História Young (Imagine Suga) - Past

Jaehyun teria que ficar em observação até acordar para que os médicos pudessem ter certeza de que ele ficaria bem. Ao todo ele levou 36 pontos, teve um corte no ombro, no rosto e no antebraço, mas o mais grave estava na barriga, que por pouco não danificou nenhum órgão.

Jin e Jimin já tinham ido embora à algumas horas, Jin se ofereceu para me dar carona, mas apesar de Yoongi insistir eu neguei. Yoongi agradeceu muitas vezes aos dois por ajudarem e cuidarem de Jaehyun.

Já era tarde da noite, quase onze quando os médicos finalmente nos permitiram ficar perto de Jaehyun. Yoongi ficou um bom tempo conversando com o médico sobre o filho. Falando sobre algumas possíveis alergias a medicamentos, etc.

O maior medo dos médicos era que Jaehyun pegasse alguma infecção com os cortes mais superficiais, mas Yoongi garantiu que os manteria limpos.

Estávamos finalmente sozinhos, bem, não totalmente sozinho, pois a porta da pequena sala estava aberta e Jaehyun estava deitado na maca, dormindo profundamente. Yoongi estava sentado na cadeira ao lado direito da maca e eu ao lado esquerdo. O loiro possuía um olhar triste e cansado, enquanto acariciada a palma da mão de Jaehyun.

Eu queria começar o diálogo, mas se tem uma coisa que eu aprendi com Yoongi era que se uma pessoa disse que tinha algo para falar, ela iria falar no momento que achasse mais apropriado.

—Eu sei o que você quer me perguntar. — a voz rouca por falta de uso do loiro arrepiou a minha nuca. Ele levantou o olhar para me encarar, seu olhar penetrando minha alma. — Você quer saber como eu posso me declarar pai do Jaehyun, mesmo não sendo o pai dele.

Assenti e olhando para as minhas mãos. Yoongi se levantou, chamando minha atenção, ele pegou a cadeira e a trouxe para o meu lado, onde se sentou.

— Bem... — ele fez uma pausa como se pensasse por onde deveria começar. — Tudo começou quando eu conheci a mãe dele, Joohyun, a filha da megera que a propósito de chama Hyunbae. — ele falava baixinho, para não acordar Jaehyun. — Eu tinha 18, tinha acabado o ensino médio a pouco e fugi de casa para seguir meu sonho de ser rapper. Conheci ela numa festa, trocamos números e começamos a sair. Ela era legal, divertida, simpática, totalmente o oposto da mãe, exceto quando bebia demais, ela ficava meio agressiva com quem irritasse ela, quase como se estivesse guardando toda a sua raiva e a bebida a desinibisse.

Yoongi se ajeitou na cadeira, colocando os ombros para trás. Seus olhos já não me encaravam mais.

— Com o tempo começamos a namorar, nisso se passaram dois ano, eu já estava com 20 e ela também. Estava tudo indo bem, íamos até compara um apartamento para viver juntos. Mas uma noite ela foi numa festa com o pessoal da faculdade e acabou bebendo demais, agrediu um cara e foi parar na delegacia. Lá eles esperaram o álcool sair do corpo e fizeram uns exames nela... — vozes surgiram no corredor, um médico e uma enfermeira passaram por nós conversando e Yoongi parou de falar enquanto a voz deles não tivesse desaparecido.

— Descobriram que ela era bipolar. Como ela tinha sido presa por agressão, o único jeito dela sair seria cumprir o tempo, de um mês, ou pagar fiança. Eu não tinha dinheiro, então ela me fez ligar para a mãe. Quando a velha chegou fez o maior escândalo, gritou com a filha, gritou comigo, por ser um namorado imprestável e pobre que ela nem sequer sabia da existência e umas outras coisas. Aí o policial contou para ela que a filha era bipolar e foi o suficiente para Hyunbae trancafiar a filha em casa, ou pelo menos tentar, pois ela sempre dava um jeito de fugir e me ver.

Yoongi fez uma pausa.

— Essa mulher é realmente um monstro. — comentei.

O loiro assentiu.

— Você não faz ideia. Joohyun simplesmente a odiava, ela batia na filha quando era menor, obrigava a ela a fazer castigos horríveis, até café já jogou nela. — olhei incrédula para ele. — Mas como Joohyun era rica, assim que se atingiu a maioridade ela fugiu e comprou um apartamento. Éramos muito parecidos eu e ela, ambos fugimos da nossa dor.

— Foi sobre isso que você falou... Que poderia colocar ela atrás das grades.

Yoongi assentiu novamente.

— Isso, fora as agressões contra o Jaehyun também.

— O que?! — disse alto demais. Ambos olhamos para Jaehyun como se ele fosse acordar, mas o mesmo continuava imóvel exceto pela respiração. — Desculpe.

— Continuando... Numa dessas fugas nós acabamos... Hmm... — ela não sabia como dizer, mas eu entendi mesmo assim.

— Transando.

— É... E a Joohyun ficou grávida. — “Mas então como você não é o pai de Jaehyun?” pensei, mas deixei que ele continuasse. — Ela não estava mais tomando os remédios que a mãe dava, ela sempre conseguia enganar ela. Ou ela trocava os frascos para um remédio de dor de cabeça, ou vomitava quando ela não via, ela tinha vários métodos, e mesmo que dizendo para ela não fazer ela fazia. Mas quando ela descobriu que estava grávida ela não me contou, ou melhor, não contou para ninguém, e sozinha ela fez um chá e... abortou o bebê.

Ele fez uma pausa, eu podia ver seus olhos marejados, mesmo com ele tentando esconder por entre a franja loira.

— Yoongi... — segurei a mão dele, lembrar de tudo aquilo deveria ser muito difícil para ele.

— Ela me contou alguns dias depois. Eu fiquei tão brabo. Eu briguei muito com ela, nós nunca tivemos uma briga, mas aquele dia eu quase cheguei ao ponto de bater nela. Ela me disse que ficou apavorada com o que a mãe dela faria, disse que não estava pronta. Mas tudo parecia tão egoísta para mim... Nós não nos vimos por meses depois disso. Não tinha nenhuma noticia dela. Mas eu segui minha vida, consegui me concentrar mais nos shows... Até que um dia ela voltou. Ela me esperou depois do show, ela chorava muito. Levei ela para minha casa e ele me explicou o que aconteceu: disse que ela tinha fugido e ido para uma festa, lá ela conheceu um cara que levou ela para um motel, eles transaram e uma semana depois descobriu que estava grávida novamente, mas agora ela não tinha conseguido esconder da mãe. A barriga já estava enorme, tinha pouco mais de oito meses. Ela foi ao médico, sozinha, e ele disse que a gravidez era de risco, havia duas voltas de cordão umbilical no pescoço do bebê e ele nasceria prematuro. Ela chorou e me implorou que registrasse o filho como meu, ela tinha medo de que a mãe ficasse com a guarda dele. A velha não queria dar o neto para adoção, o motivo eu também não sei. — Yoongi suspirou. — Ela também tinha se apegado ao filho, estava com medo, acho que ela sabia que iria morrer, ela era muito magra e pequena. E quando eu vi o desespero dela eu não consegui dizer não, eu sabia que se negasse eu só faria a criança infeliz, eu sabia pelo que ele sofreria se ficasse nas mãos de Hyunbae. Então eu prometi, prometi para ela que cuidaria dele como se fosse meu e eu faço isso até hoje. Lutei pela guarda dele, e com o tempo eu me apaixonei também, assim como Joohyun. — o loiro me encarou, uma pequena lágrima escorreu por seu rosto. — Eu sei que disse que ele não é meu filho, mas eu o amo tanto... Eu não posso suportar ficar longe dele...

Eu sabia que ele não iria aguentar mais, então apenas me debrucei e o abracei, escondendo seu rosto contra meu pescoço. Yoongi chorou como eu nunca o vi chorar antes. Parecia uma criança, soluçando e fungando.

— Está tudo bem. — eu falei. — Você não precisa continuar.

— E-eu... Eu só quero que você saiba que eu amo ele, eu criei ele e ele é meu filho. Eu nunca acreditei que me apegaria tanto, mas hoje tenho tanto medo de perder ele para aquela maldita...

— Então ela não sabe...

— Ela suspeita, pois Joohyun disse que não estávamos mais juntos.

Me separei dele e segurei seu rosto nas minhas mãos, seus pequenos olhos estavam molhados e avermelhados, assim como o nariz.

— Eu te amo.

Minhas palavras não eram tão difíceis de serem entendidas, mas mesmo assim Yoongi me olhou confuso.

— O-o que?

— Eu te amo. — repeti sorrindo, analisando cada parte do rosto dele.

— Por quê? — perguntou, ainda confuso.

Não pude deixar de rir com a sua reação.

— Por que você é um homem maravilho, passou por tanta coisa, sozinho... Fugiu de casa trás do seus sonho, enfrentou a fome e necessidade, se apaixonou por uma mulher problemática e criou o filho dela que não é seu sem motivo algum. Se eu não amar você não amarei mais ninguém.

Para a minha surpresa, Yoongi chorou ainda mais. Me abraçou firme, me puxando para o seu colo.

— Eu também te amo muito. Obrigado por estar aqui comigo.