História You're not Alone. - O normal não faz falta.

— Olha, quer saber a verdade, Scott?! — a ira de Fritz era uma das únicas coisas das quais poderiam ser notadas naquele apertado escritório, denunciada pelas manchas vermelhas que brotavam em seu rosto — Eu tô cansado de você, e aposto que todos eles estão, mas preferem esconder por trás dessas carinhas tristes! — a cada palavra furiosa que escapava impulsivamente dos lábios do ruivo, Fritz apontava o dedo em direção ao rosto roxo de vergonha de seu superior — Você que decidiu se relacionar com.. a droga de um sociopata, ou seja lá o que ele for! Você escolheu isso, e não precisamos pagar a sua conta, muito menos o Jeremy, que deveria estar dormindo!

Jeremy apertava as bordas da mesa do escritório com seus dedos, enquanto se encostava levemente na mesma e se distraía com qualquer coisa, decidindo não dar tanta atenção para a discussão que se iniciou assim que chegaram. Scott chamou-lhe outra vez, não precisou chamar os outros porque já estavam todos ali, e isso foi o suficiente para deixá-los irados. Para deixar um certo ruivo irado, em especial.

— Se relacionar com um sociopata? — Mike franziu as sobrancelhas, tirando um de seus dedos com unhas roídas dos lábios — Espera, eu pensei que vocês nunca.. — Scott tossiu propositalmente, alto para que pudesse chamar a atenção de todos ali e finalizarem aquele assunto de uma vez.

— Que se dane agora, tá legal? Enquanto a gente discute o relacionamento amoroso dos dois, que provavelmente é a única grande razão do William estar fodendo tudo, o mesmo pode estar planejando acabar com a vida de mais algumas criancinhas! — Jeremy levantou o olhar para Fritz, que estava parado com as mãos na cintura em frente a porta, prestes a ir a qualquer momento, se alguém o acompanhasse — Além desse esquisito, mais algum de vocês tá comigo? — Mike acenou com a cabeça rapidamente, se aproximando, certo do que estaria prestes a fazer.

— Nem precisa perguntar pro Jeremy, eu arrasto ele pelos cabelos mesmo que não queira prosseguir. — Jeremy sabia que ele claramente estava brincando apesar de estar um pouco impaciente, por isso não retrucou, só observava Scott que parecia estar de acordo com tudo dessa vez — Bom, ele com certeza está no lugar de sempre.

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A visão escura que resplandecia da janela do lugar sujo e empoeirado era pouca, mas era o suficiente para lhe fazer ficar fixado ali, sem olhar para trás ou sem se importar com quem estivesse chegando, mesmo que essas pessoas fossem as que o manteria na linha de vez.

— William? — sim, a voz de Scott foi a única suficientemente capaz de fazer ele se virar de frente para todos, que tinham um olhar de preocupação, a preocupação que os cercavam há um bom tempo. Mas William não tinha um olhar intenso e ousado como antes, agora restava só um vazio, como se ele estivesse olhando para qualquer outro. Scott se lembrava da última vez que havia o visto assim.

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Aparentemente, todos estavam presentes na sala absurdamente grande para uma simples reunião, com exceção de um, que ninguém sentiu falta além de Scott. Não entendia ao certo como alguém poderia esquecer dele, pois aqueles cabelos roxos e aquele sorriso lateral era algo, de fato, quase impossível de se esquecer.

Scott foi procurar por ele por duas razões que se chamavam preocupação e, também, receio de levar uma bronca do chefe. Scott sempre ajudava-o, claro, mas ao menos que tivesse algo melhor para fazer. E sinceramente, ficar ouvindo aquelas vozes de veludo não era assim tão interessante, pelo contrário.

— Ei, cara, o que tá fazendo aqui? — Scott arrastou a cadeira de uma das mesas do restaurante para mais próximo dele, para que assim pudessem conversar mais confortavelmente. William não respondeu diretamente, ao invés disso, virou o rosto para encarar o homem de pele ligeiramente amarelada, com o olhar vazio que ele jamais havia visto nesse tempo de amizade — Dave, você tá bem?

— Sim, eu só.. sinto falta de algumas pessoas, e.. de algumas coisas. — William, naquela época chamado como Dave, riu nervosamente e coçou a nuca com os dedos, bagunçando os cabelos roxos que ainda estavam presos sobre um rabo de cavalo — Acho que eu tô tendo algumas crises que tinha desde meus vinte.. v-vinte anos. — o sorriso dele não saía dos lábios, e Scott tentava fingir que não estava assim tão assustado com isso, algo que tinha experiência — Não é bem uma crise porque eu me sinto feliz com isso, mas.. é bem ruim para as outras pessoas.

— Vamos superar isso, cara. Nós dois. E assim, nós vamos fazer o nosso próprio restaurante.  — William sentiu a mão dele massagear seu ombro direito em uma espécie de afago, sorrindo e desviando o olhar para o chão do lugar apertado que mantinha os dois guardas.

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— Dessa vez não vamos superar juntos, né? — William deu uma risadinha, o que fez todos os funcionários que se encontravam ali perceberem que ainda tinha pelo menos um pouco daquele irritante, mesmo que não parecesse — Eu já imaginava. — os olhos do assassino passava de pessoa para pessoa, parando em Mike, que estava de braços cruzados, um pouco alheio da discussão.

— O lugar vai fechar de qualquer forma, mas eu não vou deixar você fazer isso de novo, William. Não vamos superar. Você vai superar. — Scott usou ênfase, aproximando-se com passos lentos do outro e lhe deixando no mínimo surpreso — E se não superar, eu vou fazer bem mais do que te chutar daqui, entendeu?! — Fritz e Mike pareciam ter certo orgulho no olhar, vendo que estavam finalmente tomando uma boa atitude, porém, Jeremy conseguia notar de longe a hesitação que surgia quase de forma imperceptível em cada palavra. Provavelmente seria um prazer para William cair fora do lugar, sumir pra sempre e esquecer de tudo isso, mas era tão impossível que chegava a rir. Nenhum deles podiam manter alguma relação com William, pois seu futuro era certo, e ele não queria demonstrar que se importava. — Só.. vai embora. Eu te garanto, esse lugar é bem melhor sem você. O mundo inteiro é bem melhor sem você, William.

— Sim.

A última frase foi o bastante para deixar a sala silenciosa por alguns instantes que pareciam longos demais. Tudo o que viram, foi William pegar os pertences que ainda estavam na sala e sair pela porta sem dizer qualquer palavra, ou olhar para alguém. O mais engraçado de tudo isso era que William continuou com o mesmo sorriso habitual estampado no rosto, como se aquelas palavras não o afetassem nem um pouco, diferentemente de Jeremy ou qualquer outro.

Agora, William estaria fora de vez. Isso deveria deixar todos em uma grande comemoração, desejando que isso tivesse acontecido antes, mas Jeremy ainda não podia esquecer de que William era seu amigo. O amigo que fez o garoto de dezoito anos esquecer de todas as coisas ruins que William havia dito por impulso, que o fez esquecer de todas as coisas ruins que havia acontecido na droga de vida dele. Era demais.

Jeremy não aguentou esperar que eles fossem embora, aqueles minutos em que conversavam pareciam durar uma eternidade para falar com William, se ele ainda estivesse por perto. Esperava que encontrasse William cheio de lágrimas nos olhos, se lamentando com cigarros e muita bebida, mas, obviamente, isso não aconteceu.

William estava encostado no mesmo lugar de sempre, próximo da saída, onde ficava todos as vezes em que Jeremy e Michael metiam o pé e o menor aproveitava a carona, meses atrás. Ele continuava falando sozinho com um cigarro aceso sob os dedos, e Jeremy continuava achando tudo isso muito esquisito. O dia estava nublado, a estrada vazia, e a única coisa que todos podiam ver era seus fios de cabelo roxo presos até um dos ombros.

— Acho que alguém se esqueceu de se despedir! — William sabia que era Jeremy que estava ali, mas sempre teve essa mania de tratar o garoto como se fosse uma criança, sorrindo de orelha a orelha — Hm, será que é o Schmidt? — Jeremy abaixou a cabeça e riu com timidez, se aproximando lentamente do outro, tendo medo de falar qualquer coisa que pudesse machucá-lo, inclusive, algo impossível.

— S-Sabe, eu ainda acho que é o Fitzgerald! — quando riram, William virou o rosto para ele, fazendo com que Jeremy pudesse ver com mais facilidade suas feições. Havia alguns vestígios do lápis de olho que passava sempre para valorizar sua aparência, vestígios sob toda a pele escura que formavam lágrimas. Era difícil imaginar alguém como ele chorando, e tentar imaginar isso, o deixou realmente mal.

Quando os risos cessaram e o silêncio novamente reinou junto com a tristeza imensa, Jeremy lhe deu um abraço forte, sentindo as lágrimas correrem sem que sequer pudesse impedir. William riu baixo e surpreso, retribuindo ao abraço e dando alguns leves tapinhas nas costas do pequeno, que sentiria muita falta. Jeremy não parava de chorar e soluçar, e isso fez pensar em como Michael se sentia quando via alguém que gostava tanto chorar desse jeito.

— É, eu vou sentir falta. — murmurou, com um aperto profundo no coração que não sabia ao certo o porquê de estar sentindo. Jeremy riu, mesmo sem alegria, tirando os fios escuros que formavam a franja de sua visão.

— Eu também.

— De você, Jeremy. — completou com algumas risadas roucas, tentando fazê-lo rir mas vendo que piorou ainda mais aquela situação. Os dois voltaram ao mesmo silêncio, porém continuaram no mesmo abraço, pois sabiam que poderia ser o último. De verdade. — Eu.. — William apertou os lábios, fungando — Eu queria saber.. você provavelmente não vai conseguir responder isso, mas.. — Jeremy acenou com a cabeça sem dizer nada, com o rosto escondido sobre o tecido roxo do uniforme que já estava todo molhado — O que eu sou, Jeremy? O que.. o que eu sou? — Ele tinha razão. Jeremy não teria qualquer resposta para isso. Ele já sabia, só não queria aceitar, desde quando era adolescente, apenas queria acreditar que poderia ser outra pessoa, não se preocupava em fazer com que isso não fosse só um desejo de crianca

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