A água que caí da torneira já estava deixando meus dedos gelados. Terminei de lavar a louça e coloquei no escorredor. Ao meu lado, quase perto da porta, uma vasoura estava apoiada na parede mantendo os cacos de cerâmica entre ambos.
Depois que Yoongi desabou, eu consegui fazê-lo entrar, mas uma vez aqui ele quase destruiu tudo que podia quebrar. Eu fiquei apavorada! Nunca vi ele com tanta raiva. Xingava a avó de Jaehyun de palavrões que eu nem sabia o que significavam. Tive que tomar coragem para me aproximar, dizer que ligaria para Jin, que era advogado para ver o que ele poderia fazer.
Jin atendeu depois de dois toques, ficou chocado com o que relatei, mas só poderia fazer alguma coisa amanhã, marcamos um horário e um local para nos encontrarmos. Então Yoongi foi para o quarto e ficou em silêncio desde então.
Eu queria conforta-lo. Mais uma vez estava impotente, como quando Jae se machucou. Então deixei que ele ficasse em silêncio, com seus próprios pensamentos. Quando não se sabe como ajudar alguém, acompanha-la, fazer-lhe companhia, é melhor do que dizer para onde deve ir sendo que nem você sabe se é o certo.
Andei até o quarto, com a mão esquerda afastei a cortina e o encontrei deitado. Seus olhos estavam fechados, mas eu sabia muito bem que ele não estava dormindo.
— Quer alguma coisa? — perguntei.
Minha voz saiu baixa e eu pensei que ele não tivesse ouvido, mas ele apenas demorou para responder, quando o fez, foi apenas um movimento com a cabeça.
Respirei fundo.
Me aproximei da minha mochila que deixei num canto do quarto, tirei meus tênis, depois a calça, a camiseta e o sutiã. Puxei de dentro da mochila uma camiseta velha do Yoongi que adotei como pijama e a vesti. Era uma camiseta branca com os dizeres “D. BOY” que ia até o início da minha coxa.
Fui até a cama e afastei as cobertas, me deitando em seguida. Fiquei uns minutos parada, apenas olhando para o Yoongi, observando cada detalhe do seu rosto e silenciosamente lembrando de tudo o que ele passou. Ele não merecia tanta dor.
Subitamente o loiro abre os olhos, acho que sentiu que eu o estava encarando.
— Quero meu filho. — sussurrou.
— Eu sei.
Me aproximei e selei nossos lábios, por apenas alguns segundos, apenas o suficiente. Senti seus braços em minha cintura, me puxando, e quando notei estávamos grudados. Sua cabeça estava na altura do meu peito e seu rosto estava escondido no meu pescoço. Levei minha mão direta até os seus cabelos e os acariciei.
Lentamente as lágrimas voltaram, mas estas era silenciosas, como se antes ele sentisse o desespero e o medo de não poder mais ver o filho, agora era como se estivesse apenas sentindo a falta dele.
Yoongi chorou durante um bom tempo, até que ele se afastou e pediu para eu me virar, para dormirmos de conchinha. Eu sabia que agora ele estava pronto para tentar dormir de verdade, mas também sabia que não seria fácil.
***
— Isso é simples ridículo! — exclamou Jin, assim que terminamos de contar tudo o que tinha acontecido na noite passada. — Mesmo que tenha a possibilidade de você não ser o pai dele, a justiça não pode tirar uma criança do pai ou do homem que o criou como se não fosse nada, isso pode gerar muitos problemas para ele ao ser afastado de você.
— Então como ela conseguiu? — perguntei.
— Como é que se consegue algo proibido nesse mundo?
“Pagando”, pensei.
Era três horas da tarde, estávamos numa cafeteria perto da praça que sempre íamos, tínhamos acabado de chegar e fazer nossos pedidos, o céu quase sem nuvens fazia o dia mais lindo.
— Mas aí que está o meu medo. — confessou Yoongi. — Eu não sou o verdadeiro pai dele.
Jin franziu o cenho confuso. Então Yoongi explicou tudo, toda a história que me contou, sobre como conheceu a mãe de Jaehyun, sobre como ela era maltratada pela mãe e o medo de que isso acontecesse com o filho.
— Ok, se tem uma coisa que eu sei é que aquela mulher não tem amor nenhum pelo neto. — disse Jin, assim que Yoongi terminou. — Eu nem precisava ouvir essa história para saber. Primeiro: precisamos de prova e de testemunhas. Por acaso você tem alguma prova de que ela queria que você ficasse com a criança? Um testamento?
— Infelizmente não, — disse o loiro. — nós apenas conversamos e mais tarde eu o assumi e registrei como meu.
— É isso não ajuda muito...
Jin interrompeu sua fala, pois menino que atendeu o nosso pedido tinha voltado. Depois que ele colocou tudo na mesa, agradecemos e ele saiu, então voltamos a conversar enquanto comíamos.
— Deve haver alguém que sabia disso, alguém ligado a Joohyun... — sugeriu Jin.
Yoongi pareceu pensar um pouco.
— Ela tinha uma amiga que eram bem próximas, mas ela mora em Busan agora... Park Gaeyeon, talvez elas tenham conversado.
Jin puxou de seu bolso o celular e anotou o nome.
— Ok, mas acho que o mais importante é provar os maus tratos... Bem, podemos pedir para o enfermeiro que viu toda a cena depor como testemunha, ele me viu chegando sozinho com Jae e todo o descaso da avô com o menino. Você tem alguma testemunha que tenha visto algum machucado que a avó fez?
— O dono da BigHit. — disse Yoongi imediatamente. — Uma vez estávamos tomando cerveja no estacionamento, num domingo, quando ela veio trazer ele, havia um corte na bochecha do Jae, perguntei se ela tinha feito aquilo e ela admitiu na minha frente e na frente do dono. Inclusive ele ficou chocado.
— Isso é bom. — disse Jin, fazendo várias anotações. — Bem, vou procurar essa tal de Gaeyeon e vou tentar entrar com uma liminar para que, pelo menos, o Jae volte para casa. Isso é ridículo! Vou ver se consigo ajuda de uma amiga do Conselho. Também vou conversar com a professora dele, talvez ela tenha visto algo de diferente nele. — O mais velho encarou Yoongi. — Olha eu sei que é difícil, mas você precisa se manter calmo, principalmente se ela tentar te provocar.
— Como assim? — perguntei.
— É muito fácil tocar na ferida e desestabilizar alguém para inverter o jogo. — disse Jin. — Conto com você, _____, para manter a mente do Yoongi no lugar.
Ouvi o loiro soltar um riso nasal ao meu lado.
— Pode deixar. — sorri também.
Terminamos de comer em alguns minutos de silêncio.
— Vocês foram ver ele hoje de manhã? — perguntou Jin.
— Sim. — respondeu Yoongi.
— Foi de cortar o coração. — ao falar as imagines da nossa visita vieram a minha mente, fazendo a minha voz sair com dificuldade. — Uma das voluntárias disse que ele chorou a noite toda... E quando saímos ele gritava muito. — senti meus olhos marejarem, ao meu lado Yoongi olhava apenas para o prato cheio de migalhas da torrada que tinha comido.
— Estão vendo? É por isso que ele não podia ter sido separado do Yoongi. — disse Jin com os punhos cerrados. — Segunda-feira mesmo eu irei falar com os voluntários e...
— Quanto tempo? — interrompeu Yoongi. — Quanto tempo para tudo isso acontecer?
— Provavelmente até o fim da semana que vem. — respondeu Jin.
— O que?! — o loiro falou tão alto que me assustou e atraiu a atenção de algumas pessoas. — Vou ficar duas semanas sem meu filho?
— Processos demoram muito Yoongi, às vezes anos, se seu filho voltar em menos de duas semanas será incrível. — explicou Jin garantindo depois: — Eu farei o meu máximo.
Depois disso saímos, nos despedimos de Jin e voltamos para a Big Hit. Antes de ir Jin nos resaltou que é melhor manter isso entre nós, no máximo contar para a minha mãe. Voltamos caminhando, já que a Big Hit não ficava tão longe do parque, eu busquei com a mão direita a esquerda de Yoongi, ao tocar ela o loiro rapidamente a entrelaçou com a minha num aperto forte.
Olhei para ela durante quase todo o caminho até em casa, mas Yoongi olhava apenas para o chão.
Com o decorrer da tarde o céu foi se fechando rapidamente, tanto que só fui notar quando os primeiros pingos caíram e então veio rápido. Yoongi pela janela um pouco preocupado, ele não gostava muito de chuva.
— Não se preocupe. — disse, chamando sua atenção. — É só uma chuva de verão, logo passa.
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