História You were my mistake - Dia de (má) sorte.

Sabe aquele dia que você acorda sem animação pra nada? Nem para respirar? Então... Estou assim hoje.

Hoje é aquele dia irritante que você tem que voltar para a escola depois das férias no meio do ano. Que tipo de pessoa gosta deste dia?

Estou voltando hoje e não poderia ter acordado mais mal-humorado. Primeiramente por não ter dormido quase nada, graças a briga de um vizinho que aconteceu na rua. Eles só foram parar de gritar três horas da manhã, me deixando com uma puta dor de cabeça. Segundo, é volta às aulas... Lógico que estaria mal-humorado. Ainda mais eu, Byun Baekhyun, que detesta com todas as forças de meu pequeno ser, acordar todos os dias às seis da matina, para encarar um monte de gente feia – algumas nem tão feias assim, risos. Levantei com a maior dificuldade do mundo e desci para tomar café, encontrando minha mãe ainda na cozinha.

— Achei que não iria acordar, bela adormecida. Que demora! — Ralhou ela, nem dei bola.

Se tem uma coisa que eu odeio mais do que ficar indo para a escola, é quando ficam falando comigo logo que eu acordo. Eu não penso direito nem no meio da tarde imagina quando acabei de acordar. E também, qual é a pessoa em sã consciência que já acorda falando?

Se você faz isso... Qual é o seu problema?

— Quer café puro ou café com leite? — Continuei sem respondê-la por estar processando tudo na minha cabeça ainda.

— Você perdeu a língua enquanto dormia, Baekhyun? Fala comigo, menino.

— Aigoo! Você sabe que eu odeio ficar falando de manhã. — Exclamei estressado, com a voz rouca por ter acordado recentemente.

— Tá’ de TPM, né? Faz o que você quiser comer aí, não sou adivinha e nem empregada de ninguém! Come logo que você ainda tem que tomar banho, vai ficar atrasado! — Fiz uma careta como se tivesse a imitando e peguei alguns biscoitos para comer.

Enrolei tanto no banho que quando vi, já passavam das oito horas, sendo que eu entro na escola exatamente oito e vinte. Vocês já podem imaginar como minha mãe ficou estressada, certo? Pois então.

— VOCÊ NUNCA ME ESCUTA! VEM LOGO BYUN BAEKHYUN!!! — Desci correndo e fui direto para o carro, sem nem checar minha mochila direito.

Consegui convencer a diretora a me deixar entrar. Poxa, eu estava apenas cinco minutos atrasado – isso que minha mãe correu que nem louca com o carro.

Cheguei correndo na sala como se minha vida dependesse disso, ficando completamente desolado quando vi que nem o professor havia chegado ainda.

— Hoje é meu dia de sorte, hein? porra. — Sussurrei pra mim mesmo, me ajeitando na carteira, esperando ele chegar.

— Bom dia turma. Desculpe pelo atraso…

— Ele entrou na sala já contando da vida.

Não sei se é só os meus professores que tem esse problema, mas eles amam contar sobre suas experiências... Provavelmente não devem ter ninguém para dividir esse tipo de pensamento, porque, porra... Isso irrita muito. Não que eu queira ter aula, mas também não preciso ficar sabendo da vida alheia, né não?

O sinal para o intervalo bateu e eu estava esperando Kyungsoo e Luhan na porta do refeitório – que graças a uma divindade, que deve me odiar, diga-se de passagem, nós não caímos na mesma sala. Um cara esbarrou em mim, quando fui ver quem, era nada mais nada menos que Park Chanyeol, o garoto que se acha tudo, mas não é nada.

Chanyeol é repetente do 3° colegial e por ele ser mais velho, parente do vice-diretor, acha que manda na escola. 99% das pessoas do colégio morrem de medo dele, e se você acha que eu faço parte dos 1% que está literalmente cagando e andando para a existência do orelhudo, você está certo.

— Desculpe aí, bichinha. Você é baixo demais, não consegui te ver.

Todo mundo na escola sabia da minha sexualidade, isso nunca foi um problema até chegar nas orelhas  – bem grandes por sinal – do Park. Ele me infernizava todos os dias, me chamando de gayzinho, viadinho.

Querido, você acha que isso me incomoda? Sou gayzinho/viadinho sim. Amo.

Apenas ignorei sua presença desagradável e fui para a fila pegar algo para comer. Assim que os meninos chegaram eu fiquei pensando como eles iriam agir, se fosse esses frouxos no meu lugar, estariam se curvando e pedindo mil desculpas para o "Deus Chanyeol" até agora. Mas, sinceramente, Chanyeol é tão bosta que nem se eu estivesse errado eu pediria desculpas.

Praticamente todas as mesas do refeitório estavam vazias, a maioria das pessoas ficavam no pátio ao lado. Escolhemos sentar na mesa do fundo, onde quase ninguém senta e estava tudo maravilhoso até o boneco de Olinda – vulgo Park Chanyeol –, parar na frente da minha mesa com seus seguidores a.k.a "amigos".

— Vocês poderiam sair daqui? Essa mesa é nossa e gostaríamos de sentar aqui hoje. — Disse ele fingindo ser educado, mas com tom de deboche. Fingi cara de confuso e comecei a procurar algo na mesa.

— Engraçado. Não estou vendo seu nome em nenhum lugar. — Escutei alguns murmúrios das pessoas à nossa volta, provavelmente esperando alguma briga.
Ele ficou em silêncio por um minuto e depois riu... Ele riu, fala sério. Está escrito palhaço na minha testa? Bom, levando em consideração que estamos falando do idiota do Chanyeol, eu espero qualquer coisa.

— Olha só. Temos um corajoso aqui. — Insinuou ele, e eu fiz cara de deboche.

— Não precisa ser corajoso pra falar algumas verdades para babacas como você. As pessoas que são trouxas demais por terem medo de um… Babacão.

— E você não tem? — Trincou os dentes enquanto se aproximava.

— Por que teria? — Rebati rápido, me aproximando assim como ele, ainda mais. Se Chanyeol quer jogar, vamos jogar então.

— Porque todo mundo tem.

— Está se aproximando cada vez mais por isso? Acha que vou me intimidar e abaixar a cabeça para você? — Dei mais um passo para frente, ficando cara a cara com o orelhudo. — Eu não sou todo mundo, Chanyeol.

— Você está brincando com fogo, menino. — Senti um tom de ameaça em sua voz mas nem isso fez eu me mover, quem dirá minha cabeça e meus pés.

— Pode apostar que não tenho medo de me queimar. — Sorri de canto e saí da sua frente quando bateu o sinal.

Kyungsoo e Luhan me alcançaram e me puxaram com força, quase me derrubando no chão.

— Eu juro que achei que você e o Park iam se beijar no meio do refeitório — Disse Luhan.

— Tá’ louco da cabeça? Eu nunca beijaria Park Chanyeol.

— Never say never... — Luhan e Kyungsoo entraram na sala cantando e eu revirei os olhos.

Descobri que iria ter as últimas três aulas vagas e ainda assim não poderíamos ir embora. Como assim?

Pra que ficar preso em uma escola sem professor por mais de duas horas, sendo que eu poderia estar fazendo algo muito mais produtivo na minha casa? Como mexer no celular, que, por sinal, eu acabei esquecendo em cima do balcão da cozinha.Hoje literalmente não é o meu dia de sorte.

Decidi ir para a biblioteca, porque mesmo eu sendo preguiçoso e daquele tipo que odeia estudar, eu amo ler.

Peguei o livro Orgulho e Preconceito, que já havia lido mais de mil vezes – do tipo que já sabia os diálogos de cabeça –, mas é o melhor livro do mundo. Eu leria ele mais mil vezes de novo se fosse preciso.

Fui para uma mesa escondida no fundo e me sentei para poder ler em paz. Mas essa suposta paz durou por apenas alguns minutos, pois enquanto estava perdido no mundo de Elizabeth e Sr. Darcy, vi alguém parado na minha frente.

— A princesinha não vai ler Romeu e Julieta hoje? — Não precisei nem levantar a cabeça para saber quem era, e que deveria continuar ignorando. Prossegui olhando para o livro fingindo estar lendo, esperando mais um comentário idiota, que veio logo em seguida.

— Cansou daquele romancezinho de merda?

— Você viu aquela placa ali? — Apontei para a placa (consideravelmente grande), grudada na parede escrito "Silêncio". — Então, se você sabe ler, vai saber o que está escrito ali. E eu preciso daquilo para conseguir ler. Agora pode me dar licença, por favor? — Terminei de falar e ele riu. Qual é o problema desse cara? Por que ele só ri de mim?

— Vai na festa hoje?

Festa? Não estou sabendo de festa nenhuma. Sou a pessoa mais desinformada dessa escola inteira, como quer que eu saiba de alguma coisa? A única certeza que eu tenho é que Park Chanyeol pode ser muito irritante quando quer, então preferi fingir que sabia.

— Sim. — Respondi seco.

— Te vejo lá então... Smurf — Mas tava’ demorando muito pra ele começar a zoar com minha altura. Bem que estranhei.

— Tá’ bom então, limpador de lua. — Ele apenas sorriu e foi embora. Que cara estranho…

Fiquei tão focado no livro que nem vi a hora passar, quando percebi já estava praticamente sozinho dentro da escola. Saí e vi minha mãe já me esperando. Ia entrar no carro quando escuto meu nome ser berrado.

— BAEKHYUN!!! — Olhei para trás e estranhei ao ver Chanyeol novamente, dessa correndo até a mim. — Bom, eu estava pensando... A gente poderia ir junto para a festa, né?

— Não. — Falei rápido e entrei no carro.

— Larga de ser mal educado, Byun. Responde o menino direito. Não foi essa a educação que eu te dei. — Revirei os olhos e abaixei a janela do carro, vendo Chanyeol ainda parado lá fora com cara de tacho.

— Tá bom. Mas você vai me buscar em casa... — Já que não faço a mínima ideia de onde seja essa festa. Completei mentalmente.

— Hm... Quem é ele? Ele é bem bonitinho, hein? — Minha mãe disse sorrindo sugestivamente, e eu revirei os olhos pela milésima vez no dia.

— Só mais um menino irritante. — Respondi.

Passei o resto do dia pensando no comportamento repentino de Chanyeol. Ele só pode estar brincando com a minha cara. Melhor eu ficar de olhos bem abertos quanto a isso...