- Não tinha me dito que ele era tão... Adorável.
Nesse momento Jungkook esboçou um pequeno sorriso no canto de seus lábios finos e inclinou a cabeça para ter uma visão melhor do garoto que agora já cumprimentava seu pai.
- Senhor William, precisa de mim? – disse em um fio de voz, e o Jeon mais novo quase não pôde ouvir.
- Taehyung, já lhe disse pra me chamar apenas de Will, ok? – voltou seus pés na direção de seu filho e gesticulou em sua direção – Esse é Jungkook, se importa em mostrar as coisas pra ele e lhe fazer companhia enquanto eu vou até á minha sala resolver algumas coisas?
- C-claro, sem problemas – olhou de relance para o assunto da conversa, mas rapidamente desviou.
- Ok, então eu já volto, e filho – chegou mais perto do rosto do outro antes de sair apressadamente – Espere aqui – logo os únicos naquele amontoado de panos pretos que separam os artistas do palco eram Jungkook e Taehyung.
- Filho?
- Sim, ele é meu pai.
- M-mas, ele não era americano? – chegou mais perto do outro em um ato involuntário, nesse momento estavam um de frente pro outro, mas o mais novo permanecia evitando contato visual. Jeon achou demasiado fofo o fato de que a testa do outro, bateria em seu nariz se estivessem mais próximos.
- Sim ele é, mas o meu outro pai é quem é coreano – respondeu simplista. Taehyung franziu o cenho, mas logo pôde ligar os pontos.
- Ah, então você é adotado? Sinto muito eu não-
- Tecnicamente o Will me adotou sim, mas o meu pai biológico não me deixou, na verdade – foi nesse momento que o mais novo ouviu uma ficha caindo dentro de seu consciente.
- Oh, certo, entendi – falou pausadamente e sorriu tímido, ficando levemente corado – Seus pais são...
- Gays – sorriu largamente – Espero que não julgue a criação que eu tive por causa disso, os meus pais são incríveis.
- N-não, claro que não, de forma alguma eu julgaria alguém por isso – prostrou as mãos diante seu peito e balançou-as em negação, o que causou uma risada anasalada no mais velho. Por favor, não seja tão fofo.
- Não se preocupe com isso, me mostre o que você toca, sim? – apontou novamente em direção ao palco, onde alguns instrumentos desorganizados ainda podiam ser encontrados. Andaram em direção ao violino do mais novo, o qual ele pegou e posicionou corretamente em seu ombro esquerdo.
- O que quer que eu toque?
- Bom, o meu pai me disse que você é solista do concerto, toque o que estavam ensaiando há pouco – sorriu e afastou-se para dar espaço a Taehyung, que se recusou a sentar-se por motivos desconhecidos. Talvez estivesse nervoso, mas isso era tão comum que ele não se importou em descobrir por quê.
Jungkook achou que o menor não poderia ser mais perfeito, até que este começou a tocar com maestria e o instrumento que lhe cabia. Os dedos no arco caiam como se aquele fosse seu lugar mais confortável e seu queixo parecia ter sido feito para se posicionar naquela peça de madeira escura. Os dígitos da mão esquerda se balançavam nas semibreves, mínimas, semínimas e colcheias causando um som praticamente perfeito. E quando chegavam as semicolcheias os mesmos mudavam de posição como se Taehyung confiasse com toda a vida em seus membros para que eles pudessem fazer o seu trabalho.
Quando a amostra da sonata Devil’s Trill, de Tartini parou de ressoar Jeon continuava a encarar Taehyung, que olhava para baixo e mordia os lábios esperando por uma reação do moreno.
- Sabe, fica melhor com o acompanhamento da orquestra e bom, esse é meu primeiro concerto, então-
- Você é ótimo. É sério, foi perfeito – sorriu e o menor olhou em seus olhos pela primeira vez no dia.
- Obrigado – abaixou a cabeça novamente e virou-se para onde a capa do instrumento estava; visando guardá-lo.
Afrouxou os fios de seu arco e o colocou no espaço adequado, retirou a espaleira¹ e fez o mesmo com as duas peças restantes. Ajeitou a pasta com suas partituras e colocou-a em um bolso na mesma capa.
E o mais velho apenas observava a maneira com que o outro cuidava de seu violino com toda a destreza que se pode ter. Ficou admirado pela terceira vez no dia.
- Você já vai? – saiu de seu transe ao ver que Taehyung lhe chamava.
- Eu devo esperar meu pai, e quanto a você?
- Bom, tenho outra aula em meia hora, posso ficar aqui até que seu pai volte – andou vagarosamente até perto do outro; para em seguida desviar-se em direção ao fim do palco, onde se sentou balançando as pernas, apenas esperando que Jeon fizesse o mesmo.
- Ótimo, vamos conversar então, me fale um pouco sobre você e eu lhe falo um pouco sobre mim – sentou-se ao lado de Taehyung, nem tão perto, mas também não longe e sorriu.
- Que tal você começar? – pediu e, Jungkook pôde notar seu nervosismo, então apenas assentiu, pegando fôlego para começar a falar.
- Bom, meu nome completo é Jeon Jungkook, eu tenho dezoito anos e dois pais cujo um você já conhece e o outro ainda está morando em Nova York. Nós resolvemos voltar pra cá quando meu avô ligou dizendo que já estava na hora do meu pai assumir os negócios da família e então o meu outro pai conseguiu um emprego aqui. Só que ele teve que se mudar na frente enquanto o outro Jeon teve que ficar resolvendo algumas coisas da filial da empresa por lá, e eu decidi, por motivos pessoais, que eu devia vir na frente junto com o meu pai, e agora estou aqui.
- Wow, como você não se confunde? – Taehyung pensou alto e ficou extremamente vermelho ao notar o que tinha falado, Jungkook apenas riu do mais novo.
- Não é assim tão complicado quando se é acostumado desde pequeno.
- Como... Como seus pais se conheceram? – perguntou tímido, olhando pra baixo mais uma vez.
- Bom, eu já tinha nascido e era um bebê, meus avós cuidavam de mim por aqui, e meu pai ainda era bem novo, e tinha ido fazer faculdade lá em Nova York, ele estudava em Columbia². O Will tinha acabado de começar a dar aulas de música por lá e ás vezes eles se viam pela faculdade, mas até então não passava de uma relação de professor e calouro até que meu pai saiu para beber e acabou encontrando o Will. Eles conversaram e começaram a se conhecer, meu pai contou sobre mim, eles gostaram muito um do outro e no final da faculdade do meu pai eles já estavam morando juntos e me levando pra morar com eles.
- E seu avô... Q-quero dizer, ele aceitou numa boa?
- Na verdade demorou um tempo para ele perceber que era sério, mas ele acabou aceitando quando eu fiquei um pouco mais velho e vim visitar ele. Conversei com ele tentando soar adulto, mas eu só tinha doze anos; ele chorou e pediu desculpas por ser ignorante e disse que tentaria o seu melhor para aceitar nossa felicidade e depois de um tempo isso aconteceu.
- Poxa, é uma história muito bonita Jungkook – olhou para o mais alto e sorriu largamente pela primeira vez no dia. Um sorriso que fez com que o mais velho ficasse hipnotizado mais uma vez. Era um sorriso diferente.
- O seu sorriso é quadrado – disse sorrindo junto e viu Taehyung desmanchar o seu – Não fique assim, o seu sorriso é lindo, só é diferente. Aliás, o meu sorriso também é diferente, pareço um coelho.
Chamou a atenção de Taehyung pra si mais uma vez e ele olhou para seu sorriso, voltando a formar um em seu próprio rosto. Ficaram assim sorrindo um pro outro até que Jungkook voltou a falar.
- Agora é sua vez de me falar sobre você – viu o outro morder o lábio e respirar fundo, como se estivesse se preparando pra dar uma notícia ruim.
- M-meu nome inteiro é Kim Taehyung, eu tenho quinze anos, na verdade faço dezesseis no final do próximo mês. Eu moro com meu padrasto, minha mãe e meu meio-irmão mais velho – fez uma pausa e acabou suspirando alto – Meu pai é piloto, e eu não o vejo há mais de quatro anos porque meu padrasto proibiu minha mãe de me deixar visitá-lo; ele mora em Busan. Eu não estudo em uma escola normal, faço parte da turma de ensino médio dos prodígios da academia então passo o dia todo por aqui. Comecei a tocar violino aos cinco anos, depois eu aprendi a tocar piano e agora estou aprendendo violoncelo e... Bom, eu acho que é só isso, minha vida não é muito interessante.
- Ah, não diga isso, quem me dera poder aprender a tocar três instrumentos diferentes – riram juntos e Jungkook se lembrou de algo – Meu pai Will me disse que eu deveria aprender a tocar algo já que ele era professor de música e meu outro pai apenas disse que eu só sei tocar o terror – riram mais alto ainda, e Taehyung mal conseguiu raciocinar ao ouvir as gargalhadas do outro, ouvi-las lhe trouxe certo conforto. Na verdade não soube dizer o que era; apenas sentiu-se bem.
- Jungkook? – ouviram um chamado vindo das portas de entrada do auditório e fizeram silêncio.
- Sim? – disse ao notar que quem lhe chamava era seu pai.
- Vamos lá, você realmente precisa falar com aquela pessoa – disse sério e só naquele minuto notou o quão próximos os dois jovens pareciam estar – Vocês continuam a conversa depois, sim?
- Certo, já estou indo, pai.
•••
- O que querem falar comigo de tão importante? Pra que todo esse mistério? – disse enquanto entrava na sala de seu pai, mas foi surpreendido quanto o mais velho que estava atrás de si apenas murmurou um “fique calmo” antes de fechar seu filho dentro do cômodo que já era ocupado por um jovem, aparentemente bem mais velho – Oi?
- Jeon Jungkook? – o outro moreno se aproximou e sorriu fechado – É claro que é você, você é cara dela.
- Do que está falando? – franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado.
- Estou falando de sua mãe – estendeu a mão e sorriu contido – Sou Kim Seokjin, sou seu primo – Jungkook estendeu a mão de volta com a boca escancarada e os olhos prestes a marejarem.
- Bem que meus pais avisaram que eu poderia encontrar alguém da família, mas eu não pensei que fossem me procurar, me disseram que não queriam saber da minha existência – balançaram as mãos e se separaram causando um silêncio quase desconfortável, que foi interrompido em poucos segundos.
- Eu sei o que eles disseram, e vim aqui para que soubesse que sou totalmente contra – suspirou e sentou-se no tampo da mesa – Quando sua mãe morreu, a irmã mais velha dela, a minha mãe já havia saído de casa, se casado e já cuidava de mim. O que significa que eu conheci sua mãe e apesar de não me lembrar muito bem, eu sei que ela era uma jovem muito doce e ela não gostaria nem um pouco de saber que sua própria família lhe trata dessa maneira, então eu resolvi fazer diferente – recebeu um menear de cabeça do mais novo que dizia para que prosseguisse – Não posso mudar muita coisa na decisão da minha família, já que; mesmo que todos saibamos que a morte da sua mãe não foi sua culpa, já que ninguém pede pra nascer, eles ainda insistem nessa ideia idiota de que você trará lembranças ruins. Mas eu quero que saiba que pode contar comigo quando precisar já que é novo na cidade, posso ser seu amigo, ou só seu primo, ou seu colega pra quem você liga quando o pneu do carro estoura – riram contidamente – Enfim, quero que saiba que diferente deles eu estou aqui, entendido?
- Entendido, Seokjin – Jeon sentiu uma lágrima teimosa escapar e limpou-a rapidamente.
- Me chame só de Jin – abriu os braços e ficou esperando que o outro compreendesse – Vamos, me dê logo um abraço – o mais novo obedeceu e logo seus corpos se encontraram em um abraço deveras confortante e aconchegante, o coração de ambos se aqueceu naquele momento e ficaram em silêncio apreciando a companhia recém descoberta um do outro.
Ao se separarem Jin lembrou-se de que haviam inúmeras perguntas que gostaria de fazer ao mais novo. Realmente queria se aproximar dele e dar-lhe segurança.
- Que tal se formos tomar um café para conversarmos mais?
- Aceito.
•••
- Talvez eu convença sua tia a falar contigo, mas saiba; a minha mãe é louca – riram juntos pela milésima vez no dia e Jungkook levou mais um gole de seu frapuccino até seus lábios – Jungkook, tenho que lhe perguntar mais uma coisa.
- Sim?
- Você me disse que veio na frente com o Will, e tudo mais, mas eu estava acompanhando suas redes sociais e, gostaria de saber por que você apagou tudo. Sabe, apenas colocou que ia se mudar e apagou todas as fotos com seus amigos, as fotos... De festas e esse tipo de coisa. Por que fez isso?
- Posso confiar em você, certo?
- Claro que pode.
- Bom, é uma história meio complicada, mas eu basicamente cansei de ser quem eu era. Extremamente fútil; tudo o que eu dava valor eram as noites de sexo fácil com inúmeras pessoas que eu nunca mais vi, bebedeiras e até mesmo uso de drogas ilícitas e eu... – suspirou pesadamente ao lembrar-se de como se sentia desprezível – Não foi isso que meus pais me ensinaram, não são os valores que me ensinaram, e mesmo que eu não tenha tido nenhum problema aparente eu simplesmente senti uma vontade imensa de me afastar de todos, eu só quis ir embora dali e tentar ser alguém decente. Parar de depender tanto dos meus pais e fazer algo de útil. A vinda pra Coréia foi só uma oportunidade que apareceu na hora certa.
- Não se preocupe, eu te entendo – bebeu um pouco de seu expresso – Não na parte das festas e afins porque eu sempre fui mais quieto, mas sim nessa vontade súbita de se afastar de todo mundo sem motivo aparente; essa coisa de não saber se aproveitar de interação social alguma, e querer apenas ficar sozinho como se fosse dar um jeito em tudo, mas Jungkook, você não pode ceder a essa vontade.
- Eu entendo isso agora, e estou aproveitando que ninguém me conhece por aqui pra tentar ser alguém melhor.
- Já sabe que se precisar de mim eu estarei aqui, certo?
- Certo.
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