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História You're My Home - Mães


Escrita por: anagranger

Notas do Autor


VOOOLTEEEIIII
E acho que mais rápido do que vocês esperavam hahaha
Esse capítulo ficou grande e está cheio de coisas!!!
Vou compensar vocês pela falta de camren moments do capítulo anterior e vai ter ainda mais coisas!!!
Espero que vocês gostem!!!
PS: A Sinu acordando a Camila no começo do capítulo é reflexo de como é para a minha mãe me acordar hahahaha

Capítulo 19 - Mães


Fanfic / Fanfiction You're My Home - Mães

Camila’s POV

 

Eu acordei no sábado pela manhã, com a minha mãe batendo na minha porta.

- Kaki! – Ela abriu a porta e entrou, parando ao lado da minha cama. – Hija! Eu estou saindo com a Sofi.

- Uhum! – Eu resmunguei ainda sonolenta.

- Seu pai já foi para a loja.

- Uhum. – Eu repeti virando para o outro lado.

- Eu volto para o almoço.

Eu concordei novamente com um resmungo e ela saiu do quarto.

Eu dormi novamente, mas não tanto quanto eu gostaria. Logo fui acordada pelo toque insistente do meu celular. Resolvi atender ao ver que era Ally.

- Alô! – Disse com a voz sonolenta.

- Oi Mila. Desculpa te acordar.

Minha amiga me conhecia bem o bastante para saber que eu estava dormindo. E eu a conhecia bem o bastante para saber que alguma coisa havia acontecido. A voz dela estava muito abatida.

- O que aconteceu, baixinha? – Perguntei, mesmo tendo quase certeza que tinha alguma coisa a ver com o Troy. Os dois estavam passando por uma fase difícil no relacionamento.

- Você está sozinha em casa? – Ela devolveu minha pergunta com outra.

- Estou sim.

- Eu posso ir aí?

- Claro. – Falei já totalmente desperta e chutando as cobertas para longe de mim. – Me dá meia hora para eu trocar de roupa e fazer um café para nós.

Ela concordou comigo e desligou.

Meia hora depois eu estava com a mesa do café posta e corria para atender a porta.

Chegando lá me deparei com a minha amiga, que tinha uma expressão desolada e os olhos um tanto vermelhos. Conhecendo a baixinha dava para ver que ela havia chorado a noite toda.

- Entra. – Eu falei a puxando para um abraço apertado. – Nós vamos tomar um café e você vai me contar tudo, ok?

Ela concordou com um aceno de cabeça e nós seguimos para a cozinha.

Quando já estávamos sentadas e cada uma tinha uma xícara de café forte na mão, eu perguntei:

- O que aconteceu?

- O que vem acontecendo sempre, Mila. Eu e o Troy discutimos.

Não era segredo para ninguém que Troy não apoiava o sonho de Ally de ir embora para Nova York. Mas os dois conseguiram passar por cima disso durante um ano. No entanto, com a proximidade da formatura, Troy estava insistindo mais para que Ally ficasse em Miami com ele. Segundo ele, seria perfeito: os dois iriam para a Miami University, se casariam e viveriam felizes em Miami mesmo.

Eu confesso que tinha esperança de que com o tempo meu amigo iria entender os sonhos dela e apoiá-la, mas as discussões tinham piorado desde que o pai de Troy havia dito que ele começaria a trabalhar na concessionária. Ele estava convicto de que iria assumir os negócios do pai e que Ally deveria ficar em Miami.

Isso afetava muito a minha amiga, afinal, ela o amava e viver com essas discussões não estava sendo fácil.

- Você lembra o que eu te contei sobre a nossa discussão de quinta, não lembra?

Eu acenei positivamente. Eu me lembrava de Ally contando para mim sobre essa briga entre os dois.

- Ontem ele me convidou para jantar. Era para ser um jantar de reconciliação, mas nós acabamos discutindo de novo.

- Ele falou mais alguma coisa?

- O de sempre. Que se eu me importasse mesmo com ele ficaria em Miami. Que me casaria com ele e viveria uma vida tranquila. – Ela suspirou. – Isso está desgastando a nossa relação. Se continuar assim nós vamos acabar terminando.

- Eu sei que é complicado, Ally. Eu estava com você quando você se apaixonou, quando vocês começaram a namorar. Acompanhei cada passo do relacionamento de vocês. Sei que você o ama. Mas você tem que pensar em você nesse momento.

- Aí é que está o problema, Mila. Eu não sei mais se é amor ou comodidade. Essas discussões estão nos desgastando muito. A de ontem foi a pior.

- Então o jantar de reconciliação serviu apenas para outra discussão?

- Sim. No começo estava tudo bem. Nós conversamos. Aí ele começou com aquele jeito de novo. A falar as coisas como quem não quer nada. Eu saí da mesa para evitar que a discussão piorasse, mas aí teve a discussão com a Jauregui e eu me estressei ainda mais e nós acabamos discutindo no carro.

Eu a olhei confusa:

- Discussão com a Jauregui?

Ela me olhou de olhos arregalados e eu percebi pela sua expressão que ela não queria ter me contado essa parte.

- Como assim discussão com a Jauregui, Ally? – Eu não queria pressionar minha amiga em um momento desses, mas agora eu estava curiosa para saber.

- É... ahm!... – Minha amiga pestanejou. – Então... ontem no restaurante que nós estávamos nós encontramos com a Jauregui. Ela estava lá com alguns amigos. Pareciam estar comemorando alguma coisa. A senhorita Kordei estava junto, e também aquela garota que estava com elas no dia do jogo.

- Keana? – Eu perguntei um tanto desconfortável.

- Acho que é. Não sei o nome dela.

Eu sei que não posso ficar assim por Lauren ter saído com os seus amigos. Eu sei que ela e Keana são próximas e saem juntas. Mas não pude evitar o desconforto. Novamente o medo de Lauren dar vazão aos desejos do seu corpo falou mais alto. Para afastar esses pensamentos eu perguntei:

- E por que vocês discutiram?

- Ela veio conversar comigo. Pedir para que eu entendesse o lado dela. Disse que não queria que essa situação entre nós continuasse. – Ally me contou. – Desculpa, Mila. Mas eu não estava com paciência para isso. Eu acabei me exaltando. Teríamos discutido mais se um dos amigos dela não tivesse interrompido.

- Tudo bem. – Eu falei.- Sei que você não estava com cabeça para isso. Não que eu queira que vocês discutam todas as vezes que se encontrarem, mas eu entendo.

- Então faça sua namorada entender que eu não gosto dela. – Ally retrucou. – E que isso não vai mudar.

- Ela não é minha namorada... – Eu lembrei. – E o assunto aqui é você e o Troy.

- Eu tenho medo de não existir mais eu e o Troy, Mila. Essas discussões estão ficando insuportáveis e eu já não consigo enxergar nele o menino pelo qual eu me apaixonei, que era meu amigo acima de tudo, mas ao mesmo tempo eu tenho medo de me separar dele. É o que eu te falei, eu não sei se é amor ou se tornou costume ter ele ao meu lado.

Eu suspirei.

- A única coisa que eu tenho para te falar é que você deve pensar em você acima de tudo. Pese os prós e os contras, Ally. Vale a pena continuar com ele sabendo que ele nunca vai te apoiar? Ou você está disposta a desistir dos seus sonhos por ele?

- É claro que não. Eu sonho com Columbia desde que aprendi o significado da palavra faculdade. – Ally retrucou. – Não vou desistir disso.

- O Troy é meu amigo. Eu adoro ele e sempre apoiei vocês. Mas se você tem certeza que quer se mudar e se continua questionando os seus sentimentos por ele, talvez o certo seja se afastar para os dois pensarem melhor.

- Ele não vai mudar, não é? – Ally perguntou com a voz embargada.

- Eu não posso dizer com certeza, Ally, mas eu não acredito nisso. Ele não demonstra sinais de querer mudar. – Eu fui sincera.

Minha amiga não conteve mais o choro e eu me levantei do meu lugar à mesa para poder abraçá-la. Ela se aconchegou nos meus braços enquanto soluçava. Nós ficamos ali até que ela se acalmasse e depois eu a levei até o sofá para que pudéssemos deitar um pouco.

Eu me sentei esticando minhas pernas para que ficassem em cima da mesa de centro e bati no meu colo sinalizando para que Ally deitasse ali.

Ela logo se acomodou e eu comecei a acariciar seus cabelos. Não muito tempo depois percebi sua respiração mais lenta, mas mesmo assim não parei com o cafuné. A pequena precisava dormir um pouco.

Ficamos assim por um bom tempo, até que a porta se abriu e Sofia e minha mãe entraram em casa.

- Kaki! – Sofia falou alto assim que me viu e eu fiz um sinal para que ela falasse mais baixo. Ela se aproximou lentamente e viu Ally dormindo.

Minha mãe veio logo atrás, carregando algumas sacolas na mão. Quando viu a cena perguntou:

- O que aconteceu, hija? Ela parece tão abatida.

- Ela discutiu com o Troy ontem.

- Não consigo imaginar esses dois brigando. Eles são tão fofos juntos.

- Pois é. Mas a coisa foi séria.

- Tenho certeza que não foi tanto assim. Logo eles se acertam.

Para quem vê de longe a situação sempre é contornável, mas apenas eu havia visto o estado da minha amiga. E não estava a fim de argumentar com a minha mãe, então apenas concordei.

Eu acordei a pequena apenas quando minha mãe disse que o almoço estava pronto. Forcei ela a comer pelo menos um pouco da comida. Dona Sinu felizmente não fez nenhum comentário. Acho que ela percebeu o estado de Ally, mas preferiu não intervir.

Depois do almoço Ally não demorou para ir embora e eu subi para o meu quarto. Estava lendo quando meu celular avisou a chegada de uma mensagem. Era Lauren:

 

Estou com saudade. Alguma chance de nos vermos amanhã?

 

Eu pensei por alguns instantes. Era óbvio que estava com saudade de Lauren e queria passar um tempo com ela. Mas não sabia o que fazer para despistar meus pais e sair de casa. Foi quando eu tive uma ideia.

 

Também estou. Pode me encontrar no parque perto da sua casa, amanhã as duas?

 

Ela não demorou para responder:

 

Claro. Te encontro lá.

 

Já no domingo, cerca de uma e meia da tarde, eu desci as escadas com um dos meus livros na mão:

- Mama! Papa! – Encontrei os dois na sala assistindo TV e Sofia brincando perto dali. – Vou ao parque ler. Estou cansada de ficar no quarto. E preciso terminar o livro para a aula de amanhã.

- Tudo bem, hija. – Meu pai falou. – É bom sair espairecer um pouco. Aproveitar o sol.

Sofi veio correndo em minha direção:

- Você vai me levar junto?

- Sofi, não incomode sua irmã. – Mama interrompeu. – Ela está indo estudar. Outro dia ela te leva.

- É sim. – Eu falei a abraçando. – Semana que vem eu te levo brincar.

Não me levem a mal. Eu amo a minha irmã. Mas eu já não tive a oportunidade de ver Lauren na sexta. E eram raras as nossas chances de ficar juntas. Então ter minha irmã por perto hoje não era uma opção.

Eu saí rapidamente de casa e segui para o parque. Chegando lá procurei por Lauren em todas as partes a encontrando, por fim, sentada embaixo de uma árvore afastada da movimentação do parque, com óculos de sol e uma camiseta regata branca um pouco solta. Apesar de ser outono, em Miami não costuma esfriar tanto e fazia um dia bonito de sol. O lugar que ela havia escolhido era meio escondido, e ninguém nos veria a não ser que fosse muito curioso ou estivesse mesmo nos procurando, e isso nos permitiria ficar um pouco mais à vontade. Eu sorri com o pensamento e me aproximei, ainda observando a bela morena e me perguntando o porquê de ela ser tão linda.

- Boa tarde, senhorita. – Ela me cumprimentou, assim que me viu.

- Boa tarde. – Respondi entrando em seu jogo de formalidade. – O que a senhorita faz por aqui?

- Eu estou esperando uma linda latina que prometeu me encontrar aqui.

- Uma linda latina? – Perguntei arqueando as sobrancelhas.

- Sim. – Lauren sorriu. – E olhando bem... você se parece com ela. Chega mais perto. Eu quero conferir.

Eu me ajoelhei sorrindo e ela se aproximou, encostando nossos lábios em um beijo calmo.

Ela se afastou lentamente de mim e falou:

- É você mesmo.

- E como você sabe que eu não sou uma impostora? – Perguntei.

- Seu beijo. É inconfundível.

Eu corei e ela sorriu me puxando para sentar ao lado dela. Nos encostamos na árvore, ela pegou minha mão e me deu um selinho rápido.

- Estava mesmo com saudade.

- Eu também. Como foi seu fim de semana? – Perguntei.

- Bom. Muito bom. – Ela me lançou um sorriso iluminado e eu não pude evitar o meu próprio sorriso. – Os papéis da adoção da Olivia saíram. Nós fomos buscar ela ontem.

- Lauren! Isso é ótimo! – Eu falei, genuinamente feliz com a notícia. – E como ela é?

- Ela é linda. Uma princesa. Eu passei pouco tempo com ela, mas já me apaixonei por aquela criança. – O olho dela brilhava.

- Tenho certeza que vai ser uma madrinha babona. – Falei divertida.

- Já estou sendo. Todos nós estamos sendo tios babões. Enchendo ela de presentes. Ainda vamos deixar a Vero e a Lucy doidas. – Lauren falou. - E o seu final de semana, como foi?

- Tranquilo. Fiquei em casa a maior parte do tempo. – Eu estava pensando se contava para ela que eu sabia do encontro dela com Ally, e por fim resolvi falar. – A Ally foi lá em casa ontem. Ela me contou que vocês conversaram na sexta.

Lauren suspirou.

- Não podemos chamar aquilo de conversa. – Ela falou. – Desculpa, Camz. Eu queria mesmo conversar com ela, mas acho que não foi uma boa escolha.

- Não mesmo. A Ally não está em um bom momento. Ela tem discutido bastante com o Troy e está com as emoções um pouco afloradas.

- Eu não sabia. – Lauren falou.

- Você nem tinha como saber, Lo. Mas eu conversei com ela e ela prometeu que vai tentar não discutir mais.

- Eu também não quero discutir com ela. – Lauren falou.

- Eu sei que não.

Eu me aproximei e encostei nossos lábios de forma suave. Ela pediu passagem com a língua e eu logo concedi, deixando que ela explorasse a minha boca e fazendo o mesmo com ela.

- Camz – ela falou quando nós nos afastamos – eu tenho uma coisa para te contar. Mas não fique brava, por favor.

Meu estômago deu uma volta completa, e minha cabeça teve tempo de dar umas vinte só com aquela frase. Em meio segundo eu inventei umas duzentas teorias. “Ela ficou com a Keana”, “Ela ficou com outra garota que não é a Keana”, “Ela desistiu da gente”, “Ela não me quer mais nem como aluna”. Entre outras bem piores que essas.

- O que aconteceu? – Eu perguntei nervosa.

- A Olivia. Bom... ela ainda não pronuncia algumas palavras direito. E bem... meu nome é meio complicado para ela. Então, ontem... eu sugeri que ela me chamasse de Lo ou de Lolo. Eu sei que é um apelido que só você me chama. Mas eu achei que facilitaria para ela.

Eu suspirei aliviada.

- Lauren Michelle Jauregui! Nunca mais me assuste assim!

- Você não está brava? – Ela perguntou.

- Não. Mas eu fiquei assustada. Pensei que era algo mais sério. – Eu falei. – É claro que eu não me importo, Lo. Mas só eu e ela podemos te chamar assim. Qualquer outra pessoa está fora de cogitação.

Tentei fazer uma expressão séria, o que só fez com que Lauren risse.

- Relaxa. Meus amigos já têm muitos apelidos para mim. E nenhum é tão fofo.

- Sério?

- Sério. Se você pedir para a Vero ela te dá uma lista completa, já que a maioria foi inventado por ela.

- Vou pensar nisso. – Eu ri com a língua entre os dentes e ela me roubou um selinho que logo se transformou em um beijo mais longo, e um pouco mais apressado.

Eu me afastei do beijo dela e peguei o livro que estava no chão ao meu lado. Era Um Estudo em Vermelho, um dos livros da coleção de Sherlock Holmes e o livro que ela tinha nos mandado ler para a aula de amanhã. Eu falei em tom debochado:

- Agora me deixa estudar, Jauregui. Eu falei para os meus pais que viria aqui para ler e não posso mentir para eles.

- Jura que você vai ler? - Ela perguntou indignada.

- Sim. O livro que minha professora me mandou ler. E ela é bem rabugenta.

Lancei um sorriso divertido para ela que me olhou com um falso ar ofendido.

- Rabugenta é?

- Bastante. Se eu falar que não li ela vai me pedir atividade extra.

- Então mente para ela que leu.

- Não dá. Ela é esperta. Vai perceber que eu não li e é capaz de me fazer perguntas.

- Eu te ensino as respostas. - Ela aproximou seu rosto do meu.

- Está querendo que eu faça as atividades pela metade, senhorita Jauregui? - Perguntei divertida.

- É claro que não. Quero apenas que você me dê atenção por mais alguns minutos. - Sua carinha de cachorro que caiu da mudança quase me convenceu. Quase.

- Lauren, me deixa ler. Prometo que já estou quase terminando. E aí eu te dou toda a atenção do mundo. Mas, sabe, se eu não ler, vou ter que aguentar seu mal humor amanhã. E eu realmente quero participar dessa aula. Você já me proibiu de falar nas anteriores.

Ela bufou ao meu lado, mas concordou.

- Vou te deixar ler.

Ela então passou seu braço pelo meu ombro e me trouxe para mais perto dela, de um modo que ela também pudesse ler o livro.

No entanto, ler ao lado de Lauren se mostrou uma coisa impossível. Ela me interrompia a todo momento com comentários do tipo: "Eu adoro essa parte"; "Sherlock Holmes é fantástico, um dos meus personagens preferidos"; "Eu nunca consigo solucionar os casos antes dele"; "Conan Doyle era um gênio". Além de algumas informações que eu tinha certeza que ela daria na aula amanhã.

- Você sabia que esse livro… - Ela começou, mas eu a interrompi.

- Amor, eu estou tentando ler e você não está ajudando. - Eu paralisei quando percebi o que eu tinha dito.

Aquilo havia saído de uma forma tão natural que eu não consegui conter.

Levantei a cabeça e olhei para Lauren assustada.

- Lo… eu… desculpa…

Ela tocou minha bochecha.

- Não se desculpe, Camz. Eu gostei. E pode voltar a ler tranquila. Vou controlar meus comentários.

Nós continuamos ali até que eu terminei de ler a história.

- É realmente incrível. - Comentei. - Esse cara tinha uma mente única.

- Por isso eu gosto tanto dele. - Ela respondeu. - E fico feliz que tenha gostado.

Nós conversamos mais um pouco sobre o livro em um tom descontraído e claro, entre alguns beijos e carícias.

Já estava no fim da tarde quando nos despedimos e eu voltei para casa pensando no quanto é difícil ficar tão longe de Lauren durante a semana. Por mais que a gente se veja todos os dias, nosso tempo é muito curto. Não dá tempo de matar nem metade da saudade que eu sinto dela.

É, eu estou realmente apaixonada.

Eu sempre achei meio exagerada essa história de que quando nos apaixonamos não conseguimos ficar longe da pessoa. Mas isso foi antes de eu mesma me apaixonar e não poder passar o tempo que quero com a Lauren. Agora eu estou vendo que isso realmente acontece.

Na segunda pela manhã eu já estava ansiosa para vê-la, mesmo que na sala de aula.

Eu acordei cedo e desci correndo para o café da manhã, fazendo meus pais me olharem espantados.

Quando Ally chegou eu praticamente saí correndo e ela esboçou um sorriso fraco quando eu entrei no carro.

- Tudo isso é ânimo para a aula?

- Não para qualquer aula. Você sabe. E você e o Troy?

- Estamos do mesmo jeito. – Minha amiga suspirou triste.

Não demoramos para chegar na escola e encontramos com os meninos no estacionamento. Shawn me cumprimentou cabisbaixo. Nós havíamos nos distanciado muito nas últimas semanas e só conversávamos sobre as coisas da escola mesmo. Mas eu estava cumprindo minha palavra de respeitar o espaço dele. Troy também pouco falou. Era perceptível que ele e Ally não estavam nos melhores termos.

A aula da senhorita Kordei passou devagar. Eu não estava mesmo conseguindo entender todos aqueles exercícios. Já estava pensando que teria que pedir um reforço para Ally mais tarde, quando vejo a professora me olhando de sua mesa e parecendo me ver um tanto perdida.

- Senhorita Cabello! – Ela me chamou. – Precisa de um reforço na explicação?

Eu corei um pouco. Ainda não havia esquecido que ela sabia do meu caso com Lauren e ficar perto dela me fazia sentir vergonha. Como se só assim eu percebesse que o que estou fazendo é errado.

- Um pouco! – Admiti.

- Venha até aqui! – Normalmente ela fazia isso, não se importava em explicar várias vezes o mesmo assunto e chamava os alunos com dificuldade para explicar individualmente. E é por isso que ela é uma das únicas, além de Ally, que consegue enfiar Matemática na minha cabeça.

Eu me sentei ao lado dela e ela perguntou.

- Quais são as suas dúvidas?

Eu estava um tanto nervosa, afinal, ela é Normani Kordei, ficar perto dela por si só já faz qualquer um ficar nervoso, e além disso é uma das melhores amigas de Lauren. Mas no final eu consegui realmente entender os exercícios.

Então eu segui para a aula de Literatura. Eu estava animada, porque havia lido o livro e tinha gostado. E além disso, ter a Lauren explicando torna tudo melhor. Eu realmente admiro a paixão que ela tem pela matéria que ensina.

Nós entramos na sala e eu me sentei no mesmo lugar de sempre, no fundo da sala, e olhei para Lauren, que sorriu discretamente para mim.

- Bom dia, turma... – Ela começou a falar quando já estavam todos sentados, mas foi interrompida pela diretora Moralez.

- Desculpa interromper, senhorita Jauregui.

- Sem problemas, diretora. – Lauren falou.

A senhora Moralez entrou na sala acompanhada de duas garotas morenas, latinas, e que se pareciam muito. A diferença maior entre elas estava na altura, uma era mais baixa, com cerca de 1,60 e a outra era mais alta, com cerca de 1,80.

- Alunos, estas são Sarah e Selena Gomez. Elas acabaram de ser transferidas aqui para a escola e eu espero que vocês as ajudem com a adaptação. – Ela se virou para as duas. – Qualquer problema vocês poderão vir diretamente a mim. Com licença, senhorita Jauregui.

Lauren se levantou de sua mesa e falou para as meninas:

- Sejam bem-vindas. Eu sou Lauren Jauregui. Sou professora de Literatura Inglesa. Podem ficar à vontade para escolher seus lugares.

As duas se dirigiram para dois lugares próximos que ficavam no meio da sala e um pouco afastados de onde eu e Ally nos sentamos.

Enquanto isso, Lauren pegou um papel e se dirigiu para as duas o entregando para a mais alta.

- Este é o programa dos livros que nós já lemos na disciplina. Eu sugiro que vocês deem pelo menos uma lida neles, já que eu vou pedir uma avaliação semestral. Caso tenham alguma dúvida basta me perguntar e eu poderei responder.

A morena deu uma passada de olho na lista e disse:

- Sem problemas. Eu já li todos eles.

Lauren sorriu animada.

- Teremos menos um problema então. Apenas permaneçam na sala após o fim da aula para que eu possa explicar como é o funcionamento da disciplina. Eu não vou entrar em detalhes agora, para não atrasar a discussão que estamos iniciando. – Lauren seguiu para a frente da classe, mas se voltou para as novatas, e perguntou: - Desculpe a pergunta, mas vocês são irmãs?

- Primas. – A morena mais alta respondeu: - Sou Sarah.

- E a outra pelo visto é muda. – Eu cochichei para Ally, que não conseguiu conter uma risadinha, fazendo com que Lauren nos olhasse.

- Novamente sejam bem-vindas! E obrigada pelo esclarecimento, senhorita Gomez. – Lauren então se voltou para o restante da turma. – Quem conseguiu fazer a leitura?

Dessa vez todos levantaram a mão e Lauren falou:

- Muito bem, turma. – Ela se voltou para as novatas novamente. – Nós estamos lendo Um Estudo em Vermelho de Sir Arthur Conan Doyle. Vocês já tiveram contanto com o livro?

- Já sim. – A mais baixa, Selena, falou pela primeira vez. Ela tinha uma voz doce, ao contrário da prima. A outra concordou com a cabeça.

Lauren então seguiu com o programa da aula, apresentando, como sempre, um resumo da vida do autor e depois passando para aspectos da obra. Após ela passar as anotações no quadro, se virou para a classe e começou sua explicação.

- Sir Arthur Conan Doyle nasceu em Edimburgo na metade do século XIX. Ele é o responsável pela criação do personagem Sherlock Holmes. Esse livro que nós estamos lendo, Um Estudo em Vermelho, foi publicado em 1887, e é o primeiro em que o personagem de Holmes aparece, juntamente é claro do seu fiel amigo, o Dr. Watson. Alguém sabe me dizer em quem Conan Doyle baseou a criação do personagem de Holmes?

Ela havia me contado essa ontem, mas quando eu fui responder a tal de Sarah passou na frente:

- Ele baseou em um professor que teve na faculdade, Joseph Bell, que para ele tinha um poder de dedução e observação muito forte, e conseguia passar isso aos seus alunos.

- Exatamente, senhorita Gomez. – Lauren sorriu para a garota, o que, confesso, me irritou um pouco. – Sherlock Holmes foi uma homenagem de Conan Doyle ao seu professor. E uma das principais características do personagem é sem dúvida o seu dom nato para disfarces. Outra característica marcante do personagem está na sua moradia. Alguém pode me dizer porque?

Novamente a novata metida respondeu:

- Seu endereço ficou famoso. O apartamento 221B da Baker Street é hoje um museu referente ao personagem e também ao seu criador, claro.

Lauren sorriu novamente para a garota e continuou sua explicação. Como pode alguém ser tão chato? Eu conheço a garota não tem nem meia hora e já quero pular no pescoço dela. Eu fui trazida de volta dos meus pensamentos pela voz de Lauren.

- ... que talvez a Senhorita Cabello possa nos esclarecer.

Eu a olhei assustada.

- Desculpa professora, pode repetir a... a pergunta?

- Eu estava comentando, senhorita Cabello que Conan Doyle resolveu em uma de suas histórias matar o personagem de Holmes, mas voltou atrás depois de alguns anos. A senhorita pode nos esclarecer por que, e qual foi a explicação dada dentro do universo de Holmes para a sua volta?

Droga! Eu tinha certeza que ela havia me contado isso ontem. Mas eu não conseguia lembrar. Bom eu lembrava porque ele havia voltado atrás e trazido Holmes de volta, mas não a explicação para isso na história.

Antes que eu pudesse dar a primeira parte da resposta, ela veio do outro lado da sala. E eu dou um doce para quem adivinhar quem foi a autora da resposta. Ela mesma: a novata metida.

- Ele voltou atrás porque seus fãs ficaram muito descontentes. E a explicação que ele deu na história, foi que durante o confronto entre Holmes e Moriarty, no qual Holmes deveria ter morrido, apenas Moriarty caiu do penhasco. No entanto, Holmes preferiu manter todos acreditando em sua morte, porque tinha muitos inimigos perigosos atrás dele.

Eu bufei irritada e Lauren percebeu, mas isso não a impediu de parabenizar novamente a novata sabe-tudo. Desgraçadas! As duas!

Ally percebendo minha raiva, segurou o meu braço e pediu com os olhos para que eu respirasse. Com muito custo eu consegui me controlar. Foi um alívio quando o sinal tocou, mas Lauren não facilitou nem enquanto eu guardava os materiais.

- Senhoritas Gomez, por favor, venham até aqui. Eu vou explicar rapidamente a metodologia da disciplina e como funcionam as avaliações.

Eu joguei minha mochila nas costas e sai apressada, mas não antes de ver as duas se aproximando de Lauren.

A sorte realmente não estava comigo. Sarah fazia praticamente todas as aulas comigo. E sim, ela era intrometida em todas elas. Eu estava salva da sua presença irritante apenas nas aulas de Biologia e História. Eu descobri isso porque ela tinha o mesmo horário de Selena e a menina, que era doce e gentil, não tinha culpa de ter uma prima tão idiota. Eu pude descobrir isso durante o intervalo, quando Troy e Shawn as chamaram para sentar com a gente, o que gerou vários olhares atravessados meus e de Ally. Nós, no entanto, puxamos papo com Selena e pegamos seu horário para comparar com os nossos.

Eu fiquei aliviada em saber que pelo menos eu manteria a paz nas aulas de Biologia que eram as minhas aulas preferidas. E estava querendo muito ir para a aula de Física, pela primeira vez na vida. Ver a Sarah querendo dar uma de boa com o senhor Coleman seria divertido.

O restante da manhã passou assim, com a minha raiva por Sarah aumentando. Quando eu me despedi de Ally e segui para o meu ponto de encontro com Lauren, eu estava pisando duro. E foi como um furacão que eu entrei dentro do carro dela, alguns minutos depois.

- Lauren Michelle Jauregui! – Bati a porta com força. – Custava ter dado um corte, mandado calar a boca? Mas não! Tinha que ficar sorrindo igual uma abestalhada toda vez que a metida arrogante da novata abria a boca?

Eu me irritei ainda mais ao ver que Lauren estava rindo.

- Por que você tira as segundas para me xingar?

- Porque você merece. – Eu dei um tapa forte no ombro dela. – Se fosse qualquer um naquela sala você teria mandado calar a boca por ter interrompido a resposta do colega. Por que você não falou nada? Já está pensando em quando vai convidar ela para uma palestra do seu pai?

Ela gargalhou alto dessa vez.

- Eu não vou convidar ela para nada. Ela nem quer fazer medicina.

Ela parou quando se deu conta do que tinha falado.

- E como você sabe que ela não quer fazer medicina, Lauren Jauregui?

- É... eu... é.... p-perguntei. – Lauren gaguejou. – Quando ela a prima foram falar comigo depois da aula eu perguntei a área de interesse das duas.

- Área de interesse? – Eu perguntei debochada.

- Para a faculdade, Camila. – Ela revirou os olhos.

- Eu não preciso ouvir mais nada disso. – Eu falei me virando para a frente e colocando meu cinto.

- Camz! – Ela me chamou e eu ignorei. – Camz! Camz! Amor, olha para mim! –Ela ganhou minha atenção quando me chamou de amor, mas eu me arrependi logo em seguida ao ver o sorriso brincando em seus lábios. – Você está com ciúme?

- Não! – Fui direta. – Eu só não gostei dela.

- Tem certeza?

- Tá Lauren, eu fiquei com ciúme. Que droga! Agora me leva para casa.

Ela, ainda dando risada, deu partida no carro e seguiu para a minha casa.

- Jura que você não vai falar comigo? – Perguntou quando já estávamos quase chegando.

- Você não está merecendo. – Falei.

Ela estacionou na esquina antes da minha casa como sempre e falou, enquanto eu tirava o cinto:

- Olha para mim, Camz. Não fica brava. Eu só não quis cortar a garota porque era o primeiro dia dela.

- Mentira. Você estava sorrindo igual uma retardada.

- Eu só gosto quando os alunos se interessam.

- Ela só quer ser metida e sabe-tudo. – Falei emburrada.

- Ela é assim nas outras aulas também? – Lauren perguntou.

- Aham. – Eu bufei. – Eu vou entrar, Lauren. Antes que algum vizinho apareça por aqui.

- Tudo bem. – Ela falou, mas me segurou me impedindo de sair. – Desculpa, ok? Da próxima vez eu corto ela. Se vai te fazer feliz.

Eu não respondi apenas grudei meus lábios nos dela em um selinho e me afastei, abrindo a porta antes que ela pudesse aprofundar o contato.

- Só isso? – Ela perguntou.

- É o que você está merecendo. Obrigada pela carona, senhorita Jauregui.

Fechei a porta do carro e segui o resto do caminho para casa.

 

Os dois dias seguintes correram de forma normal, se você descontar a nova briga de Troy e Ally ontem à noite, a qual eu tive que interferir diretamente, já que nós dois estávamos na casa da Ally, e eu não deixaria ele ser estúpido com ela na minha frente.

Depois disso eu fiquei consolando ela e acabei dormindo lá mesmo. Mesmo sendo dia de semana.

Já era quarta-feira e eu estava contando os dias para chegar sexta-feira e eu conseguir ficar com a Lauren. No entanto, ainda é quarta e eu tenho que parar de sonhar acordada e ajudar minha mãe.

Hoje ela iria receber um casal de amigos em casa, e queria ajuda para arrumar as coisas. Por isso, assim que pegamos a Sofi na escolinha de natação seguimos para o mercado. Era fim de tarde e aquele lugar estava lotado.

Minha mãe pegou um carrinho e nós fomos caminhando. Enquanto minha mãe pegava as coisas nas prateleiras, eu guiava o carrinho e conversava com Sofia, que contava animada sobre o seu dia na escola.

Nós estávamos no corredor do chocolate quando eu vi a criatura que ronda meus pensamentos dia e noite, ali em pessoa, e com uma pessoinha no colo. Era uma garotinha linda, que eu deduzi ser Olivia.

Eu ainda tinha a ilusão de que dava tempo de voltar pelo mesmo corredor e fingir que não tinha a visto ali, mas Sofia gritou:

- Tia Lauren! Tia Lauren!

Lauren nos olhou na mesma hora, e sorriu. Seu sorriso deu uma vacilada quando ouviu minha mãe brigando com Sofia, e eu mais vermelha do que um pimentão e não sabendo onde enfiar a cara.

- Sofia, não fique gritando para os outros. Isso é feio.

- Desculpa, mama.

- Camila, quem é a moça? – Mama me perguntou.

Para minha sorte ou azar nesse momento Lauren já havia se aproximado.

- Boa tarde, senhorita Cabello. Boa tarde, Sofia. – Ela tinha voltado a sorrir. – Suponho que essa seja sua mãe, senhorita Cabello.

Sofia já estava toda animada e eu apenas sorri timidamente. Sem muita escapatória eu falei.

- É sim. Mama, esta é a Senhorita Jauregui, minha professora de Literatura.

Minha mãe sorriu apertando a mão de Lauren, que havia transferido Olivia apenas para um dos braços.

- A professora da palestra.

Não, mama. A professora que eu beijo todos os dias depois da aula. Pensei com os meus botões.

- Isso mesmo. – Lauren concordou com um sorriso. Cínica.

- Obrigada pelo que fez pela minha filha aquele dia. Ela admira muito o seu pai.

- Não foi nada. Realmente é raro vermos jovens tão dedicados hoje em dia. Eu quis apenas estimulá-la a seguir seus sonhos.

- Você fala como se fosse velha. – Minha mãe disse rindo. – Mas eu ainda não entendo como você conhece a Sofia.

- A tia Lauren brinca no parque com a gente as vezes.

Eu quase quis esmurrar Sofia quando ela disse isso. Na maior parte das vezes minha irmã é uma criatura fofa, mas ela não precisa contar tudo para a mama.

- Verdade? – Mama perguntou.

- Nós nos esbarramos uma ou duas vezes por lá. – Lauren respondeu.

- E a senhora sabe como a Sofi é, mama. Logo foi arrastando a senhorita Jauregui para as brincadeiras dela.

- Desculpa por isso. A Sofia é um tanto dada com as pessoas. – Minha mãe falou.

- Eu não me importo. Gosto de brincar com ela.

- E essa garotinha linda com você. – Minha mãe perguntou. Droga, mama, tem mesmo que prolongar a conversa? Você não estava com pressa?  - É sua filha?

Eu quase engasguei com a pergunta, mas consegui fingir um acesso de tosse. E Lauren ficou ainda mais branca do que já é.

- Ahh, não. Esta é Olivia, minha afilhada. Ela é filha de...

Lauren foi interrompida por uma mulher de cabelos castanhos que vinha na nossa direção.

- Eu te deixo um minuto sozinha com a minha filha e você some com ela, Jauregui? – Ela percebeu o pacote na mão da criança e suspirou. – Você deu mesmo um pacote de chocolate na mão dela?

- Aham. – Lauren falou naquela cara de pau própria dela. – Qual é, Lu? Você é mãe, é sua função educar. Eu sou madrinha. Minha função é mimar. Não é, Ollie?

- É. – A criança apenas concordou. – Tia Lo tá ceta.

Eu quase me derreti com a garotinha chamando ela pelo apelido que eu havia dado. E mais ainda com a carinha sapeca que ela olhou para a amiga de Lauren.

- Não sei onde estávamos com a cabeça quando deixamos você e o Liam serem padrinhos dela. – Então a moça, que eu supunha ser a tão falada Lucy, melhor amiga da Lauren, percebeu que ela estava conversando com a gente e se desculpou. – Desculpa interromper a conversa de vocês, mas a maluca da madrinha da minha filha resolveu sumir com ela.

Eu segurei o riso.

- Que isso – Minha mãe aceitou as desculpas. – Sou eu quem tenho que me desculpar com a senhorita Jauregui pela gritaria que a Sofia fez no corredor.

- Não tem problema, senhora Cabello. Crianças fazem isso, normalmente. É uma reação espontânea delas. – Ela disse enquanto passava Olivia para Lucy. Esta, no entanto não prestava muita atenção, já que olhava para mim como quem havia acabado de descobrir a América. Droga! Ela tinha ligado os pontos e sabia quem eu era. – Lu! Lu!

Lauren chamou a atenção dela e a mulher parou de me olhar, desviando a atenção para a própria filha.

- Sua madrinha está muito ferrada comigo, filha. Muito. – A mulher falou e eu vi Lauren engolindo em seco.

- Vai biga tom ela? – A menininha perguntou.

- Bastante.

Lauren ficou vermelha e antes que a mulher pudesse falar mais alguma coisa, deu um jeito de escapar.

- Bom, acho que nós já vamos indo, não é, Lu? Foi um prazer, senhora Cabello.

- O prazer foi todo meu. – As duas apertaram as mãos novamente. Algo me disse que minha mãe não seria tão simpática se soubesse meu real envolvimento com Lauren.

- Nos vemos por aí, senhorita Cabello. – Lauren falou e se abaixou para falar com Sofia. – Logo eu vou brincar com você no parque, tudo bem?

- Aham. – Minha irmã falou. – Sábado. A Kaki prometeu que vai me levar.

- No sábado, então. Eu encontro com vocês lá.

- Promete? – Sofia falou.

- Sofia! – Eu ralhei. – Não seja tão abusada.

- Não tem problema nenhum, senhorita. – Ela me olhou e depois se voltou novamente para Sofi. – Eu prometo, pequena Cabello.

Sofi a abraçou e eu fiquei, admito, com uma pequena inveja da minha irmã.

Minha mãe então começou a se afastar e eu fui atrás dela, mas me deixei ficar um pouco para trás para poder ouvir a conversa de Lauren com Lucy.

- Sério, Jauregui? – A mais baixa falava. – Eu tive que conhecer ela no supermercado? E por acidente, ainda?

- Já falei para não me encher com isso, Lucy. – Lauren retrucou e depois disso já não consegui ouvir mais nada.

Eu ri imaginando o quanto Lauren iria ouvir da amiga. A conhecendo como conheço ela iria ficar irritada pelo falatório da mulher. Esse é o jeito da Lauren, eu já pude perceber. Ela não é de falar muito sobre a vida dela, e quando as pessoas pressionam ela se irrita. Ela deve se sentir confortável para falar. Só assim ela consegue se abrir para alguém. No começo eu demorei para me acostumar com o jeito dela, já que eu sou muito diferente, mas agora eu sei como as coisas funcionam para ela e procuro respeitar. Mas mesmo assim ver ela se irritando com isso é muito engraçado.

 

O resto da semana passou voando. Agora nós tínhamos Sarah e Selena no nosso grupo de amizade. Não que eu e Ally sejamos amigas de Sarah, mas os meninos conversam com ela e nós duas aprendemos a ignorar a sua presença. Selena pelo contrário é adorável e pelo que pudemos entender enquanto a conhecíamos, vivia desde criança à sombra da prima, que queria ser melhor que ela em tudo. As duas tinham a mesma idade e foram criadas sempre juntas, mas enquanto Sarah tentava chamar atenção a todo custo, Selena era mais reservada e tímida, lia romances e acreditava no príncipe encantado.

Minha tarde de sexta com Lauren também passou rápido demais. Ela aproveitou para tentar me ensinar a jogar vídeo game, mas não deu muito certo. Eu sou muito desastrada, até para mexer no controle.

Foi a primeira vez que eu entrei no quarto dela. Ele era grande, com uma cama de casal enorme que ficava bem no meio. Tinha um banheiro aconchegante e um closet não muito grande. As paredes eram de tom claro, com exceção da parede em frente a cama, onde ficava posta a televisão, que era em tom amadeirado. O vídeo game ficava na estante embaixo da TV.

Ela realmente tentou me ajudar, mas eu perdi todas as partidas, mesmo as que ela me deixava tomar uma dianteira.

- Você é mesmo terrível. – Ela falou rindo quando nós desistimos de jogar.

- Não ria de mim. – Fiz bico.

Ela desfez meu bico com um beijo e me trouxe para mais perto dela, fazendo com que eu me deitasse e entrelaçasse nossas pernas.

- Eu devia ter te deixado ganhar uma. – Ela continuou me zoando.

- Cala a boca, Jauregui.

- Não fica assim, meu amor. Logo você aprende. Quem sabe você consiga ganhar da Olivia um dia.

Ela soltou uma gargalhada gostosa e eu a encarei séria.

- Fica falando assim que logo eu vou embora e te deixo aqui.

- Você não faria isso. – Ela me apertou mais forte no abraço.

- Continua para ver.

Eu encostei meu rosto no pescoço dela e comecei a brincar com a gola da sua blusa.

- Você vai mesmo no parque amanhã?

- Claro que vou. Eu prometi para a Sofia, não prometi.

Eu me afastei dela indignada.

- Você vai só pela Sofia?

- Você com ciúme é muito engraçado. – Lauren riu. – Ela é sua irmã. De 7 anos. E você está com ciúme dela.

- Você mima muito ela.

- E eu mimo muito a Olivia.

- A Olivia é sua afilhada.

- E a Sofia é sua irmã. Eu gosto de brincar com ela, realmente. Mas você é meu principal motivo para ir. Sempre vai ser.

Meus lábios foram tomados pelos dela em um beijo suave, sem pressa alguma. Esses eram os nossos beijos que eu mais gostava. Eu gosto de todos, é verdade, mas esses, nos quais nós duas demonstrávamos o carinho que sentíamos uma pela outra, eram os melhores.

Parecendo ler meus pensamentos Lauren falou:

- Eu adoro quando você me beija assim.

- Se você tivesse ideia do quanto eu gosto disso também, me beijaria mais. – Eu falei rindo sobre os lábios dela.

- Com todo o prazer, senhorita Cabello.

Ela tomou meus lábios novamente e nós nos entregamos completamente ao momento.

Ficamos assim até que percebemos que eu já deveria estar em casa e saímos praticamente correndo da casa dela.

Por sorte minha mãe ainda não tinha chego e eu tive tempo de tomar um banho e trocar de roupa.

Na manhã seguinte eu e Sofi saímos um pouco mais cedo para ir ao parque. Minha irmã estava animada por saber que Lauren estaria lá e não parou de falar disso durante todo o café da manhã, o que fez ela levar um sermão da minha mãe sobre não abusar demais da boa vontade da “senhorita Jauregui”.

Quando nós chegamos Lauren ainda nem estava lá.

- Eu falei que estava cedo, Sofi.

- Logo ela chega. – Minha irmã falou. – Posso ir brincar no escorregador?

- Vai lá. – Eu sabia que ela não conseguiria ficar parada e deixei que fosse brincar. Eu me sentei para esperar Lauren.

Não mais do que dez minutos depois eu senti o perfume dela atrás de mim e ouvi sua voz rouca perto do meu ouvido:

- Bom dia, flor do dia. – Ela se sentou ao meu lado no banco, e percebi que ela trazia um pacote na mão. Ela explicou:  – Eu trouxe um lanche para a Sofia comer daqui a pouco, quando ela ficar com fome.

Eu revirei os olhos.

- Eu falo que você a mima demais.

- Bom, eu trouxe um para você também. Sabia que você ia ficar com ciúme.

Fomos interrompidas pela minha irmã, que chegou correndo e nos puxando para ir com ela nos brinquedos. Por estar cedo o parque ainda estava meio vazio.

Nós paramos cerca de uma hora depois para comermos o lanche que Lauren trouxe e depois Sofia foi brincar com os seus amiguinhos enquanto eu e Lauren ficávamos “descansando” um pouco afastadas do parque.

- Está sujo aqui! – Ela disse apontando para o canto da minha boca. Eu tentei limpar mais sem sucesso. Ela riu: - Vem aqui, criança. Não consegue comer sem se sujar.

- Cala a boca.

- Mal-agradecida. – Ela falou ainda rindo.

Nós conversamos por mais alguns instantes até que eu ouvi um choro conhecido.

- Sofia!

Eu saí correndo de onde estávamos e fui em direção ao parquinho. Minha irmã estava caída perto do escorregador e segurava o pulso. Algumas mães que estavam ali e a acudiram me explicaram o que tinha acontecido.

- Ela escorregou, mas não conseguiu frear a tempo no final do brinquedo. Acho que ela apoiou a mão no chão para diminuir o impacto e acabou torcendo.

Lauren que estava logo atrás de mim, pegou Sofia no colo e falou:

- Calma Sofi! Nós vamos fazer parar de doer. – Ela olhou para mim: - Vamos levar ela para o consultório da minha mãe. Ela está atendendo lá hoje.

Eu concordei freneticamente com a cabeça. Agradeci às mulheres que estavam ali e segui Lauren até o apartamento dela para que ela pegasse seu carro.

No caminho para o consultório, após conseguir acalmar Sofia, pelo menos um pouco, eu liguei para a minha mãe:

- Mama! – Falei aflita quando ela atendeu.

- Kaki! O que aconteceu?

- A Sofi! Ela caiu do escorregador e machucou o braço!

- O que? – Minha mãe perguntou preocupada. – Onde vocês estão?

- A senhorita Jauregui estava com a gente. Estamos levando ela para o consultório da Dra. Jauregui.

- Onde fica isso?

Eu perguntei para Lauren e ela me passou as coordenadas do consultório que eu repassei para a minha mãe.

- Eu estou indo para lá também.

Eu desliguei e logo nós estávamos estacionando em um consultório médico. O lugar era moderno, apesar de ficar na área periférica da cidade. Lauren tinha mesmo comentado que a mãe atendia gratuitamente crianças de baixa renda.

A morena tirou minha irmã do carro novamente e entrou com ela pelo local. Ela se aproximou da recepção, comigo andando logo atrás das duas.

- Moça, eu preciso que ela seja atendida pela Dra. Jauregui. - A morena falou já que parecia haver mais médicos atendendo ali.

- A Dra. Jauregui está no meio de uma consulta.

- É uma emergência. – Eu falei quando senti que Lauren poderia bater na garota tamanho seu nervosismo. – Ela precisa tirar um Raio-X.

- Eu vou adiantar a consulta o máximo que eu conseguir. Qual o seu nome?

Ela havia perguntado para mim, mas foi Lauren quem respondeu.

- Lauren. Meu nome é Lauren Jauregui.

A moça ficou branca como papel, mas não teve tempo de dizer mais nada, porque uma mulher de cabelos castanhos claros, olhos de um tom de verde um pouco mais escuros que os de Lauren e jaleco se aproximou.

- Lauren, hija. Aconteceu alguma coisa?

- Mama. – Lauren pareceu aliviada. – Nós estávamos no parque e a Sofia caiu. Acho que ela torceu o pulso.

- Vamos para o meu consultório.

- Minha mãe... – Eu tentei falar, mas a Dra. Jauregui me interrompeu.

- Ela está vindo para cá? – Eu assenti e ela se dirigiu para a moça da recepção. – Quando a mãe da menina chegar a mande para o meu consultório. E eu vou te lembrar novamente: QUALQUER emergência deve ser levada diretamente a mim imediatamente.

A moça assentiu simplesmente e eu e Lauren seguimos a Dra. até a primeira sala do corredor. Lauren colocou Sofia na maca que havia ali e sua mãe se aproximou para verificar.

- O que aconteceu?

- Nós estávamos brincando no parque e a Sofia foi brincar no escorregador. Ela não conseguiu frear e apoiou a mão para diminuir o impacto no chão.

Sua mãe desviou um pouco a atenção de Sofia e nos olhou curiosa.

- Você estava com elas?

- É... – Lauren parecia sem graça e eu olhava para todos os lados menos para elas. – Mãe... eu estava com elas. Essa... é a Camila... Ela é... minha... aluna.

Lauren gaguejou tanto para falar que eu teria rido se a situação não fosse desesperadora.

- Camila? – Sua mãe falou. – A aluna que você levou para ver a palestra do seu pai.

- É sim.

Ela olhou para mim:

- É um prazer conhecê-la, querida. Meu marido me falou que você pareceu muito focada nos seus objetivos. – Ela estendeu sua mão: - Sou Clara Morgado Jauregui.

- É... é... um prazer Dra. – Falei, gaguejando também. Droga! Eu nem poderia rir de Lauren.

- Eu vou levar a Sofia para tirar um Raio-X. Me aguardem aqui, não devo demorar.

Ela chamou um rapaz para ajudá-la a locomover a minha irmã e logo eu e Lauren estávamos sozinhas na sala. Foi quando o impacto da situação me atingiu e eu comecei a chorar. Lauren me abraçou no mesmo momento:

- Ei, amor, não chora. Não chora.

- Foi culpa minha, Lauren. Eu devia estar prestando atenção nela.

- Foi um acidente, Camz. Mesmo se nós estivéssemos em cima dela teria acontecido.

Eu controlei um pouco o meu choro mas permaneci abraçada a ela, que acariciava os meus cabelos de forma carinhosa até que a porta se abriu de repente e nós duas pulamos de susto. Era a mãe dela entrando:

- Eu esqueci meu... – Ela nos olhou espantada.

Ela havia visto. Não adiantou termos nos afastado rapidamente. Ela havia visto que nós estávamos abraçadas, e minha expressão de quem havia chorado.

- ... prontuário. – Ela terminou a frase que havia começado.

Ela pegou o que precisava em cima da mesa e saiu novamente, em silêncio.

Dessa vez eu e Lauren permanecemos afastadas e logo sua mãe estava de volta dessa vez com Sofia junto. Minha irmã tinha uma faixa enrolada no pulso.

- Foi realmente uma torção. – Clara falou nos olhando desconfiada. Sofi veio sentar no meu colo e nesse momento bateram na porta do consultório.

A Dra. Jauregui permitiu que entrassem e logo minha mãe estava na sala. Quando enfim conseguimos explicar tudo para ela a mãe de Lauren nos deu as recomendações para tratar a torção.

Minha mãe agradeceu as duas mulheres Jauregui na nossa frente e fomos saindo. Lauren estava saindo junto com a gente, mas sua mãe a chamou:

- Lauren! – A morena se virou e eu diminui o passo para que pudesse ouvir o que ela falaria. – Eu vou jantar com você hoje. Nós precisamos conversar.

Lauren assentiu e saiu junto comigo. Minha irmã e minha mãe já estavam lá fora e Lauren parecia assustada. Ela sabia, como eu, que sua mãe tinha realmente nos visto juntas.

Enquanto Lauren checava novamente Sofia e se despedia de nós, na frente do carro da minha mãe, uma mensagem chegou no meu celular, e eu percebi que o dia seria realmente agitado.

- Mama, você pode me deixar na Ally? – Perguntei.

- Claro, hija. Aconteceu alguma coisa? Você parece preocupada.

- Ela e o Troy terminaram.


Notas Finais


É isso pessoal!!!
Espero que tenham gostado!!!!
Volto assim que terminar o próximo!!!
Bjão


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