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História Your lie in April - Monotone


Escrita por: Jyudaime

Notas do Autor


Oi gente! :3 Espero que gostem! É a minha segunda fanfic e é a primeira vez que faço algo envolvendo o Yoongi e o Jin.

Capítulo 1 - Monotone


Mais um dia em que eu tinha que me levantar da cama sem a menor vontade para tal, mas a vida era exatamente isso, algo que muitas vezes não entendemos como funciona mas somos obrigados a trilhá-la sem saber o que virá pela frente. Talvez tenha apenas uma estrada escura ali, mas ainda tentava acreditar e seguir em frente. Era o que eu fazia todos os dias, me agarrava a algo invisível e me deixava ser levado por ele.

Era o primeiro dia de aula de meu último ano no colégio, e eu ainda não sabia o que deveria fazer no futuro. Andei pelos corredores vazios da casa onde morava, quase ensurdecido pelo silêncio doloroso que meu lar me presenteava. Já fazia três anos que eu estava por minha conta e ainda me sentia sozinho. Ás vezes parava angustiado em frente ao quarto de meus pais, observando o cômodo intocado e cheio de lembranças como se esperasse alguma resposta dali, mas era algo que eu não teria mais.

Não demorei mais que alguns minutos para estar pronto, usando o mesmo uniforme que esteve comigo nos últimos anos e recolhi minhas coisas, tomando meu rumo para o colégio. Estudei nos últimos anos no mesmo lugar, mas não fazia tanta diferença já que eu não me envolvia com muitas pessoas. Sempre fui alguém reservado mas era um ótimo observador, e isso fazia com que eu fosse uma pessoa muito dedutiva e solitária. Andei pelo menos uns vinte minutos até chegar ao meu destino, o Colégio Gangbuk, onde apenas garotos eram admitidos e onde eu estudava. Estava me despedindo já que me formaria ao final desse ano, mas não me entristecia. Aquele colégio nunca havia me dado mais do que dor de cabeça, eu nunca havia feito sequer um amigo ali, e eu não precisaria disso agora.

Chequei a lista na entrada do colégio para ver as distribuição dos alunos em suas novas turmas, e segui sem animação para a classe onde eu ficaria no resto do ano. Achei o lugar perfeito, na última carteira ao lado da janela e fui direto me sentar ali, e quieto ao arrumar meu material sobre a mesa, observei a sala. Muitos grupinhos se formavam ao meu redor, e eu me via ali, completamente sozinho entre sorrisos e divertidas conversas de estranhos.

Não demorou para que em alguns minutos alguém se sentasse ao lado dele. Olhei para o lado sem muito ânimo e vi o rapaz ali, alguém cujo eu nunca havia visto naquela escola, caso contrário me lembraria. Tinha ombros largos, bem maiores que os meus e não vi quando chegou, mas parecia ser bem mais alto também. Era muito provavelmente o garoto mais bonito da escola,  com seus cabelos loiros penteados e o rosto perfeitamente desenhado. O fitei por alguns segundos que me pareceram horas e voltei minha atenção para outra coisa que não fosse ele. Me senti estranho ao seu lado, talvez por ser uma pessoa nova.

– Ei… Desculpa… – O ouvi dizer e o ignorei achando que não era comigo até vê-lo balançar a mão bem próxima do meu braço.

-– Hm? - Respondi, tentando não parecer interessado e o olhei de cima a baixo com a expressão apática.

– Eu sou novo aqui… Me chamo Seokjin. Kim Seokjin! – Ele sorriu de forma simpática e iluminada.

Fiquei pensando se ele já havia sofrido na vida, já que nunca havia visto ninguém sorrir daquele jeito, o que me deixava um pouco mais mal humorado. Sorri por apenas uma fração de segundo e voltei a velha expressão desanimada ao me dirigir para o rapaz. Dei os ombros e suspirei, assentindo.

– Hm… Ok.

– Não vai me dizer seu nome? – Perguntou curioso.

O observei mais uma vez, suspirando sem querer prolongar a conversa. Por que pessoas como ele eram daquele jeito? Eram sorridentes, educados, prestativos, bonitos e sociáveis. Eu nunca seria assim, e sentia que o rapaz brilhava tanto que ofuscava minha visão de uma forma irritante. Não sabia como chamar aquilo, apenas me privei de pensar no assunto.

 

– Min. Min Yoongi.

 

– Min Yoongi… – Sorriu de forma brilhante e assentiu. – É um prazer te conhecer.

 

Voltei minha atenção para a janela ao meu lado sem lhe responder, observando dali a paisagem ensolarada do lado de fora. Não queria admitir que por dentro eu havia sentido alguma coisa… Algo que eu não sabia o que era. Pela primeira vez eu me sentia curioso sobre alguém que não fosse eu mesmo, e isso me deixava assustado e ligeiramente incomodado. Eu não queria nenhum amigo, não precisava de algo assim. Em um ano eu me veria livre das amarras do colégio e poderia fazer qualquer coisa - que eu não sabia o que era - mas teria o gosto de um pouco de liberdade.

Não prestei atenção na aula, e por um instante até cheguei a cochilar. Cheguei até a sonhar com o conteúdo da aula e despertei já no final da mesma. Haviam poucos alunos na sala se preparando para o lanche, então, me sentindo sem fome, fui perambular pela escola como fazia sempre. Mesmo que eu não tivesse um destino em minha mente, meus pés sempre me levavam na mesma direção: A sala de música. Durante anos eu estive ali naquela sala, e como o único membro do Clube de Música que havia restado depois que os antigos poucos membros se graduaram, era meu trabalho manter o clube ativo. Mas… Eu não sabia se era isso que eu queria.

Peguei a chave em meu bolso e abri a porta cuidadosamente, olhando com certa nostalgia a sala vazia. No centro dela havia um piano de cauda, era com certeza meu instrumento favorito dentre todos ali. Me aproximei devagar depois de fechar a porta atrás de mim e sentei em frente a ele. O chamava de "Black Lake", e era o mesmo piano que costumava me fazer companhia nos em dias estressantes naquele colégio.

Meus dedos deslizaram sobre as teclas perfeitamente alinhadas de forma delicada, como se eu lhes pedisse permissão educadamente. Toquei algumas notas preguiçosamente, mas em apenas alguns segundos as mesmas notas tímidas cresceram numa melodia aconchegante, que tomou a sala ao meu redor. Era raro me sentir daquela forma, a não ser quando estava tocando. Eu era praticamente um profissional: Minhas músicas esbanjavam técnica e melancolia, e o conjunto de notas se transformava numa extensão da minha alma. Tudo o que eu queria dizer estava ali, cada parte de mim que eu me recusava a gritar pro mundo… Todos meus sentimentos reprimidos. Ali eu me sentia livre, mas apenas em partes.

Não sei ao certo, mas passei alguns minutos distraído tocando o piano, e a minha vontade era de ficar ali. Totalmente envolvido pela música que eu mesmo tocava, mas no clímax da música, aconteceu novamente. A sensação era de total vazio e desespero, e era como se a música me deixasse. De repente, tudo estava preto no branco, e a sala se tornou silenciosa. Me sentia tocando no abismo, bem no fundo onde tudo era escuro. Olhei com certo desespero para minhas mãos, apressadas em tocar o instrumento sem produzir qualquer som… Era irritante. A coisa que mais me fazia feliz no mundo era agora o que me causava mais dor. Me afastei do piano, e percebi que não estava sozinho. Abri meus olhos e pelo reflexo da janela pude ver a porta atrás de mim aberta, e uma silhueta a me observar. Quase caí do banquinho ao me afastar um pouco mais do piano, cessando completamente aquele drama que vivia e me virei rapidamente como se houvesse sido pego em flagra fazendo algo errado, contemplando a figura parada a porta. Era Seokjin.

Suspirei nervoso e o encarei sem qualquer expressão, mas no fundo estava curioso. Fiquei em silêncio o observando parado próximo a porta, e este me observava de volta sem qualquer vergonha. Seus olhos vidrados em mim, e mesmo dali de longe pude perceber a admiração em seu olhar, me causando novamente algo em mim que eu não gostava.

– Isso… Foi incrível… – Disse pausadamente num tom de voz baixo enquanto se aproximava um pouco mais de mim. – Me desculpe ter te assustado.

Dei os ombros sem qualquer interesse e me virei novamente para o piano, tentando conter meu nervosismo na presença de alguém - que não fosse eu ou Black Lake - na sala. Minhas mãos tremiam de nervoso, e minha cabeça parecia que ia explodir de dor.

– Não é nada demais… – Comentei, olhando fixamente para as teclas do piano, que me pareciam tão sem graça no momento.

 

–  Como não é nada demais? – Ele se aproximou um pouco mais rápido e contornou o piano, me encarando agora quase de frente. – Sua música… A maneira como você toca… É simplesmente incrível.

Cocei a cabeça instintivamente, e suspirei quase em seguida, praticamente afundando no banco acolchoado ali. Abaixei a cabeça e nem sequer pensei direito antes de falar, mas as palavras saíram da minha boca sem qualquer dificuldade.

– Eu não escuto…

– O que? – Seokjin pareceu bastante confuso com a minha afirmação.

– A melodia… As músicas que eu toco… Eu não as escuto mais.

Seokjin pareceu não entender, mas quem iria?  Ri num sopro de forma irônica, me levantando devagar enquanto erguia meu olhar. O encarei meio nervoso, sem ter muito o que dizer. Eu não sabia usar bem as palavras pra me expressar completamente, e nos últimos anos parecia que eu tinha perdido o dom de me comunicar com as pessoas. Mas felizmente não precisei pensar muito, porque o som alto do sinal tomou conta de todo o colégio, indicando que a hora de pausa para o almoço havia chegado ao fim. Me dirigi sem demora para a porta e o olhei por alguns segundos, segurando a chave entre os dedos.

– Eu preciso fechar a sala…

– Ah! Ok ok!

O rapaz veio apressado, tentando sair da sala rapidamente para que eu pudesse enfim trancar a porta em silêncio. Por algum motivo, ele me esperou. E por algum motivo mais estranho ainda, me acompanhou até a sala de aula, mantendo até mesmo o ritmo de passos igualados aos meus. Me senti novamente estranho ao redor dele. Minha cabeça latejava ainda mais, e acabava me perguntando quantas vezes mais eu teria que aguentar esses surtos, quantas vezes eu ainda teria que sofrer. Não dirigi a palavra a Seokjin, entrando em silêncio na sala de aula e voltando para meu lugar habitual, e mais uma vez direcionei meu olhar para o lado de fora, onde vi o tempo passar devagar.

Ao final das aulas, arrumei apressado minhas coisas e sai rapidamente da sala, antes de praticamente todos os meus colegas, mas pelo o que vi Seokjin já havia ido embora também. Atravessei os longos corredores e escadas do prédio até me ver fora dos portões de entrada, então me acalmei e passei a andar um pouco mais devagar, sem pressa de chegar em casa, afinal… Ela estaria como sempre: Cinza, vazia, sem graça. Não havia nada nela que me fizesse querer correr de volta pra ela a não ser minha cama, que nem mesmo era confortável ou acolhedora como outrora.

Fiz um caminho diferente naquela tarde, um que não fazia há algum tempo. Dobrando algumas ruas eu chegaria numa pequena praça, onde geralmente só haviam crianças pequenas brincando nos poucos brinquedos ali. Era uma praça simples, mas o ambiente me deixava relaxado, e por incrível que parecesse, eu gostava de assistir as crianças brincando de maneira inocente. Pensava sempre que queria ser como elas, sem preocupações e com o coração  leve, sem qualquer culpa ou mágoa.

Cheguei a praça e vi algo que não era nem de longe comum, mas pude reconhecer aquelas cabelos loiros e o sorriso contagiante dali onde estava. Seokjin estava no centro de uma roda formada por algumas crianças, e tocava alegremente um violino. Fiquei paralisado por alguns minutos assistindo aquela cena, e nem percebi mas abri levemente a boca também, me sentindo anestesiado pela música. Seokjin me lembrou estranhamente a história do O Flautista de Hamelin, e me recordava bem já que por muito tempo foi contada pela minha mãe para que eu conseguisse dormir.

A história é ambientada na cidade de Hamelin, onde dizia a lenda que estava sofrendo com uma infestação de ratos. Um dia, chega à cidade um homem que reivindica ser um "caçador de ratos" dizendo ter a solução para o problema. Prometeram-lhe um bom pagamento em troca dos ratos - uma moeda pela cabeça de cada um. O homem aceitou o acordo, pegou uma flauta e hipnotizou os ratos, afogando-os no Rio Weser. Apesar de obter sucesso, o povo da cidade abjurou a promessa feita e recusou-se a pagar o "caçador de ratos", afirmando que ele não havia apresentado as cabeças. O homem deixou a cidade, mas retornou várias semanas depois e, enquanto os habitantes estavam na igreja, tocou novamente sua flauta, atraindo desta vez as crianças de Hamelin. Cento e trinta meninos e meninas seguiram-no para fora da cidade, onde foram enfeitiçados e trancados em uma caverna. Na cidade, só ficaram opulentos habitantes e repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza. E foi isso que se sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.

Me senti atraído pela música, e naquele momento eu desejei tocar daquela forma o meu piano, e me veio um amargo gosto da verdade, que me dizia que seria impossível tocar novamente uma melodia como aquela.  Enquanto os observava, nossos olhares se cruzaram, mas Seokjin continuou tocando alegremente.

Estávamos no início da primavera, e o vento se misturava as flores de cerejeiras que teimavam em se desprender das árvores ao redor. Eu não sabia definir aquilo, mas a cena era demais para os meus olhos. Tímido como eu era, me espantei de não desviar meus olhos dos dele. Ele sorria pra mim como se eu fosse precioso e bem vindo. Eu não me lembrava de ter me sentido tão acolhido por alguém em silêncio nos últimos anos. Senti meu rosto esquentar e tinha certeza de que eu estava completamente corado, embora meus olhos estivessem com a mesma expressão de sempre: uma mistura de desinteresse com uma certa frieza, mas não podia negar que meu coração estava batendo mais rápido naquele momento. Que tipo de sentimento era esse? Como eu deveria chamar esse tipo de sentimento? Eu acho que é provavelmente... Chamado de amor. Tenho certeza que isso é o que eles chamam de amor.

Balancei minha cabeça diversas vezes e corri pra longe dele sem olhar pra trás. Meu coração golpeava meu peito com batidas desesperadas, tentando me livrar de pensamentos tão impróprios, tão desconhecidos a mim. Voltei pra casa praticamente correndo pelas ruas, e entrei em casa quase desesperadamente. Tomei coragem para voltar ao meu quarto e deitei na cama, solitário em meio ao silêncio que parecia martelar meus ouvidos. Deitado em meu leito de confusão, ao fechar os olhos só conseguia imaginar Seokjin rodeado de pétalas de cerejeira. Como isso era brega! Eu nunca havia estado tão próximo de alguém, de forma tão íntima e ao mesmo tempo tão distante. Fechei os olhos, tentando entender porque a única coisa que eu conseguia enxergar era o rosto de alguém que eu havia conhecido naquele mesmo dia… Ele não saia de minha cabeça… Eu me sentia… Doente.


Notas Finais


Espero que tenham gostado! Pra qualquer coisa, meu twitter é @Protect_AgustD!
<3


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