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História Young and Beautiful - Young and Beautiful, por David Nolan


Escrita por: JackWolf_

Notas do Autor


Primeiramente, dedico esta história para Anne Bridge/Natasha Coutinho/tem mais algum pseudônimo?. *risos* Feliz 17, amiga. Tô aqui comemorando seu aniversário desde que tu fez 15 e pretendo ficar aqui até chegarmos aos 100. Nunca se esqueça de que eu amo você e quero que você seja muito feliz nesse ano que vai se seguir. Quero que você aprenda trezentas coisas novas, consiga lidar com outras e que esteja rodeada das pessoas que te amam e querem o seu bem. Creio que não falo só por mim, mas pelo Summertime Sadness Squad todinho. Esta história foi feita pensando em você e no quão você ama romances, então espero que aproveite a jornada de 5.500 palavras que escrevi nas últimas semanas. Happy Bday Nat <3

Segundamente, Young and Beautiful é uma one-shot até que eu decida o contrário e faça uma segunda versão dela, mas isso é algo que vocês, leitores, podem me ajudar a decidir no final ;) É uma história CaptainCharming sim porque comecei a shippar loucamente há um tempinho e quis transmitir pra uma fanfic, e criei essa distopia do caramba pra mostrar a vocês que é o que pode acontecer no futuro e que temos de pensar na humanidade desde já. Espero que gostem mesmo dessa obra, e boa leitura!

Capítulo 1 - Young and Beautiful, por David Nolan


Lei nº 1.279, de 18 de outubro de 2016.

 

Institui a nova política de criminalização de homossexualidade, transexualidade e outros.

 

O PRESIDENTE DO PAÍS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Faço saber que sanciono independentemente a seguinte lei:

 

Art. 1º: Fica aprovada a nova política de criminalização de atos de homossexualidade, bissexualidade, transexualidade e quaisquer relações não relacionadas àquela outorgada como legal pelo Estado praticadas dentro do território dos Estados Unidos da América.

Art. 2º: O cidadão que infringir a lei poderá sofrer das seguintes imposições outorgadas pelo governo vigente:

I. Prisão preventiva, na qual responderá pelos crimes mencionados anteriormente.

II. Tratamento químico em qualquer hospital público regente dentro do território dos Estados Unidos da América.

III. Pena capital, na qual o cidadão condenado será morto por injeção letal, aplicando via intravenosa, e continuamente, uma quantidade de barbitúricos de ação rápida, em quantidade suficiente para que o condenado faleça.

Art. 3º: Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

 

Palácio da Casa Branca, em Washington, D.C., 18 de outubro de 2016.

 

Atenciosamente,

 

O presidente em vigor.
..................................................................................................................

As paredes cinzas desta prisão solitária tornam meus pensamentos mais melancólicos do que antes de entrar aqui. Estou sentado na cama de cimento — não tem colchões aqui porque ainda acham que vou esconder uma arma dentro dele. Tá, como se eu fosse um serial killer só por ser gay — vestido nesse uniforme laranja realmente piegas, com minhas costas apoiadas na parede e um olhar direcionado ao nada. Não há nada para se encarar neste lugar, na verdade. Somente a típica grade com suas barras verticais, o vazio da cela à frente e o silêncio presente no corredor.

Respiro fundo, conto até dez e tento manter a calma diante da situação. Tudo o que tenho de fazer agora é esperar o veredicto da Justiça desse país de merda. Desde que esse presidente subiu ao poder por escolha do povo — escolha essa que prefiro nem tentar compreender — tudo o que ele tem feito vem batendo de frente com os novos tempos. E depois dessa lei que praticamente decretou a morte aos homossexuais, eu acabei pagando o preço por isso. Fiz de tudo para me esconder, como nunca antes na minha história… mas, de alguma forma, me descobriram, me prenderam e tão rápido quanto a prisão será o decreto da minha pena.

Mas você quer saber de uma coisa? Eu prefiro morrer por amar quem amo a viver infeliz. E tenho certeza de que meu amor deve estar pensando a mesma coisa neste exato momento. Ele está em outra cadeia por aí. A última vez que o vi foi antes de invadirem nossa casa e anunciarem nossa prisão; não houve beijo de despedida, não houve uma palavra sequer de consolo porque não permitiram. Foi cruel. Eu não queria que as coisas tivessem acontecido daquela forma. Nenhum de nós dois queria, na verdade.

Lágrimas vem aos meus olhos quando penso no que poderia ter feito para impedir que isso ocorresse. Eu poderia tê-lo beijado no momento em que ouvi as sirenes da polícia chegarem mais perto de nossa casa. Eu poderia tê-lo dito “eu te amo” uma última vez antes dos três ou quatro oficiais arrombarem a porta. Eu poderia tê-lo consolado com palavras do tipo “nós nos encontraremos de novo, não se preocupe, vai ficar tudo bem” antes de colocarem as algemas nas nossas mãos. Eu poderia tê-lo abraçado fortemente antes de nos colocarem em viaturas diferentes. Eu poderia pedir a ele que fosse forte enquanto estivéssemos separados pela injustiça do país, mas seria inútil. Seria inútil porque eu já sabia que ele seria forte. Era parte de seu instinto bancar o corajoso por fora e por dentro também. Na verdade, se tivéssemos tido a oportunidade de ter uma despedida, ele seria o cara que faria todas as coisas que acabei de mencionar. Ele me beijaria. Ele diria que me amava. Ele me daria palavras de consolo. Ele me abraçaria fortemente. Ele pediria a mim para ser forte, como sempre fez, e não seria uma tentativa inútil.

Afinal, quando éramos só amigos, seus pedidos sempre funcionavam.

 

— Posso dormir aqui esta noite? — Pergunto, assim que ele abre a porta de seu apartamento.

Eu não sabia mais a quem recorrer depois de ter sido expulso de casa pelos meus próprios pais só porque tomei a coragem de contar para eles que sou homossexual. Ninguém mais da família me atenderia em seus aposentos, e eu não tenho muitos amigos para fazer revezamento de dormida na casa de uns e de outros. Só me restou chegar de supetão na independência do lar do meu melhor amigo que sempre respeitei.

— Você contou para eles, não é?

— Não aceitaram muito bem.

— A julgar pelo fato de que você nem trouxe mala alguma, a expulsão foi curta e rápida… — sem precedentes, ele me toma em seus braços e me abraça. Ele sabe que eu preciso disso, e por isso nem pergunta se eu quero esse conforto — sinto muito.

— Eles nem quiseram me ouvir — minha voz já sai embargada e abafada pelo tecido de seu suéter cinza — já foram dizendo que eu não era mais filho deles e que não queriam mais olhar na minha cara. Foi como se eles já quisessem isso e minha declaração tivesse sido só o estopim! — Desvencilho-me de seu abraço, tentando olhar para ele enquanto ainda chorava — Não sei mais o que fazer e por isso vim pra cá. Você sempre tem um bom conselho e ainda mora sozinho, assim ninguém vem me incomodar por aqui. Pode me ajudar?

— Você ainda confia neles?

— Eu confiava totalmente, pelo menos antes dessa noite — ponho minhas mãos nos bolsos — agora não sei mais. Só sei que não quero voltar pra lá. Não quero voltar para aquele lugar enquanto eles agirem daquela maneira.

— Você pode ficar aqui o tempo que quiser. Só vai ter que dormir no sofá hoje porque eu não sabia que você viria, logo, o quarto que sobra tá mais bagunçado que a mesa do professor de história — seu comentário me faz rir brevemente. Ele sempre teve esse poder sobre mim — mas amanhã eu dou uma arrumada e você fica por lá. Além do mais, vai ser bom ter a sua companhia por aqui.

— Mesmo que na maioria dos dias você tenha de me ouvir chorar?

— E você acha que eu ligo? Só sei que é melhor te ajudar enquanto estiver por perto — seu tom de voz é bem animado, embora forçado devido a situação. Jogo meu corpo no sofá, e ele faz o mesmo, se sentando ao meu lado — mas uma coisa: você tem de ser forte, David. Eu não te conheci como o fracote da turma. Na verdade, no dia em que eu te vi pela primeira vez, você tinha ido parar na diretoria por ter xingado um dos colegas até as próximas cinco gerações, não é mesmo?

— Você ainda lembra disso? — Enxugo a droga da água dos olhos com as duas mãos.

— Como não esquecer? Esse dia foi um dos melhores da minha vida. Aquele idiota ganhou um inimigo pro resto do ensino médio, enquanto eu ganhei um parceiro pra vida toda — ele diz, passando seu braço esquerdo pelo meu pescoço e fazendo minha cabeça descansar em seu peito.

— Só você para me animar justo nesse momento.

— É um dom — embora eu não esteja olhando, sei que ele está sorrindo do jeito que só ele sabe — mas, enfim, é como eu disse antes: não se deixe abalar. Eles te machucaram muito na função de pais? Creio que sim. Mas somente porque a felicidade que você quer para si não é a mesma que eles sonharam para você durante todo o seu crescimento. Eles pensaram numa coisa e deram de cara com outra. Lide com isso usando sua maturidade, aquela que eu sei que você sempre teve desde que nos conhecemos. E se você acha que não consegue passar por essa sozinho, então se lembre de que eu estou aqui. E sempre estarei. Irei com você para onde for, seja New York, seja Texas, seja no céu ou no inferno. Eu irei junto e segurarei sua mão, porque eu amo você, David Nolan.

— Obrigado. Por tudo — respondo, e sinto seus braços me apertarem cada vez mais. E a segurança que sinto em seu aconchego me dá a confiança suficiente para minhas próximas palavras — E… eu também amo você, Killian Jones.

 

Agora começo a pensar que as coisas eram mais fáceis quando éramos apenas amigos. Como não agíamos carinhosamente quando haviam outras pessoas por perto, ninguém desconfiava do nível da nossa amizade e vivíamos numa boa. Quando estavam olhando, trocávamos velhos insultos amigáveis e tínhamos nossos rolos com outras pessoas — ou pelo menos ele tinha, porque eu me isolava socialmente de uma maneira quase que absurda. Quando não estavam olhando, dormíamos na mesma cama depois de ver um filme, fazíamos tudo juntos e… ah, nossa. Os dias em que eu ia na casa dele só pra beber e afogar as mágoas eram pesados, porque no final das contas até nos beijávamos. Mas não do tipo de beijo que dá pra ser exibido na TV aberta. O álcool nos fazia desligar as luzes e nos beijarmos loucamente como se não houvesse amanhã. Achávamos divertido, porque no dia seguinte voltávamos aos termos de amizade de antes e nossos sentimentos não eram machucados. Ele me amava e eu o amava da forma que bem entendêssemos. Amigos com benefícios, talvez?

Não sei. Só sei que, quando me dei conta, os benefícios nos tornaram mais que amigos.

 

— Eu sempre soube que vocês se pegariam pra valer — dou risada com a declaração de minha meia-irmã Belle. Por ela ser filha do meu pai e ter tido a escolha de morar com a mãe quando eles se divorciaram, ela não ficou sabendo da minha homossexualidade na mesma época que meus pais biológicos; e quando descobriu, ficou aliviada por eu ter me assumido. Normal, né — desde o dia em que eu flagrei vocês dois dormindo juntos. Vocês tinham transado naquele dia, não é?

— Pela centésima vez: não, a gente não transou naquele dia. Só dormimos na mesma cama, e eu só tinha 17 anos!

— Eu perdi a virgindade na mesma idade que você ainda tava descobrindo que era gay, tenha a santa paciência — ela revira os olhos — mas tudo bem. Saiba que estou muito feliz por vocês dois, e espero que adotem filhos lindos e maravilhosos, está bem?

— Mal descobriu sobre meu relacionamento e já está exigindo uma prole inteira de mim? Sério isso?

— Ué, eu não sou essas pessoas que não querem ficar pra titia só porque não conseguem ter filhos. Eu quero muito estragar a mente dos meus futuros sobrinhos comprando pra eles o que você se recusar a dar de presente.

— Como você mesma disse, vai estragar as crianças — rio alto após ironizar — mas nós não estamos pensando nisso no momento, irmãzinha. O namoro meio que se iniciou há menos de seis meses, sabia? E eu quero antes de tudo me estabilizar com ele, me encaixar no ritmo dele. Quero fazer o preciso para que nossa história seja cheia de alegrias, mesmo com eventuais discussões.

— Você realmente o ama, não é, David?

— Não vou mentir — respiro fundo — eu já o amava antes mesmo de descobrir que ele também sentia o mesmo. Eu só não tinha consciência.

— Ótimo. Você o ama, ele te ama, isso é bom pra mim e agora só falta o casamento. Aliás, quando é que sai?

— Com certeza não vai ser esse ano, mas você será a primeira a saber quando o pedido rolar — sorrio antes da campainha do apartamento tocar — deve ser o Killian voltando do mercado.

— Não acredito. Você realmente fez ele de empregado doméstico? Até parece que foi você quem se mudou pra cá primeiro!

— Hey, eu que fiz as compras na semana passada, tá? A gente se reveza — grito para ela enquanto caminho até a porta e a abro, dando de cara com exatamente quem eu pensava ser — sabia que a casa é sua e você pode entrar sem tocar a campainha?

— Eu sei. Mas eu nunca me canso da sua cara quando você abre a porta e me vê. Na verdade, te ver abrindo essa porta e sorrindo ao notar que sou eu querendo entrar é uma das coisas que mais amo em você, Nolan.

— Um dia você vai pagar caro por todos esses tiros sentimentais que você me dá todos os dias, Jones.

Então pego os sacos de compras das suas mãos, jogo-os no chão e passo minhas mãos em volta de seu pescoço, beijando-o intensamente. Ele também corresponde de imediato, concentrando a força de suas mãos na minha cintura, e ali ficamos por longos segundos, só curtindo um ao outro. Bom, pelo menos até Belle vir interromper nosso oba-oba.

— Queridos, guardem a pegação censurada para o quarto, tá?

Na mesma hora, o Jones se desvencilha de mim e olha para ela com uma expressão de surpresa no rosto.

— Ela sabe?

— Acabei de contar — respondo, levando minhas mãos do seu pescoço até seus ombros — e até que ela reagiu bem…

— Eu sinto que vocês querem um tempinho a sós, então vou pra casa porque tenho meu jantar pra fazer ainda — ela pega sua bolsa e dá um abraço em nós dois de uma vez só — usem camisinha e coloquem os lençóis na lavadeira depois!

— Tarada você, hein — grito no corredor, quando ela já está correndo para o fim dele com o intuito de pegar o elevador — será que seu namorado sabe que você shippa casal gay?

— Ele já maratonou “Queer as Folk” comigo! — Belle grita de volta antes do elevador fechar à sua frente.

— Sua irmã consegue ser mais louca que a minha ou é impressão minha? — Killian comenta, fechando a porta do apartamento e se recostando nela para me encarar enquanto pego as sacolas e as coloco em cima da bancada da cozinha.

— Vai por mim, a Ruby não é párea para os limites da Belle — exclamo, pegando os produtos frios e colocando todos eles dentro da geladeira.

O grande comprador do apartamento — que não por mera coincidência também é quem eu amo — vem me ajudar a guardar as compras em seus respectivos lugares, e assim que terminamos esse dever, eu me apoio na bancada e ele fica de frente para mim. Franzo as sobrancelhas quando ele abre seu típico sorriso sarcástico nos lábios e aponta para o meu lado direito, no qual se encontram os sacos vazios, e noto que um deles ainda tem um peso extra quando estou prestes a jogá-los no lixo. Vasculho as sacolas e encontro duas camisinhas lacradas.

— Por que duas?

— Para o caso de rolar dobradinha — ele dá de ombros enquanto mantém o mesmo sarcasmo no rosto — você sabe que eu sou prevenido.

— Sua precaução é uma das coisas que mais amo em você, sabia? — Chego mais perto de seu corpo e o prendo contra a geladeira que está atrás, levando minhas mãos às golas de seu casaco de couro preto.

— Ah, é? — Sinto sua mão esquerda repousar bem no meu traseiro. Já sei o que ele pretende, e por isso mantemos esse jogo de sedução em aberto — E o que você menos ama em mim?

— O fato de que você só me olha assim quando quer sexo. Eu me sinto… hum… usado, sabia?

— Ah, droga — sua expressão muda para uma de preocupação. Muito mal fingida, já que ele não é um ator digno de Globo de Ouro — o que posso fazer para mudar sua opinião?

— Você sabe exatamente o que fazer para me deixar feliz — mordo meu lábio inferior, e ele ergue meu corpo até me jogar sentado em cima da bancada da cozinha.

E lá vamos nós.

 

— Você tem visita — o carcereiro me arranca de meus devaneios, procurando em seu molho de chaves aquela que irá me tirar daquele cubículo por alguns minutos — provavelmente será a sua última, então sugiro que aproveite bastante.

Permaneço em silêncio, apenas me levantando para acompanhá-lo até a sala onde irei encontrar com quem quer que seja. Prefiro não erguer a voz só para não levar um cassetete depois; fiquei sabendo que alguns desses funcionários podem ser bem cruéis quando querem.

A porta é aberta e vejo uma Belle com olheiras abaixo dos globos oculares e vestida em tons escuros (não como os de Christian Grey; na verdade, ela tem ódio dessa história). Sua primeira reação é correr para me abraçar, e eu não hesito em retribuir seu gesto. Sei que ela é a pessoa que mais faria de tudo por mim na vida, depois de Killian; não só como irmã, mas como a melhor amiga que tive desde que me abri sobre meus sentimentos para ela.

— Meu Deus, você emagreceu bastante, irmãozinho — sua voz é melancólica nos meus ouvidos — o que fizeram com você?

— Me privaram de uma boa alimentação e do meu noivo — sussurro para que ela ouça e mais ninguém — o que acha disso?

— Um assalto. E só levaram a sua felicidade — ela finalmente se solta dos meus braços e me encara por alguns segundos, de cima a baixo — você sabe o quanto eu quero te levar pra casa e cuidar dessas suas feridas, não é?

— A única ferida em mim foi aberta pela ignorância desse presidente de merda, Belle — respondo, enquanto cada um se senta numa das duas cadeiras de madeira presentes na saleta toda pintada em tons de branco e cinza. Além das cadeiras, só tem mais duas câmeras, uma em cada ponta do ambiente.

— Ainda não entendo como conseguiram colocá-lo no poder — seu rosto toma feições de preocupação — ele tinha tudo pra receber quase nenhum voto e simplesmente obteve a maioria absoluta. E logo no décimo mês de governo, já foi criminalizando 90% dos tipos de amor com os quais a população já estava se acostumando a lidar. E agora você está aqui, nessa cadeia deplorável, esperando só pra te dizerem que você vai morrer…

— Eu estive pensando bastante nesses últimos dias aqui na prisão… e olha que eu tive bastante tempo para isso — consigo arrancar um mínimo riso dela — e cheguei à conclusão de que prefiro morrer pelo que acredito a viver infeliz. Sabe, eu nunca me senti tão bem com alguém e não quero renegar o que sinto por ele e quando estou com ele. Eu o amo. Ele é a minha felicidade, e se for pra tirarem isso de mim, que seja me matando. Pode soar clichê, mas…

— Você não vive sem o Killian.

 

— Você não vive sem mim, não é, Nolan — ele diz, e eu sei que ele está sorrindo do outro lado da linha.

A maratona de Jessica Jones que eu havia planejado para hoje “morreu” no quarto episódio, quando Killian me telefonou para informar que o avião já havia pousado no Maine e que ele estava a caminho de casa. Ele havia viajado há uma semana para resolver sua situação na empresa da família Jones — mais especificamente, se desligar dos negócios da companhia de telefonia que eles mantinham. Ouvi de sua boca, antes da viagem, que ele não estava nem um pouco interessado em assumir um cargo por lá e que preferia trabalhar perto de casa, assim, ele poderia me ver por mais tempo. Ponto para Killian Jones, o qual passei a amar mais depois desse dia. E eu pensando que o sentimento não poderia aumentar.

— Como posso dizer… a maratona de Netflix aqui não é a mesma sem você acariciando meu cabelo e roubando a vasilha de pipoca só pra si.

— Relaxe porque eu já estou chegando pra jogar o pote todo na sua cara só para compensar — dou uma gargalhada que assustaria até o papagaio do vizinho — mas, aproveitando que estamos conversando, eu gostaria de te falar algumas coisinhas.

— Sou todo ouvidos — pauso de vez o episódio no computador.

— Lembra daquele dia que você contou aos seus pais que estava me namorando e levou uma surra do seu pai para depois ir parar no hospital porque aquele louco quebrou seu nariz e deslocou um osso do seu braço?

— Eu meio que não gosto de lembrar desse dia…

— Sei. Mas eu não estaria falando disso se não fosse por um motivo.

— Diga por que você lembrou disso justamente agora.

— Porque naquele mesmo dia você teve a coragem de olhar na minha cara e fazer uma pergunta inesperada, mas muito, muito retórica. Hum, como você mesmo disse? Ah, lembrei! “Você ainda vai me amar quando eu não for mais tão jovem e bonito como agora?”

— Não foi uma pergunta retórica — as lembranças daquele momento invadem minha mente.

— Foi retórica sim porque eu te deixei sem resposta… e me desculpe por isso. É só que a gente tava no começo da relação e eu não queria me entregar tão rápido pra depois o mundo ferrar com nossa história. Por isso eu só fui lá e beijei sua testa. Porque não queria responder. — a sinceridade de Killian me surpreende. Sei que ele não se abre com facilidade, então não respondo nada e ele entende como uma permissão para continuar — Mas, agora, eu tenho certeza. David Nolan, você não vai se livrar de mim tão cedo, porque eu ainda vou te amar, mesmo quando você não for mais tão jovem e bonito como agora. Se no dia do seu nariz quebrado eu já te amava, não vai ser agora. Hoje à noite, eu vou pedir a Deus para que, quando eu for pro Paraíso, que eu possa te levar junto comigo.

— Killian, por que está falando tudo isso agora, de repente?

A campainha toca de modo repentino. Como eu não espero por visita alguma e ele aprendeu a entrar no apartamento sozinho com as chaves, apenas me levanto da cama e vou atender quem quer que seja, ainda com o telefone no meu ouvido direito. Com a mão esquerda, viro a maçaneta, e abro um sorriso abobalhado quando encontro meu próprio namorado em pé, vestindo o mesmo suéter cinza que ele usava quando vim pedir abrigo em seu lar aos 18 anos de idade, a mesma calça jeans escura e esboçando o mesmo sorriso de lado que eu vi quando ele conseguiu me fazer rir naquela noite. Meu telefonema com ele ainda está no ar. Eu não consigo desgrudar meu celular da orelha, especialmente quando ele se ajoelha, e usando a mão livre, retira uma aliança do bolso de sua calça.

É agora.

Lana Del Rey, sua música foi referenciada na hora certa.

— David, você quer casar comigo?

 

A visita de Belle até que fez bem para mim, no final das contas. Ela conseguiu me ajudar a colocar meus pensamentos em ordem, e me fez jurar que, se eu saísse vivo dessa situação, iria morar com ela e com seu marido, nem que fosse no porão da casa onde vivem. Para ser sincero, eu só prometi isso a ela porque as chances de não me condenaram à pena capital são mínimas; sendo assim, talvez eu jamais cumpra a promessa.

É nisso que venho pensando desde que ela veio aqui. A solidão já deixou de ser minha inimiga mortal e passou a ser apenas um mal necessário e conveniente quando necessário; na verdade, já me acostumei a estar sozinho por aqui, saindo destas quatro paredes apenas para tomar um banho de sol — felizmente não tiraram essa norma da penitenciária, ainda — e para ir à sala de julgamento ouvir os promotores fazendo seu trabalho de me acusarem de atentado ao pudor e meu defensor público não cumprindo o seu dever de me defender, visto que seus argumentos são sempre derrubados sem lógica alguma. É cruel me submeter a isso, a ver todos apontando o dedo para mim como se eu sempre tivesse sido uma espécie de “criminoso”, quando tudo o que fiz na verdade foi amar a pessoa que considero certa e perfeita para mim, mas que para os outros representa um ato de repúdio ao governo atual. Por mais que eu tente, não consigo entender o porquê dessa revolução toda. O que fizemos para este mundo a fim de merecermos o que estamos recebendo?

 

— O juiz está de volta ao tribunal. Por favor, fiquem de pé — um funcionário do tribunal exclama, e todos, inclusive eu, se levantam na entrada da autoridade.

— Podem sentar — o juiz ordena alguns segundos depois — após ouvir os argumentos dados pela defesa e pela promotoria, cheguei a um veredicto final para o senhor David Nolan.

É agora. Tudo ou nada.

— Quanto à acusação de atentado ao pudor, eu declaro o réu inocente — me permiti expirar um pouco do ar que estava preso em meus pulmões. Mas sabia que a guerra ainda não estava totalmente ganha — e quanto à acusação de homossexualidade praticada pelo acusado nos últimos anos, eu declaro o réu… culpado em primeira instância.

Seguro-me na cadeira para não cair duro no chão. Se é que há um chão capaz de me segurar agora.

— E sua condenação é a pena capital, com aplicação de injeção letal via intravenosa. Isso é tudo.

 

.::.

 

— David, me desculpa, me desculpa, me desculpa, por favor, eu queria tanto poder te tirar daí — a voz esganiçada de Belle do outro lado da linha telefônica me faz querer chorar junto com ela — eu queria tanto poder fazer alguma coisa pra te livrar dessa condenação, eu faria qualquer coisa, irmãozinho, você sabe disso, não é?

— Eu sei que sim — tento manter a calma. Parece até que estou mais conformado com a pena capital do que minha própria irmã — no fundo, eu também queria poder sair disso. Mas você sabe, não há nada que eu possa fazer a não ser aceitar minha derrota. Que não é só minha. É de todos os que foram condenados por fazerem o mesmo que eu fiz com o Killian. Aliás… você teve alguma notícia dele?

— A Ruby me ligou essa semana. Mas… eu não acho que deva falar o que houve…

— Belle — já começo a ficar nervoso — o que aconteceu com ele? Por favor, não esconda de mim só porque vou passar pelo corredor da morte daqui a cinco minutos!

— Tem certeza?

— Absoluta!

— Então está bem… ele também foi condenado à morte, David.

Meu mundo definitivamente caiu agora. A sentença de morte não é nada neste momento se comparada ao que sinto sabendo que meu noivo também vai passar pelo mesmo que eu. Eles podiam fazer de tudo comigo, qualquer coisa, eu aguentaria a barra numa boa. Mas tinham que matá-lo também? Tinham que tirar de mim o homem que eu amo na minha existência? Tinham que erradicar nós dois desse planeta de uma vez?

Pela primeira vez em muito tempo, deixo lágrimas de raiva e de tristeza percorrerem meu rosto. Não quero mais fingir que sou forte e que seguro qualquer coisa que atirarem em mim. Condenar o Killian à morte foi um jogo baixo, muito baixo, o tipo de cartada final que eles tinham nas mangas e usaram para me desestabilizar de vez logo antes de morrer. Os soluços vêm junto com o choro. Minha irmã me ouve atentamente, mas não diz nada por alguns segundos. Ela sabe que eu preciso digerir a informação sozinho, mas não quer desligar o telefonema provavelmente porque tem algo a mais para dizer.

— Irmãozinho, se isso te ajudar… na hora de… você sabe…

— Pode falar.

— Na hora da injeção… tenta pensar em alguma memória feliz que você teve. Nem precisa ser comigo ou com seus amigos. Tenta pensar em algum dia em que você foi muito feliz e Killian Jones estivesse nele. Tenho certeza de que ele fará o mesmo quando passar pela injeção também. Nunca se esqueça de que a ligação entre vocês dois sempre foi mais forte que o mundo, mais forte que a vida e a morte juntas. Não vai ser essa pena capital que irá separá-los. A eternidade os espera, e mais tarde eu encontrarei você por lá também. Certo?

— Vou tentar.

 

Dizem que, quando você está prestes a morrer, a vida passa diante de seus olhos como se fosse uma revisão de tudo o que você fez antes da jogada final que te fará sucumbir à morte. E mesmo ainda faltando alguns minutos para isso acontecer comigo, já sinto as lembranças se organizando em meu cérebro. A cada passo que dou neste corredor, é mais uma memória que toma conta dos meus pensamentos. Os dois guardas que estão ao meu lado, me empurrando para frente quando faço menção de parar, não ajudam muito na tarefa de me manter calmo diante de tudo. As algemas em minhas mãos também não. Ainda não sei por que estou com elas; não é como se houvesse uma escapatória daqui para eu viver às escondidas em algum galpão por aí. Eu não quero fugir.

É isso.

Eu não quero fugir do que me condenaram. Não há necessidade de fugir quando não há nada para mim lá fora. Só encontraria perseguição, palavras torpes, humilhação e as tentativas da minha irmã de me defender — as quais não significariam coisa alguma diante das autoridades. Sem falar que meu noivo também não estaria lá. A essa hora, ele também deve estar passando pelo mesmo que eu. Dói não saber como ele se sente agora. Dói não ver seu rosto sempre que quero. Dói lembrar dele e querer abraçá-lo, mas não poder. Dói já não ter mais uma lembrança fiel de seu rosto, de tanto tempo que estou aqui nessa prisão. Dói saber que ele morrerá pelo mesmo motivo que eu.

Porque nós simplesmente nos amamos.

Os mesmos dois guardas de antes me empurram para dentro de uma sala pintada de branco, com um vidro fumê de frente para a cama na qual irei me despedir dessa vida. Não sei quem está do outro lado daquele vidro, mas prefiro nem saber para que minha última visão não seja a das pessoas que mandaram me matar. Eu vou seguir o conselho de Belle. Eu vou forçar uma lembrança feliz assim que me deitar. O que, no caso, acabo de fazer. Meus braços são estendidos, e dezenas de fios são conectados a eles, perfurando minha pele para abrir passagem para as substâncias letais. Na posição em que estou, só consigo olhar para cima e nada mais.

Um sino é ouvido por todo o ambiente, e um dos guardas liga as máquinas. As drogas começam a passar pelos fios, e é questão de segundos até que cheguem às minhas veias. Então, ponho minha mente em ação e procuro por um dia feliz que tenha acontecido em minha vida.

Eu sou jovem. Eu sou bonito. E Killian Jones me ama. E mesmo quando nós morrermos, ele ainda me amará e eu ainda o amarei. Ponha isso na cabeça, Nolan. Ponha isso na cabeça.

 

— Eu vou acabar com a raça daquele homem, pode acreditar — o moreno anda de um lado para o outro dentro do quarto de hospital em que estou sendo tratado — seu pai não podia ter feito isso com você! Simplesmente não podia!

— Ele é meu pai, Killian — respondo calmamente — você sabia que ele seria capaz de qualquer coisa quando eu contasse a ele sobre nós.

— É, eu sei, mas preferia que isso não fosse verdade — ele finalmente fica parado, ao meu lado, e segurando minha mão direita — ele vai ter o que merece. Você vai ver.

— Querido… — sinto vontade de perguntar algo que vinha correndo na minha mente nos últimos dias — posso fazer uma pergunta?

Sua raiva dá lugar à compreensão. Ele quer me ouvir.

— Claro.

— Você ainda vai me amar quando eu não for mais jovem e bonito?

— Deu pra ouvir a música da Lana esses dias, foi? — Seu comentário sarcástico me faz rir, mas logo depois volto à seriedade — Ah, a pergunta é séria… mas tudo bem. Eu respondo — seu rosto se aproxima mais do meu, e o Jones deposita um beijo em minha testa.

Sei que ele não encontra palavras para me responder adequadamente, e que aquele beijo na minha testa é tudo o que ele tem para dizer. Sei que é tudo o que ele pode dizer no momento, porque ele ainda tem medo de me machucar com palavras, da mesma forma que meus pais me machucaram no dia em que me assumi para eles e logo depois me mudei pra casa do meu então melhor amigo. Sei que ele não quer me ver triste, e por isso não diz nada; em vez disso, prova seus sentimentos com ações. E só de pensar nisso, já sei o que ele quer falar.

Sua resposta é sim.


Notas Finais


Alguém aí está respirando corretamente? Com a mente lúcida? Capaz de deixar um comentário por aqui só pra eu saber o que achou da história? Espero que realmente tenham adorado Young and Beautiful tanto quanto eu adorei (especialmente você, Bridge/Coutinho <3).
PS. O que acham de uma segunda versão dessa história, contada por outro personagem que apareceu por aqui? Deixe sua opinião também ;)


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