História You still have all of my heart - Amassos e revelações

                 Subi as escadas novamente e procurei Kellin no segundo andar. Espiei pela porta do quarto onde eu estava com Danielle minutos atrás e ela continuava dormindo exatamente do mesmo jeito que eu havia deixado. Abri a porta seguinte e me deparei com um banheiro escuro, havia uma pessoa dormindo dentro da banheira, resolvi não incomodar. Andei até a ultima porta do corredor e entrei em um quarto, maior do que os outros, que tinha uma cama de casal grande e era iluminado pela luz que vinha de fora. A música era bem baixa no cômodo, quase uma batida indecifrável.

                Caminhei até o outro lado do quarto, em direção a porta da varanda, que estava aberta e era tampada apenas por uma cortina que voava com o vento. Kellin estava parado encostado no parapeito da grade olhando para a rua. Me aproximei em silêncio e por um momento não soube o que fazer, se deveria chamá-lo ou parar ao seu lado. Fiz o que meu coração e meu corpo pediram e o abracei por trás, apoiando o rosto em suas costas, já que não alcançava seu pescoço.

                Ele se assustou com minha aparição repentina mas logo pousou as mãos em cima das minhas, que estavam em volta de sua barriga. Respirei fundo sentindo seu cheiro.

                - O que ela queria? – ele perguntou baixinho depois de alguns minutos em um silêncio não-constrangedor.

                - Ela estava bêbada e tentou me beijar. – respondi. – depois caiu de cara no chão e dormiu.

                Ele deu uma risada baixinha. Sorri.

                - Eu não a culpo. – ele se virou sem deixar que meus braços o soltassem. – Eu também quero te beijar. – e então colocou as mãos nas laterais do meu rosto.

                Fechei os olhos e respirei fundo desejando que aquele momento congelasse. Ele me beijou me fazendo perder os sentidos. No começo foi calmo e apaixonante, mas com o tempo ficou cheio de necessidades e calor. Minhas mãos passeavam pelas suas costas e seu pescoço.

                Nos beijamos demoradamente por algum tempo. Ele beijava melhor que qualquer outra mulher que eu já tinha beijado na vida. Ele afastou nossos lábios e na hora senti falta deles. Kellin me olhou nos olhos e sorriu.

                - Você é tão lindo. – ele disse. Fiquei envergonhado e abaixei a cabeça tentando esconder um sorriso bobo. O vento bateu o fazendo estremecer. Eu estava de jaqueta, mas ele estava somente com uma camiseta.

                - Quer entrar? – perguntei abaixando minha mão ao lado da cintura dele para poder pegar a dele e entrelaçar nossos dedos. O conduzi até dentro do quarto.

                Paramos em pé no final da cama e eu comecei a beijá-lo de novo. Meu coração espancava meu peito e minhas costas começaram a suar. Involuntariamente, apenas obedecendo as necessidades do meu corpo, o empurrei gentilmente sentado na cama.

                Ele me olhou com malicia e sorriu me puxando para si. Sentei em seu colo com os joelhos em volta de sua cintura, ganhando assim, alguns centimetros a mais que ele. Voltamos a nos beijar, dessa vez com mais urgencia. Sua lingua explorava minha boca me causando arrepios. Coloquei a mão em sua nuca e puxei levemente seus cabelos tomando o controle do beijo. Ele separou nossas bocas e começou a trilhar beijos por meu maxilar, descendo por meu pescoço. Afastei nossos corpos para tirar a jaqueta que já não me era mais util. A joguei para trás pouco me importando. Voltei a beijá-lo.

                Ele se deitou devagar na cama me trazendo consigo. Eu já estava com falta de ar quando ele parou o beijo.

                - O que foi? – perguntei o olhando nos olhos. Suas pupilas estavam dilatas e seus lábios vermelhos.

                - Se continuarmos assim você sabe como vai acabar. – ele disse baixinho, quase num sussurro. Eu entendi o que ele queria dizer. E, apesar de ter a certeza de que era gay, não estava preparado para passar para a próxima fase.

                - É verdade. – sai de cima dele e me deitei ao seu lado.

                - Não que eu não queira. – ele se explicou. – eu quero muito. Mas quero que seja especial. Pra mim e pra você.

                Sorri.

                - Você tem razão. – eu disse concordando. Ele se virou de lado e passou a mão na minha bochecha.

                - Vic eu já te disse o tanto que eu te acho lindo? – ele disse. Dei uma risada apaixonada e peguei sua mão que estava em meu rosto.

                - Eu é que te acho lindo, mas não tenho o costume de dizer. – eu disse levando minha mão a seu rosto e tirando uma mecha do cabelo que caía em seu olho.

                Ele sorriu e me deu mais um beijo. Foi bom, mas foi mais rápido que os outros.

                - Como vamos fazer? – ele perguntou. Fiquei em duvida se deveria levar para o outro sentido ou não.

                - O que?

                - Não quero ter que ficar longe de você na faculdade. Quero poder andar de mãos dadas com você sem me preocupar. – ele disse. Senti uma pontada de desconforto.

                - Kellin, eu também quero muito... assumir. – me apoiei no cotovelo.  – mas eu ainda não sei como fazer isso. Tem os meus pais. Meu pai é completamente homofóbico e já disse que expulsaria um filho gay de casa.

                - Mora comigo. – ele disse sem nem pensar. Quase engasguei com sua proposta.

                - O que? – ele só podia estar brincando.

                - Olha, eu não quero te apressar, saiba disso. Quero que faça quando se sentir pronto. Só estou querendo dizer que se contar pros seus pais e por acaso não tiver onde ficar, você pode ir lá pro meu apartamento. Eu arrumei um emprego. Começo segunda. – ele disse.

                Abri e fechei a boca várias vezes, mas não sabia o que dizer. Ele percebeu que eu estava desconcertado e resolveu finalizar o assunto.

                - Como eu disse, não quero te pressionar. Só pense nisso ok?

                - Tá bem. Obrigada. – me inclinei pra frente e dei um selinho demorado em seus lábios. Meu celular vibrou no bolso de trás da minha calça e eu tremi de medo com a mensagem que recebera de Mike.

                “Vic, eu estava distraindo os meninos aqui embaixo mas Tony sumiu da minha vista. Ele acabou de descer” – Mike

                Deixei que Kellin lesse a mensagem. Ele me fitou.

                “Ele viu alguma coisa?” – Vic

                - Eu ainda não estou pronto pra contar pra eles. – eu disse a Kellin tentando evitar que as lágrimas se acumulassem em meus olhos.

                “Sim” – Mike

                - O que eu faço? – uma lágrima inconveniente escorreu pela minha bochecha. Kellin a limpou com as costas da mão.

                - Olha, eu sinceramente não sei o que você deve fazer, mas saiba que eu estou aqui se precisar de apoio. – ele segurou minha mão e me levantou. Ficamos em pé e nos abraçamos.

                Peguei minha jaqueta no chão e nós descemos juntos, mas não de mãos dadas nem nada.

                Já era duas da manhã e a casa já estava mais vazia. A música estava mais baixa e a maioria das pessoas estava jogada no chão ou dormindo em algum canto.

                Mike, Jaime e Tony estavam parados perto da porta conversando. Quando me viram, pararam de falar e me olharam. O olhar de Mike era desesperado, ele me pedia desculpas. Eu não o culparia. Ele não podia prender os garotos em uma coleira.

                Passei direto por eles e abri a porta, saindo para a rua.

                - Vic! – ouvi a voz de Tony atrás de mim.

                Virei para olhar pra ele. Meus olhos estavam marejados e eu estava com vergonha.

                - Podemos conversar? – ele disse com Jaime se aproximando. Fiz que sim.

                Me sentei na calçada e esperei que eles sentassem ao meu lado.

                - Por que não contou pra gente? – Jaime disse baixinho. Olhei pra ele, confuso.

                Eu achei que eles iam me zoar ou algo do tipo, mas não.

                - É tão complicado. – eu suspirei passando a mão nos olhos e na testa. – Não sabia como vocês iriam reagir.

                - Vic, acima de qualquer coisa: você ó nosso amigo. Nunca deixariamos de falar com você por causa disso. – Tony passou o braço pelo meu ombro e continuou. – Isso é normal. Você é um ser humano!

                Deixei que algumas lágrimas caissem e depois olhei para meus amigos sorrindo para eles. Mais uma vez parecia que um peso enorme tinha sido tirado das minhas costas. Agora eu precisava contar para os meus pais.

                - Tony, o que você viu... – eu disse. Estava com vergonha por ele ter me visto aos beijos com Kellin. – pode por favor esquecer? – pedi a ele.

                - Esquecer o que? Eu não vi nada, tô mais bêbado que qualquer coisa. – ele disse rindo e dando um beijo molhado na minha testa. Seu bafo era de cerveja.

                Me despedi de Kellin finalmente podendo dar um beijo nele na frente dos meus amigos e cada um foi embora pro seu lado. Mike e eu caminhamos em silêncio, não havia ônibus aquela hora, então tivemos que andar até em casa.

                - Desculpa, eu não vi que ele tinha subido. – Mike disse finalmente depois de algum tempo.

                - Tudo bem, a culpa não é sua. Eu deixei a porta meio aberta sem querer. E foi bom eles saberem, me sinto melhor do que escondendo. – eu dei de ombros.

                - Mas Vic... Você... é... – ele se enrolou. – O que Tony viu?

                Dei risada.

                - Nada demais, eu e Kellin só estavamos... nos beijando. – respondi. Ele riu e concordou com a cabeça.

                Quando chegamos em casa nossos pais já estavam dormindo, então não nos viram.

                Troquei de roupa e me deitei, pegar no sono foi muito fácil. Meu momento com Kellin tinha sido mágico.