Karin estava ajoelhada em minha frente e balançava seus pom pom de torcida praticamente beijando a minha cara. Será que eu tinha viajado mesmo?. A ruiva insistente tentava me levantar do chão.

- Vamos logo, Sasuke. Tenten disse que tem informações novas pra gente. Temos que ir para o refeitório, já bateu o sinal do intervalo.

Pisco algumas vezes tentando acordar do meu transe, finalmente percebo onde estou. No colégio, sentado no Campus esperando a aula vaga passar. Olho em volta e vejo o movimento de estudantes aumentando, aos poucos estava cheio de adolescentes rindo, brincando e comendo nos gramados. 

Ajeito a mochila nos ombros e faço a vontade de Karin, me levantando. A ruiva animada como sempre, agarrou meu braço e fomos a caminho do refeitório. 

- O que você estava fazendo ali sentado e sozinho?.- Não demorou a me questionar.

- Nada, só pensando.

 A ruiva riu de mim. 

- Tudo bem, vou acreditar em você. 

Karin desandou a falar alguma coisa, porém não prestei atenção, preferi deixá-la com suas baboseiras. Passamos pelo corredor que levava a secretaria, em vez de virarmos, seguimos reto até o refeitório. Olhei por um momento o corredor e juro que vi uma coisa rosa. 

Por Deus, estou tão entediado que já posso ver duendes. Alguns passos depois, consegui ver as portas duplas do refeitório, só agora percebo Karin agarrada a mim, soltei meu braço de suas mãos e segui em frente. A mesma pareceu não gostar da minha atitude e parou no caminho. Dei de ombros e continuei.

- Por que você sempre faz isso? Me aproxima pra depois me descartar. Nem parece que somos namorados.

 Eu já estava com a mão na porta pra empurra-la, entretanto virei-me para a ruiva uma última vez.

 - Eu te avisei como seria as coisas nesse "namoro" e não se esqueça que você aceitou desde que todo mundo soubesse que você era a namorada e as outras só um passa tempo. Não venha me cobrar nada agora. 

Entrei no refeitório e a deixei para se recompor. Karin suportava tudo isso porque queria, era dois anos juntos e ela sabia de tudo. Absolutamente tudo, cada garota com quem eu ficava nas festas, quem eu levava para os motéis e até às rapidinhas no armário do zelador. Eu não fazia questão de esconder nada, mas no final, para todos ela era a assumida. E parecia que isso bastava, que por ela usar a aliança no dedo já compensava todo o resto.

Karin morria mas não deixava a pose.

Passando por entre as mesas, avistei uma gostosa que peguei na semana passada. A garota sabia como fazer um boquete, e como sabia. Pisquei para ela que riu safada. Karin vinha logo atrás e fuzilou-a com os olhos, bufei quando a menina desviou o olhar com medo do que Karin podia fazer. 

Mesmo com a galha na cabeça e todas as piadinhas de corna a seu respeito, ela ainda era a "namorada" do líder, ainda tinha meios e contatos para ferrar com a vida de qualquer um por aqui. E não era só por causa do nosso relacionamento, mas Karin tinha sua reputação. O sobrenome Uzumaki era um dos que governava essa porra toda. 

Mais a frente, localizei a mesa do pessoal. No Olimpo, claro. Era onde todos os populares sentavam, um espaço especialmente reservado para os líderes, para aqueles que tinham influência nesta escola. Nos aproximamos e comprimento meu irmão com seus amigos do outro lado do recinto. Os mares ainda são separados, não nos metiamos nos assuntos dos universitários e nem eles nos nossos.

Me sento ao lado de Gaara que comia uma maçã com Temari reclamando de alguma coisa no ouvido dele. Shion estava em cima de Naruto que ignorava a loira completamente, Karin sentou se ao meu lado e tentou ajudar o primo, puxou assunto com a outra loira. Matsuri e Taiuya conversavam alguma coisa sobre a fofoca quente que Tenten traria. 

- Onde está Tenten? Por que ela chamou todos aqui e até agora não apareceu?.

Gaara perguntou, cortando a fala da irmã. Shion suspirou irritada. 

- Pergunto o mesmo. Eu estava estudando com o Naruto até ela mandar mensagem e nos atrapalhar. 

Matsuri riu atrevida.

- Estudando o que? Anatomia?. Aposto que estavam transando na sala de aula.

 A loira ficou vermelha e iniciou uma discussão com a outra. Naruto nem olhara para as duas, parecia estar mais entediado do que eu. De repente, uma morena com quatro coques na cabeça deu o ar de sua graça e se jogou na mesa com tudo, sorriso de orelha a orelha.

- Que bom que já estão aqui.

Temari estava quase matando alguém de tão estressada que estava.

- Pucca maldita. Diz isso porque não foi você que ficou esperando. 

- Não seja dramática, eu nem demorei muito.

- Escuta aqui Maria Macho...

Taiuya se entrometeu na conversa e as três trocavam farpas. Naruto revirou os olhos e se pronunciou pela primeira vez. 

- Calem a boca, suas vozes são irritantes. Tenten, diga logo o que era tão importante pra nos chamar. 

A morena pigarreou contrariada, mas logo sorriu como que se tivesse lembrado o porquê de tudo isso. 

- Vocês sabem que faz mais de dois anos que nunca tem alunos novos na nossa turma. Mas só pra conferir eu passo na secretaria todo começo de semestre e a Midoriko que é assistente lá, inclusive Sasuke, obrigado por transar com ela as vezes, isso ajuda bastante na coleta de informações. 

Sorriu irônica.

- De nada, é um esforço que faço pelo bem maior do grupo. 

- Desgraçado.

Karin me xingou e todos rimos. Tenten tossiu.

- Enfim, neste ano nove arquivos foram inseridos na pasta da nossa turma!!. 

Um silêncio se instalou na mesa, Tenten nos olhava como se esperando um prêmio Nobel ou algo do tipo. Gaara sorriu torto.

- Nos chamou aqui só pra falar que terão nove paspalhos pra gente brincar? Sério?. 

A morena revirou os olhos irritada.

- Intercambistas seus idiotas. E não são de qualquer país, seus pais fazem parte do grupo Senju. Vocês tem noção de como vamos poder revolucionar a cadeia social por aqui?.

Sorri entendo a visão de Tenten. Por isso gostava dela, com certeza era a menina menos insuportável do grupo antes de Temari, porém sentia que a morena não gostava de nós apesar de ser simpática, ela obedecia as ordens de Naruko e apenas isso, de resto não fazia parte da Elite como membro fiel. Tinha o título e só.

Se você muda a vida social nesta escola pra algo melhor e mais divertido, automaticamente suas ideias são sempre ouvidas e as mudanças ocorrem mais rapidamente. Por aqui, não bastava ser apenas presidente do grêmio ou representante de sala, o respeito era conquistado e não comprado.

Gaara e Naruto sorriram seguindo a mesma linha de pensamento. Sorri para Tenten.

- Pucca, você é um gênio. 

- Eu sei, obrigada.

Disse brincando. Temari questionou.

- Tem alguma cópia dos registros aí? Para termos uma noção de como serão esse alunos.

A morena suspirou indignada.

- Não, a Shizune chegou na hora e depois Midoriko ficou atarefada, não podendo ajudar mais.

- Não importa. Eles estão matriculados e começam segunda-feira, faltam só dois dias, vocês aguentam esperar. 

Gaara disse, eu podia sentir. Sua cabeça já estava traquinando ideias. Realmente, dois anos nesta escola e nada de muito interessante aconteceu, pelo menos, nada que me me venha a memória. 

Os CDFs que estão encarregados de trazer as refeições da Elite no Olimpo essa semana, se aproximaram da nossa mesa. Toda semana tínhamos um grupo de alunos diferentes pra nos trazer o que queríamos. Escolhi uma Pepsi Twist e um sanduíche natural com tomate extra, o restante do pessoal voltou a conversar e novamente me manti em silêncio. 

Desbloqueio o celular e tento jogar o tempo fora, respondo as mensagens do whatsapp, marcando o encontro de amanhã a noite num bar aqui perto, frequentado pela escola toda. Até que o pub era bem famoso. Coloquei os fones de ouvido e deixei que Ed sheeran acabasse com um pouco do meu tédio. 

O intervalo vai terminar em cinco minutos, recolhi os restos do meu lanche, peguei minha mochila e deixei o Olimpo, o professor da próxima aula não tolera atrasos e eu já tenho duas advertências com ele, não preciso de uma terceira. Karin tinha treino de torcida e não viria me encher o saco até o final das aulas. Saindo do refeitório, sigo pelo mesmo caminho, logo Gaara e Naruto estão atrás de mim. Tenten e Temari deveriam estar aqui, são as únicas que não participam da torcida no grupo.

- Onde está aquelas duas?.

- Foram na secretaria, entrarão atrasadas.

Naruto me responde curto. Atravessamos o campus e já estávamos no prédio dos laboratórios. Procurei a bendita sala 1010, o professor ainda não havia chegado, entrei e peguei a última bancada do lado esquerdo da sala. Gaara se sentou comigo e Naruto preferiu sentar-se no meio da sala, junto de uma garota que ele pega, se não me engano o nome dela é Yumi Aburame. 

Caramba, dois anos com essa turma e ainda não sei o nome de todos. Aos poucos, o restante dos alunos chega e o laboratório estava cheio de murmúrios, Gaara estava cochilando ao meu lado e Naruto conversava hora ou outra com a menina. O Uzumaki estava mais quieto que de costume, normalmente ele está rindo ou brincando com alguém, não deu atenção pra nenhuma das meninas no Olimpo. Alguma coisa aconteceu.

O professor Assuma entra na sala, incrível que mesmo depois de todos esses anos juntos, ele não mudou nada fisicamente. 

- Bom dia, turma. Espero que tenham feito a tarefa que eu pedi da aula passada, não irei perdoar moleza. Este será nosso último ano juntos, terão de ser responsáveis e cumprir as datas de trabalhos, provas e tarefas. O que quero dizer, basicamente vão ter que sambar muito se quiserem acabar o colegial comigo.

A turma solta reclamações e vários cochichos irritados. Apenas suspiro mais entediado, é difícil de acreditar que eles esperavam outra coisa do terceiro ano, se não provas, tarefas e trabalhos dados com mais frequência, exigindo um desempenho maior ainda. Essa escola tinha metas, e nós temos de alcança-las. 

Sinto meu celular vibrar no bolso. Espero Assuma terminar de repreender os alunos preguiçosos e virar-se para a lousa. Pego o celular rapidamente e vejo de quem é a mensagem.

"Você tem uma nova mensagem de Loiro Esquizofrênico".

Olho pra frente a tempo de ver Naruto guardando o celular em seu bolso. Confirmo se Assuma está escrevendo na lousa e volto para abrir a mensagem. 

" Loiro Esquizofrênico: Jiraya veio falar comigo no intervalo, antes da Tenten nos chamar. Eu já sabia dos alunos novos, não achei nada demais. Mas tem uma coisa que está fodendo com a minha cabeça. Uma das novas alunas se chama Sakura Haruno...

Sinto uma fisgada no peito.

Porra. De novo não.

Depois de cinco anos. Malditos cinco anos, e eu ainda sinto essa coisa. Agora sim eu tô indignado com essa porra de universo. Olho para Assuma, ele estava tirando a dúvida de um aluno. Termino de ler a mensagem.

... O velhote tarado disse que não era a nossa Sakura. Mas que ele também ficou chocado com o nome e resolveu me avisar. Ele pode ter se enganado, Sasuke. E se a Sakura voltou?!."

Guardo o celular e concentro minha atenção na aula que começará. Enquanto tomo nota das explicações de Assuma, não consigo parar de fingir que não sinto a clave de sol balançando e fazendo cócegas em meu tórax, a cada movimento de mão. 

Descanso um pouco o pulso e não resisto em olhar para a janela ao lado. O céu está tão limpo hoje. E como sempre, depois de S.H. entrar no assunto, qualquer coisa é mais interessante do que minhas obrigações. Sério, até o chão chama mais atenção do a aula de Assuma. Suspiro cansado, lembranças de cinco anos trás naquele maldito aeroporto voltam para me assombrar. 

Sakura chorando e sorrindo enquanto dizia adeus e ia embora da minha vida para sempre. Pelo menos eu achei que fosse pra sempre. E agora, supostamente ela volta?. Porque eu ainda me surpreendo? Reclamei tanto da minha vida no final do ano passado e no começo deste, que nem estou tão surpreso de ver os caminhos que ela seguiu apenas pra me foder. 

Parabéns, Sasuke. Continua reclamando da vida, daqui a pouco nem vou ter mais uma pra reclamar. Desisto da aula de Assuma e volto-me para a janela.

Será, que ela realmente voltou?.

~¥~

Tudo o que for verdadeiramente nosso, sempre volta. Não tem data de entrega, nem aviso prévio e não importa se queremos aquilo, muito menos o que planejamos para nossa vida naquele instante. As vezes, precisamos de algum imprevisto pra nos lembrar como é bom ter uma bagunça numa vida tão organizada. Porque é só depois da bagunça que começamos a questionar o porquê colocamos tal coisa em tal lugar. Só assim podemos limpar nossa alma de sentimentos ruins e abrir nossos corações para novos amores.

- Escritas de um nada.