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História Youkai - Capítulo XXI


Escrita por: Psycho-sama

Notas do Autor


Editado: 18/06/2022

Capítulo 20 - Capítulo XXI


. . .

Capítulo XX

Missing Scene

ϾϿ

“[...] eu devia ter te beijado quando estávamos correndo na chuva...”

———— Cheers Darlin', Damien Rice

. . .

 

Alguns Meses Antes...

.

Ele nunca gostara de festas.

Era o tipo de situação que obrigava a maior aglomeração humana, ou youkai, a socializar. E estava aí outra coisa que ele repudiava também: fingir ser alguém que ele não era (coisa que ele não fazia), ou pior ainda, forçar empatia para conseguir algo (outra coisa que ele não fazia também)... Era repugnante.

As pessoas costumavam ir até ele para conseguir possibilidades. Não o contrário.

Sesshoumaru nunca precisou de favores. Seus métodos, muito menos, precisaram da intervenção de terceiros para serem realizados. Sempre foi do tipo que fazia acontecer, sem necessitar de ajuda ou apoio. Estava acostumado a depender de si mesmo, e a esperar nada dos outros, além de pedidos e gracejos supérfluos e irritantes.

Aprendera a comandar um Reino, com poucos anos de idade. Era um garoto, vendo o pai a construir um Império. Ele sabia o que tinha que fazer, e o que não tinha. Aprendera com os erros do patriarca, e melhorara as imperfeições. Não se importava de descer baixo para conseguir as coisas, desde que fosse aquele no topo e na posição mais elevada no fim.

Coisa que InuTaisho sempre recusara-se a fazer. Tão correto, tão imparcial e tão digno... Que o levara a uma morte ridícula por uma humana e seu filho hanyou.

Quando jovem, se perguntava se relacionar-se com uma humana não fosse o tipo de coisa baixa e vulgar, que o pai tanto evitava. O questionou algumas vezes, enfrentara-o outras tantas. Mas nunca obtivera a resposta. Nem nunca teria. Apenas receberia alguns tapas e socos em resposta, acabando com um olho roxo ou um corte no lábio inferior por dois dias ou três, dependendo a força com que fora acertado.

O ódio por aquela raça se dava ao simples fato de serem fracos. Impuros e facilmente corrompidos. Eles manchavam o mundo, e ofendiam sua presença por simplesmente estarem no mesmo local que ele. Eram vermes com a vantagem da ocupação populacional e capacidade intelectual. O que não era lá algo para se orgulhar, já que tinha o único propósito de os diferenciar de animais.

Eram dignos de pena. Não mereciam nada além de nada.

Apenas seu asco era direcionado àquela raça.

Pelo menos, era assim em seus primeiros séculos de vida.

Era assim antes de Rin.

E era assim antes dela.

Nas últimas décadas... Não... Nos últimos séculos, vinha se perguntando como essas duas humanas conseguiram mudar suas perspectivas completamente do avesso. Rin fora um marco importante em sua eternidade. A criança fora o primeiro passo para novas descobertas, e novas permissões. Ela, por outro lado... Fora a nata de sua mudança completa.

Mas como algum tipo de castigo Divino, vindo de sabe-se-lá-onde, ficara impedido de permanecer com ambas. A menina crescera, e tivera sua vida, uma família, filhos. E ela... Ela o esquecera. Completamente e indubitavelmente. Fora apagado de suas memórias. E nada restara.

Era inútil continuar a pensar que estava enganado. Por Sete Infernos, ele nunca se enganava. E infelizmente, isso era realidade.

Sentia que podia dar qualquer coisa para tocá-la outra vez. Qualquer maldita coisa.

E isso só alimentava o pensamento de que estava perdido nela. Estava começando a ficar ridículo também.

Quando a música no salão cessou, as conversas feriram seus ouvidos. Tantos assuntos diferentes, tantas vozes irritantes cortando as lembranças dela com afinco. Seus olhos vasculharam pelo local com irritação e atenção, procurando pela silhueta que o levara até ali, para começo de tudo. Ser tragado de seus pensamentos, sem dúvida milhares de vezes mais agradáveis que aquele local, o deixara com um humor desagradável.

Nada diferente de seu costumeiro humor, claro.

Quando os citrinos encontraram o alvo, as íris brilharam. As sobrancelhas albinas se franziram, e o copo com champagne fora aos lábios. Numa distração automática, bebericou do líquido quase morno, não se importando com o gosto amargo que começava a tomar conta de sua boca.

O gosto humano para péssima bebida, também era outra coisa que ele odiava.

———— Ephraim anda fazendo muitos amigos. ———— A voz soara baixa ao seu lado, um pouco mais afastado de onde estava posicionado.

Aquela Kitsune nunca fora conhecida por sua discrição, mas eram naqueles momentos, que ele mostrava que não estava no posto de Senhor do Sul por falta de opção.

O odiava imensamente, mas sabia que a ajuda dele seria válida. Não necessária, mas válida.

Não girou o rosto para ele, baixando a mão com a taça, e a deixando sobre o parapeito da janela encoberta por uma cortina amarelada, onde tentava passar despercebido. Claro que alguém como ele não conseguiria realizar um intento tão singelo como aquele por muito tempo. Já era de se esperar, infortunadamente.

———— Amigos perigosos. ———— Comentou baixo, sem tirar os olhos do homem do outro lado do salão de festas.

As cinco silhuetas a rodearem-no eram pouco conhecidas, mas muito afamadas. Sesshoumaru sabia tudo sobre todos, mas havia aqueles infelizes que conseguiam manter seus dados escondidos até mesmo dele. O tipo de pessoas que, como Ephraim, lidavam com o submundo e o tráfico ilegal. O que não lhe interessava a menos que fosse preciso.

Esse era o tipo de verme que ele mais evitava lidar.

O tipo de verme que não morre mesmo depois de dúzias de tentativas.

Quanto mais se tentava, mais eles pareciam se reproduzir.

Era irritante o tanto quanto era frustrante. Pior do que baratas.

———— Ele disse que não trabalha com esse tipo de negócio. ———— A voz do Kitsune soara séria, mas as palavras faziam duvidas pairarem sobre sua cabeça.

Sesshoumaru fora obrigado a crispar os lábios, apoiando as costas na parede, sentiu o tecido da cortina bater contra sua perna, balançando com o fraco vento noturno, emaranhando-se nele como um gato manhoso.

———— E a palavra dele é válida? ———— Indagou num barítono calmo.

Uma risada fora abafada.

———— Touché... ———— Poucos segundos de silêncio. ———— Mas ainda sim, o Clã dele é o único que não interveio em nossos negócios há séculos. Desde que os Senhores passaram a mudar. ———— Uma pausa mais longa. Dois garçons passaram por eles, carregando bandejas abaixo dos braços. Um deles apanhou a taça que Sesshoumaru deixou despretensiosamente ao lado. Quando fora de vista, o ruivo voltou a falar: ———— Ele merece um ponto, pelo menos.

———— É melhor não baixar sua guarda com ele, Kitsune. ———— Alertou. As mãos foram estocadas dentro dos bolsos da calça, sentindo a chave do carro em uma, e o celular na outra. ———— Não vou limpar merda nenhuma sua.

———— Não pedi sua ajuda. ———— Jogou, completamente neutro. Os olhos esmeraldas e grandes, passando pelo local como o bom observador que, no fundo do fundo, ele era. ———— E nem vou baixar a guarda. ———— As sobrancelhas avermelhadas se franziram, olhando o homem ao lado com irritação. ———— Não me trate como criança, Sesshoumaru, eu sei o que faço.

O Dai-youkai nada mais dissera, apenas soltando o ar pelo nariz, e se afastando a passos lentos.

Estava aí uma coisa que ele duvidava.

Mas o daria o valor da dúvida.

 

. . .

 

Sempre gostara do ar da noite.

O vento gélido, o farfalhar das árvores, a gramínea a mover-se com a brisa, o céu encoberto pelas estrelas. Esta última que, nos dias atuais, já não era mais tão bela quanto o era no passado. Quando tinha suas noites viradas embaixo de uma árvore, entre a mata rasteira. Com a única companhia dele mesmo.

Era uma pena. Sempre apreciara o brilho da lua refletido na água. Criando um reflexo gracioso, e uma imagem digna de uma memória eterna.

Curvado sobre o parapeito da varanda, via como as coisas tinham mudado. Naquele tempo passado, quando a ouvia falar de “sua época”, não imaginava que fosse aquilo. A garota sempre gostara de lhe contar sobre seus passatempos, num misto de euforia e animação infantis. Sempre intrínsecas dela. Sempre adoráveis nela.

Se pudesse, voltaria àqueles dias. Sem hesitar e sem pensar duas vezes.

Odiava aquela atualidade. As coisas que a afastavam dele — além dele mesmo —, e das pessoas que a circundavam, como barreiras impedindo-o de se aproximar.

Desceu os olhos quando ouviu o som de passos. As íris brilharam pelo reflexo da lua nos belos dourados, mas sua presença continuava imperceptível para a pessoa lá embaixo. O som do alarme a disparar três vezes, enquanto o homem erguia o controle pequeno, encheu seus ouvidos. A atenção não fora voltada para o brilho dos faróis a piscarem duas vezes, mas permaneceram pregadas às costas de Ephraim.

Ele decidira sair cedo da festa, pelo visto.

Arqueou a sobrancelha, quando viu outro carro descer pelo estacionamento improvisado. Ephraim parou de andar ao passo que os faróis diminuíram, aumentaram em sua total intensidade, e voltaram ao normal. Ele parecia saber quem era, pois logo apressou o passo para perto do veículo negro, parando ao lado do vidro do motorista, instantes antes de ele o abaixar.

O rosto de Bai Gu Jing surgiu na janela, sorridente.

———— Aquele é Bai Gu Jing? Esse maldito me disse que não ia vir, pois não tinha perdido nada aqui. ———— A voz irritante voltara.

Não tirou seus olhos dos dois lá embaixo, a conversarem em meio ao breu do estacionamento. Notou o kitsune parar ao seu lado, deixando uma taça vazia equilibrar-se sobre o parapeito, enquanto ele escorava-se ali de costas para os homens, olhando-os sobre o ombro.

———— Ele continua introvertido com outros youkais, aparentemente. ———— Comentou calmo e baixo, tentando ler os lábios de ambos, mas não tendo êxito ao passo que mal os moviam.

Irritante.

———— Preocupado? ———— E por falar em irritante.

Ao mirar os dourados sobre Shippou, ver aquele sorriso ladeiro e travesso em seu rosto, o irritou profundamente.  Não deu corda à provocação, evidentemente.

Alguém tinha que ser o adulto ali.

———— Se ele está falando com aquele homem, alguma coisa planeja.

Shippou soltou o ar num bufo, claramente inconformado com o desvio de assunto, e por não ter tido a inferência desejada.

———— Talvez só estejam conversando como velhos amigos e colocando o papo em dia. ———— O silêncio pairou, e por segundos Sesshoumaru esperou uma risada. Quando não a ouviu, seus olhos se voltaram descrentes e quase irritados para o Senhor do Sul.

Shippou olhou-o rapidamente, logo rolando os olhos. ———— Eu ouvi!!

———— É melhor ficarmos de olhos neles, de qualquer forma. ———— Anunciou, ao ver Ephraim se afastar do carro e Bai Gu Jing erguer o vidro fumê, acelerando com o veículo.

———— Esse Bai Gu Jing miserável... O que ele ‘tá planejando?

Sesshoumaru não respondeu, pois no fundo, não achou necessidades. Sabia que o que quer que fosse, não seria bom de uma forma ou de outra.

———— Agora... Se Bai Gu Jing repudia youkais, por que ele conversaria tão animadamente com Ephraim? ———— Os esmeraldas procuraram por Sesshoumaru, vendo-o se virar de costas para o parapeito, cruzando os braços sobre o peito, no momento que o carro de Ephraim deixou o estacionamento. ———— Afinal, ele é um neko...

———— Ás vezes deixamos de lado alguns desgostos, para conseguirmos aquilo que almejamos.

———— Você já fez isso? ———— Apoiou-se no parapeito, dando um impulso e sentando-se. A taça fora empurrada, e despencou quatro andares. ———— Oops...

Sesshoumaru o olhou como se repreendesse a atitude, e Shippou sorriu, olhando-o e arqueando a sobrancelha, ainda a espera de sua resposta. Parecia um pai censurando o filho sem jeito.

———— Não.

———— Oh, esqueci... Você é o Senhor que atira primeiro, e pergunta depois. Seus métodos de conseguir aliados é realmente assustador...

———— Mas eficaz. ———— Completou, ouvindo uma breve risada.

———— Que é o que importa certo?

———— Uma hora você teria que aprender. ———— Shippou estreitou os olhos.

———— Cala boca!

———— Irritante.

———— O irritante é você, Senhor Rei dos Irritantes!!!

 

. . .

 

Três dias depois

.

A porta do escritório se abriu.

Os olhos dourados não se ergueram das folhas, mas a silhueta não precisava de atenção, acostumado com a atitude. A porta fora encostada, e o youkai se aproximou da mesa de seu Senhor, calmamente.

———— Chegou uma carta, Senhor Sesshoumaru! ———— A caneta parou abruptamente ao sentir o cheiro amadeirado da folha branca, e a loção masculina impregnada nela. Piscou lentamente, e a caneta fora deixada de lado, enquanto a cabeça se erguia para Kaneki.

O albino estendeu-o o envelope lacrado, e com calma, o Dai-youkai o apanhou, vendo o símbolo sobre a cera. Dois círculos perfeitos, com uma linha na vertical em seu interior.

Permitiu-se perguntar quem diabos ainda mandava cartas com lacres feitos a ceras, naquela época.

Assentiu para Kaneki, e o youkai deixou o cômodo, fechando a porta atrás de si.

Abriu o envelope, passando os olhos pelas letras encurvadas. Permitiu-se uma minuciosa inspeção, procurando por motivos ocultos nas palavras bem escolhidas. Mesmo parecendo um simples pedido de encontro, para tratar de um assunto que lhe era do interesse, Sesshoumaru sabia que boa coisa não viria, e duvidava que fosse mesmo do seu interesse.

Nada de bom vinha de Ephraim.

Mas o Dai-youkai não era conhecido por ser cauteloso.

Naquela mesma tarde, o neko surgiu à sua porta, com o pedido mais absurdo e tentador que Sesshoumaru já havia ouvido em toda sua existência.

———— Quem pediu para fazer isso? ———— A pergunta saíra calma e moderada, sem um pingo de emoção.

O moreno à sua frente sorriu, rindo baixo em seguida.

———— Isso é confidencial, Sesshoumaru-sama... ———— Deu de ombros, cruzando as pernas e pousando as mãos sobre o joelho. ———— Já ouviu falar sobre a confidência entre contratante e contratado?

O albino examinou mais uma vez a carta pousada cuidadosamente sobre sua mesa.

———— Achei que não fazia esse tipo de trabalho.

———— E não faço. ———— Respondeu rápido. ———— Mas meio que... O pagamento deste, em especial, me é por deveras vantajoso. E encheu meus olhos. Não sou de ferro, veja bem. ———— Riu.

Sesshoumaru franziu o cenho, erguendo os citrinos para o youkai à sua frente.

———— O que pretende para atingi-lo?

Ephraim deu de ombros, olhando a parede atrás do Senhor do Oeste, e quando retornou seus âmbares, com tons mais alaranjados, havia perversão a brilhar ali.

———— Coisas simples. ———— Ergueu a mão e empurrou outro envelope lacrado para perto de Sesshoumaru. Em papel branco, maior em altura do que envergadura, parecia se tratar de um conteúdo diferente da carta.

Sesshoumaru puxou o envelope, abrindo-o sobre a mesa.

———— Aqui estão algumas fotos de pessoas importantes para o Senhor do Sul. ———— Bateu o indicador duas vezes sobre a foto do monge, em roupas casuais, a perambular pela cidade. ———— Todas as pessoas aí, estão com um alvo preso às costas. Basta um aviso meu e “bum”!! ———— Ergueu os braços em exasperação, rindo como uma criança em seguida.

———— E o que o impede? ———— Não tocou nas fotos, cruzando os dedos em frente à boca, analisou Ephraim diminuir o riso, olhando-o de forma quase acanhada. Quando o neko se ergueu, caminhando por seu escritório, os olhos de Sesshoumaru pousaram sobre Bakusaiga pendurada na parede à esquerda.

———— Sua palavra de que vai cooperar comigo. ———— O homem se virou para ele, enfiando as mãos nos bolsos do sobretudo preto. Olhava-o esperançoso, como alguém que anseia por um doce. ———— Preciso de uma garantia de que terei um suporte, caso as coisas saíam do controle. Meu contratante... me disse que ter você do meu lado é vantajoso.

Sesshoumaru não podia negar aquilo.

———— Você tem medo.

———— É claro! ———— Tentou manter a voz amena, olhando de forma tensa para o albino atrás da mesa. ———— Se algo der errado, não posso ir contra o Senhor do Sul e o Senhor do Leste, que provavelmente vai apoiar o kitsune se ele assim pedir, ou precisar. Por mais que eu tente pensar positivo, não posso ir contra eles sozinho... Preciso de um parceiro.

Urgh... Aquela palavra o desagradou profundamente.

———— E seu contratante?

Ephraim riu, coçando a nuca com descaso.

———— Ele não é do tipo ativo. Não gosta de participar da bagunça.

Sesshoumaru baixou os olhos para as fotos espalhadas pela mesa, analisando suas opções mais um pouco. Sabia que a segurança de Shippou pouco lhe importava de verdade. Aquele kitsune mais o enfadava do que qualquer outra coisa viva no mundo. Seria até mesmo bom, um pouco de silêncio e paz. Sem contar no lugar vago que ficaria.

Foi por relance que sua atenção fora tomada por uma foto em especial. Puxou-a pela borda, e girou-a para ver melhor, tendo a completa certeza de quem era a mulher vestida em um sobretudo negro, a descer de uma moto clássica. 

Provavelmente fora tirada no dia em que ela fora até sua empresa, entregar papéis a pedido de Shippou.

———— Ela também ———— Ephraim o olhou ao notar o semblante sério e a atenção dispensada unicamente à fotografia. O tom monocórdio da voz de Sesshoumaru lhe dando arrepios. ———— é um alvo?

Quando os citrinos se ergueram, eram duros e frios. Uma clara ameaça explícita nas íris claras e afiladas. Uma aura pouco amistosa pairando sobre seus ombros, embrenhando-se pelos cantos da sala, deixando o ar pesado e irrespirável.

O neko, entretanto, não pareceu notar, rindo de forma jocosa logo em seguida.

———— Ah, sim... A miko-chan, certo? Um pedaço de mau caminho, uhm? ———— Piscou para o Dai-youkai, ignorando a face a transfigurar-se em uma carranca. ———— Ela vai ser a primeira, sem dúvida. Mas não vou matá-la. ———— Ergueu os braços em frente ao corpo, lançando uma mirada sonhadora para a foto sobre a mesa. ———— Talvez vendê-la no mercado negro me renda mais lucros. Soube de um cara que é popular no tráfico ilegal de humanos... ———— Riu meio alto. ———— Soube que ele tem até mesmo um bordel, em algum lugar... E o Senhor não faz ideia do que eles fazem com as mulheres lá. Ah, sem dúvida essa miko terá um tratamento digno de Rai-

A voz cessara abruptamente, num engasgar horrendo e alto.

Ephraim não soube ao certo o que acontecia ao passo que Sesshoumaru sumira de sua cadeira. Olhando para baixo, quando a lâmina brilhante lhe atravessou o tórax, erguendo seus pés do chão por centímetros. Ele pouco conseguiu entender a situação em si, mesmo assim.

Olhou sobre o ombro com dificuldade, trincando o maxilar e impedindo o sangue de escapar em cascata, escorrendo pelo canto dos lábios, e seguindo caminho pelo queixo e pescoço.

Apoiou a mão sobre a lâmina, tentando focar a atenção em seu agressor.

———— Sesshoum... maru... O que pensa... Que está... Faz... fazendo?

O neko teve apenas um lampejo de ira nas íris citrinas, antes de vê-las avermelharem e um rosnado escapar da garganta do outro. Um aviso, claro e óbvio daquilo que ele não dizia em voz alta.

———— Não me di... diga que... el-

———— Sim... ———— A voz saíra cortante, mas extremamente controlada. A cólera contrastando com a voz aveludada. ———— Ela me pertence!

A lâmina fora puxada do tórax, e o corpo tombou contra a mesa, antes de rolar para o chão, puxando consigo papéis, objetos, e manchando seu tapete com sangue. O baque fora alto o suficiente para que todos na mansão, com suas audições aguçadas, ouvissem.

Ótimo, teria de comprar um tapete novo.

Sesshoumaru limpou a lâmina de Bakusaiga em um mover rápido, manchando mais um pouco do chão, embainhando-a de volta na bainha branca que segurava firme com a mão esquerda.

Podia ouvir os grunhidos que escapavam do youkai, na tola tentativa de prolongar mais um pouco sua vida. Mal sabia ele que, seu fim não seria ali. Sesshoumaru planejava algo especial. Algo que o aguardava embaixo de sua mansão.

O faria se arrepender por pensar em tocar algo que era seu.

Sim, ele faria de várias e várias formas diferentes.

Por um longo e perverso tempo.

 

. . .

 

Três semanas depois

.

O som do estofado a mover-se à sua frente, o irritava. A respiração alta e ruidosa, o irritava. O tique irritante da ponta de sua unha contra a madeira de sua mesa, o irritava imensamente.

Sua mente começava a lhe proporcionar imagens de uma lenta tortura sobre aquele ser infeliz. E sabia que não faltava muito para colocá-las em prática. Sem dúvida ele competia com Shippou o primeiro lugar de Ser Mais Irritante do Mundo.

———— Então, Sesshoumaru-sama... Por que matou o Ephraim-san? ———— A voz era calma e moderada, quase entediada.

Já era costume ouvi-lo falar daquela forma, pois sabia que a animação o tomava apenas quando infernizava alguém, ou quando sabia que uma morte seria executada.

Aquele youkai tinha manias de diversão um pouco mórbidas.

Não que Sesshoumaru estivesse longe disso também.

———— Ahm? Ahm? ———— Insistiu mais, curvando-se sobre a mesa de seu senhor ao passo que ele não o respondeu logo. Sorriu sadicamente ao ver os olhos citrinos pousados sobre algumas folhas a serem assinadas. ———— Não vai me dizer que foi para proteger o Senhor do Sul!? A relação de vocês dois já chegou a esse ponto? Que inveja! ———— Riu, jogando-se contra o estofado e mais uma vez produzindo o som incômodo. Assim como sua presença naquela sala. ———— Não estou com ciúmes, se está pensando isso...

———— Não haveria algo melhor do que me ver livre daquele kitsune. E de você.

O youkai não pareceu conformado, erguendo uma perna sobre a poltrona e apoiando o queixo no joelho, olhando para o Dai-youkai com diversão. Ignorou a última parte.

———— Então por quê? ———— Riu, começando a balançar seu corpo para frente e para trás depois que ergueu a outra perna. Sesshoumaru parecia o mestre da indiferença ao ignorá-lo. ———— Vá lá... Uma hora ou outra eu vou saber. ———— Jogou, fechando os olhos brevemente. ———— Mas seria melhor se fosse pelo Senhor, sabe? Sou seu lacaio há séculos, pode se abrir comigo, prometo não ser preconceituoso. ———— Riu, olhando para o Senhor do Oeste.

Murchou a expressão ao não ter sua atenção. De longe, achando que aquilo o faria falar algo. Franziu o cenho, e os cabelos azulados receberam a retaliação, completamente frustrado por não ter mais o talento de atingir Sesshoumaru como o tinha no passado.

———— Cara, sinto falta da Kagome-chan! ———— Suspirou. ———— Ela não se lembrou de nada ainda, certo? Isso é triste... ———— Comentou consigo mesmo, olhando para os próprios joelhos. ———— O senhor ficara muito mais adorável naquela época. ———— Jorrou sarcasmo em sua voz.

———— E você continua não tendo amor à vida. Como naquela época. ———— O youkai abriu um enorme sorriso, satisfeitíssimo com o resultado de sua alfinetada.

———— Que isso!! Gosto de me divertir com o Sesshoumaru-sama, seria triste morrer. E eu sei que o Senhor sentiria minha falta. ———— Ergueu uma mão e a balançou em frente ao corpo. ———— Agindo como se eu fosse um incômodo, quando no fundo gosta da minha presença e sabe que sua vida seria muito mais sem graça sem mim. Vá lá, admita!

———— Um inseto seria menos incômodo. Você é um estorvo e perda de tempo.

Ouviu-se um bufo baixo, e o rosto do youkai se envergou, olhando seu Senhor de cenho franzido e bico nos lábios pálidos.

———— Geez... Não vejo a hora da Kagome-chan se lembrar de tudo... O Senhor está precisando de um pouco de sexo! ———— Quando Sesshoumaru o olhou, se erguendo da poltrona, o youkai não demorou dois segundos para saltar da poltrona (sem seus sapatos) e voar pela janela, gargalhando ao estar longe o bastante da fúria de seu mestre.

Pensando bem... Talvez não tivesse perdido completamente sua habilidade de provocar Sesshoumaru.

 

. . .

 

Nove Dias Depois

.

Ele ouviu a porta bater com fúria.

Sua irritação havia subido níveis alarmantes ao ver o rosto choroso dela.

Sabia que a havia magoado, mais que o normal. Mais do que ele já havia se atrevido em toda a convivência que tiveram desde que voltaram a se encontrar. Havia pegado pesado, mas estava cansado daquilo.

Não via mais o final que o favorecia.

As coisas haviam descarrilhado. Ele estava perdendo-a e sabia disso. Via em seus olhos que estava distante. Mais do que já estivera em décadas. Séculos.

Caminhou até o closet, olhando ao redor com rapidez, e não pensando duas vezes antes de aproximar-se da porta do guarda-roupa e arrancá-la como se fosse papel. Dividiu-a em duas, lançando uma depois da outra contra o outro lado do quarto, apoiando-se em uma das portas fechadas.

Sentia as mãos tremerem por mais daquela liberação.

Só queria destruir todo aquele lugar e pô-lo à baixo. Como se de alguma forma, as coisas fossem mudar depois que se tornassem apenas destroços.

———— Por que o senhor disse aquilo a ela? ———— A voz do visitante não o sobressaltou, apenas o irritou mais um pouco.

Não olhou para o dono da voz calma. A vista vermelha apenas compelindo-o a fitar o chão e possíveis alvos de sua irritação.

———— Por que não deveria?

———— Vai deixar por isso mesmo? ———— O tom soara cortante e irritado. Mas ele não se avançou para dentro do closet, sabendo que aquela não era uma área segura. ———— Só por que ela não se lembra daquilo, o senhor vai simplesmente desistir? ———— Sua vista se ergueu, e as íris avermelhadas fuzilaram o convidado indesejado com uma sede por sangue e tripas, que deixou o outro desconcertado, mas não o bastante para recuar. ———— Sei que isso o incomoda... ———— Desviou os olhos, segurando-se para não sair correndo dali como seus instintos gritavam para fazê-lo. ———— Ela pode não se lembrar, mas... O corpo dela sim. ———— Olhou para Sesshoumaru. ———— O senhor não vê como ela reage à suas palavras. Como a afeta com mais intensidade, mesmo com pouca coisa? Kagome-chan nem deve saber por que. Mas o senhor ainda tem total poder sobre ela. ———— Ele havia cativado a atenção do Dai-youkai, e agora as íris douradas o miravam com intensidade. Ainda irritado, mas pelo contrário, menos assassino.

Quando o youkai ergueu os olhos esverdeados, os tons amarelados se misturando com a íris clara, brilharam como a de um réptil pronto para o bote. As pupilas estreitas evidenciavam que havia sido afetado pelo descontrole de Sesshoumaru. Pela pressão monstruosa que colidia com as paredes, e o forçava a se rebaixar.

———— O Sesshoumaru-sama que eu conhecia... E que a Kagome-chan do passado conheceu... Não deixaria as coisas por isso mesmo. ———— Apoiou uma mão no umbral da porta. ———— Com memórias, ou não... Ele não deixaria um kitsune imbecil tocar sua garota com tamanha facilidade. ———— Apertou os dedos em volta da madeira, tão irritado agora, que a voz começava a mudar de tom. ———— Use qualquer coisa. Diga qualquer coisa. Mas faça algo, Sesshoumaru-sama!

A explosão não surpreendeu Sesshoumaru, já acostumado com as mudanças de humor daquele youkai em especial.

Sabia que ele tinha razão, infelizmente. Via a verdade nas palavras dele.

Ouviu um suspiro longo e pesado do outro. Sesshoumaru baixou os olhos para o homem, vendo-o soltar o umbral e dar um passo atrás, olhando-o como se repreendesse suas atitudes.

E ele realmente repreendia. Não reconhecendo ali seu mestre.  

———— Recado dado, estou indo. ———— Sesshoumaru o viu caminhar em direção oposta à porta, e logo se precipitou para o portal entre seu quarto e o closet, vendo o youkai afastar a cortina de sua janela, e apoiar o pé nela.

———— Não ouse pular essa janela! ———— Alertou sério e cortante.

O corpo do outro enrijeceu, apoiando as duas mãos nas laterais, olhou seu senhor sobre o ombro. A expressão pidona e chorosa em sua face não o comoveu nem um centímetro.

———— Mas senhor... Eu gosto do vento no rosto. Da adrenalina nas veias ao me ver despencando. Eu posso bater minhas asas em direção à liberdade. Viajar pela imensidão azulada-

Sesshoumaru cruzou os braços.

———— Se insistir nisso, posso jogá-lo pela porta e você ainda vai sentir o vento no rosto e a adrenalina nas veias.

O outro murchou a expressão, afastando-se da janela e olhando o mestre como uma criança que acabava de ser repreendida antes de conseguir fazer sua melhor traquinagem.

———— Malvado...

 


Notas Finais


Primeiro, deixei o nome do youkai que foi visitar o Sesshy sem mencionar, de propósito, pq ele não precisa de apresentações agora.

Mais no futuro, decidi que vou fazer uma Missing Scene explicando melhor ainda a relação do Sesshy com o Shippou.

Se eu fosse escolher uma trilha sonora pro Sesshy, a música mais apropriada pra ele, seria Cheers Darlin' - Damien Rice

E queria aproveitar pra agradecer a Bro pela fic que ela fez, one, na verdade. Fizemos uma aposta, onde ela perdeu (uahuahauhauahu) e teve de fazer uma one com o casal que eu quisesse. Obviamente escolhi NaraKa... certo, não tão óbvio assim, mas de qualquer forma quero agradecer, pq com aquela escrita dela ficou perfeito <3 <3

Beijão, Babys! Até ano que vem o/


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