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História Your house - Capítulo único: Your house


Escrita por: Eric_Elgae

Notas do Autor


Hello pessoas lindas de bonitas! ^^
Espero que estejam bem. Trazendo uma outra shot do casal mais amado de CDZ haha
Redescobrindo as músicas de outras vidas, as ideias simplesmente pulam na cabeça. Não seria diferente com essa história.
A nossa fic hoje é embalada pela PERFEITA música "Your house"-da Alanis Morissete. Vou deixar o link do vídeo nas notas finais.

Espero que agrade, e como sempre, desejo a vocês uma ótima leitura, nos vemos lá embaixo.

Capítulo 1 - Capítulo único: Your house


Fanfic / Fanfiction Your house - Capítulo único: Your house

 

I went to your house / Eu fui até a sua casa

 

Era um dia tranquilo no Santuário de Atena, o local sagrado na terra onde os protetores da deusa da sabedoria e da guerra realizavam seus treinos e se colocavam de vigia para proteger sua deusa em caso de uma investida dos inimigos. Atena protegia a terra, e eventualmente entrava em batalha contra outros deuses que desejavam usurpar seu lugar.

Mas após inúmeras batalhas, a paz reinava. Ressurretos pela deusa, os seus fiéis defensores agora gozavam de uma nova oportunidade de viver. Apesar dos acordos firmados e da impossibilidade de uma nova guerra nos próximos tempos, Atena era prevenida e não permitiria de todo que seus guerreiros permanecessem na inércia.

E por esse motivo vários deles se encontravam espalhados ao redor do mundo em missões de busca por novos guerreiros, firmando acordos de paz mais profundos que os verbalmente tratados, resolvendo pequenos casos.

Mas como de praxe, alguns dos guerreiros permaneciam no solo sagrado. No momento estavam Milo, cavaleiro de ouro que representava a constelação de Escorpião, Afrodite de Peixes e Mu de Áries, treinando os cavaleiros mais jovens e preparando novas táticas de luta que se esperava que nunca fossem utilizadas.

Pelo menos não tão cedo.

Os outros cavaleiros de ouro estavam desempenhando seus papéis mundo afora. Mas em breve todos voltariam, uma vez que era época de relatar a Atena e ao Grande Mestre o andamento de suas missões e efetuar um rodízio, deixando três cavaleiros de vigia e trocando as atividades.

Milo aguardava a chegada de um dos amigos de patente em particular. E nesse momento, no final do dia, ele estava se dirigindo justamente até a mansão zodiacal que ele deveria estar guardando.

A décima primeira mansão, guardada por Camus de Aquário se destacava diante dos olhos de Milo, que suspirou sentindo um aperto no peito.

 

Walked up the stairs / Subi as escadas

 

Milo subia as escadas perdido em sentimentos e lembranças. Cada degrau o levava mais próximo ao lugar onde construíra as melhores memórias que poderia ter junto a Camus.

Um dos lugares, na verdade. Talvez para Milo o melhor por considerar que ali, nos domínios de Camus, ele como ninguém tivera acesso e liberdade.

Acesso ao coração do aquariano. Liberdade em compartilhar seus sentimentos mais profundos.

E apesar de muitos acharem o contrário, ele conseguiu permanecer ali. E ser correspondido.

Camus era tão oposto de Milo quanto o dia pode ser da noite. E da mesma forma que um não podia viver sem o outro, assim eram os dois.

Milo com seu jeito expansivo, despudorado e sociável conquistava a todos, de crianças a idosos. O porte atlético e a pele morena por conta do sol da Grécia mostravam uma figura confiável e atraente ao extremo. A longa cabeleira loira com cachos revoltos, sempre bagunçados parecia estar simplesmente perfeita ao redor de seu rosto.

E seus olhos azuis...

Eram pedaços de um mar sem fim no qual Camus passou a se perder.

Ainda que em silêncio.

Camus com seu jeito introspectivo, recatado e polido transmitia segurança. Mas apesar de atrair olhares por onde passasse por conta da longa cabeleira lisa e ruiva, ele era do tipo discreto. Era um falso magro, pois debaixo da armadura ou de roupas geralmente neutras exibia uma corpo delineado, desenhado em uma pele extremamente alva, fato mais evidente por conta do local onde treinara e cuidava de seus pupilos, as distantes terras geladas da Sibéria onde o sol raramente se manifestava.

Seus olhos eram pedaços de um céu sem fim no qual Milo se perdia.

Sem nenhuma discrição ou limites.

Camus era francês. Milo grego.

Camus era do dia. Milo da noite.

Camus era gelo. Milo era fogo.

E o fogo que ardia em seu peito era tamanho que incendiava seu ser por inteiro, e ainda derretia as defesas gélidas que Camus habitualmente impunha aos outros que tentavam se aproximar de si sem demonstrar boas intenções.

 

Opened the door without ringing the bell / Abri sua porta sem tocar a campainha

 

Milo adentrou a mansão de Aquário. Caminhava sem pressa, na expectativa de matar um pouco da saudade que sentia do amigo.

Amigo.

Amante.

Amor.

Com seu cosmo, procurou pela presença de alguém. Ainda que soubesse que Camus não estava ali, talvez algum dos seus servos estivesse.

Mas não havia ninguém. A mansão se encontrava vazia.

Tanto melhor para ele. Não seria incomodado.

Milo parou logo depois de entrar, observando em volta. O salão da mansão parecia triste sem seu dono.

Ou ele estava refletindo no espaço a sua frente seus sentimentos no momento. Já que ele se sentia vazio sem Camus.

Na verdade, Camus provocava esse efeito em Milo. Quando na revolta de Saga, o cavaleiro de Gêmeos que se passara por Mestre, houve uma batalha contra os cavaleiros de bronze. Milo se surpreendeu ao ver Camus disposto a dar a própria vida em troca de ensinar uma última lição a seu discípulo.

Talvez a lição mais importante. Mas para Milo aquilo fora um ato inconcebível.

Que Camus congelasse o garoto e o partisse em mil cristais de gelo. Que amputasse suas pernas e braços. Mas que aceitasse morrer para despertar todo o potencial do seu discípulo, isso já era demais.

E ele? Como ficaria sem Camus?

 

Walked down the hall / Andei pelo corredor

 

Enquanto avança pela morada do aquariano, Milo ainda sentia certa ponta de raiva ao se lembrar dos dias vazios após a morte de Camus. A primeira morte, na verdade.

Antes de batalharem contra Hades, Milo sentia-se sem rumo. Sobrevivia no modo automático, por assim dizer. Tudo lhe remetia a Camus e a falta que ele fazia.

Milo queria seus olhos inquisidores. Seus resmungos de irritação. Seu tom de desinteresse quando vencido pela insistência do escorpiano em fazer algo. Seu jeito discreto de demonstrar que também sentia como ele.

Como sentia falta das conversas. Dos raros momentos de sorriso despreocupado. Dos toques discretos quase sempre rechaçados pelo ruivo para, em seguida, ser retribuído de forma mais contida.

Sentia falta de tudo de Camus.

A saudade era uma doença. Corrosiva, que minava suas esperanças e o deixava abandonado ao desespero de nunca mais...

Nunca mais.

 

Into your room where I could smell you / Na sua sala onde eu pudesse sentir teu cheiro

 

A porta do quarto dele estava fechada. Claro. Ele próprio deveria ter dado ordens de que ninguém entrasse ali, ainda que fosse para limpar.

Seu quarto era seu santuário particular. Seu refúgio daquela vida de lutas, dores e dissabores.

Todos os cavaleiros de ouro agiam assim, fazer isso era meio que comum. Seus quartos eram um refúgio singular. Entrar sem convite era como profanar solo sagrado.

Não para Milo, obviamente. Por que para o cavaleiro de Escorpião, o quarto de Camus era também o seu próprio solo sagrado.

Milo entrou aspirando profundamente, tentando encontrar no ar dali o cheiro único de Camus. O cheiro dos seus livros antigos, de suas colônias francesas, de suas roupas de pele guardadas para uso quando fosse a Sibéria novamente.

Mas na cama grande de dossel que ocupava boa parte do canto do quarto, Milo se aproximou na expectativa de sentir ali o cheiro dele.

Do seu Camus...

 

And I shouldn't be here / E eu não devia estar aqui

Without permission / Sem permissão

Shouldn't be here / Não devia estar aqui

 

Milo parou ali, aspirando profundamente um travesseiro que pegara entre as mãos e abraçava com carinho. Travesseiro onde a cabeleira ruiva repousara, onde após um banho frio os cabelos úmidos se espalhavam, brilhantes e sedosos.

Por vezes Milo queria ser aquele travesseiro, apoiar a cabeça do amor da sua vida e embalar seu sono.

Saudade maldita.

Sabia que Camus notaria os detalhes desarrumados quando voltasse. E sabia que ele ficaria bravo por saber que Milo andava por ali, zanzando em seu quarto, mexendo nas suas coisas.

Por que Camus sempre sabia de tudo que Milo fazia.

Mas era mais forte que ele. Milo sentira que perdera Camus tantas vezes que quando ele se afastava, independente do motivo, ele quase ia a loucura. Se não buscasse uma prova de que o outro existia ainda, estava vivo e bem, ele sabia que enlouqueceria.

Dizem que paixão tem prazo de validade. Após três anos aproximadamente, ela fenece, dando lugar ao desinteresse ou, em caso de sorte, um bom companheirismo.

Mas não com Milo. E nem com Camus.

A paixão continuava por anos a fio, desde que se entendiam por homens. E nada mudara isso.

Saudade, carinho, raiva, amor, medo, ansiedade e nostalgia se misturavam em Milo, criando um turbilhão em suas emoções.

-Eu não deveria estar aqui... Nunca vou aprender...

 

Would you forgive me love, if I danced in your shower? / Você me perdoaria, amor, se eu dançasse no seu chuveiro?

 

-Finalmente.

Camus respirou aliviado quando adentrou o solo sagrado novamente. Após dias de viagem sentia que estava finalmente em casa.

Sim. Em casa.

Por que onde Milo estivesse, ali seria sua casa.

Estava ansioso por finalmente ver o dourado de Escorpião. Fizera de tudo que podia para chegar mais cedo do que os outros e assim ter um tempo a sós com ele.

Só ele sabia como precisavam daquilo. Como precisavam conversar.

Se olhar.

Se ouvir.

Colocar em definitivo pontos finais em suas histórias.

E dar início a uma nova.

Tão absorto estava em seus pensamentos, Camus se assustou ao se encontrar de frente a mansão da primeira casa zodiacal. A imponente mansão de Áries se erguia diante de si, cortando o cenário daquela tarde quente.

Seu coração parecia crescer dentro do peito. Mais alguns degraus e estaria finalmente...

Com Milo.

Tentou detectar as energias cósmicas das proximidades sem mostrar sua presença. Em todo o território das doze casas apenas uma energia estava presente.

E conflitante em demasia. Hora alegre, hora triste, ele sentia as oscilações no cosmo de Milo.

E na sua própria casa.

Não havia mais ninguém de fato nos arredores. Melhor assim, teriam privacidade e Camus poderia executar os planos que há tempos vinha pensando.

Queria manter a surpresa. Sabia que quando Milo se encontrava daquele jeito, não notaria muito as coisas ao seu redor. Mas se ele se movesse na velocidade da luz não passaria despercebido.

Portanto teve que se limitar a correr como um humano. Ok, talvez um pouco mais rápido... Quem sabe na velocidade do som...

O aquariano não era de errar em seus palpites. A medida que passava pelas mansões zodiacais, algumas recém reconstruídas, ele sorria sentindo-se ansioso como há tempos não se sentia.

Milo continuava do mesmo jeito.

Ao parar em Escorpião, Camus decidiu guardar a urna de sua armadura no quarto de Milo. Provavelmente o grego iria fazer piadas com aquilo.

E ele estava ansioso por isso.

À medida que entrava pela mansão, Camus sentia-se cheio. Cheio de lembranças que o aqueciam, que o acalentavam e lhe traziam o sabor doce de uma vida maravilhosa.

O sabor de Milo.

A porta do quarto estava aberta. E como não seria diferente, o local estava uma bagunça sem igual.

Ao mirar-se no espelho de meia parede que ocupava o quarto, Camus sentiu-se inadequado.

Seria um verdadeiro desrespeito se apresentar a Milo depois de tanto tempo naquele estado.

-Serei rápido...

Pousando a urna da armadura próxima a cama, Camus buscou no armário grande de madeira antiga uma calça jeans e uma camiseta qualquer. Qual não foi sua surpresa ao encontrar ali muitas de suas próprias peças de roupa.

Sorriu. Normalmente ele se enfureceria, mas não podia fazer aquilo agora.

Ele sabia o que aquilo significava para Milo. Era o jeito de o grego amenizar um pouco a saudade dele.

Sem demoras ele se despiu, deixando as roupas sujas propositalmente em frente a cama, no chão. Sem aquecer a água do chuveiro novo instalado na suíte do guerreiro, ele se banhou, sentindo uma espécie de prazer proibido ao se banhar com o sabonete do amigo.

Amigo.

Amante.

Amor.

 

Would you forgive me love, if I laid in your bed? / Você me perdoaria, amor, se eu deitasse na sua cama?

 

Sentindo-se fresco e renovado, de certa forma, Camus se enrolou na toalha felpuda que havia pegado no armário. Foi até a cama e sentou ali, secando-se sem pressa. Milo permanecia em Aquário naquele estado fervoroso de emoções, e Camus queria ver quanto tempo duraria aquilo.

Se é que ele aguentaria esperar muito tempo.

Antes de se vestir, porém, Camus deitou-se na cama de Milo. Espalhou-se preguiçosamente ali, como sabia que o loiro costumava fazer. O cheiro amadeirado do grego invadiu suas narinas, fazendo com que ele sorrisse sem perceber.

Foi preciso perder a vida no mínimo três vezes para poder se entregar a seus sentimentos sem mais nenhuma ressalva.

Ao espalhar a cabeça no travesseiro sentiu como se faltasse algo ali. Algo que estava próximo, aliás.

Camus ainda sentia um pouco de vergonha. Sabia que Milo sentia-se traído depois de... Tudo que acontecera entre eles.

Milo jamais entenderia seus motivos de verdade para levar Hyoga ao extremo.

Para se fingir de traidor.

Para se aliar aos guerreiros deuses em Asgard.

A impulsividade do escorpiano não abria espaço para que Camus conseguisse revelar seus motivos. E isso era desgastante de qualquer forma.

Por isso Camus ansiava por um momento a sós com ele. Para resolver isso de uma vez por todas.

Nem que pra isso tivesse que congelá-lo da cabeça pra baixo num esquife de gelo.

 

Would you forgive me love, if I stay all afternoon? / Você me perdoaria, amor, se eu ficar a tarde inteira?

 

Camus ficou ali, pensando por alguns minutos. Ficaria a tarde inteira naquela cama, e seu corpo estava ansioso por cobrar o preço da longa viagem. Mal notara o quanto relaxara ali, no espaço que Milo recuperava suas energias.

Onde ele mesmo descansara tantas vezes quanto no seu próprio leito.

Ele analisou com calma a perturbação no cosmo de Milo. Sabia claramente a razão de tudo aquilo.

-Espero realmente que você me perdoe... Se ao menos tentar entender, muita coisa se resolverá.

Sua mente, seu lado racional arquitetara como sempre um plano lógico e prático de seguir. Era simples até.

Chegar. Dizer que precisava conversar. Sentar-se e então dizer que tinha mais a falar que o outro. E expor o que realmente acontecera.

Milo ouviria. Ainda faria alguma birra, mas ele teria dito tudo que precisava dizer. Milo faria uma cena, ele entraria no jogo e então eles se acertariam.

Pronto. Fácil na teoria.

Na prática, tinha tudo para dar errado.

Por que ele sentia agora uma saudade que ardia em seu corpo. O fazia tremer, sentir algo estranho e incômodo no estômago, fazia suas mãos suarem frio.

Batia uma vontade estranha de largar todo o plano de lado e simplesmente colar sua boca na de Milo.

E se perder ali.

Por toda uma vida.

 

I took off my clothes / Eu tirei minha roupa

Put on your robe / Pus o teu roupão

 

A armadura de ouro foi sendo retirada do corpo do escorpiano. Logo menos, Milo se encontrava apenas de calça. Que foi ao chão em segundos também.

Iria tomar um banho ali mesmo. Não era nenhuma novidade fazer isso. Imaginava que ao sair encontraria Camus deitado, lendo algum livro qualquer, como tantas vezes presenciara. O ruivo então levantaria os olhos para reclamar que ele estava molhando o chão do quarto e que se quisesse fazer bagunça que fosse para sua própria casa. Ele então para provocar, se secaria lentamente diante dele, tentando não sorrir ao ver os olhos azuis que percorriam seu corpo a medida que a toalha o enxugava. Vagarosamente iria atiçando o aquariano, que provavelmente morderia os lábios de forma inconsciente, tentando esconder a excitação evidente que sempre o tomava quando Milo agia daquele jeito.

Quase podia ouvir a voz de Camus, num misto de raiva e excitação.

-Pare de agir desse jeito.

-Que jeito?

-Desse jeito atrevido. Despudorado.

Então ele displicentemente se viraria de costas e o olharia por cima do ombro com a expressão mais inocente que podia fazer e perguntaria:

-O que foi?

Enquanto isso ele passaria a toalha vagarosamente na cintura, revelando a nudez dali para baixo sem pressa alguma.

Adorava ver Camus desarmado, inquieto daquele jeito.

Adorava saber que mexia com o ruivo do mesmo jeito que se sentia mexido por ele.

Adorava tudo em Camus.

Pegou uma toalha que deixava por perto para não deixar Camus mais irritado ainda quando voltasse e descobrisse que ele andava por ali com mais frequência do que deveria. Mirou as toalhas de Camus e como fizera com o travesseiro, tentou achar ali algum vestígio do cheiro do ruivo.

Óbvio que nada havia. Mas isso não importava. Aquele pedaço de pano havia passeado pelo corpo dele. Era isso que importava. Provava que Camus ainda estava vivo.

Suspirando, entrou no banho.

 

Went through your drawers / Passei pelas suas gavetas

And I found your cologne / E achei a sua colônia

 

Sua memória vagava pelas vezes em que tomara banho com Camus ali. Sempre era uma briga pela temperatura, portanto ele se banhava primeiro enquanto Camus esperava. Por vezes o ensaboando, lavando seus cabelos, desembaraçando com uma paciência que ele achava encantadora. Após o término de sua higiene, Camus desligava o chuveiro e então tomava seu banho tranquilo, enquanto um Milo resmungão reclamava dos espirros de água a temperatura ambiente enquanto tentava retribuir os carinhos que recebera.

Adorava ver quando Camus ficava todo quieto ao ser ensaboado. Ou quando ele lavava sua cabeleira ruiva e Camus relaxava todo o corpo e sorria sem perceber, por conta do toque que ele fazia questão de manter o mais gentil possível.

Era engraçado ver como Camus ainda se mantinha cheio de recato e pudor diante dele. Mesmo depois de toda a intimidade conquistada, o aquariano sempre tentava evitar situações de nudez próximo de Milo. Fosse vergonha, fosse um meio de provocar, aquilo enfurecia e atiçava Milo em demasia. Nem de frente muitas vezes Camus ficava para ele num banho ou quando iam nadar nas praias afastadas do Santuário, sozinhos e longe da vista de quem quer que fosse.

E se ficava, tratava de cobrir sua intimidade com as mãos, mandando Milo se virar ou olhar para outro lado.

Aquilo enlouquecia o grego.

Ao sair do banho, Milo suspirou enquanto se secava de frente ao espelho que havia no recinto. Aspirava o cheiro do sabonete cítrico que tomava o ambiente, sabonete que o fazia lembrar mais ainda dele.

-Camus…

O francês quando tinha oportunidade, combinava as fragrâncias dos sabonetes com a dos perfumes ou colônias que usava. O resultado não podia ser outro, além de deixar Milo insanamente desejoso por arrancar as roupas de Camus onde quer que eles estivessem. 

Abriu um dos armários e encontrou ali o perfume que Camus usava na última vez que se viram. Se ele não o levara em missão é por que tencionava retornar em breve ao Santuário.

Mas já fazia muito tempo que não voltava. Pelo menos para Milo era muito tempo.

Um tempo dolorido e vazio.

 

Went down to the den1 / Desci até o limite

Found your cd's / Achei seus CDs

And I played your Joni2 / E toquei o seu Joni

 

Após sair do banheiro, Milo ficou vagando pelo quarto. Tentava em cada canto encontrar mais um pouco de Camus, um pouco qualquer que ajudasse a acabar com aquele vazio. Foi até o móvel em que o aquariano guardava seus livros e ficou ali, olhando as capas, pensando nas histórias que Camus lera, em como ele mergulhava de cabeça na leitura, esquecendo-se do mundo.

Havia alguns cd’s ali, próximos a um aparelho de som que era usado sempre no volume mais baixo, o suficiente para criar um ambiente tranquilo. Milo sentia-se irritado quando tinha que esperar que Camus terminasse uma leitura para que pudessem sair, enquanto tocava ao fundo uma música clássica ou em ritmo lento.

Daria qualquer coisa para se irritar daquele jeito com Camus ali, com ele.

Sentou-se ainda nu e folheou um livro de capa dura e escura, grosso. Uma história de um rei e um príncipe que se apaixonavam, debaixo de uma máscara de amizade.

Perdeu-se ali por alguns minutos, folheando o livro e identificando algumas situações parecidas que ele vivera com Camus.

-Camus...

A medida que as páginas iam sendo viradas, a atenção de Milo ficava mais presa a história. Logo ficou absorto, e como sabia que continuaria a leitura, decidiu colocar uma música como Camus faria se estivesse ali.

 

And I shouldn't stay long / E eu não devia ficar muito tempo

You might be home soon / Você pode chegar em casa logo

Shouldn't stay long / Não devia ficar muito tempo

 

-É melhor eu ir logo.

Espreguiçando-se uma vez mais, Camus se levantou. Vestiu-se sem pressa e após procurar por uma sandália, encontrou uma perdida debaixo da cama.

Sentia-se muito melhor. Agora tudo que queria era estar com Milo e acabar com aquela perturbação que o afligia.

E garantir que nunca mais ele ficasse naquele estado de novo.

O sol começava a diminuir sua intensidade. Logo menos escureceria.

Enquanto saia da mansão, ele pensava na reação do escorpiano. Com certeza ele não esperava por seu retorno hoje. Contaria com o fator surpresa para se sair melhor do que o que planejara.

Cada passo causava um descompasso em seu peito. Por que sentia tanta falta? Por que sentia como se não houvesse graça na vida sem Milo por perto?

Depois de tudo sabia a resposta. E bem claramente.

Por que não havia graça na vida sem Milo.

Nenhum ferimento doera tanto quanto, quando no submundo era torturado com a visão da dor de Milo por causa de sua morte.

Nenhum ferimento doera tanto quanto ver os olhos de Milo expressando a decepção ao encará-lo como espectro de Hades.

Nenhum ferimento doera tanto quanto quando viu Milo sorrir de satisfação ao reencontrá-lo em Asgard e teve que ataca-lo em seguida...

Ainda que fosse para protegê-lo.

Suas maiores dores eram causadas por ver a dor que ele causara a pessoa que mais amava em vida.

Mas havia um remédio. Bastava que ele expressasse... Tudo que guardava no peito, de forma que Milo entendesse e acreditasse.

Ele tinha que se apressar.

 

Would you forgive me love, if I danced in your shower? / Você me perdoaria, amor, se eu dançasse no seu chuveiro?

Would you forgive me love, if I laid in your bed? / Você me perdoaria, amor, se eu deitasse na sua cama?

Would you forgive me love, if I stay all afternoon? / Você me perdoaria, amor, se eu ficar a tarde inteira?

 

Era inadmissível que Milo não notasse sua presença. O que deveria estar acontecendo para que ele permanecesse tão distraído era uma incógnita para Camus. Desde que pusera os pés na Grécia Camus já perscrutara os arredores em busca da presença dele. O mínimo que esperava do escorpiano era que ele mantivesse vigília a espera dele...

Afinal ele chegou ao Santuário, se banhou, ainda que brevemente conseguiu descansar... E pode sentir a ausência de Milo, o cosmo oscilando, perturbado... Indagava o que Atena e o Mestre diriam sobre tal atitude do dourado.

Não podia acusá-lo de todo. Suprimira seu cosmo ao máximo, passaria despercebido facilmente por qualquer um dos amigos. Benditas horas de conversa com Saga de Gêmeos que não hesitara em dividir muito de sua experiência como guerreiro. Afinal, ficara por anos se passando por outra pessoa e o máximo que fizeram foi achar suas atitudes incomuns como Mestre...

Quando se encontrou diante de sua casa, não pode conter um sorriso. Após tanta espera, poderia finalmente estar com Milo. Não deixaria de ralhar com ele, obviamente, mas era parte do jogo dos dois.

Talvez uma sombra fosse mais barulhenta que Camus enquanto se encaminhava ao próprio quarto. Ao divisar a porta aberta, foi ainda mais sorrateiro do que vinha sendo, se é que isso era possível.

Com cuidado espiou porta adentro.

E teve que sacudir a cabeça ao ver o outro nu e tranquilo, com o olhar perdido pelo ambiente. Mas o chocante mesmo foi quando viu que ele inclinava a cabeça e lia um de seus livros.

“Atrevido...”

 

I burned your incense / Eu queimei o seu incenso

I ran a bath / Tomei um banho

 

Milo não conseguiu manter-se concentrado por muito mais tempo na história diante de si. Lembrava em demasia seu amor perdido e afastado.

Por que assim considerava sua relação com Camus. Perdida.

E afastada uma vez mais.

Ressurretos em definitivo. Livres para logo menos viver uma vida sempre sonhada, mas nunca crível de ser desfrutada.

Viver a vida.

-Se minha vida é você... Sempre foi...

A tristeza começou a se fazer presente uma vez mais. Caminhando até o armário, Milo ficou ali olhando, lembrando mais ainda de momentos distintos a cada peça de roupa disposta em frente a seus olhos.

Finalmente vestindo-se, o escorpiano sentou-se na cama. Não podia, aliás, não queria continuar se sentindo daquele jeito. Ultimamente só conseguia se sentir péssimo quando Camus lhe vinha a mente. Em um passado ainda que distante, o mesmo nome só lhe trouxe alegrias  e era sua motivação para viver.

Mas a culpa não era dele se aconteceram tantas mudanças. Ele permanecera fiel. Aos sentimentos todos, fossem bons ou ruins.

O que era um feito, diga-se de passagem.

Milo tinha prazer em ser fiel a Camus, ainda que o aquariano não exigisse isso dele. De forma direta.

Havia um orgulho quando dizia para si: voltarei para o meu...

Meu amor.

Meu amigo.

Meu amante.

-Minha vida... Meu Camus...

Precisava dar um jeito, uma vez mais. Dar um jeito de contornar todos os desvios no caminho deles, dar um jeito de acreditar novamente que eles podiam e deviam ficar juntos.

Por que se amavam.

Um sorriso iluminou seu rosto ao decidir por isso. Colocando-se de pé, ele arrumou parte da bagunça que fizera, quando seus olhos notaram algo.

Que nublariam seus pensamentos tão iluminados há pouco.

 

I noticed a letter that sat on your desk / Eu percebi uma carta que estava na sua escrivaninha

It said / Ela dizia

 

Quando se virou e reparou que uma gaveta do criado mudo ao lado da cama estava aberta, Milo foi fechá-la. Seus olhos de imediato bateram em um envelope com um brasão que ele conhecia.

E tinha verdadeiro asco.

O envelope estava aberto. O selo de Asgard em cera estava quebrado ao meio, indicando que Camus já lera seu conteúdo.

A raiva começou a fazer com que o sangue de Milo corresse mais rápido nas veias. Cartas de Asgard para Camus significavam apenas uma coisa.

Que aquele animal maldito –pois assim Milo o considerava- estava tentando manter contato com Camus.

E por que diabos Camus ainda falava com aquilo?

Tremendo, Milo estendeu a mão e pegou a carta. Parte de si não queria saber o que estava escrito ali, imaginava que seriam mais lamúrias daquele ruivo amaldiçoado.

Surtr.

O próprio Hades encarnado não lhe despertaria tanta raiva quanto o guerreiro deus que fora amigo de Camus. Mesmo após as breves explicações, Milo ainda mantinha um rancor enorme por Camus ter se aliado a Surtr e tê-lo atacado.

Segurando a carta Milo respirou fundo, ouvindo o coração bater forte. O que quer que fosse que estivesse escrito ali boa coisa não seria, e isso ele tinha certeza.

Mas a curiosidade venceu. Puxando a carta para fora do envelopel, Milo desdobrou aquele pedaço de papel que só poderia ter sido enviado das profundezas do inferno e começou a ler:

 

"Hello, love / "Oi amor

I love you so, love / Eu te amo muito, amor

Meet me at midnight" / Encontre-me à meia-noite. "

 

“Camus,

Espero que esteja indo bem em seus afazeres. A primeira coisa que pensei ao acordar foi em você. Sei que devemos ser gratos aos deuses por termos revivido, mas me sinto incompleto sem sua presença. Ainda mais depois de tudo que vivemos após nosso reencontro... Por mais breve que tenha sido, foi de extrema importância para mim.

Eu ouvi por acaso que Atena enviará emissários a Asgard para fazer alguns acertos com a Srta. Hilda. Um deles com certeza será o Leão, e eu torço intimamente para que o outro seja você. Assim eu poderei vê-lo novamente.

Não finja que não sente nada por mim, Camus. Eu te amo, sempre te amei e não creio que você ficaria ao meu lado se não sentisse o mesmo. Eu sei que me ama também, eu o vi várias vezes com o olhar perdido na paisagem, suspirando por medo de se declarar. Por isso se sobressaltava quando eu me aproximava, não é? Pode confessar seus sentimentos a mim, eu sei que são recíprocos. Eu te amo como nunca pensei que seria capaz de amar alguém. E você sabe muito bem que o meu amor sim é perfeito para você, não é como aquele desvairado...”

-Desvairado... DESVAIRADO É O SEU...

“... do cavaleiro de Escorpião. Eu sei respeitar seu silêncio, sua ausência aparente - por que sei que é apenas aparência, certo? – e todas as suas manias. Meu amor por você é completo, sensato, respeitoso e cordial. Não é movido a birra, teimosia e insanidade de uma paixão mal resolvida. Portanto, venha para Asgard. Venha para mim, seu único e verdadeiro amor. Encontre-me no lugar em que nos vimos de novo após tantos anos. Esperarei todos os dias lá a partir de hoje, por volta do mesmo horário. Se não me engano era perto da meia noite...

Até breve, meu Camus.

Seu para sempre,

                                                                                              Surtr”

 

And no, it wasn't my writing / E não, não era a minha letra

I'd better go soon / É melhor eu ir logo

It wasn't my writing / Não era a minha letra

 

Camus observava Milo com singela alegria. Acompanhou cada movimento, e ao ouvi-lo dizer que ainda era “Seu Camus” sentiu no peito o espalhar de uma onda de alegria e de certa forma, alívio. Mas logo em seguida percebeu Milo mudar da água para o vinho. Bastou se esticar um pouco mais por trás da porta para entender o motivo do cosmo do escorpiano estar fervendo de ódio de repente.

“Surtr se colocando entre nós outra vez...”

Milo tremia parado no mesmo lugar. Ninguém mandaria, na opinião dele, uma carta daquelas se não houvesse um mínimo de correspondência. Sua vista ficou turva por conta das lágrimas que começaram a brotar sem que ele conseguisse refreá-las.

Para ele tudo fazia sentido naquele momento. Camus nem hesitara em se afastar por causa daquilo então. Ele estava em Asgard, e estava com Surtr.

Estava lá, dando seu amor, seu corpo, sua alma, seu tudo para aquele ruivo bastardo, aquele ser impuro e sórdido como uma serpente traiçoeira, aquele...

-Quer parar de pensar tanta besteira?

-Besteira? Claro, a besteira é minha de ter acreditado que um dia eu me acertaria com o Camus, eu sabia que no fundo ele nunca me amaria como eu o amo. Eu sou um idiota. Eu... Preciso ir embora, preciso...

-Milo!

O grego estacou ao se virar e dar de cara com Camus. O ruivo o encarava com o olhar gélido de sempre, os punhos fechados e uma expressão que ele vira poucas vezes ao longo da vida. A surpresa dissipou por um minuto a raiva de Milo.

-Ca... Camus... É você mesmo?

-Não. Sou uma ilusão formada pelo golpe do Gêmeos na sua cabeça perturbada. Claro que sou eu.

-O que você... Quando...

-Se for fazer a pergunta estúpida do que estou fazendo aqui a resposta é óbvia: essa é minha casa. E se for perguntar quando eu cheguei, não tem muito tempo.

Milo piscou algumas vezes, boquiaberto. Se havia algo que ele não esperava era se deparar com Camus naquele momento.

-Mas... Onde você estava?

Camus revirou os olhos.

-Eu volto para cá ansioso em ver você, esperando por uma das suas recepções exageradas e te encontro fuçando nas minhas coisas e quase tendo uma crise nervosa. Achei que seria recebido com uma declaração de saudades e você vem querendo saber onde eu estava?

Milo não estava conseguindo raciocinar muito bem. Seu coração, seus instintos, seus desejos, todos mandavam que ele fizesse apenas uma coisa.

Se jogasse imediatamente em cima de Camus.

-Ansioso em me ver...

Camus ficou impaciente por um segundo.

-Mas é claro. Ficou bobo de repente?

-Mas... Você... Asgard... Surtr...

-Pare de criar histórias que não existem a não ser nessa sua cabeça afobada. Eu não tenho nada com Surtr. Aliás, nunca tive nada além da amizade.

Milo fechou a cara, sua expressão ficando sombria.

-Não é o que ele disse aqui.

-Mas a minha palavra deve bastar para você. Se eu digo que não tive, é assim que é.

-Não acredito.

Camus estreitou os olhos.

-Não está insinuando que eu sou um mentiroso, está?

Camus precisava de tão pouco para intimar as pessoas que chegava a assustar. Milo abrandou um pouco, mas ainda assim rebateu:

-As palavras desse infeliz aqui são de um completo apaixonado. Que só continua assim por que teve algo com a pessoa para qual enviou essa carta. Nega isso?

-Não.

O tom tranquilo inflamou a ira de Milo que explodiu em um rompante de cegueira causada pelo ciúme.

-Então é verdade. Você ficou com aquele merda. Ficou com aquele pedante, achou que ele era melhor do que eu, por isso se aliou a ele, claro, estava defendendo seu novo namorado, só pode ser isso. Como eu pude ser tão burro? Eu devia enxergar assim que vi vocês juntos, por isso me atacou como se eu fosse um qualquer, por que na verdade eu nuca representei nada pra você além de um estorvo, óbvio, se eu tivesse prestado atenção no seu jeito comigo ao longo dos anos eu teria visto, mas eu tinha que me fazer de cego, lógico, eu sou um tonto mesmo, eu devia...

-Pelos deuses do Olimpo, cale essa maldita boca Milo de Escorpião.

Milo respirou fundo, assustado com o tom de Camus.

-Eu juro pelo rio Estige que se você abrir a boca enquanto eu for falar, te congelo num esquife que nem o próprio Zeus vai conseguir destruir. Fui claro?

Os olhos de Camus faiscavam de um jeito inédito para o escorpiano.

-O que eu não neguei foi o fato de Surtr estar apaixonado. O que não significa que eu correspondi a esse sentimento. Eu nunca tive nada com Surtr a não ser um sentimento de dívida, uma espécie de amizade que ele deturpou de muitas formas.

Milo encarava Camus, a raiva ainda se espalhando por cada gota de sangue do seu corpo.

-Eu fui a Asgard sim junto com Aioria. Fomos tratar das alianças de Atena e Odin. E deu tudo certo. Obviamente Surtr confundiu as coisas, achou que eu estava indo lá por ele. Foi uma cena... No mínimo triste.

-Triste?

-Sim. Eu falei de forma bem clara que não havia espaço para ele na minha vida. Não do jeito que ele pensava. Aliás, se você fosse pouca coisa mais enxerido do que já é, poderia saber o que eu disse a ele.

Milo franziu o cenho, confuso com o que Camus acabara de falar.

-Como é? Eu saberia...

Camus se dirigiu até próximo de Milo, e sua expressão era tão assassina que ele recuou um passo. O ruivo esticou a mão e pegou uma folha de papel de dentro da escrivaninha. Estendeu-a ao escorpiano que o olhou sem entender.

-Leia. Minha resposta a Surtr.

-Sua... Sua resposta?

-Pare de ficar repetindo o que eu digo e leia de uma vez.

Milo roçou sua mão na de Camus ao pegar a carta que continha a resposta ao guerreiro deus. Um arrepio subiu por seu braço.

-Em voz alta, por favor.

 

So forgive me love If I cry in your shower / Então me perdoe, amor, se eu chorar no seu chuveiro

 

“Surtr,

Antes de tudo, preciso deixar claro uma coisa. Eu NUNCA (espero que tenha frisado bem o NUNCA) amei você além do jeito fraterno. Eu tive em você um amigo, sim. Mas não ficamos unidos por um cálido e afetuoso sentimento de amizade, e sim por uma grande culpa de minha parte por ter ferido sua irmã e pela sua mesquinharia em tentar me manipular com chantagens emocionais. Isso não foi saudável a nenhum de nós, e confesso que quando sucumbimos naquela câmara, considerei um alívio estarmos entregues uma vez mais aos braços da morte. Assim não mais lidaria com esse lado seu e muito menos meu.

Vou muito bem em tudo por aqui. A primeira coisa que pensei ao acordar foi em Milo. Você falou sobre se sentir incompleto, então entende como eu me senti ao despertar sem a presença dele ao meu lado.

Eu atualmente não sinto nada por você Surtr. Considero-me livre de quaisquer mazelas do passado, e assim posso seguir em frente. Eu amo Milo, sempre amei e não creio que ficaria ao lado de mais nenhum outro homem. Eu sei que o amo mais do que a mim. Se me viu várias vezes com o olhar perdido na paisagem, suspirando por algo, saiba que se havia medo, era medo de me declarar a Milo. Eu tinha medo de fazê-lo e perdê-lo. Por isso me sobressaltava quando você se aproximava. Por que estava me atrapalhando enquanto pensava em como acertar as coisas com ele. Eu confesso meus sentimentos agora que já percebi a falta de sentido em meus temores. Eu amo Milo de Escorpião como nunca pensei que seria capaz de amar alguém. E você sabe muito bem que o meu amor com ele é perfeito.

Milo sim sabe me respeitar. Seja no silêncio, na ausência aparente ou em todas as minhas manias. Nosso amor é completo, e se alguém deve achar respeito e cordialidade em algum lugar somos eu e ele. Não é nem nunca foi uma paixão mal resolvida o que temos. Portanto, siga em frente e me esqueça. Viva sua vida e me deixe viver a minha em paz com o meu amor. Por que quando eu puder encontrá-lo irei fazer o que nunca fiz por toda nossa vida: explicitarei tudo que sinto e deixarei claro que nunca houve nem nunca haverá ninguém além dele...”

A essa altura as lágrimas escorriam sem controle pelo rosto de Milo. Emocionado ele encarava o aquariano.

-Então...

 

So forgive me love for the salt in your bed / Então me perdoe, amor, pelo sal na sua cama

 

-Eu preferi dizer isso pessoalmente já que enquanto escrevia essa resposta, soube que iria a Asgard junto com Aioria. Nem tive tempo de guardá-la devidamente, saí às pressas, mal pude encontrá-lo para me despedir...

-Isso... Isso que você disse é... Verdade?

Camus se aproximou tirando o papel das mãos de Milo e tomando-as nas suas. Ele o encarou com ternura no olhar.

-Cada palavra. Só estou tentando achar uma forma de dizer tudo que sinto de um jeito claro o bastante para que você não duvide de mim.

-Ca... Camus...

Respirando fundo, o aquariano finalmente se viu diante da hora mais aterrorizante de toda a sua vida.

-Milo. Eu te amo. Como sempre tive medo de amar alguém por medo de perder, eu evitava estreitar laços, me aprofundar em sentimentos. Mas eu te perdi... E sim, eu sei que a culpa foi minha em todas as vezes. Eu só queria poder ter a certeza de que nunca te perderia. Mas nunca poderemos ter certeza nenhuma na vida, a não ser de que morreremos. Apesar de que nós voltamos a vida algumas vezes...

Milo sorriu. Camus limpou algumas lágrimas de seu rosto com a ponta dos dedos.

-Eu percebi que minha maior dor era saber que eu te causei dor. E estou decidido a nunca mais permitir que isso aconteça, se você me permitir estar com você. Eu posso não ser tão divertido quanto você, nem tão atraente ou sociável... Mas me esforçarei ao máximo para ser agradável aos seus olhos. Não por culpa ou arrependimento, mas pelo prazer de vê-lo sorrindo. Por que se há algo que me faz feliz, é saber que você está feliz.

-Camus...

Milo sorria, seus olhos molhados formando rugas de tão apertados que estavam. Sentia-se como se fosse explodir a qualquer momento.

-Me chame de egoísta se quiser, mas eu só serei feliz se souber que você está feliz, e eu decidi que quero aproveitar o melhor dessa nova chance de viver. Portanto Milo, espero que aceite um pedido de perdão por toda a dor que eu causei. Se o fiz de forma covarde, não posso te pedir que entenda, mas ao menos tente aceitar que o medo me fez agir como agi. Medo de perdê-lo. De me perder sem você. Medo puro.

-Pare de me fazer chorar.

-Creio que pelo menos dessa vez, a razão é diferente das anteriores, não?

Milo puxou Camus para junto de si, e o abraço não foi apenas de corpo, mas sim de alma. Ambos suspiraram ao enfim sentirem-se completos.

Um silêncio confortável da parte dos dois tomou o ambiente, que tocava uma música clássica ao fundo. Ouviam suas respirações, sentiam o calor dos corpos unidos, respiravam profundamente os perfumes da pele um do outro.

E com certeza o paraíso deveria ser aquela mistura de sensações.

 

So forgive me love If I cry all afternoon / Então me perdoe, amor, se eu chorar a tarde inteira

 

Camus tomou o rosto de Milo entre as mãos. O loiro mantinha o olhar fixo no amante.

-Acredita em mim?

-Claro que acredito.

-Acredita no meu amor?

-Sempre acreditei. Por isso me ressenti tanto, por me recusar a aceitar que o amor que eu sempre acreditei ser puro seria capaz me trair.

-Milo...

A medida que os rostos iam se aproximando, os olhos iam se fechando. O hálito deles se misturava, morno e familiar.

As bocas ansiosas tocaram-se levemente, levando um arrepio delicioso através do corpo dos dois. Os gemidos foram involuntários, e os corpos se abraçaram, envolvendo-se em um aperto a muito ansiado.

Do rosto, as mãos de Camus escorregaram para a nuca de Milo, acariciando gentilmente a cabeleira loira e cacheada. As mãos de Milo passeavam pelas costas de Camus, e quando suas línguas gentilmente se tocaram, o mundo parou uma vez mais.

Deixando que os sentidos os dominassem, eles se entregaram em definitivo ao sabor daquele amor que superou as dores da vida e da morte. Se entregaram em definitivo um ao outro, sem medo do futuro ou de fantasmas do passado. Se entregaram a plenitude do amor que sentiam um pelo outro, e dessa vez desfrutavam disso sem nenhum tipo de impedimento.

Quando o corpo começou a clamar por ar, encostaram as testas e ficaram sorrindo, se olhando, Camus gargalhando baixo, de um jeito que somente Milo conhecia, de um jeito que era único e exclusivo dele.

-Eu quero você.

-Sou todo seu Milo.

O escorpiano não cabia em si de felicidade.

-Repete isso, por favor.

-Sou todo seu Milo. E para sempre.

Milo afagou o rosto alvo, ao que Camus encaixou o rosto na palma de sua mão e fechou os olhos, soltando um suspiro apaixonado. Seus lábios deslizaram um pouco, e ele beijou a mão que sempre se encaixaria perfeitamente a sua.

-Não consegue imaginar como senti falta de você.

-Acho que consigo.

Camus deu um sorriso e arqueou uma sobrancelha.

-Acho que sentiu falta mesmo. Afinal estava usando o meu quarto ao invés do seu. No mínimo deve ter mexido nas minhas coisas, deitado na minha cama...

Milo revirou os olhos.

-Não é possível que você vai estragar o momento mais lindo da minha existência reclamando por eu estar tentando matar a saudade que sentia de você.

-Mexer nas minhas coisas não mataria sua saudade. A probabilidade maior com certeza seria de me deixar extremamente irritado quando eu descobrisse, pensando em mil maneiras de castigar você por ser intrometido.

-Poxa Camus...

-Mas eu acho que faria o mesmo, ainda que de forma mais discreta... E de qualquer forma, eu sou seu de todo jeito. Minha casa é sua, mesmo que ainda tenhamos que acertar alguns limites. E quando sairmos do Santuário e formos morar na nossa casa...

Milo arregalou os olhos. Afastou-se alguns centímetros encarando Camus, surpreso.

-Como é?

-O que foi?

-Nossa casa ao sairmos do Santuário?

-Claro. Não vai morar comigo?

-Camus, que história é essa de sair do Santuário?

-Há é... Digamos que Atena acha que não é mais necessário que seus cavaleiros residam no solo sagrado. Ser cavaleiros será nossa identidade secreta. Vamos poder viver no mundo “normal”, escolher profissões, esse tipo de coisa.

-Espera... Então... Você quer?

-Quero o que?

-Morar comigo?

-O normal não é que um casal more junto?

-Casal...

-Milo, essa sua mania de repetição está me irritando. Casal oras, somos o que? Ainda que eu ache a nomenclatura de Marido e Marido um tanto estranha, não me importo com o rótulo. Me importo em te ver feliz ao meu lado.

De repente tudo girou. Camus sentiu a mudança no ar e teve que sorrir quando se viu jogado na cama.

-Ei!

-Depois de falar tudo isso, não acha mesmo que vou conseguir conversar mais não é?

O olhar de Milo era de uma presa. Uma presa faminta.

E Camus adorava quando Milo o encarava daquele jeito.

-Acho que não... Mas tudo bem, teremos a vida inteira pra conversar.

Mil já estava em cima de Camus, beijando seu pescoço e o provocando, quando Camus o virou na cama, trocando as posições. Milo arregalou os olhos, surpreso.

-O que foi?

Camus deu um sorriso cheio de significado.

-Antes de qualquer coisa, eu vou ter que acabar com o ar dos seus pulmões. Prepare-se para o beijo da sua vida.

Milo sorriu. Um sorriso que externava o que se passava no seu coração.

-Estou pronto desde que cruzei meu olhar com o seu pela primeira vez.

-- --

Após uma noite que não poderia ser classificada como nada menos do que perfeita, Camus acordou sentindo-se inteiramente renovado. O coração alegre renovara toda a sua saúde física e mental. Espreguiçou-se sentindo-se feliz como nunca se permitira e olhou para o lado.

-Por Atena, já passou e muito da hora do almoço!

Sentou-se rápido e só então percebeu Milo nu, de costas, com os braços cruzados e encostado a janela. Olhava para fora, a expressão de quem estava longe.

Chegando por trás, Camus o abraçou e o escorpiano se sobressaltou por um segundo, relaxando em seguida.

-Podia ter me acordado.

-Não quis. Você dormindo é lindo.

-Você que... Ei, o que foi?

Milo secou o rosto com as mãos de forma rápida.

-Milo? Por que está chorando?

-Droga...

-O que foi?

-Não queria que me visse chorando outra vez.

-Mas... O que... Por que esse choro? O que acon...

Aboca de Camus foi tomada com urgência pelos lábios do escorpiano, que não desgrudou do francês até que o ar faltasse.

Meio zonzo, Camus encarava o amante.

-O que...

-Acho que vou chorar a tarde inteira.

-Por quê? Pelos deuses, me diga...

O abraço seguido de um suspiro no ombro só fez Camus relaxar quando ouviu Milo dizer:

-Por que minha alegria não cabe só em sorrisos.


Notas Finais


Link da música que embala a fic:

https://www.youtube.com/watch?v=YlRIz9W_4Wg

Não tem um clipe oficial e essa foi a versão mais legal que achei ^^
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1)As traduções que apareceram seriam até sua “cova” ou “guarita”, resolvi adaptar assim para fazer mais sentido rs

2) Joni Mitchel é uma cantora canadense de sucesso da década de 70 que ainda hoje é considerada uma das melhores dos últimos tempos e é a pessoa citada nesse trecho da canção. A música que eu imagino o Milo ouvindo enquanto lê é essa do link, chama-se Blue:

https://www.youtube.com/watch?v=w5782PQO5is

-- -- --

E aí? Gostaram? Poderiam animar esse autor conversando com ele e dizendo o que acharam? Me fariam muito feliz rsrsrs

Por hoje é só, e imagino eu que por 2016 não tem mais shot de CDZ...Mas quem sabe? hahaha

Obrigado por ter chegado até aqui, e se for comentar e favoritar receba meu OBRIGADO antecipado viu?

Beijos e abraços, e até mais!

Eric Rafael 11/11/2016


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