Narrado por: Amane Misa.
Escutei Lysandre chegar, mas eu já estava quase dormindo, então não falei com ele. Sim, eu dormi as sete horas da noite. Acordei e o vi deitado na cama dele. Levantei do colchão, fazendo um barulho imenso. Olhei para meu celular, que estava em cima da cômoda, eram 06:47 da manhã. Havia uma notificação de nova mensagem, desbloquei-o e abri o SMS.
[05:12] <Private Number> Não vá para a escola hoje, creio que não vai querer reviver o seu inferno.
Que trote mais doido... Pensei enquanto pegava uma roupa no armário: saia azul escura que tinha um pequeno calção para usar junto, blusa preta e coturno preto. Fui para o banheiro me vestir, encarei o espelho e gostei do resultado gótico que ficou. Para completar, escovei os dentes e passei um batom preto matte. Eu ia até a cozinha, mas parei na sala. Minha tia estava sentada/deitada no sofá, com o controle na mão e o celular na outra, a TV estava ligada, mas sem volume.
- Tia? - toquei seu ombro, ela se assustou - Hey... Está tudo bem? - Tia Lindsay estava com olheiras profundas, cabelo desarrumado. Seu rosto estava inchado e triste, o que me faz pensar que ela chorou a noite toda.
- E-estou bem, obrigada. - ela passou a mão pelos cabelos, numa tentativa falha de arrumá-los - Você vai se atrasar para a escola! - ela beijou minha mão e levantou do sofá - Lysandre já foi? - ela olhou para o quarto.
- Está no sétimo sono, duvido que ele vá à aula. - ajeitei minha postura - Vou indo. Até mais, tia.
Ela acenou para mim, eu saí de casa, fechando a porta. A brisa fresca da primavera passou pelo meu corpo, causando arrepios. Minha saia insistia em ficar subindo, fazendo com que eu tivesse que andar a segurando.
☆
A escola já estava enchendo e Nathaniel não estava em lugar nenhum, isso já estava me preocupando tanto que descaquei o esmalte de uma mão inteira.
- Vai estragar toda sua unha assim. - Nathaniel apareceu, enquanto eu olhava para a tela do meu celular, decidindo se ligava para ele ou não.
- Onde você estava, seu animal? - o abracei - Quer que eu morra do coração? - me afastei, o olhando com raiva.
- Acho que eu dormi demais... - ele sorriu, derretendo meu coração - Animal? Sério? - ele debochou, às gargalhadas.
- Já que chegou, posso ir para o Grêmio. - lhe dei um selinho e fui para dentro do prédio, deixando um Nathaniel confuso para trás.
Abri a porta, as janelas e olhei as coisas que estavam distribuídas pela mesa do centro: matrículas, pastas, objetos confiscados, entre outros. Guardei os objetos no armário, ao me virar vi Debrah, a diaba, a cobra que fez minha vida virar um inferno.
- Olá, amore. - ela sorriu falsamente, revirando os olhos. Percebi que Castiel estava na porta, a esperando - Preciso da chave do meu armário. - Ela olhou para as enormes unhas, mas desviou os olhos para mim, que procurava a chave em um potinho cheio de chaves iguais - Soube que sua mãe morreu.
Olhei para ela, com raiva. Debrah não tinha limites, se ela quisesse fazer você odiar ela, conseguia com a maior facilidade.
- Deve ser bem difícil... - ela abriu um pequeno sorriso - Ela te aguentou por muito tempo.
Minha vontade era de fazer ela engolir aquele pote inteiro, mas só entreguei a chave para ela, tentando me controlar. Ela saiu rindo, com Castiel na cola. Respirei fundo, tentando parar de tremer de raiva.
- Um. Dois. Três. - contei, tentando me acalmar - Quatro. Cinco. SeisSeteOitoNoveDezOnze..! - joguei as pastas, que estavam na mesa, no chão. Chutei a cadeira, mas me arrependi no mesmo momento, gritei de dor.
- Amane, eu... - era Kentin, ele deve ter parado de falar ao ver tudo espalhado no chão e me ver apoiada na mesa, segurando o pé - Que furacão passou aqui? - ele riu, mas não demonstrou felicidade.
- Esse furacão se chama Debrah. - ele me olhou confuso - É isso mesmo que você ouviu: Debrah, a menina que fez a escola toda me odiar está aqui! - Kentin me encarou, entediado.
- Vai começar com essa história de novo? Ninguém acredita em você, Amane, pare de inventar mentiras... - ele suspirou -Até esqueci o que vim fazer aqui.
Ele vira para trás, esbarrando em Nathaniel, que brotou do chão. O sinal toca, fazendo com que Kentin saia correndo.
☆
Narrado por: Nathaniel Willis.
Confesso que fiquei com ciúmes de Amane estar com o Kentin, sozinha, no Grêmio, mas juro que mudei de ideia quando vi sua cara. Seu rosto exibia fúria, dor, tristeza, tudo junto e misturado. Ela estava apoiada na mesa, tentando respirar fundo.
- Você está bem? - toquei seu ombro. Ela virou a cabeça para mim, com os olhos lacrimejando.
- Nath... - ela ficou de frente pra mim, pegando minhas mãos - P-promete que v-ai acre-creditar em mi-m - ela implora, entre soluços sofridos e me abraça com força.
- Calma. - passo a mão por seus cabelos, tentando acalmá-la - Vamos conversar em um lugar mais arejado.
Fomos abraçados até o telhado, era uma pequena varanda no telhado que raramente era usada para algo. Amane sentou no chão com as costas na mureta. Sentei à sua frente.
- Eu preciso que me diga o que aconteceu para te deixar assim. - coloquei a mão em seu joelho e ela colocou a sua mão em cima da minha.
- Debrah entrou no colégio logo depois de mim, se já cruzou com ela, sabe o quão vulgar ela é. - ela respirou fundo e abaixou a cabeça - Na época eu namorava e tinha todos ao meu lado, mas ela resolveu me odiar... Ela levou Kentin para cama, virou meus amigos contra mim, até fez eu ficar doente. - ela sorri com ironia - Ela desde sempre namorou o Castiel, ou seja, ele sempre foi traído por ela. Eu sempre tento ajudar as pessoas, você sabe não é?
- Sei, você vai até o fim para ajudar alguém, seja lá quem for. - respondi, enredando meus dedos em seus cabelos, pulando com cada soluço dela.
- Eu tentei contar a verdade... - ela falou depois de um tempo - Mas nós tivemos uma terrível briga. Eu sempre estive certa, no fim de tudo, a Diabrah foi embora, enganando a todos, mas o que eles fizeram? Atacaram-me com xingamentos, dizendo que a culpa de ela ter abandonado o namorado idota dela era minha,pois eu sempre torci para o fim dos dois. - ela olhou no fundo de meus olhos, buscando ajuda - Nath, eu não vim para a escola durante um mês, pois tinha medo de apanhar. Minha mãe teve que me obrigar a vir para a escola... Eu odeio tanto aquela vaca, que diz ser mulher. Debrah, a diaba.
Ela apoiou a cabeça na mureta, respirando fundo, calmamente,para tentar se acalmar. O sinal bateu, avisando a última "chamada" para entrar na sala de aula. Ela passou as mãos pelo rosto, tentando secá-lo e ficar apresentável, levantou, ajeitando a saia. A abracei e beijei sua testa, dizendo as três melhores palavras:
- Eu te amo. - ela suspirou e me abraçou mais forte.
Fomos para a sala, todos a olhavam com curiosidade, pois o rosto dela estava muito inchado, seu cabelo ajudava a esconder um pouco, mas ainda era visível.
☆
Narrado por: Lysandre Misa
Por mais que eu tente me afastar das pessoas, eu não consigo deixar de pensar em Victoria, a garota do clube de pintura, que cheira a mel, ou algo natural. Ela é baixa, com um corpo digno de ser chamado de deusa, cabelos loiros acastanhados, sempre amarrados em um coque desleixado, seus olhos são verdes azulados. Victoria Hatfield ocupa meu bloco de notas, meus desenhos, meus pensamentos, minhas músicas e, mesmo que eu não queira, ela ocupa meu coração, que pula de felicidade toda vez que ouve sua voz suave.
Estou sendo bobo? Completamente, mas eu não ligo. Sinto que ela corresponde meus sentimentos e isso é ótimo. Semana passada quase pude sentir o gosto de seus lábios, se não fosse pelo gato, que havia feito um barulho alto, estragando o clima.
Hoje nós temos um encontro no parque. Estava tão ansioso que só consegui dormir de madrugada, quando estava quase amanhecendo, ou seja, estou super cansado e nervoso.
☆
Eu estava no lugar marcado, na hora marcada. Algumas crianças brincavam de pega-pega, outras na pequena pracinha que havia em uma das pontas do parque.
Começo a escrever uma tentativa de música, mas na segunda linha o bloco é puxado por ela.
- Descobrir o gosto de seus lábios / É como desvendar o maior segredo dos sábios... - ela me olha, sorrindo. Já disse que ela me envergonha facilmente? Não? Então, ela me faz corar muito, não importa com o que seja, se eu ficar um pouco envergonhado meu rosto já fica igual Marte.
- Quer um sorvete? - ela assentiu, me devolvendo o bloco de notas.
- Que tal dividirmos um milk shake grande? Não quero uma casquinha. - ela fez uma careta engraçada.
☆
Estávamos voltando para casa, ela ia cantando alto e desafinado mais a frente, eu só a encarava sorrindo, pensando em como seria poder beijar seu pescoço e vê-la arrepiar, ou como seria poder ter seus lábios só para mim...
- Perdeu alguma coisa? - ela estava parada, à minha frente, com a mão na cintura - Estou ficando envergonhada, senhor dos olhos heterocromáticos... - escondeu seu rosto com as mãos.
Me aproximei e segurei suas mãos, ficamos nos encarando, sem perceber já estávamos tão perto que pudia sentir seu hálito de chocolate. Sentir seus lábios foi uma explosão de sabores, os dois desejavam isso, dava para sentir. Suas mãos foram para meus cabelos, as minhas para sua cintura, as apertando levemente. Ela sorriu e eu aprofundei o beijo. Victoria acabou com o beijo para soltar uma risada nasal, que me fez ficar com muita vergonha.
- Estava esperando isso há tanto tempo... - ela sorriu, me abraçando.
Envolvi meus braços ao seu redor, colocando o rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro de... Ela tem cheiro de natureza! Fiz uma trilha de beijos na curva de seu pescoço, ouvindo ela suspirar e me apertar cada vez mais. Me afastei e dei-lhe um selinho. Ela fechou os olhos e sorriu de canto, fazendo-me abrir um grande sorriso.
☆
Narrado por: Amane Misa - Três semanas depois
Lysandre desencalhou! Foi meu pensamento quando me contaram de seu namoro. Finalmente, ele havia encontrado sua princesa, que realmente merece ele.
Meu namoro com Nath está cada vez melhor. Trocamos muitos beijos e abraços essa semana, ele me deu várias flores e chocolates.
Hoje tínhamos que nos encontrar atrás da escola, pois hoje eu teria aula integral, ou seja, minha turma ficaria dez horas nessa maldita escola, mas, em vez de entrar as sete horas, entramos as nove horas, é justo? Não sei.
- Senhorita Misa, poderia prestar atenção na aula? - reclamou a professora Jullie.
A olhei, pedindo desculpas, mas fiquei pensando em Nathaniel... Em seus olhos amarelos, em sua camisa social sempre ajeitadinha, em seu carinho, em sua demonstração constante de segurança. Obviamente, Rosalya me tirou de meus devaneios.
- Tem encontro hoje? - ela fez cara maliciosa.
- Não sei... - respondi, sorrindo.
- Não sabe nem disfarçar a alegria... - ela riu, debochando.
Tive mais duas horas de teste surpresa, que terminei em trinta minutos, o que me fez ser liberada primeiro.
Cada passo que eu dava, mais ansiosa eu ficava. Guardei meus materias em meu armário e respirei fundo. Tentei acalmar meu coração, mas é impossível quando estou pensando nele.
Pisei para fora da escola, caminhando até a esquina, quando eu vi ele... Por quê? Sempre ela! Nathaniel estava agarrando a Debrah com muita vontade, ele nunca foi assim comigo. Bati palmas, fazendo Nath, digo, Nathaniel empurrar ela.
- Mais um para coleção, hein? - sorri, mas estava chorando - Podem continuar o que estavam fazendo. Espero que peguem uma doença contagiosa. - gritei, voltando para frente da escola.
Depois que estava em uma distância segura, saí correndo sem rumo. Quando percebi estava dentro do cemitério, tentando lembrar onde minha mãe está enterrada.
Desabei em cima de sua sepultura, tentando senti-la. A coisa que eu mais gostava nela era o quanto ela transmitia segurança.
- Como ele pôde? - perguntei para o nada - ONTEM EU BEIJEI ELE, DIZENDO EU TE AMO! - berrei com dificuldade, ainda chorando.
Ouvi alguém fungar. Escorreguei para o chão me encostando no concreto, escondendo o rosto.
- Amane? - uma voz masculina pergunta. Levanto minha cabeça e vejo Armin, com os olhos inchados - Oh, céus. O que houve com você? - ele se ajoelhou na minha frente.
O abracei molhando sua camiseta com minhas lágrimas, que ainda insistiam em sair e pude ouvir ele soluçar também.
- O q-que hou-e com você? - perguntei, secando suas lágrimas.
- Acho que você precisa conversar mais, huh? - ele me olho sério - Não quero falar sobre mim.
- Desculpe... - sequei meu rosto, respirando fundo - Eu, isso mesmo que você vai ouvir, acabei de ver meu namorado com outra! - falei, um pouco alto demais.
- Debrah? - assenti, tentando não chorar - Aquela mulher é uma vagabunda! Fica dando em cima de todo homem que olha para ela. - ele passou a mão pela minha bochecha - Se seu namorado ficou com ela, ele não te merecia. - ele sorriu de canto e corou.
- Ah, diga isso para meu coração... - fechei os olhos, suspirando.
Ele começou a fazer movimentos circulares nas minhas bochechas, me olhando profundamente, o encarei de volta. Ele se aproximou, fazendo com que eu sentisse seu hálito de menta.
☆
Narrado: Armin Lancaster.
Não sei por que fiz aquilo, mas a beijei. Me aproveitei de seu momento frágil. Ela correspondeu, fazendo formar uma corrente elétrica. Me afastei rapidamente, totalmente vermelho.
- Desculpe! - coloquei a mão no rosto, envargonhado - Eu não devia ter feito isso, Amane... Me aproveitei de você.
- Armin... -ela chamou, mas não prestei atenção.
- Parabéns Armin! - levantei do chão, batendo com a mão em minha testa - Isso mesmo, Armin! Beija a menina que acabou de ter uma decepção! - chutei uma pedrinha - Fode com tudo! - comecei a murmurar coisas sem sentido, até sentir uma mão em meu ombro.
- Armin! - ela falou alto, fazendo com que eu prestasse atenção nela - Foi errado? Foi. Tudo bem, ok? - ela suspirou - Você quer se aproveitar de mim? - perguntou, com as sobrancelhas arqueadas.
- Não, eu não queria fazer isso, desculpe. - segurei suas mãos, as olhando.
- Eu sei que não queria me fazer mal... - ela sorriu de canto - Está desculpado se me tirar daqui. - ela olhou para uma sepultura que tinha o nome de sua mãe.
Ela foi me guiando até sua casa, enquanto conversávamos sobre assuntos aleatórios do mundo dos games. Ela era uma gamer de plantão, coisa que eu nunca imaginaria. Ela me puxou pela mão, pois havia visto um pikachu de pelúcia. Sem perceber (ou não) ficamos de mãos dadas até a frente da casa dela, quando ela viu Nathaniel e me soltou bruscamente.
☆
Narrado por: Amane Misa.
Nathaniel estava sentado na varanda da casa de minha tia/minha. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto inchado, sua camisa estava amassada e seus tênis desamarrados.
- Acho que ficamos por aqui, huh? - perguntei, meio preocupada que Armin entendesse errado - Nos vemos amanhã na escola. - ele acenou e foi embora.
Fui para perto de Nathaniel, pois ele estava na frente da porta e não tinha como eu passar.
- Dá para me dar licença? - perguntei já com raiva.
- Nê... Precisamos conversar! - ele se levantou, vindo para perto de mim.
- Nós não temos nada para conversar. - bufei, cruzando os braços - Você é livre para fazer o que bem entender. - fui para a porta de casa - Só espero que Castiel ou Lysandre não encontre você. - e entrei dentro de casa, me permitindo chorar.
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