História You're my Fallen Angel - A Festa

Chegamos as margens da divisão da floresta com a imensidão do riacho com uma cachoeira cheia de pedras. A viagem demorou cerca de três horas e o sol já tinha abaixado um pouco.

Nesse meio tempo, alternava minha mente entre Taylor e seus beijos e o fato de eu ter sido grossa com Jett. Meu coração se apertava, assim como a vontade de ligar. A camionete parou e as meninas saltaram da traseira do carro, soltando gritinhos que na minha opinião, eram totalmente desnecessários.

Taylor entrelaçou nossos dedos e ele me puxou por dentro das árvores. De vez em quando eu olhava ao redor para inspecionar se não tinha nenhum monstro horrendo querendo me devorar. 

Chegamos até um espaço aberto entre as árvores, na beira do riacho. As caixas de isopor já estavam posicionadas com vários copos vermelhos. Uma grande mesa feita de bambu com uma longa toalha amarela também estava lá, assim como uma churrasqueira prestes a ser acesa.

Vários amigos e colegas da faculdade de Artes já estavam lá. Umas garotas estavam com uma espécie minúscula de biquíni, deitadas em umas cadeiras reclináveis como se fossem pegar o maior sol no meio daquelas árvores.

George, o garoto que vivia me lançando várias olhadas durante da aula de História da Arte estava fechando a porta da sua velha van que carregava a maioria das pessoas. O sorriso dele quase partiu seu rosto em dois e eu dei um pequeno aceno.

- Oi Kirsten, bom te ver por aqui. – Ele disse limpando as duas mãos na calça, o que eu suspeitava ser suor de nervosismo.

- Oi George. – Respondi com educação, enquanto Taylor nos arrastava em direção da mesa.

O resto da galera estava sentada em algumas pedras, alguns segurando litros de Vodka e rindo. Taylor beijou minha bochecha e caminhou até o seu grupo de amigos. Caminhei até as pedras onde rapidamente localizei Lauren, minha dupla no laboratório de experimentos artísticos.

- Kim!! – Ela gritou, escorregando da pedra e me dando um abraço. – Pensei que você não viria dessa vez.

- Por que eu não viria? – Respondi com um sorriso sem graça e ela puxou meu braço, me guiando até um grupo de amigos.

- Gente! Calem a boca, porra. Essa é a Kirsten, minha amiga lá da faculdade. – Lauren me apresentou com um sorriso enorme e eu ofereci apenas um "oi" com um aceno sem graça.

As pessoas da roda me cumprimentaram com vários "ois" e "e aís", exceto um garoto ruivo que olhava para a cachoeira como se sua vida dependesse daquilo.

- Ei, Chris! – Um garoto de piercing na sobrancelha jogou um copo vazio nele e ele olhou para a roda como se acabasse de notar a existência deles.

- Essa é a Kirsten. – Lauren repetiu e ele olhou pra mim com os olhos arregalados. Normalmente, as pessoas ruivas tinham os olhos azuis ou verdes. Mas os olhos de Chris eram negros como a imensidão escura do céu. Como se fosse um vazio.

- Acho que ele se apaixonou pela Kirsten. – Um garoto loiro da roda disse e como se fossem um bando de patetas, todos começaram a rir.

Me senti totalmente desconfortável, torcendo as mãos e olhando além das árvores.

- Eu sou o Maven. – O garoto de piercing disse, levantando um copo cheio com um líquido verde. – Quantos anos você tem?

- Dezenove e você? - Perguntei estendendo a mão para o copo dele.

Ele hesitou e olhou para o copo, depois para mim. Sacudi a mão novamente e ele colocou o copo em minha mão.

- Tenho vinte e três. – Respondeu me encarando. 

Virei o copo, até deixá-lo totalmente vazio. Maven me olhou com as sobrancelhas arqueadas e desceu da pedra, dobrando levemente os joelhos para seus olhos ficarem no nível dos meus.

- Aceita uma rodada de shots de vodka comigo?

Olhei para Lauren que já tinha tomado o lugar de Maven na pedra.

- Não peça permissão para mim, gata. Hoje é o seu dia. – Lauren disse rindo. 

Alguém do outro lado ligou o som e uma batida alta ecoou pela floresta. Mais pessoas chegaram com garrafas de bebidas, carnes para o churrasco e outras estavam plugando as lâmpadas em um fio enrolado nas árvores.

- Não estava pedindo, idiota. – Falei em um sorriso e enlacei meu braço no de Maven.

Ele me ofereceu um sorriso e pude perceber mais um piercing na altura dos seus dois dentes da frente. Olhando de relance para a turma que já tinha voltado a conversar, percebi que Chris me olhava intensamente. Um arrepio correu em minha espinha e eu virei, me afastando com Maven.

- Então você estuda Artes? – Ele me perguntou, caminhando até a mesa de bambu. Subi nos bancos, me sentando sobre a mesa.

- Sim, mas não sei o que pensar sobre esse curso. Não faz meu tipo. – Respondi pegando um copo.

Maven me olhou arqueando uma sobrancelha.

- Então o que faz o seu tipo?

Sorri, olhando para ele com a minha sobrancelha também arqueada.

- Eu gosto de perigo.

Sua risada preencheu o ar, mais alta que a música. Percebi duas covinhas fundas em suas bochechas. Ele se aproximou da mesa, colocando as duas mãos ao lado de cada uma das minhas coxas. Sua boca ficou próxima do meu ouvido e eu lancei meu olhar para a cachoeira.

- Bem, sendo assim... – Seus olhos verdes olharam para os meus e ele me de um sorriso fraco. – Meu nome é perigo.

Foi minha vez de soltar uma risada e jogar a cabeça para trás. Quando me recompus, percebi que ele continuava olhando para mim. Estendi a mão e tirei da sua testa o cabelo preto teimoso. 

- Você tem covinhas lindas. – Ele disse para mim, correndo um dedo na minha bochecha.

- Ah, posso dizer o mesmo de você. – Disse em um sorriso.

Ele se aproximou mais do meu rosto e eu fui para trás, me apoiando em minhas mãos.

- Então, já que nos conhecemos o suficiente. O que você acha...

- Kirsten! – Ouvi a voz de Taylor e virei minha cabeça para procurá-lo. 

Taylor estava encostado em uma árvore, já sem camisa. Me olhava de braços cruzados. Com as mãos ainda em minhas laterais e com o corpo levemente inclinado, Maven virou a cabeça na direção de Taylor e depois olhou para mim novamente.

- Sério, gatinha? Você é namorada do Taylor Mayfield? – Maven balançou a cabeça. – Pensei que você era mais inteligente.

Eu balancei a cabeça, empurrando seu peito com minha mão e desci na mesa. Peguei novamente o copo dele e virei o líquido garganta abaixo.

- Eu não tenho namorado. 

Caminhei até Taylor que me olhava feio e olhei por cima do meu ombro, observando Maven levando os lábios para a garrafa de vodka e depois a levantava para mim em forma de brinde. 

- Que diabos foi aquilo? – Taylor perguntou para mim e pude perceber o músculo do seu maxilar se contrair.

- Aquilo o que? – Perguntei franzindo minha testa.

Ele sacudiu a mão na direção de Maven, que tinha tomado meu lugar em cima da mesa.

- Aquele showzinho de vocês.

- Taylor, eu não sou sua namorada. – Eu disse e acenei quando um amigo meu passou atrás dele.

Taylor segurou meu braço e eu puxei de volta, olhando para ele com cara de tédio.

- Sabia que não tem coisa mais ridícula do que uma mulher que sai beijando mais de um? – Ele perguntou e eu ri.

- Sabia que não tem coisa mais ridícula do que homem que tenta se meter na minha vida? Você é legal, Taylor. Beija maravilhosamente bem, mas isso não faz de você meu dono. Nem namorado, nem nada do tipo. - Respondi abrindo o zíper de cada uma das minhas botas. – Agora você vai calar a boca e entrar comigo naquela cachoeira. 

- Eu... o que? – Ele perguntou para mim com cara de quem não entendeu e eu revirei meus olhos.

Não me gastei em desenhar para ele. Caminhei na direção de Maven e roubei mais uma vez o seu copo com bebida. Que dessa vez era absurdamente forte. Fiz uma careta e ele riu, tirando o copo das minhas mãos. Estendi a mão e peguei a garrafa que ele estava bebendo, assim como segurei em seu braço e comecei a correr em direção ao riacho.

- Você sabe como funcionam essas festas com piscina ou riacho né? – Ele perguntou, puxando a camiseta pela cabeça. Seus músculos se contraíram e relaxaram. 

- O que você quer dizer? – Perguntei observando aquele "V" da pélvis marcado que ele tinha.

- Quando um entra, todo mundo entra. – Ele respondeu, dando um longo gole da garrafa. 

Fiquei observando ele por longos segundos até dar de ombros e também tirar a minha camiseta, ficando apenas com meu short e com o sutiã. 

Maven arregalou os olhos, até um longo e preguiçoso sorriso se espalhar pelo seurosto. Tomei um último gole da garrafa e pulei nas águas geladas do riacho. Tudo ficou absurdamente silencioso até eu emergir das águas. Tirando os cabelos do rosto, senti duas mãos segurarem meus braços e vi Maven rindo sem parar e balançando a cabeça. 

- Você é louca. 

Abri a boca para responder, quando vi Lauren e toda a turma dela gritar e se jogar dentro da água junto com a gente. Me afastando daquele aglomerado de pessoas, comecei a nadar em direção à cachoeira, sentando sobre uma das pedras.  

Maven veio logo atrás de mim. Eu observava o sol morrer atrás das árvores e a Lua já despontava no topo delas. A churrasqueira já estava acesa e a fumaça saía dela. Várias pessoas já estavam bêbadas e lá na beira do riacho, sentia o olhar fulminante de Taylor.

- Acho que seu namorado não está nada contente. – Maven disse apontando para Taylor.

- Eu já disse que ele não é meu namorado. A gente se beijou algumas vezes, mas eu não levo a sério. Eu conheço a fama do Taylor. – Falei olhando para Maven. 

- Bem, já que ele não é seu namorado... – Maven falou, inclinando a cabeça em minha direção. - Eu tomarei permissão de te beijar.

Levei minhas duas mãos para seu pescoço quando eu mesma puxei sua boca para a minha. Suas mãos correram para minha cintura e eu com cuidado, deslizei para o seu colo. Ouvi a gritaria do pessoal e alguém provocando Taylor ao longe. Mas eu me concentrava apenas na língua quente da Maven deslizando sobre a minha. Uma de minhas mãos desceram até o abdômen dele, que se contraiu. Suas mãos apertaram minha cintura com mais força.

Meus pensamentos me traíram quando lembrei da manhã que saí rolando com Jett no meio das árvores e caí sobre ele, montando em seus quadris. Me afastei de Maven, sem fôlego e seus olhos verdes me analisaram com um sorriso.

- Uau. – Foi a única coisa que ele disse, antes de me empurrar na água, dando risada.

Nadei até a margem e observei Maven no meio de sua turma com um sorriso satisfeito. Ele tinha conseguido o que queria. Peguei minha camiseta que estava sobre uma pedra e minha mochila que estava perto das minhas botas. Encostado na árvore, estava Taylor enfiando a língua na garganta de uma menina com a calcinha do biquíni socada no meio da bunda.

Abri minha mochila e peguei meu celular. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem. Comecei a me preocupar. Tudo já estava escuro e eu senti vontade de ir para casa, mas Taylor era minha carona. Pensei em ligar para meu pai, mas percebi que seria um erro. 

Suspirei e tremi, sentindo o vento em minha pele molhada. Peguei uma garrafa de tequila e tomei um gole, tossindo engasgada. Aparentemente isso chamou atenção de Taylor, que largou a garota e caminhou até mim, sentando ao meu lado.

- Por que fez aquilo? – Ele perguntou com a sobrancelha franzida. – Pensei que nós estávamos caminhando para algum lugar. Eu suspirei.

- Taylor, eu tenho dezenove anos. No momento eu estou me divertindo, sabe? Estou tentando me distrair. E aparentemente você também está... – Abaixei o tom da minha voz, acenando para a garota que ele estava desentupindo a garganta. 

- Eu só fiquei puto, você acabou de conhecer aquele babaca. – Ele disse sinalizando para Maven. Arqueei minhas sobrancelhas. 

- É como se você conhecesse o currículo completo da peituda ali.

- Eu conheço! – Ele disse rindo e empurrando meu braço. Taylor ficou me encarando e então suspirou. – Droga, eu quero beijar você. 

Ele se inclinou, mas eu coloquei uma mão em seu peito.

- Taylor, se você me beijar agora, basicamente eu estarei beijando aquela garota e você vai estar beijando o Maven. E pelo que sei, eu e você somos heterossexuais.

Taylor riu balançando a cabeça. 

- Tudo bem, mas até o fim da noite eu preciso te dar um beijo, mesmo que seja o último. 

- Não te prometo nada, garotão. – Respondi e fui até a churrasqueira. Percebi que Chris, o garoto dos olhos negros que estava me secando quando eu saí com Maven estava ali. Peguei uns pedacinhos de carne e enchi um copo com refrigerante. 

- Oi, Kristin. – Ele falou olhando para mim e eu hesitei antes de corrigí-lo.

- Hmm... é Kirsten.

- Oh, me desculpe. Kirsten, certo. Você sempre vem nas festas? – Ele me perguntou, me analisando.

- Primeira vez que eu venho aqui. – Respondi olhando para o riacho. Maven estava sentado na margem e acenou para mim. Sorri e acenei de volta.

Desviei meus olhos para Chris, que estava com os olhos arregalados.

- O que foi? – Perguntei cautelosamente para ele. 

- Você ouviu isso? – Ele perguntou apontando para além das árvores. 

Virei minha cabeça, olhando para a parte não iluminada. 

- Não ouvi. – Respondi, ainda olhando.

Respirei fundo e corri até minhas botas, calçando-as. Coloquei minha mochila nas costas e me apoiei em uma das árvores.

- Onde você vai? – Ele perguntou em um sussurro.

- Bem, se tiver algo lá... – Falei olhando pra ele. 

Adentrei as árvores, capturando o celular e ligando a lanterna. Ouvi passos atrás de mim e vi Chris.

- Onde você está indo? – Perguntei a ele.

- Vou com você. – Ele respondeu, também ligando a lanterna de seu celular.

Dei de ombros e comecei a caminhar, sempre parando para tentar ouvir outro som. 

- Tem certeza que você ouviu alguma coisa? – Perguntei, virando para trás e encontrando a escuridão.

- Chris? – Perguntei em um sussurro. – Chris?! 

Parei e respirei fundo, sentindo o sangue correr e o meu coração batendo nos ouvidos. Ouvi um estalar no meio das árvores e lancei minha mão inutilmente nas costas, como um costume de procurar minhas flechas. Um som profundo cruzou a floresta e meu corpo estremeceu.

Dei alguns passos para trás e minhas costas se chocou contra o tronco da árvore. Eu não lembrava de ter visto essa árvore no meio do caminho. Olhei ao redor, tentando encontrar as luzes da festa e o som da música, mas o silêncio era ensurdecedor. Ouvi novamente o som como de raízes se rasgando e virei ao ver a árvore enorme avançando. 

- Puta merda... – Falei em um grito abafado e corri pelo meio das árvores.

Um cipó agarrou meu pé e me estatelei no chão, sentindo meu cotovelo acertar uma pedra. Minha mente ficou embaçada e eu respirei fundo, tentando desenrolar o cipó do meu pé. 

- Kirsten... – Um sussurro percorreu meus ouvidos e senti meu corpo travar. - Minha pequena Kirsten.

- Quem está aí? – Falei com a voz fraca.

- Você é minha pequena Kirsten. – O sussurro parecia penetrar meus ossos. – E Jett também é meu. Vocês são meus.

Olhei para além das árvores e vi o par de olhos vermelhos me observando. Meu corpo perdeu o controle, travado e trêmulo. 

Jett... Jett... eu precisava dele.

O pavor tomou meu peito e senti as lágrimas queimarem meu rosto e minha garganta pegar fogo. Eu queria gritar.

- Não se aproxime! – Falei em um grito engasgado. – Não me machuque.

- Não, minha doce Kirsten... – O sussurro pareceu acariciar a minha pele, mas de um modo gelado. – Eu só preciso me alimentar.

Quando abri minha boca para perguntar o que aquilo significava, senti algo pesado cair sobre mim. O cipó se desenrolou do meu pé e me sentei desesperada, iluminando o que quer que tenha sido aquilo. 

Soltei um grito quando vi o corpo inerte de Chris, com os olhos arregalados e a garganta cortada. 

Saí correndo, desesperada quando tropecei e bati minha cabeça na raíz de uma árvore. Senti minha nuca ficar dormente e gemi com a dor. 

"Jett..." murmurei fraca, com dor no corpo e as lágrimas escorrendo pelas minhas têmporas. 

"Kirsten, onde você está?!" ele perguntou desesperado em minha mente. Era como se eu pudesse ouvir as batidas do seu coração.

"Eu não sei." sussurrei de volta.

"Kirsten? Kirsten!" ouvi seus gritos em minha mente, mas meu corpo foi engolido pela escuridão, com a imagem da garganta destroçada de Chris.