Fernanda P.O.V
Já se passavam das três da tarde quando cheguei ao orfanato. Tinha passado a manhã e o início da tarde na empresa da família resolvendo algumas coisas com Alberto.
Logo que cheguei escutei a gritaria infantil e sorri só lembrando nesse momento que Cathia tinha dito que haveria um voluntariado hoje.
-Uma linda princesa que estava aprisionada no fundo do rio mais perigoso de seu reino. Muitos já tentaram mas nenhum saiu vitorioso pois um enorme e poderoso dragão de água a mantinha ali. - Foi a primeira coisa que escutei antes de bater na porta com um enorme sorriso.
Assim que entrei na sala escutei um coral de três vozes infantis falarem meu nome e virem correndo em minha direção.
-Pequenos! - Abracei os três com um enorme sorriso como sempre fazia - Viram?! Eu disse vinha. - Falei baixinho já tentando me desculpar por ter interrompido.
Assim que levantei minha cabeça para me desculpar por ter interrompido senti meu sorriso morrer aos poucos. A frente de todas aquelas crianças estava a bela garota de olhos castanhos, ela me olhava apática com uma tensão ainda mais visível do que na noite de sábado.
- Desculpe a interrupção. - Falei um pouco seca pegando Morgana nos braços indo me sentar mais no canto.
- Tudo bem... Nós temos uma princesa aprisionada num rio com um dragão de água e o que mais? - O garoto alto que também estava a frente continuou percebendo que ela ainda estava sem reação.
- Num outro reino vivia uma linda e forte princesa, que sempre estava em busca de aventuras, ela tinha um... - A garota falou, parecendo finalmente ter voltado a realidade, embora não tirasse os olhos de mim.
A história foi se desenrolando de maneira engraçada mas levemente tensa devido os indiscretos olhares dela sobre mim.
-Mas as princesas eram namoradas? - Valkira perguntou ao meu lado me fazendo corar.
-Elas poderiam sim ser namoradas ou apenas amigas. - Falou sorrindo para a pequena criança aninhada em meu colo.
-Você tem um sotaque engraçado. - Valkira sorriu grande olhando para aqueles olhos.
-É que eu não sou daqui, sou de Fortaleza. - Falou agora me encarando sem cerimônia.
- Agora é a pintura de rosto meninada!! - O garoto bateu palmas quebrando o clima pesado que estava se instaurando - Todo mundo lá pra fora.
As crianças saíram da sala em disparada e quando eu já estava prestes a sair senti alguém segurar meu braço de leve.
-Ok... - Virei para a garota que me olhava fixamente - Antes que você fale qualquer coisa, me desculpe. A gente pode até ter se conhecido e tudo, mas eu não lembro de você porque tive amnésia.
-Não lembra nem o meu nome? - Seus olhos se perdiam nos meus me fazendo sentir uma coisa nova e inexplicável.
-Bruna, você falou que era Bruna. - Falei um pouco mais séria enquanto ela começava a encarar minha boca.
-Você não se lembra de nada? - Afirmo com a cabeça e seus olhos se enchem de lágrimas - Não lembra do dia em que nos conhecemos? Não lembra do dia em que nos beijamos pela primeira vez? Não lembra quantas vezes fomos uma da outra?
-Nós tínhamos alguma coisa? V-Você é tão nova, n-não é possível que eu tenha me envolvido com uma menor. - Gaguejei desesperada já vendo algumas lágrimas percorrem seu rosto.
-Você sempre dizia isso, que eu era muito nova, que a nossa diferença de idade isso a nossa diferença de idade aquilo. - Bruna sorriu triste parecendo lembrar de algumas coisas - E eu sempre disse que...
-Que me amava e que não me deixaria por nada. - Completei no automático como se lembrasse de uma parte de algum filme a muito tempo esquecido.
-Você lembrou?! E-eu falei extremamente essa frase pra você! Quando fui te defender do... - Bruna se aproximou presa em meu olhos.
-Nanda, é melhor uma borboleta ou um dragão? - Morgana veio correndo e se agarrou a minhas pernas - Porque cê ta cholando? - Perguntou olhando Bruna se afastar e tentar limpar o rosto.
- Por nada pequena. - Forçou um sorriso enquanto Morgana se aproximava dela.
-Vem aqui, não chola. - Morgana falou com sua voz infantil e segurou o rosto de Bruna entre suas mãos, beijando a ponta do nariz com um enorme carinho - Deixa eu te da um abraço.
Bruna pegou a pequena nos braços e recebeu um forte abraço.
Só quando as duas voltaram a atenção para mim notei que estava com um enorme sorriso estampado em meu rosto.
Mesmo sem entender o que aquela garota significava percebi que o que nós vivemos no passado foi realmente intenso.
O restante da tarde passou rápido, o clima que pairava entre nós ainda era estranho mas já era mais ameno que antes.
Logo estava anoitecendo e todos os voluntários foram dispensados e logo só restou Bruna e um garoto alto, que pareciam ser os líderes do grupo.
-Cathia, cadê a Morg? Já procurei ela por todo lado. - Falei já um pouco preocupada pensando se ela não teria saído com oa voluntários sem que ninguém percebesse.
-Quando eu vi ela tava nos braços da garota que tava contando a história.
Fui para o dormitório e encontrei Morgana adormecida em sua cama enquanto Valkira tinha os cabelos penteados por Bruna.
-Ela já dormiu? - Perguntei vendo Valkira abrir um largo sorriso enquanto Bruna sorriu de canto.
-Me bota pra dormir? - Valkira perguntou me olhando com aqueles lindos e brilhantes olhos negros.
Bruna se levantou já na intenção de sair do quarto mas Valkira segurou sua mão e sorriu.
-Fica, eu gostei de você. - Falou segurando melhor a mão de Bruna e logo depois começou a nos direcionar para sua cama.
Bruna parecia cada vez mais feliz e eu cada vez mais confusa, pra minha sorte seu amigo logo lhe chamou dizendo que ele precisava ir.
-Tchau bruxinha. - Bruna falou rindo e deu um beijo no topo da cabeça de Valkira.
-Eu não sou bruxa. - Valkira falo sonolenta fazendo um bico que logo se transformou em uma feliz face cheia de sono.
-Tchau Fernanda. - Falou tocando meu ombro de leve mas não respondi nada.
-Boa noite pequena. - Sussurrei e beijei a bochecha de Valkira.
Sai do quarto com a cabeça cheia de dúvidas, não parava de relembrar alguns momentos da tarde.
Por que de repente eu lembrei do que ela me falou?
Será que nós realmente tivemos alguma coisa?
-Ei! Ei! Se afasta! - Uma voz masculina gritou já do lado de fora do orfanato - LARGA ELA PORRA!!!
Nesse momento meu coração apertou e a única pessoa que veio a cabeça foi Bruna.
Desci as escadas em pleno desespero e corri para a saída do orfanato.
-Larga ela!!! - Gritei sendo segurada na porta do orfanato por Cathia - Larga ela!!!!
O homem que a segurava pelos braços tinha jogado o amigo de Bruna no chão olhou em minha direção fazendo meu sangue ferver em puro ódio.
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