Eu deveria ter deixado você no momento que eu vi aquele sorriso estúpido. Estou em estado de ilusão, vestido enrolado na minha cintura, mas você me teve em um adeus. Não temos nada em comum, exceto todos os nossos problemas e fama.
Era noite. Os adolescentes começavam a ir um a um para seus respectivos grupos nas barracas a mando dos professores para que a chamada fosse feita. Alguns ainda estavam molhados por terem acabado de sair do rio, em compensação, outros, já estavam agasalhando-se dentro de blusas grossas, incomodados pelo vento que antes estivera morno começava a se transformar em uma lufada gélida.
Hayden secava seus cabelos com uma toalha amarela – que ele não tinha certeza se pertencia a ele ou não – e caminhava de volta para sua barraca junto de Eric, que como de praxe, tinha entre seus lábios rachados um cigarro e atrás de sua orelha, um outro.
— Cara, eu odeio esses grilos. — Hayden disse á medida que se aproximava.
— Desencana, eles vão perturbar a noite toda. — Baforou a fumaça de seu cigarro no ar.
— Tô começando a me arrepender de ter vindo pra cá, esse lugar é um porre. — Estendeu a toalha em cima da barraca, os olhos de Eric o seguiam silenciosos.
— Vai ficar pior amanhã de manhã quando formos acordados as sete pra faze as atividades do cronograma.
— Ah não, eu planejava dormir até o meio dia! — Hayden frustrou-se e se sentou ao lado de Eric, que soltou apenas uma risada fraca e balançou sua cabeça de um lado para o outro.
— Do que está rindo? — Hayden cruzou seus braços encarando Eric, que não tirava a droga do cigarro da boca pra nada e aquela coisa já estava virando um cotoco.
— Nada, Hayden, absolutamente nada... só queria entender você, sabe?
— Não tem nada pra entender, ué. — Hayden levantou seus ombros.
— Sim, tem sim, não fica se fazendo de difícil, não agora, por favor... quer dizer... — Eric se aproximou um poco de Hayden, puxando o máximo de fumaça que conseguiu e se desfazendo do toco de cigarro, em seguida, baforando tudo no ar pela última vez, deixando Hayden sentir o cheiro inebriante de chiclete mesclado ao aroma do cigarro que Eric exalava. — Ninguém vai prestar atenção em nós... se você não ge...
— Eric, por favor, pode parar por aí, certo? — Hayden fez força e lutou contra seus próprios instintos para afastar-se de Eric. Droga! Era muito difícil manter sua pose de antipático hétero e chato perto de um Eric falando esse tipo de coisa, filho da puta!
Diferente do que Hayden esperava, Eric não se retraiu, permaneceu encarando-o com olhos cobiçosos para seu pescoço, a onde usava uma espécie de gargantilha que havia ganhado a pouco tempo de Kayle. Não se lembra da última vez que amaldiçoou tanto uma pessoa por causa de um presente.
Eric se aproximou outra vez de Hayden e colocou sua mão na coxa do rapaz, que estacou no mesmo instante sentindo tudo em seu corpo se arrepiar. A mão de Eric subia pela extensão da coxa de Hayden que usava uma calça folgada de moletom e sentia os apertos sutis de Eric rumaram em direção a sua virilha.
— A-ah... — Mas que porra foi essa? Hayden se perguntou. Sim, ele havia gemido arrastado, bem ali, na frente de um Eric meio inconsequente de seus atos que passava a mão de forma altamente erótica por suas pernas, puta que pariu, fodeu.
Eric sorriu e aproximou sua boca da orelha de Hayden, sem tirar sua mão da coxa do garoto. O mais velho roçou seus lábios na orelha do outro e sibilou:
— Está começando a doer, não está? Você sabe que eu posso te dar mais, pare de fingir que não quer... vou tirar minhas mãos de você agora e só vou voltar a encostar em você se você me pedir.
Hayden não teve nenhuma reação diante disso, na verdade, só foi conseguir se tocar de que ainda era vivo quando a mão de Eric se afastou dele, e não perdeu tempo em sair de perto do garoto. Não teve coragem de olhar para trás, mas não precisava ser um gênio pra deduzir que Eric estava acendendo um cigarro e rindo de como Hayden ficava quando estava sem graça por que é um filho da puta! Ah, que dia adorável pra cometer o ato de suicídio. Hayden preferia qualquer coisa, qualquer coisa mesmo pra evitar de ter que olhar para Eric outra vez e acabar deixando que suas ações não respondessem ao que ele gostaria.
Por que isso estava muito, muito próximo de acontecer
[ X ]
— Eu não acredito que o Vince fez isso, caralho, cara! — Bernard sentou-se no chão próximo a fogueira recém-acesa, frustrado por não ser ele quem foi falar com Vince, e sim Hiro.
— Ele saiu... e o Arden também. — Chris apareceu dizendo e jogando a chave com um chaveiro de um corvo nas mãos do representante da casa.
— Como assim ,caralho? O que deu na cabeça desses filhos da puta?! — Bernard gritou.
— Acho que tenho um palpite. — Park disse encarando uns metros a frente, a onde era possível ver Mark conversando com os dois garotos. Bernard fez menção de se levantar, mas foi impedido por Chris e por Park.
— Não, mano, não vem querer perder a razão não. — Chris disse. — Não é hora nem lugar pra isso. Fica frio aí.
— Eu vou quebrar a cara desse filho de uma puta, ah se eu vou! — Bernard disse enquanto se desvencilhava dos garotos.
— Fica quieto, meu, a gente da conta de arrumar mais membros.
— Eles já tem doze membros, cara! Vai saber quantos mais vão dar os canos na gente? A gente ta fodido. — Disse Bernard.
— Na verdade, a gente já tem dois membros pra repor no lugar desses pau no cu aí. — Chris disse. — Olha, o Hiro disse que aquele tal Venice lá, sobrinho do Wheels quer entrar, por que ele decidiu ficar na escola até o fim do ano por que gostou da atmosfera das pessoas, puta papo de maconheiro, pois é, mas enfim, membros são membros. Aí tem o Daniel, que tá fodido com a imobiliária do Stephen então ele pode perder a casa e vir pra Vortex, e você, Park, pode trazer seu namorado!
— Eu não tenho namorado, porra. — Park disse. — Mas sua ideia é até boa.
— Desde que o Bernard fale com os caras, vai dar tudo certo. — Chris disse.
—É, pode ser, acho que isso vai funcionar. — Bernard dizia sem animação.
— Mudando de assunto, eu tô com fome pra caralho. — Disse Devon, os outros dois concordaram com a cabeça. — Vou lá na barraca buscar alguma coisa.
Devon deu as costas aos garotos e seguiu o caminho por fora das árvores, por que como já estava escuro, não era muito fácil de enxergar as coisas naquelas circunstâncias.
Cabisbaixo, como sempre, ele enfiou as mãos nos bolsos de seu moletom e olhou para os próprios pés, pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo e praticamente se esquecendo de que haviam pessoas a seu redor, mas não demorou muito até que ele se lembrasse, quando alguém aparentemente tão distraído quanto ele trombou com o rapaz de forma brusca.
— Ai! Puta que pariu, olha por... ah... oi.. August. — Disse ao garoto, fazendo Suga abrir um sorriso de forma que seus olhos sumissem em meio a este.
— Oi, Devon! — Respondeu animado, Park sorriu, certamente, August não estava em seu pefeito juízo, conseguia-se ver pelas bochechas salientes e pelos seus olhos dilatados.
— A onde você estava? Pensei que estaria na barraca do Bernard. — Devon disse.
— Ah, eu estava por aí e acabei fazendo umas coisas... — Ele olhou para o nada, certo, aquela frase preocupou muito Devon, mais do que ele esperava.
Devon levou suas mãos até os ombros de August, que tremeu com o toque de Park e o encarou profundamente, os dois não disseram nada.
— Pode me dizer com quem estava? — Park perguntou, tentou manter seu controle ao máximo.
— Ai, Devon, me larga! Eu sou um garoto livre pra fazer o que eu quiser, ta bom? Não pense que você manda em mim por que você não manda. — A mudança no humor de August foi repentina. Ele passou a alterar seu tom de voz e a se afastar de Devon com violência.
— August, o que você está fazendo? — Devon tentou se aproximar, mas August virou-se de costas para ele e cruzou seus braços, bradando mais uma vez.
— Você não é nada pra mim, pode sair de perto, por favor. Eu sou o suficiente pra mim mesmo, não preciso de você, nem um tiquinho. — Certo, mesmo sabendo que ele estava drogado, bêbado, fosse o que fosse, aquilo doeu.
— Será que dava pra você parar de agir como um completo idiota e olhar pra mim? — Park o pegou pelos ombros e o virou para si, o garoto o encarou assustado, mas logo seu olhar se transformou em raiva.
— Você não sabe nada sobre mim, não aja como se tivesse algum direito de fazer isso! Eu salvei sua vida e você é um completo idiota! Eu deveria ter ficado na minha naquele dia que você me ligou, por que sabe de uma coisa? Você só existe pra me confundir, Devon! — Cuspiu as palavras meio emboladas por conta de estar entorpecido com alguma porcaria.
Devon não teve uma reação imediata ao ouvir aquilo, a única coisa que fez foi passar a língua entre seus lábios e morder a mesma para evitar que a situação se agravasse.
— Eu te odeio, Devon, você é um idiota! Um idiota, idiota, idiota, mil vezes idiota! — August dizia feito uma criança frustrada. Certo, já chega. Devon o agarrou pelo pulso e começou a puxá-lo enquanto ele protestava xingamentos , por sorte, Chris concordou em deixar a barraca um pouco afastada das outras, então não teria problemas se August resolvesse dar algum show.
Devon sentou o garoto no chão, que xingava aos quatro ventos sem motivo nenhum e entrou em sua barraca, tirando de lá uma garrafa d'água, não estava gelada, mas mesmo assim ele a entregou para August.
— Beba.
— Não quero. — Colocou a garrafa longe.
— Não quer o caralho, beba. — Devon abriu a garrafa e colocou na mão de August, que fez menção de jogar tudo em cima de Park mas bebeu um gole da água.
— Além de idiota você é um grosso. — August disse formando um biquinho em seus lábios, porra, se ele não estivesse tão louco seria um momento perfeito para beijá-lo.
— Vai me dizer com quem você estava? — Devon perguntou, encarando August que golejava a água da garrafa com uma certa lerdeza.
— Me de um bom motivo pra isso.
— Se eu descobrir sozinho vai ser pior.
— E se eu não contar, você vai me bater? — Cruzou os braços.
— Eu não vou te bater, só quero saber com quem você estava.
— Ai você é muito chato! Bem que o Mark me falou que se eu estivesse do lado dele ia ser muito mais fácil.
— Como é que é?
— O Mark, idiota! Eu estava com ele e ele foi muito mais legal que você! Ele até me deu bebida, me levou pra barraca dele e deixou eu pegar o que eu quisesse e ele ...
— Você beijou ele, August? Beijou aquele filho da puta? Hein? — Devon se viu tomado por uma raiva que nem mesmo ele pensou que era capaz de acumular.
— E se eu beijei? O que você tem a ver com isso? Até onde eu sei você nem gosta de mim! Os seus amigos da Vortex me contaram tudo!
— Já chega, August. Fica quieto aqui. Se eu voltar e você não estiver aqui eu vou te caçar até no inferno se for preciso, fui claro? — Se manteve nervoso, olhando fixamente para August e usando seu melhor tom intimidador.
— Vê se não me amola, Devon Heejan Park. Me da um tempo.
— Vou ter que te amarrar, August, é isso que está querendo me dizer? — Franziu seu cenho e August mostrou a língua pra ele, entrando dentro da barraca e começando a se revirar em cima do colchão de ar.
Devon fechou a barraca e saiu de lá o mais rápido que pode, bem a tempo de ver Chris e Bernard indo até ele por que haviam estranhado sua demora.
— O Devon, a onde você tava, irmão?
— Sai da minha frente por que se não eu vou matar você também, Bernard. — Devon disse e empurrou o garoto que estava em sua frente, entrando no meio do arvoredo e sendo seguido pelos seus amigos, que tentavam acompanhar os passos enfurecidos do rapaz.
Mark estava sentado junto de seus amigos quando Devon o viu. Chris e Bernard apenas se entreolharam sem ter a mínima ideia do que estavam acontecendo, estavam apenas seguindo o fluxo, como diria o sábio Pierre.
Devon parou de andar quando Mark percebeu sua presença e cutucou seus amigos para que se levantassem e ficassem na mesma postura que Devon, só então, começou a falar.
— O que vocês querem aqui? Eu já deixei vocês em paz. — Cruzou os braços.
— Seu cínico. Pare de agir como se você fosse o santo! — Devon disse enquanto encarava Mark, que não parecia nem um pouco intimidado com as investidas do rapaz.
— Baixa a bola, Park, aqui não é seu reino. — Arden se intrometeu.
— Você não tem que achar nada, Arden, cala tua boca que você tá todo errado. — Devon deu um passo para a frente, Bernard e Chris o acompanharam ao perceber que talvez fosse preciso partir pra ignorância.
— O que quer aqui? — Mark manteve-se neutro.
— O que você fez com o August? — Devon caminhou para mais perto de Mark, este não se retraiu nem um pouco, pelo contrário, abriu um sorriso desafiador.
— O que eu fiz? Ah, Devon, a gente se encontrou por acaso e eu chamei ele pra beber e conversar... ele gosta muito quando damos atenção pra ele, sabia? Depois eu e os garotos conversamos com ele sobre ele fazer parte da nossa república.
— Isso não vai acontecer tão cedo, August tem bom gosto. E eu acho melhor você tirar esse seu sorrisinho vitorioso da cara, porque se você se acha esperto, deve saber que eu estou um passo a sua frente.
— Ah, está? Uau, essa é nova pra mim. Até onde eu reparei você só serve pra se drogar e jogar tudo nas costas do pobre August, que gosta tanto de você mas você nem faz questão de retribuir.
Park empurrou os ombros de Mark, esse desfez seus braços cruzados e riu. O garoto de cabelos loiros se ajeitou e disse algo no ouvido de Arden, que logo saiu de cena indo pra qualquer lugar que Park não se interessava.
— Você não me conhece, Mark. Acho melhor você desfazer essa sua pose de orgulhoso impenetrável por que todos nós sabemos a verdade, você é tão perdido quanto eu.
— Fica na sua, Devon. Você não sabe nada sobre mim e nem eu sobre você. Pare de querer fazer inferninho na vida dos outros, você deveria se preocupar com coisas relevantes, como a porra da sua república indo pro buraco por que o seu amigo ali. — Apontou para Bernard. — Não paga a mensalidade e enfia tudo no rabo pra comprar bebida! Por que você acha que eu quis sair da Vortex desse jeito? Eu não aguento mais esse porra enfiando todo o meu dinheiro no cu dos amigos dele e no dele próprio pra encher aquela merda de coisa inútil em vez de investir em melhorias pra nós. Agora sai da minha frente, seu porra, por que eu não tô com paciência pra nenhum de vocês. — Mark empurrou Park, que não reagiu nem disse uma palavra sequer, apenas encarou Bernard de soslaio e viu o garoto empalidecer.
Devon não disse nenhuma palavra a mais, apenas passou pelos dois amigos e voltou para a sua barraca, não pensando em nada, não culpando Bernard, não falando uma palavra nem pra si mesmo.
Quando ele abriu sua barraca, reparou que talvez ele tivesse demorado tempo demais em sua conversa com Mark, porque August dormia feito uma criança emaranhado em seus cobertores tão zelados por si.
Faltou-lhe coragem para acordar o rapaz sonolento, então, com todo o cuidado do mundo ele apenas se moveu para se deitar ao lado do garoto, mantendo o máximo de distância que aquele micro espaço permitiria que ficasse entre eles.
Virou-se de lado e encarou August, que dormia de forma tão serena e nem parecia ter dado tamanho vexame minutos atrás, Devon chegou até a se esquecer do ocorrido durante alguns minutos em que estivera vendo o peito do garoto subir e descer lentamente.
Park engoliu em seco e fechou seus olhos, não sabe bem o motivo nem quando aconteceu, mas se lembra que sempre olhara August com olhos diferentes. É fato que já ficou com inúmeras outras pessoas diferentes, homens, mulheres, alguns até foram presenciados por August, porém ele nunca achou que de fato era visto do mesmo jeito por August. Claro, tinha suas suposições sobre rolar algo mútuo, mas duvidava que a mesma coisa partisse do garoto mais novo.
A verdade é que além de lento demais, Devon sempre foi tolo demais quando a questão era assumir seus verdadeiros sentimentos. Nunca soube lidar com a tristeza, tampouco com a alegria, quem dirá lidar com... amor? Não, certamente não era amor, talvez uma paixão que já durava longos e intermináveis quatro anos e que sempre se fez próxima quando ele tinha uma conversa mais longa com o garoto... mas... amor?
Devon parou para questionar-se sobre seus sentimentos enquanto mordia sua própria língua e tinha seus olhos fechados para não encarar aquele que dormia tão serenamente ao seu lado.
Ele estava se afundando em algumas perguntas que não fazia a si mesmo havia muito tempo quando sentiu uma mão gelada passar pelo seu braço, subindo a manga de seu moletom e fazendo círculos com leveza pela sua derme.
Abriu seus olhos, mas não se assustou ao encontrar August desperto passeando com seus dedos por seu braço, mas quando seus olhares se encontraram, Devon sentiu-se fraquejar.
— Desculpa. — August disse antes de Devon ter qualquer reação, parando de mexer no braço do garoto e deitando em cima de suas duas mãos, de modo que pudesse encará-lo.
— Não se desculpe. — Devon disse e repetiu o gesto de August, também deitando-se em cima de suas mãos.
— Eu não odeio você, mas te acho um idiota. — Confessou August, bocejando logo em seguida.
— Eu também me acho um idiota as vezes.
— Ah, cala a boca, sem drama perto de mim por que se não te dou um chute. — August disse.
— Eu não estou fazendo drama! — Devon resmungou. — Aish...
— O que é Aish? Ah, esquece, não importa. Devon, eu quero te perguntar uma coisa e eu quero perguntar agora, por que se não eu nunca vou te perguntar isso e vou morrer pensando nisso e se eu morrer pensando nisso a culpa vai ser sua, porque eu nunca vou descansar em paz. — August falou sem pausas.
— Você não vai morrer pensando em nada... pode perguntar.
— Por que você não me beija?
Merda! Pense em uma resposta, Devon, você foi pego no bait.
— Ah p-por que somos amigos!
— Mas eu não gosto de você como amigo! Ah será que eu tenho que te explicar tudo? — August se frustrou.
— Eu sei, eu sei, mas... ah eu não acho certo a gente se beijar... já nos conhecemos a tanto tempo e eu.. não sei, tenho medo de você não falar mais comigo.
August não disse nada, apenas se virou de barriga para cima no colchão de ar e disse:
— Mas você vai me beijar um dia, não vai? Quer dizer, eu quero que você me beije mas só se você quiser.
— A-ah, eu.. é, acho que sim. — Devon respondeu meio acanhado.
— Então boa noite, Devon. — August disse enquanto se virava para o outro lado.
— B-boa noite, August.
E naquele momento, Devon desejou morrer.
Mas longe dali, a situação não estava muito diferente.
Depois que a chamada foi feita, Donnie decidiu voltar pra perto do lago, porque concluiu que precisava ficar um tempo sozinho e pensar sobre como as coisas estavam ocorrendo e em como tão pouco tempo já se sentiu parte de um lugar, coisa que não acontecia com muita frequência em sua vida.
Seus pés iam de encontro a água fria do lago e ele abraçava os próprios braços descobertos e tentava fazer o possível pra não pensar em nada, porém, não importava o quanto Donnie tentasse, o seu passado sempre voltaria a atormentá-lo.
— Ei, Donnie! — Alguém o chamou, fazendo com que ele virasse assustado.
— Oi Pierre, você me assustou.
— Ah, me desculpa, é que você sumiu e... ah, pensei que tivesse algo de errado.
Donnie sorriu, Pierre apenas baixou a cabeça e caminhou até o lado do garoto mais alto.
— Estou bem, não precisa se preocupar.
— Você não acha melhor voltar pra lá? Me incomoda saber que você tá aqui sozinho, vai que, sei lá aprece algum louco vestido de palhaço aqui.
— Tem palhaços por aqui?! — Donnie se levantou no mesmo instante. — Pierre por que a gente ainda ta aqui? Eu vou embora!
— Relaxa, eu só estou brincando, mas calma aí, então quer dizer que você tem medo de palhaços? — Pierre levantou uma das sobrancelhas e começou a rir.
— C-como? Eu? Medo de palhaços? Faça-me um favor! Claro que não.
— Poxa, ainda bem que eu não te contei dos palhaços soltos por todo o estado de Oregon.
— Para, porra! Eu não gosto dessas coisas!
Pierre começou a rir de Donnie e se levantou, quase escorregando. Foi a vez de Donnie rir.
— Seu idiota, você deveria me ajudar e não rir de mim!
— Eu não deveria nada, Pierre, tá maluco?
— Não deveria? Nunca viu aqueles filmes em que o rapaz ajuda a mocinha que quase caiu e depois eles se beijam?
— Como é que é? — Donnie arregalou os olhos.
— Você precisa urgentemente renovar o seu senso de humor. — Pierre disse e soltou mais uma risada quando viu que as bochechas de Donnie estavam coradas. — Tá com vergonha de mim, é?
— Não seja bobo, claro que não. — Donnie virou o rosto para o outro lado. — A gente deveria ir pra....
— Você já beijou garotos, Donnie? — Pierre perguntou quando percebeu que ele ia tentar desconversar, queria se aproximar de Donnie a qualquer custo.
— A-ah Pierre, nós vamos mesmo falar disso?
— Sim! O que tem de mais? Pode confessar, vai, não conto pra ninguém.
— Eu... é... eu já beijei um garoto.
— Uuuh... eu também já, e como você se sentiu?
— C-como... ué, como as pessoas se sentem quando beijam umas as outras.
— Entendi... e você gostou.
— Pierre, podemos mudar de assunto? — Donnie pediu e Pierre concordou com um sorriso, sentiu que Donnie ficava realmente desconfortável com aquele tipo de assunto.
Donnie voltou a abraçar seus braços e Pierre se aproximava dele, quando foram surpreendidos pela presença de um Christopher ofegante, parando em frente aos dois garotos que se entreolharam sem entender nada.
— Porra! O acampamento desmorona e vocês aqui se comendo? Vão se foder!
— Se você não tivesse atrapalhado, quem sabe a gente não fosse mesmo. — Pierre disse, Donnie arregalou os olhos pela enésima vez.
— Não fala besteira, Pierre! E Chris, não estávamos fazendo nada. O que aconteceu?
— O Bernard, molhou o frango do Bernard, vamos embora logo antes que ele comece a fazer merda!
Donnie nem parou para olhar para Pierre que era o último a começar a seguir Chris depois da vergonha que este havia feito ele passar. Chris andava com uma certa pressa enquanto reclamava da situação.
— Achei que eu ia vir pro meio do mato, porra, a oportunidade perfeita de ficar doidão, mas não! Alguma merda tem que acontecer, caralho mano, vai se foder!
— O que ta acontecendo com o Ronaldinho? — Pierre perguntou elevando um pouco seu tom de voz.
— Você vai ter que ver pra crer, hermano, ver pra crer.
Depois disso, os garotos passaram a andar ainda mais rápido até que Chris viu que ter ido chamar por ajuda talvez não tivesse sido uma opção das melhores, porque Bernard já estava com metade de suas coisas dentro de sua mala.
— Você vai embora daqui como, seu idiota? — Chris perguntou e se apoiou nos seus joelhos.
— Eu vou ir andando, não sei, de jegue, skate, patinete, não sei porra, dou meu jeito! — Bernard dizia.
— Será que dá pra explicar o que está acontecendo aqui? — Pierre disse.
— O Mark! Caralho, porra, o Mark contou pro Devon e pro Chris que eu tô devendo até os olhos da cara pra pagar o aluguel da Vortex! Agora o Devon sumiu e eu sei que quando ele voltar ele vai ter uma arma e vai descarregar na minha cabeça.
— Cala a boca, Bernard. O Devon tá dormindo na barraca junto com o August, eu fui lá ver. — Chris disse puxando a mala de Bernard para longe dele e jogando dendo de sua respectiva barraca.
— Cara, eu tô fodido, ele vai contar pros outros e vão me tirar da Vortex, porra, não tenho nem cu pra cagar até parece que vou ter outro lugar pra morar se eu sair de lá!
Chris aproximou-se de Bernard e o segurou pelos ombros, chacoalhando o rapaz de forma brusca e desferido um tapa em seu rosto. Pierre e Donnie olharam a cena sem entender o motivo de Chris ter feito aquilo, mas não se moveram, na maioria das vezes, Bernard e Chris tinham um jeito excepcional de se comunicar.
— Para de falar! Você não vai sair da Vortex, seu burro. Mas você precisa falar com os caras, isso é fato. Tem que fazer isso antes que algo pior aconteça, como eles descobrirem pela boca do Mark ou de alguém da gangue dos lobos que usam camisa polo e jogam golfe as quartas a tarde.
Bernard riu, mesmo com o rosto formigando ele riu da piada de Chris, odiava ter que admitir quando o maconheiro tinha razão.
— Acho que ainda estão todos acordados, posso ir com você se quiser. — Donnie se ofereceu e Chris assentiu, aceitando a ajuda.
— A gente volta em dez minutos, Pierre, se o Bernard começar com frescura você soca a cara dele, tá bom? — Chris disse e pierre fez um sinal de ''joia'' em resposta.
Chris e Donnie foram atrás de todos os membros daquilo que eles poderiam chamar de república, porém tudo estava por um fio, Bernard teria que encarar muita gente pra explicar o que aconteceu.
Na verdade, não esperava que eles entendessem nem um pouco o que se passava na cabeça de um adolescente bêbado e carente que gastou todo o seu dinheiro em bebidas e em jogos de poker em bares da cidade.
A verdade é que Bernard estava só esperando pelo momento em que seu pescoço iria para a forca, só não esperava que fosse tão cedo.
[ X ]
Sorte em jogos de tabuleiro era uma proeza que nem todos obtinham dentro daquele círculo, e uns começavam a se revoltar mais do que outros por que não conseguiram comer nenhuma pecinha sequer no jogo de damas.
— Ah não, o Venice, sai daqui! Você tá roubando! — Naomi dizia enquanto observava o garoto comer mais uma de suas peças no jogo.
— Você que é ruim e não sabe jogar. — Ele respondeu enquanto recolhia as peças. — Da licença, deixa eu jogar com o Floyd porque você já está tentando ganhar de mim faz meia hora.
— Claro, com você roubando fica fácil de ganhar! — A menina reclamou e se moveu para o outro lado, dando espaço para Floyd se sentar e cruzando seus braços.
— Cadê a sua amiga, Naomi? A Bree? — Venice perguntou enquanto ajeitava novamente as peças pretas do seu lado do tabuleiro.
— Dormindo né, o que você acha? Ela não é vagabunda igual a gente.
— Eu não sou vagabundo, Naomi! Você é a única sem emprego aqui! — Disse Floyd.
— O Venice também não trabalha!
— Como se ele precisasse trabalhar, ele é sobrinho do diretor, Naomi. — Floyd moveu a primeira peça de seu lado.
— Na verdade eu trabalho sim, eu sou fotógrafo. — Disse como se fosse óbvio.
— Mas quantos anos você tem? — Floyd perguntou.
— Dezessete, ué!
— Como você pode trabalhar se você não é de maior? — Naomi franziu o cenho.
— É o que dizem, quem quer corre atrás. — Venice sorriu e Naomi revirou seus olhos.
Venice e Floyd corriam normalmente com o jogo enquanto Naomi tagarelava que Venice estava roubando, e então, repararam que mais gente se juntava a eles.
— Olha só, Floyd, eu não aguento mais seu amigo falando na minha orelha que está sentindo falta do jogo dele. — Robin, trajando seu pijama com desenhos de porquinhos chegou bufando para os outros. — Sem contar que ele fica se mexendo pra lá e pra cá e não me deixa dormir, eu vou chutar a cara dele.
— Ué, e o que você quer que eu faça por você? Coloca uma fita na boca dele, sei lá! — Respondeu Floyd.
— Não vou ficar na mesma barraca que aquele garoto louco!
— O Niccolo não é louco, só tem necessidades especiais.
— Eu também tenho necessidades especiais, como por exemplo o meu sono! — Robin disse enquanto gesticulava de forma exagerada.
— É tudo mentira dela, tudo armação e arapuca! — Niccolo apareceu, dizendo em sua defesa.
— Mentira? Como você fala que é mentira que você ficou dizendo ''ai como eu queria jogar lol agora'' durante meia hora, não me deixando dormir?
— Floyd me deixa dormir na sua barraca? — Niccolo perguntou, ignorando o comentário altamente ofensivo de Robin.
— Mas eu já tô com o Venice! — Floyd apontou para o francês ao seu lado.
— Vai me negar ajuda? Beleza então, nunca mais fala comigo. — Niccolo fingiu estar ofendido.
— Que garoto dramático, eu espero que pelo menos sirva pra ajudar a fazer o trabalho. — Robin suspirou e se sentou no chão ao lado de Naomi.
— Se estiver tudo bem pela moça, eu posso dormir na barraca com ela, prometo que não falo de jogos. — Venice mostrou-se um tanto indiferente e moveu mais uma peça no tabuleiro. — Ahá! Fiz mais uma dama.
— O que? Você tem algum tipo de pacto? — Floyd disse.
— Ladrão! — Naomi acusou.
— Não é minha culpa se vocês não sabem jogar, galera. — Venice riu. — Mas então, o que vão fazer?
— Eu preferia dormir sozinha, se quer saber. Porém não acho que caibam três pessoas em uma barraca. — Robin disse. — Então tudo bem, o francês fica na minha barraca.
— Vai dormir com um desconhecido que é sobrinho do Wheels e ainda por cima camera men?— Naomi arregalou seus olhos, surpresa com a facilidade com a qual Robin aceitou dormir na mesma barraca que Venice.
— Eu estava dormindo do lado do Niccolo, qualquer coisa é melhor do que isso.
— E aí você vem jogar o fardo pra mim, né? Sua cachorra! — Floyd disse.
— Galera, eu ainda tô aqui! — Niccolo balançou as mãos no ar fazendo com que os amigos rissem.
— Tô brincando, Nico. Você pode ficar na minha barraca sim. — Floyd disse e deu tapinhas nas costas de Niccolo.
— Esse lugar tá um tédio, e eu não faço a menor ideia do que eu vou responder pra aquela bosta de pergunta, eu poderia simplesmente escrever um texto, não é? Mas não, ótima ideia ir pro meio do mato. — Naomi reclamou.
— Nem me fala, essa é a pior ideia que a escola teve desde que deixaram os alunos de terceiro colegial criarem repúblicas. — Disse Nico, sentando-se próximo a Floyd que estava prestes a perder a partida do jogo.
— Eu acho que foi uma iniciativa legal até. — Venice disse. — Exceto pela parte de que eu também vou ter que concluir o projeto, já que eu vou ser transferido.
— O que tá acontecendo em West High? Fala sério, aqui tem mais francês do que americano!— Niccolo disse.
— Particularmente, eu só vim pra cá pelo Wheels mesmo, que me insiste já há três anos pra que eu venha pra North West High.
— Você não gosta da França? — Naomi mostrou-se interessada.
— Até gosto, minha mãe vive na França, mas não vi problemas em terminar meu ensino médio aqui e depois voltar pra lá e me formar em Pantheon.
— Acho que de todos os alunos dessa escola você é um dos... quatro ou cinco que pretende fazer uma faculdade. — Niccolo disse e em seguida bocejou. — Que sono da porra.
— Vocês não tem vontade de fazer uma faculdade? — Venice franziu as sobrancelhas, encarando os jovens um a um.
— Eu quero ir pra Columbia, mas provavelmente eu vou acabar indo pra algum lugar como a South Florida. — Naomi comentou um pouco desapontada.
— Se eu terminar o segundo semestre sem reprovar em química eu já tô no lucro, quem dirá passar em uma faculdade! — Confessou Robin e os demais riram.
— Eu não sei, queria entrar em Yale pra fazer desenvolvimento de jogos e essas paradas, mas duvido que consiga pagar, mesmo com o trabalho na imobiliária eu acho que deve ser bem mais caro. — Nico contou enquanto coçava os próprios olhos.
— Eu quero Harvard. — Floyd disse de forma simplista e os outros fizeram uma cara de desconfiados, o que foi notado por ele. — O que? Acham que eu não sou capaz de entrar em Harvard?
— Hã... sim, achamos. — Niccolo disse. — Ninguém nessa escola tem capacidade pra Harvard, Floyd. A gente só quer saber de putaria.
— A gente vírgula, eu sou cristã. — Naomi falou e os outros riram da menina.
Os jovens ficaram mais alguns minutos discutindo sobre seus futuros acadêmicos, Robin disse que quer pra sua vida qualquer coisa que lhe traga dinheiro, Naomi queria fazer medicina veterinária, todos concordavam que essa era a melhor opção para a garota, visto que ela se irritou com Venice por ter matado um besouro que havia pousado em seu braço a ponto de quase chutar o rosto do menino. Nico disse a todos que gostaria de trabalhar na sede do Google, por que aquele lugar é ''um fodendo parque de diversões pra pessoas bem sucedidas.'' Como ele mesmo chamou. Floyd, como todos sabiam, exceto por Venice, queria se formar em uma academia de dança bem sucedida caso seu plano de Harvard não desse certo... já Venice, não preciso dizer o óbvio, mas já dizendo, queria se formar em fotografia.
Ficaram conversando por longos minutos, até que uma movimentação incomum de muitos garotos saindo de suas barracas zanzando de um lado para o outro chamou-lhes a atenção, até que um deles, Tristan Wentworth, apareceu procurando por Venice.
— É você que fez sua inscrição com o Hiro, não é? — Tristan coçou a nuca e bocejou, cativando parte dos cinco jovens a imitarem seu gesto.
— Sim, sou eu sim.
— Então vem comigo, você tem que estar presente também pra saber dos rolos todos. — Tristan chamou e Venice o seguiu para sabe-se lá onde.
Os quatro adolescentes restantes apenas se entreolharam e deram ombros ao fato, continuando seu assunto por um tempo e depois se despedindo, seguindo cada um para sua barraca, afinal, ainda teriam mais um dia cheio para aturar após aquele.
[ X ]
— Se eu fosse um pokémon, acho que com toda a certeza eu seria o Porygon.
— Quanta auto-estima, hein, Artemis?
— Mas é claro, se eu não tiver quem vai ter por mim? — Ela encarou Venus, que estava deitada olhando para o céu.
— E você, seria quem?
— O Venusaur, claro!
— Eu não entendo nada de pokémon, eu preferia bakugan. — Cleopatra, que até então bebia sua coca-cola quieta se manifestou, indignando Artemis e Venus.
— Bakugan era uma porcaria, Cleo! Como você pode gostar desse treco? — Artemis disse.
— Me deixa em paz, demônios! — Bebeu um gole de sua coca.
— Jajá é uma da manhã e o Pierre ainda não voltou pra barraca, parece que eu vou ter que alugar vocês por mais tempo. — Artemis olhou seu relógio de pulso.
— Artemis dormindo juntinho com o Pierre, que sorte. — Cleopatra disse.
— Não é como se eu fosse beijar ele, Cleo. E eu não tenho interesse nenhum no Pierre, sério, acho que é mais fácil eu beijar você do que beijar o Pierre.
— Então só vem, por que eu tenho interesse. — Cleopatra fez um biquinho e chamou Artemis com o dedo, as garotas riram.
— Sério, eu acho que a maioria dos garotos daqui está interessado em outro garoto, o que resta pra gente é beijar mocinhas, né? — Disse Cleopatra.
— E foi assim que a heterossexualidade foi extinta do mundo. — Venus falou.
— Não sei não, pode ser que a maioria daqui não termine o relacionamento até chegar a época de indicações para a faculdade. — Artemis disse.
— Ah, que isso, deixa de ser pessimista, tem muitos casais que ainda estão aí pra darem certo.— Venus disse.
— Nah, eu concordo com a Artemis, esses casais de hoje são todos obra do famoso fogo anal, cu de labareda, rabo em chamas, vocês sabem...
— Cleopatra você é péssima. — Artemis riu.
— Eu duvido que algum desses casais durem pra ver o baile acontecer. — Cleopatra disse.
— Ah, a droga do baile, tem essa ainda... — Venus comentou derrotada.
— Por que droga? Pensei que você gostava, Venu. — Artemis disse.
— Gostava na oitava série, quando eu tinha um par com três meses de antecedência. — Disse.
— Ah eu adoro, nem que for pra ir sozinha só pra rebolar a bunda eu vou, tô nem ai pra macho.— Cleopatra disse e terminou seu refrigerante.
— Acho que eu não vou esse ano. — Venus disse.
— Como assim não vai? É claro que vai! — Artemis disse. — Nós também não temos pares e vamos mesmo se não arranjarmos ninguém.
— Ah meninas, não sei não. — Venus falou em tom desgostoso.
— Para de ser fresca, garota. — Cleopatra cutucou Venus com seu pé, e a garota se colocou sentada na grama coçando seus olhos em resposta ao sono que começava a sentir.
— Por que vocês querem que eu vá, afinal? eu nem gosto de bailes...
— Você gosta sim! Não mente pra gente, Venu. — Cleopatra disse, Venus revirou os olhos e respirou fundo.
— Tá, que seja, provavelmente a Martha vai me botar pra ajudar no comitê do baile. É um saco ser do grêmio. — Venu disse e encarou Artemis, pois a mesma tinha a convencido de ser parte do grêmio estudantil e ter um papel importante no mesmo.
— Que é? Não olha pra mim não! Você aceitou fazer parte porque o Devon te chamou, culpa ele por fazer merda e ser expulso pelos homofóbicos evangélicos de quinze anos.
— As piores pessoas da escola estão no grêmio, aquele Jhon escroto, o Noah chato do caralho, nossa como eu odeio aquele garoto! Um dia eu enforco ele com aquele lencinho que ele usa em volta do pescoço e enfio na bunda dele. O Maxwell encubado, quem mais? Enfim, só os podres.
— Quem salva do grêmio sou eu e a Venu, e temos que ficar até o fim do ano, mas o Chris tá como presidente, duvido que a gente dure até lá.
— Quem colocou o Christopher como presidente? — Cleopatra perguntou enquanto ria.
— Os mesmos garotos que tiraram o Devon, disseram que o Chris representava melhor o que a escola deveria ser.
— A gente deveria ser desgraçado da cabeça? — Cleo ergueu uma de suas sobrancelhas. — As pessoas não fazem sentido nenhum, né?
— Vamos fazer o que, né não? — Venus disse e bocejou. — Eu vou dormir, se algo de interessante acontecer, não me acordem, mas gravem e me mostrem amanhã de manhã.
As garotas deram boa noite a Venus, que logo foi para dentro da barraca e se embrenhou em seu cobertores. As outras duas não tardaram a tomarem o mesmo rumo.
E não foi de grande interesse delas os acontecimentos que se sucederiam a seguir, mas há sempre ouvidos curiosos por aí que captam cada palavra dita por cada pessoa, com o simples intuito de usar contra a mesma depois... malditos sejam os fofoqueiros que sofrem de insônia.
Maxwell e Healer caminhavam um ao lado do outro sem dizer nada, haviam acabado de presenciar uma briga entre dois dos garotos de seu ''clube'' e o clima acabou pesando até mesmo entre eles que não tinham nada a ver com o assunto, mas de certa forma, tomaram dores dos rapazes.
— Acha que vai demorar até que o TC conte pra gente o que aconteceu de fato? — Healer arqueou a sobrancelha.
— Não sei, ele não fala direito com a gente direito desde aquele rolo que ele teve na delegacia, sei lá com o que ele tava metido, mas coisa boa não pode ser.
— O Jhonny e a Yuna pegaram um pouco pesado com ele, não acha?
— Ah cara, não acho não, sabe? — Max fez uma pausa e coçou seu olho direito. — O Smythe já não é mais o mesmo de dois anos atrás, acho que a gente só demorou pra perceber isso antes dos outros.
— Não sei não... ele pode estar com problemas... tipo, muitos!
— Com problemas, meu amigo, estamos eu e você! — Max, um pouco lesado pelo sono que começava a marcar presença cutucou o peito de Healer e o empurrou um pouquinho para trás, fazendo este soltar uma risada pelo gesto infantil que partiu do amigo. — É sério, eu não tenho a mínima ideia do que vou responder nessa droga de projeto, isso é um problema e tanto!
— Ah é? Pasme! Eu sei muito bem o que tem me movido. — Healer comentou orgulhoso.
— Sabe mesmo? — Max parou de andar a caminho de sua barraca e parou perto de uma qualquer, estreitando os olhos para Healer.
— Sei. — Manteve a pose.
— Me conta, então! — Maxwell cruzou seus braços
— Vai nessa. Até parece que eu não sei que você quer copiar a minha ideia, seja original!
— O que me move é saber que sou um dos poucos caras dessa escola que não pega os amigos no banheiro.
— Como é que é? — Healer arqueou as sobrancelhas. — Não é isso o que contam os corredores, huh?
— Me erra, Healer, não sou uma bichinha! — Max irritou-se.
— Você é muito bichinha sim, só precisa encontrar seu cara certo!
— CALA A BOCA! Você não faz ideia do que diz. — Maxwell alterou-se de forma completamente infantil.
— Relaxa, tampinha, seu segredinho tá bem guardado comigo. — Healer puxou Maxwell pra mais perto. — Até porque eu sou o único que conhece ele como ninguém não é?
— H-Healer! Me solta! — Maxwell tentou se desvencilhar de Healer apertando sua cintura, droga! Maldito dia aquele em que eles se beijaram, mas Maxwell estava bêbado, não havia como saber o que estava fazendo! E as outras duas vezes... ou três... foram puro deslize!
— Shhh... não grite! — Healer olhou a sua volta e percebeu que não havia ninguém sequer acordado, então não demorou em alcançar os lábios de Maxwell e beijá-lo com vontade. De início o mais baixo resistiu e tentou se soltar, mas só precisou de mais uns segundos sentindo o atrito do corpo com o de Healer pra que desse passagem a língua já conhecida pela sua. Sem vergonha alguma, os dois se beijavam de forma necessitada enquanto as mãos de Maxwell puxavam os cabelos da nuca de Healer, que por sua vez friccionava os corpos de uma forma gostosa.
Quando se viu livre, Max demorou um pouco a abrir seus olhos e encarar Healer, mas que merda! Por que ele tinha aceitado fazer isso?
— E-eu... euvoupraminhabarracatevejodepois. — Disparou, sem dar chance de resposta a Healer, que apenas sorriu ao ver Maxwell se afastando completamente constrangido, como em todas as outras vezes em que alegou estar fora de si.
Healer mordeu seu lábio inferior e balançou a cabeça para os lados, apenas desejando que um dia Maxwell saísse do armário, seria bom poder beijá-lo assim com ele tendo a plena consciência do que estava fazendo.
O garoto não viu mais nada de interessante pra fazer por ali, então não tardou em ir para sua barraca.
E como de costume, os olhares curiosos haviam visto a cena toda, e suas línguas coçavam para dizerem a todos o que tinham acabado de ver, porém, alguns são mais espertos, e sabem que se tiverem determinadas pessoas em suas mãos, a vida sempre corre com mais facilidade.
— Tô chocada! — Sussurrou ao outro. — Todo mundo precisa saber que eles se pegam!
— Tá maluca? — Franziu seu cenho. — Você vai ficar caladinha, se eu souber que você contou pra qualquer pessoa nessa porra eu vou te raspar a cabeça!
— Ai, seu grosso! — Fingiu estar ofendida. — Não vai contar o que soube, como você sempre faz?
— Minha filha, eu achei o pote de ouro no final do arco-iris, acha mesmo que eu sou burro de espalhar esse babado? Não! Eu vou ficar quietinho e na hora certa eu vou saber como usar. — Cruzou os braços enquanto sorria de forma maldosa e encarava a amiga.
— Acho que eu entendi a onde você quer chegar, só quero ver a onde você vai até aguentar e segurar a língua. — Ela deu ombros.
O garoto não respondeu, apenas fechou a barraca e se deitou, vangloriando-se mentalmente de sua descoberta.
[ X ]
— Viktor, devem ser quase três da manhã será que você poderia por obséquio calar a porra da boca e me deixar dormir? — Thomas Williams reclamou para seu parceiro dentro da barraca, que por alguma razão não conseguia dormir e começou a cantar a trilha sonora da Sharpay Evans em High School Musical.
— Tape os ouvidos, cara! — Viktor deu ombros e continuou cantando Boop To The Top em um ritmo engraçado, e Thomas gritou de frustração contra o travesseiro.
— Vendo por esse lado, ficar na barraca do Casey ex-Sancho-Pança não me parece uma má ideia. — Reclamou, virando-se de barriga pra cima e Viktor pausou sua performance pra rir do que Thomas tinha falado.
— Não chama ele de Sancho-Pança! Coitadinho, ele tinha complexo com isso.
— Pensa pelo lado bom, hoje em dia ele é fitness e é o barman mais simpático que eu já conheci, tirando o fato de que ele é meio louco de limpeza.
— Você precisa parar de falar assim das pessoas, Thomas! Não culpe a sua sinceridade, ser sincero é uma coisa, ser babaca é outra.
— Ah me poupa de sermão agora, Vik, é sério, eu tô ficando puto porque você não me deixa dormir!
— Se você não parar de reclamar eu acendo um cigarro aqui e empesteio a barraca toda com o cheiro, seu fresco! — Viktor ralhou, fingindo estar bravo.
— Você é uma pessoa exótica, né? — Thomas arqueou sua sobrancelha e Viktor o olhou com uma cara de desentendido.
— E com exótica você diz... — Falou pausado para que Thomas terminasse sua frase.
— Com exótica eu digo que você é diferente, meio louco, mas é bacana. Se me deixasse dormir seria mais bacana ainda!
— Você é chato pra caralho, Thomas, por isso não come ninguém!
— Como é que é? — Thomas se sentou, indignado pelo garoto ter falado aquilo como se não ofendesse seu ego.
— Você. Não. Come. Ninguém. Porque. É. Chato. — Repetiu palavra por palavra, sem nem se dar o trabalho de olhar a expressão chocada de Thomas.
— E depois você fala que a minha sinceridade é que ofende os outros! — Jogou um travesseiro em Viktor, que defendeu-se jogando o mesmo em Thomas. — Você fala como se fosse um grande comedor.
— HAHAHAHAHA, a última coisa que eu sou é ''comedor,'' Thomas.
— Como assim?
— Eu sou gay, ué!
— Ah mano, vai se foder! Todo mundo nessa escola é gay? Os héteros da pra contar nos dedos. — Mostrou a palma de sua mão, Viktor riu.
— Os próprios héteros não são tão héteros como se dizem, o mesmo vale para as garotas, se parar pra reparar.
— Será que a Brooke cristã é lésbica? Se for eu vou ter que chamar outra pra ir no baile.
— BROOKE CRISTÃ. — Viktor berrou e começou a rir da naturalidade com que Thomas se referia as pessoas.
— Viktor, te pago dez dólares se você me deixar dormir, e mais dez se você perguntar se a Brooke quer ir no baile comigo.
— Aceito as dez pratas, mas o baile é daqui a dois meses! — Viktor disse. — E outra, não deveris ser você quem vai chamar ela pra sair?
— Isso aí é ideia errada. Só pergunta pra ela que eu te pago, demorou?
— Então tá Thomas, melhor você dormir enquanto eu ainda estou tentado por ganhar vinte dólares.
Thomas riu e se deitou, pegando do sono dez minutos depois, já Viktor demorou um pouco até dormir sem nem se tocar do que acontecia fora da barraca.
[ X ]
Tínhamos aqui doze garotos, a maioria com sono e irritado por ter sido tirado de sua cama no meio da noite pra sabe-se lá a merda que tinha acontecido na Vortex. Certo, era a casa deles, mas reuniões no meio da noite? Sério? Caralho!
— Vai, Bernard, fala logo o que você quer que eu quero dormir! — Benjamin disse e ouviu alguns concordando consigo.
— Respeita o cara, tio! Não tá vendo que ele tá nervoso? — Chris, que estava sentado do lado de Benjamin na rodinha disse empurrou o braço dele.
— Cade o Devon? Ele nunca falta nas reuniões. — Archie reparou, Bernard engoliu em seco.
— Não importa, porra, deixa o Bernard falar logo! — Tristan tomou a frente e Bernard agradeceu mentalmente por aquilo.
— Tá... galera, primeiramente eu queria começar já pedindo desculpas, eu vacilei, vacilei feio.
Os garotos ficaram quietos, ninguém disse nada, apenas observavam um Bernard inquieto e muito nervoso, completamente diferente do habitual.
— Eu queria conversar com vocês antes que algo pior acontecesse... bom, eu gostaria, antes de mais nada comunicar oficialmente que estamos com dois membros novos, Venice e Donnie, Arden e Vince estão fora, eles são da Wolfgang agora.
Alguns murmuraram uns xingamentos, outros apenas continuaram a ver Bernard caminhar de um lado para o outro no meio da roda antes de voltar a falar.
— Mês retrasado, vocês colaboraram com uma quantia a mais pra eu pagar o aluguel e comprar as bebidas. Eu fui. Paguei uma parcela do aluguel e o resto eu gastei em bebidas, por isso tem tanta coisa boa lá. O fato é que: eu gastei... grande, grande parte do dinheiro em bebidas e acabei endividando a república até o pescoço. Foi daí que nasceu a ideia do Mark de tirar dinheiro de sabe-se lá onde pra abrir uma nova república, agora, se a gente não arrumar dinheiro e completar a faixa de quinze membros, a gente perde a casa. — Bernard falou tudo de uma vez e o que ele mais temia aconteceu: o silêncio. Ninguém se manifestou de imediato e ele começou a se desesperar.
— E você vem falar isso pra gente só agora, Bernard? Puta que pariu, Hein?! — Sea reclamou cruzando os braços.
— E você queria que eu fizesse o que? Me diz? Eu andei dando meu sangue pra conseguir um mínimo de dinheiro pra pagar pelo menos por mais um mês e ninguém reconheceu, pelo contrário, montaram outra república.
— Se não aguenta pede arrego, irmão. A regra é clara! — Sea falou naturalmente e Bernard quis socá-lo. Mas se manteve controlado.
— O fato é que: Se vocês não quiserem segurar a barra, tudo bem. Eu vou entender se vocês saírem da Vortex. — Baixou a cabeça e enfiou as mãos no bolso do jeans sujo.
Novamente, ninguém quis ser o primeiro a dizer alguma coisa, até que Archie se manifestou.
— Fala sério, Bernard. Até parece que vamos sair. A gente já passou por cada barra juntos, cara. Construímos a Vortex pra ela ser o que é juntos.. se for pra morar debaixo do pontilhão, só vamos, cara!
— É, Bernard, apesar de eu achar que você deveria ter nos contado antes, somos parte da Vortex já tem tempo, não é como se a gente fosse te abandonar, até porque... pelo menos pra mim... Vortex é mais do que uma fraternidade... pra mim isso aqui é uma família. — Sea disse.
— Dependendo do prazo eu posso falar com meus familiares, ou arrecadar um dinheiro nem que for vendendo limonada ou salgado no metrô! — Hiro disse.
— Posso fazer um sacrifício também. — Suchart disse com um sorriso de canto, Bernard ia se sentindo mais aliviado a medida que via cada um dos garotos levantando-se e concordando com a cabeça em um sinal silencioso de que agora, seu problema os pertencia também.
— Então... alguém tem uma ideia de como começar? — Bernard perguntou tentando não se mostrar muito emocionado.
— Desculpa, eu queria sugerir alguma coisa, mas com o sono que eu estou eu só consigo pensar em vender o corpo por dinheiro. — Drake disse e os garotos rindo, não deixando de cogitar a possibilidade de tornar aquilo real.
— É, da licença, eu não sou da Vortex, mas eu tenho uma ideia melhor que vender o corpo. — Pierre, que até então assistia a cena sem estar sentado na roda se manifestou atraindo a atenção dos outros que já o conheciam das inúmeras vezes que ele aparecia na Vortex.
— Vai, Pierre, eu espero que realmente seja uma ideia melhor do que vender o corpo.
Pierre sorriu e caminhou para mais perto de todos, direcionando seu olhar para eles, demorando-se um pouco mais em Donnie, mas ninguém precisava saber disso.
Alguns se encaravam confusos, inclusive Bernard olhava sem entender para Pierre, que parecia estar extremamente convicto de que aquilo ia dar certo.
— Rapazes... por acaso vocês já ouviram falar de cross-dressings?
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