Mark queria dizer que tinha planejado passo a passo daquele momento, e que tudo saíra do jeito esperado.
Mas a verdade era que naquela terça-feira, depois de passar o dia inteiro fritando o próprio cérebro tentando entender aquelas fórmulas de matemática, e Youngjae passar por ele, depositando um beijo na sua bochecha e o desejar bons estudos antes de sair para sua última aula do dia, apenas sentiu que aquele era o dia.
Parou os estudos, olhando em volta e se perguntando como faria isso. Levou o dedo indicador à boca, mordiscando sua cutícula ao mesmo tempo em que uma corrente fria passava e o fazia tremer. Esse acontecimento levou a duas consequências: fez seu dedo sangrar, e agiu como uma lâmpada que se acendia em cima da sua cabeça.
Então se ergueu da cadeira à escrivaninha e se espreguiçou, levando seu dedo de volta a boca, dessa vez para estancar o sangue. Ainda em dúvida, mas determinado, doi até o guarda-roupa no próprio quarto e pegou aquele casaco um tamanho maior que Youngjae adorava roubar.
Jogou-o na cama, coçando a cabeça para lembrar onde tinha escondido a caixa, andando de um lado para o outro, até parar novamente em frente a escrivaninha, sorrindo de lado. Abriu a primeira gaveta, a que Youngjae nunca mexia porque Jackson tinha enchido de camisinhas e lubrificantes, mesmo que soubesse que nada do tipo aconteceria por ali, e tirou a caixa de veludo de lá.
Youngjae adorava reclamar daquela gaveta. Dizia que Jackson não o respeitava o suficiente por insistir tanto em algo que não era da conta dele. Mark tinha prometido jogar tudo fora, mas vivia esquecendo, até que serviu seu propósito. Era um ótimo esconderijo.
Às vezes concordava com o namorado, porém. Jackson vivia atracado no menino tailandês que estava vendo e achava que tinha algo a dizer sobre Mark e Youngjae se atracando ou não. Revirou os olhos. Isso não era importante agora.
Voltou à cama, para o casaco, e colocou a caixa dentro do bolso, sorrindo nervosamente para si mesmo enquanto seguia para a sala, casaco na mão.
Conhecendo seu namorado como Mark conhecia, ele tinha certeza de que Youngjae tinha esquecido de pegar um agasalho antes de sair de casa. E era verdade, porque alguns minutos mais tarde, o mais novo entrou correndo pela porta, ofegante atrás de algo para se aquecer. No meio do pior inverno em alguns anos, dentro de casa até estava um ambiente agradável, mas Deus o livre ficar mais de cinco minutos lá fora na sua samba canção e suéter.
Mark sorriu para ele, parando no meio da sala e esticando a peça em sua direção. Youngjae sorriu de volta, aliviado, e o encontrou no meio do caminho, se encaixando no casaco antes de o beijar de leve, gritando que pegaria pizza pro jantar no caminho de volta pra casa.
O mais velho soltou um suspiro trêmulo enquanto a porta se fechava.
Bem, o que estava feito, estava feito.
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Mark encarou a tevê, onde passava a reprise de um daqueles dramas que Youngjae adorava, enquanto brincava com a sua aliança por entre os dedos. Será que seu namorado já tinha achado a caixinha? O que achara? Diria sim?
Coçou a nuca, tentando se livrar das dúvidas. Não tinha motivos para que dissesse não. Eles eram praticamente casados de qualquer jeito, segundo seu grupo de amigos. Tendo se conhecido no primeiro ano do fundamental, tinham virado um item quase imediatamente. Passado o estágio onde Mark tinha apreensão de tudo que se movia, e Youngjae era muito tímido e retraído para tentar fazer muito contato, pelo menos, eles tinham sido inseparáveis.
Passar de amigos a algo mais foi tão fácil como dar um passo. E passo dado, não tinha mais volta. Ninguém tinha estado muito surpreso, de qualquer jeito. E assim, fazem nove anos de namoro, e catorze desde que se conheceram. Nunca realmente saíram da fase lua-de-mel. Youngjae ainda parecia apaixonado, se o jeito que corava toda vez que Mark o beijava por mais tempo que o necessário, e se embolava nas próprias palavras quando estava embaraçado demais, dizia alguma coisa.
Mark esperava sinceramente que ele estivesse tão pronto quanto o próprio se sentia. Nunca tinha estado tão certo de nada nos seus vinte anos de vida, quanto estava sobre isso.
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Youngjae só percebeu algo de errado com seu casaco no meio da aula, quando chegou pra frente na cadeira e algo pontudo espetou sua barriga.
Franzindo o cenho, enfiou a mão no bolso, achando que talvez Mark tivesse deixado suas chaves ali, mas quando seus dedos envolveram um cubo revestido de tecido aveludado, sua confusão aumentou.
Tirou o objeto do bolso, um bico se formando nos seus lábios quando percebeu que era apenas uma caixa. Perguntou-se por que diabos teria uma caixinha de veludo dentro do bolso do casaco do seu namorado. Não era um lugar muito apropriado para qualquer tipo de caixa, se fosse ser sincero. A deixou em cima da mesa, com muita preguiça para abrir a mochila e a colocar lá dentro.
Voltou sua atenção à aula, tentando não pensar muito sobre isso. Mas seu subconsciente não o deixava em paz, o fazendo olhar de relance para ela a todo instante. Vagamente o fazia lembrar da caixa que portava as alianças que Jaebum tinha comprado quando pedira a mão do Jinyoung no ano retrasado, mas não fazia muito sentido. Por que Mark...?
Prendeu a respiração, arregalando os olhos. O tempo pareceu parar, seu professor continuava sua aula como se estivesse em câmera lenta, e suas mãos tremiam ao pegar a caixa de volta. A encarou momentaneamente, respirando fundo, e tentando controlar as lágrimas que fazia seus olhos arderem.
Dentro se encontrava uma aliança. Simples, sem pedras ou nada do tipo. De prata, revestida somente por uma frase na parte de dentro.
"Enquanto me quiser, sou seu."
Soluçou, sua garganta parecendo cheia de algodão, e respirou fundo, não querendo chorar no meio da sala de aula. Devolveu a caixa para a mesa e enterrou o rosto nas mãos. Mais soluços deixavam seu corpo, e até mesmo a menina que sentava ao seu lado o perguntou se estava tudo bem, mas nem ao menos conseguia falar.
Tudo que Youngjae mais queria agora era estar em casa, correr para os braços do seu namorado e lhe dizer que também era seu. Enquanto Mark o tivesse, o quisesse e o amasse. Que sempre seria. Até que a morte os separasse e muito além disso.
Invés disso, se recompôs, secou as lágrimas que deixara escorrer, e com as mãos trêmulas, encaixou o anel no seu quarto dedo da mão direita.
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Youngjae chegou em casa chorando.
Mark levantou correndo do sofá, encaixando a aliança de qualquer jeito no seu dedo, enquanto corria para o menino e o prendia num abraço. O mais novo tremia, sua mão segurando com força o suéter do namorado, a outra indo o abraçar pelo pescoço. A posição era desconfortável, mas Mark se sentia tão preocupado que não se importava.
- Jae? Babe? O que houve? Fala comigo - sussurrou, no tom de voz mais suave que conseguia com a situação.
Youngjae respirou fundo, trêmulo, abrindo a boca e nenhum som saindo. Mark pensou rápido, sabendo que o único jeito de fazê-lo sair desse estado era rindo.
- Me diz, babe, em quem eu tenho que bater? - murmurou, passando a mão pelas suas costas - Foi aquele cara nojento que implica com as suas unhas? Ou seu professor não deixou você entregar o trabalho? Quer saber, eu vou lá e bato em todo mundo logo de vez. Ninguém faz meu bebê chorar.
E lá estava. Youngjae riu, enterrando o rosto contra o seu pescoço, fazendo um som esquisito entre sua gargalhada gostosa e um soluço. Estava fazendo piada de Mark, claro, já que ele era uma negação em luta e não gostava nem de matar uma mosca, mas tudo pra fazer o mais novo parar de chorar.
- N-não faz isso - disse, e Mark suspirou aliviado ao ver que ele estava falando direitinho, mesmo com a voz um pouco rouca. Youngjae se afastou do seu pescoço, sorrindo aquele sorriso gigante dele, a mão que agarrava seu suéter subindo para apoiar contra seu rosto -- Eu preciso do meu noivo vivo, hyung.
Foi no meio do beijo que Mark entendeu, sentindo a aliança contra sua bochecha, e teve que interromper o encontro dos seus lábios para rir. Afastou-se de um Youngjae confuso, apenas para abraçá-lo direito, passando o braço ao redor do seu pescoço e o puxando para que apoiasse a face contra seu peito, inclinando para trás para beijar o topo da sua cabeça e enterrar o rosto entre os fios do seu cabelo.
Youngjae suspirou, o abraçando de volta e se aconchegando ali, e não tinha outro lugar no mundo onde ele quisesse estar.
- Você me assustou, Jae - murmurou, suspirando logo em seguida - Deus, eu amo você.
O mais novo sorriu, molhando seu suéter com mais algumas lágrimas, e se Mark deixou algumas escorrerem também, ninguém precisava saber.
- Amo você também - sussurrou de volta - Enquanto me quiser, sou seu, hyung.
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Só depois que eles se afastaram, Youngjae reparou que a aliança de Mark estava no dedo errado.
- Essa era a sua pressa, hyung? - o mais novo riu, rosto manchado, enquanto se ajoelhava em uma perna só, mão do mais velho entre as suas, e tirava o anel só para encaixa-lo de novo, no quarto dedo da sua mão direita.
Mark corou, usando a mão que Youngjae segurava para ajudá-lo a levantar, antes de bater de leve no seu braço.
- Eu tava preocupado, peste - resmungou, indo se sentar no sofá, e o mais novo foi atrás, se aconchegando contra ele.
- Waa, hyung fica tão fofinho vermelho.
Mark apenas enterrou o rosto no pescoço do mais novo, o agarrando pela cintura, e o mandou calar a boca, sorrindo.
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