História You're not Alone. - O time ''Jeremike'' está de volta.

Os raios de sol que atravessavam as cortinas transparentes da janela denunciavam que já estava na hora de levantar. Apesar de querer descansar mais um pouco ao lado do homem que sequer havia acordado, sentou-se na cama e pegou as roupas no chão para se vestir. 

Jeremy, ao se levantar, caminhou com passos calmos em direção ao banheiro próximo para não acordar Mike que parecia estar num bom sono. Era impossível de negar que ele dormia bastante, mesmo não trabalhando mais durante a noite. 

Jogou a água agradavelmente fria sobre o rosto e se encarou por alguns instantes no espelho, vendo seu reflexo turvo. Era bom fazer aquilo de vez em quando, para que voltasse à realidade. 

— Só se passaram dois meses, por que eu tô com a impressão de que estou mais velho? — sussurrou imperceptivelmente para si mesmo, sobressaltando-se quando sentiu alguém o abraçar rapidamente por trás e dar um beijo em sua bochecha direita. 

— Um pouco, eu acho. — Mike puxou uma toalha branca, pondo-a em seu ombro direito — Até barba tá crescendo em você, vai ter que fazer depois.  — Jeremy revirou os olhos e balançou a cabeça. 

— V-Você me assustou.. — Mike o encarou fixamente com um sorriso, como se fosse a coisa mais fofa que ele já tinha visto — para com isso, é sério! 

— Tá bom, garoto. — Jeremy sorriu sem mostrar os dentes, agora mais acordado — Já que você tem tanta certeza de que seu café é melhor que o meu, por que não faz pra gente? 

— C-C-Claro! — Mike abriu um pequeno sorriso, levantando o moletom que usava e o retirando, para tomar banho enquanto o garoto se atrapalhava todo ao falar — Q-Quer dizer, eu faço, sim. 

— Ótimo. — Jeremy se virou de costas para ele, sorrindo abobalhado e caminhando para fora do banheiro — Obrigado, gracinha. — ele pôde ouvir o outro dizer. 

Teria que voltar o mais rápido possível para casa, e era meio chato explicar isso para Mike que era um grande cabeça-dura, sempre. Suspirou.

Fazendo o café da maneira mais cuidadosa possível, tentava ignorar as vibrações insistentes de seu celular no bolso da calça moletom. Não via a hora de poder morar sozinho — ou com Mike — e não precisar mais dar tanta satisfação para seus pais, que eram provavelmente os responsáveis pelas centenas de mensagens de texto. 

— Você.. v-você consegue mesmo beber café com leite? — indagou Jeremy em um tom ligeiramente debochado para o maior, que havia acabado de sair do banho quente e pegava uma caixa de leite cheia. 

— Você não? É uma das melhores coisas do mundo! — Mike sabia que estava exagerando, fazia isso apenas para arrancar algumas risadas do outro, tendo sucesso. 

Jeremy retirou o aparelho celular do bolso e pôs na mesa onde o outro tomava tranquilamente seu café misturado com leite. Um suspiro longo escapou de seus lábios, antes de se sentar ao lado dele para que ambos tomassem café. 

— Tá tudo bem? — indagou, virando o rosto para encará-lo com a preocupação nos olhos azuis-escuros. 

— S-Sim, é que.. eu vou ter que ir, daqui a pouco. — Jeremy sequer bebeu um gole de sua xícara de café puro — Ou irei ouvir grandes lições de moral do meu querido papai. 

— Falta rebeldia na sua alma, sabia? — Jeremy riu com o comentário do namorado, achando que ele tinha toda a razão naquele instante — Vem aqui. — Mike segurou com toda delicadeza seu rosto, beijando seus lábios lentamente em despedida. 

O som estridente do telefone tocando impediu que ambos continuassem, lembrando-os muito bem de onde normalmente escutavam. 

— Deixa que eu atendo. — Jeremy falou levemente frustrado, se levantando da cadeira na qual estava sentado preguiçosamente e atendendo ao telefone — Alô? — disse, nada educado naquele momento. 

Antes que alguém falasse algo do outro lado, podia ser ouvido alguns sons de objetos caindo em volta e gritos raivosos de alguém curiosamente familiar. 

— Olha, seja quem for.. — Jeremy não pôde terminar, já que a outra pessoa, finalmente, falou algo. 

— Jeremy! — Jeremy sabia que já tinha escutado aquela voz, só não se lembrava onde — Quanto tempo, não? 

— Foram só dois meses.. — Jeremy respondeu a seja-lá-quem-for, escutando de vez em quando os sussurros de Mike que perguntavam quem era e sussurrando de volta apenas um ''não sei.'' 

— Onde está o Sr. Schmidt? — ele ia responder, mas hesitou ao encarar novamente Mike que gesticulava desesperadamente para dizer que não se encontrava. 

— E-Ele.. não.. ele não tá aqui. S-Sabe como é, namorar um policial é bem complicado, eles sempre estão ocupados e.. 

— Eu sei que ele está com você. — interrompeu o alguém que aparentava ser um homem não tão velho, indignado com a audácia que o ex-guarda teve em tentar mentir para ele, logo ele. 

— O que você quer, hein? 

Jeremy perguntou sem enrolar mais, não parando de encarar Mike que estava sentado na mesa, quase morrendo de tanta curiosidade. 

— Você nem imagina! — o tom de voz do rapaz soava com tanto otimismo que fez Jeremy se perguntar mais uma vez onde havia escutado aquilo — Eu tenho duas vagas para vocês dois, nessa pizzaria. 

Jeremy hesitou ao responder, imaginando qual seria a reação de Mike ao saber disso, afinal ele estava extremamente satisfeito com a vida longe daqueles ''animatronics.'' 

— V-Vagas para.. dois guardas-noturnos? — indagou em um tom baixo, apesar de Mike ter escutado e arregalado os olhos diante àquilo. 

— Bom, este é o problema. Na verdade temos duas vagas, uma para guarda e outra para segurança.— dessa vez, Jeremy que estava com seus olhos arregalados.

— Você quer mesmo acabar com o nosso time?! — Jeremy indagou desacreditado, prestes a finalizar aquela ligação — N-Nem pensar, pode esquecer! 

— Pense bem nisso. — Jeremy arqueou uma sobrancelha, até querendo aceitar, mas tendo medo do que Mike pensaria sobre isso — A equipe irá aceitar rapidamente os dois, por já terem experiência. 

— Certo. 

Foi tudo o que disse antes de desligar o telefone e finalizar aquela ligação, se virando novamente para Mike que ainda estava sentado na mesa, com a xícara completamente vazia em sua frente. 

— Era o William? — perguntou curioso, inclinando-se para frente na direção do namorado e ouvindo seu suspiro. 

— Não sei, talvez. — Jeremy deu um bom gole em seu café antes de explicar toda a situação — E-Estão nos proporcionando vagas para trabalhar na nova pizzaria, uma de guarda e outra de segurança. 

— Eu provavelmente ficaria com a vaga de segurança, mas.. como você lidaria com todas as noites sozinho?! — Jeremy se perguntava o mesmo, no fundo. Ele roía as unhas — Não, nem pensar. Esquece. 

— O-O-Olha, Mike, talvez não seja tão ruim.. 

— Talvez. — Mike disse com ênfase — Ainda temos a chance de ficarmos longe de toda essa história ao invés de arriscarmos nossa vida. 

— Bem.. e-eu confesso que ainda tem muita coisa que eu queria saber, e talvez seja lá que vamos encontrar respostas. — ele não respondeu, por permanecer com a cara amarrada e pensar no assunto — Mike, eu vou saber me virar! E aquela pizzaria parece estar bem melhor do que a anterior, vão achar rápido um colega de trabalho para mim. 

— Mas, e se.. — Jeremy encarou-o, notando que Mike parecia estar perdido em seus pensamentos paranóicos — e se eu agir daquela maneira novamente? Você lembra? 

— É claro. — o menor fez círculos invisíveis com a ponta do dedo indicador na mesa, nem chegando a esvaziar sua xícara — S-Se isso acontecer, nós vamos conseguir lidar. Eu prometo. E, bem, falta pouco dinheiro para que eu possa sair da casa dos meus pais. — Mike virou o rosto para lhe encarar, parecendo estar convencido agora.

— Tudo bem, talvez no jornal que eu comprei essa semana tenha o número da pizzaria.. — Jeremy sorriu com vitória — Mas se começar a ficar uma merda, eu vou cair fora. 

.  .  .

Jeremy sequer precisava de despertador para acordar no horário, afinal, as discussões absurdamente altas dos pais lhe acordava sempre sem falta. Era, na maioria das vezes, por algo banal. 

Era exatamente por essa razão que chegava cedo na pizzaria anterior. Jeremy não era assim tão responsável como achavam que era. 

Ao fazer suas higienes pôde notar que a discussão parou, ouvindo os passos da mãe se aproximarem cada vez mais do banheiro que estava usando.

— Jeremy, para onde está indo? — indagou Courtney Fitzgerald, sua mãe. Era incrível quando fazia esse tipo de pergunta, pois costumava ser uma mãe ausente e não se importava tanto com o que o pai dizia ao filho, apenas se importava com o trabalho. 

— Trabalho. — respondeu com a maior simplicidade do mundo, arqueando uma sobrancelha ao ver a mãe parada à sua frente na porta do banheiro e lhe impedindo de sair — Q-Que foi? 

— Você não vai trabalhar. — Jeremy rolou os olhos em um desagrado, contornando a mãe e arranjando uma maneira de poder sair — Vai sair de novo com aquele cara estranho, não é? 

— E-E-Ele não é estranho, não fala assim dele! — respondeu de maneira automática ao notar que ela se referia ao Mike, numa irritação que fez a mãe desconfiar — Quer dizer, é apenas um amigo. — Jeremy suspirou cansado. 

— Claro, o que mais ele poderia ser? — Courtney fez uma careta enojada, sempre se privando das diversidades do mundo — Volte cedo, ou teremos uma conversinha. 

— Sim, senhora. — respondeu sem vontade, finalmente deixando a casa ao girar a maçaneta da porta da frente.