História You still have all of my heart - O primeiro olhar pt 2

P.O.V KELLIN

                Eu já estava acordado antes mesmo de o sol nascer. Levantei cedo e desempacotei quase todas as coisas que ainda estavam nas caixas. A mudança havia me deixado muito cansado, mas a circunstancia me deixava agitado.

                Peguei meu celular para checar as horas e em dois minutos ele despertaria. Desativei o alarme já que já estava acordado há duas horas e meia.

                O novo apartamento, que eu morava há um dia, era pouca coisa maior que o anterior, mas eu me forçava sempre a pensar nos motivos que tinham me levado a me mudar.

                Eu morava em um apartamento no mesmo prédio que meus pais, trabalhava em uma livraria e estava a procura de uma faculdade, mas por minha antiga cidade ser pequena eu não vi outra opção a não ser me mudar e começar a estudar.

                Tive que deixar meus pais por conta própria e abandonei um emprego que me pagava o suficiente para me sustentar e me mudei para uma cidade quatro vezes maior, sem nenhuma ideia de emprego e somente com a vaga na faculdade garantida. Meus pais me mandaram dinheiro todo mês até eu me estabilizar, mas até lá corri igual a um coitado por alguma coisa que me pagasse o que a vida naquele lugar exigia.

                Tomei um banho e me vesti com algumas roupas que já tinha guardado, arrumei o cabelo e tomei café da manhã. Quando me dei conta o tempo tinha passado e eu tinha que ir pegar o ônibus para o primeiro dia.

                Bom, as aulas já haviam começado a algumas semanas, mas pra mim aquilo era novo e eu não saberia como lidar com a nova vida. “Mas por que um homem adulto é tão inseguro?” Eu também não sei, talvez seja porque sempre estive em minha zona de conforto e nunca me arriscara para nada novo e empolgante. Agora eu estava sozinho e completamente apavorado.

                Desci pelo elevador do prédio e assim que coloquei os pés na rua olhei em volta para me achar. Fui para a esquerda, virei a esquina e por sorte o ponto ficava ali. Não esperei por muito tempo. A minha sorte foi que antes de me mudar, me deixei por dentro de tudo que envolvesse a nova cidade: os ônibus, o metrô, os nomes das ruas, os supermercados, os restaurantes e tudo que achei necessário. Me perder seria dificil.

                Quando o ônibus parou e eu me levantei para entrar uma ruiva alta e muito bonita que vinha correndo entrou na minha frente.

                - Desculpa, fiquei com medo de perder o ônibus. – ela se desculpou virando para olhar pra mim.

                - Tudo bem. – respondi. E estava mesmo, tudo que eu menos queria naquele momento era me estressar.

                Ela entrou na minha frente, passou o cartão e girou a catraca. Eu ainda não tinha o cartão, mas estava com o dinheiro da passagem contado, o que poupou algum tempo.

                Assim que girei a catraca – e agradeci por minha mochila não ficar presa – passei os olhos pelo fundo procurando um lugar, mas aparentemente estava todo cheio. Tinha um lugar no meio do ônibus, na frente de um garoto.

                Um garoto de cabelos castanhos na altura do ombro e profundos olhos castanhos. Ele me olhava fixamente e por um momento não consegui desviar o olhar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que ele não estava me olhando com desgosto ou repulsa. Ele simplesmente me olhava.

                Assim que o ônibus começou a andar de novo tratei de me sentar logo antes que eu caisse. O garoto – tudo bem, ele não era um garoto. Era um homem. Isso era evidente, mas ele tinha traços delicados no rosto, o que o fazia parecer um bebê – desviou os olhos rapido como se tivesse acordado de um devaneio e eu me sentei a sua frente.

                Senti seu olhar em minhas costas, mas talvez fosse coisa da minha imaginação. Fiquei pensando se por acaso meu cabelo estava cagado ou minha cara estava com algum defeito, pois não havia outra explicação para aquela troca de olhares. Ainda mais entre dois homens adultos.

                Quando o ônibus parou em frente a faculdade, eu desci. Caminhei até onde tinha visto pelo site que era a recepção e tratei de resolver alguns assuntos pendentes.

                Peguei meus horários e fui procurar a sala da primeira aula, apesar de ainda faltar vinte minutos para dar a hora. Quando passei pela cantina vi o garoto do ônibus se aproximando de uma mesa. Ele estava com mais dois caras. Ele olhou em volta procurando por algo e depois se sentou. O observei por alguns minutos e me impressionei com o quanto ele me parecia ser uma boa pessoa.