Rigor samsa
n. Uma espécie de exoesqueleto psicológico que pode protegê-lo da dor e conter suas ansiedades, mas sempre acaba quebrando sob pressão ou esvaziado pelo tempo – e vai continuar crescendo novamente e novamente, até que você desenvolva uma estrutura emocional mais sofisticada, realizada por uma espinha forte e flexível, construída menos como uma fortaleza do que um aglomerado de casas na árvore.
Definição por: Dictionary of obscure sorrows.
- Namie?
- Ah, oi Sunny – abandonou seu cigarro no cinzeiro da ilha da cozinha e fitou a amiga – por que não está lá jogando?
- Namjoon, por que está fumando? Você disse que ia parar – sentou se no banco bem de frente para o loiro e colocou uma mão em seu joelho, tentando ser mais compreensiva do que seu olhar claramente mostrava quando se tratava do amigo.
- Eu estou nervoso, precisei relaxar de alguma maneira – murmurou abaixando seu olhar; estava envergonhado de certa forma.
- Sabe que pode falar comigo sempre que precisar Namie, eu sou sua amiga há anos e mesmo que tenhamos nos afastado por um tempo você ainda pode confiar em mim – levantou o rosto de Namjoon com o queixo e olhou diretamente em seus olhos.
Namjoon de alguma for se sentiu passível a despejar tudo aquilo que estava passando pela sua mente levemente conturbada por causa de acontecimentos recentes. E Sun Hee sempre fora a pessoa que conseguia fazer com que Namjoon abaixasse sua barreira. Ele confiou na menor desde o primeiro olhar que trocaram há anos atrás quando ainda eram meras crianças sem malícias e sem o menor tipo de preocupação; e ainda confiava, mesmo depois de terem passado anos afastados, mesmo depois de Sun Hee ter entrado para o “grupinho” de Namjoon apenas para voltar a ficar ao seu lado, mesmo depois de todas as suas estruturas terem sido abaladas por Kyungsoo. Aquele canalha cujo ao invés de ajudar-lhe a diminuir e amaciar as suas barreiras, apenas fizera com que as mesmas ficassem ainda mais ásperas e altas, difíceis de serem escaladas e quebradas.
Namjoon sentia falta de sua melhor amiga, aquela que fazia tudo para lhe ver com um sorriso, mesmo que arrancasse o mesmo de seu próprio rosto para dar-lhe.
- Eu quero mudar, Sun Hee.
•••
Era claro o ressoar das palmas e dos gritinhos que chamavam o nome de Taehyung, às vezes incluindo um “viva” em suas frases. Logo Sun Hee apareceria com uma faca para cortar o bolo e começar a distribuir o mesmo sem nenhuma ordem específica.
- Com quem será...? – Sulli começou, aguardando que alguém a acompanhasse, o que logo aconteceu – Com quem será? Com quem será que o Taezinho vai casar?
- Não, não! Podem parar – pediu o amendoado tentando soar irritado. Falhou, pois tudo que conseguiu foi ser fofo, como sempre.
- Vai depender – olhou desesperado para o Jeon que apenas ria contido por ver Taehyung todo envergonhado e ruborizado – Vai depender – o moreno se aproximou sorrindo, um sorriso que fez o pequeno esquecer por alguns segundos de sua situação constrangedora – Vai depender se o Jungkook vai querer!
Colocou as mãos no rosto e tentou esconder o quão vermelho estava, mas logo sentiu dígitos nas suas costelas lhe fazendo cócegas e gargalhou ao notar que era Jungkook. Ele tentava segurar as mãos do moreno e mais pessoas gritavam pela a aproximação do possível casal.
O maior lhe abraçou erguendo seus pés e segredou-lhe em um sussurro bem perto de seu ouvido:
- Eu gosto muito de você, Tae.
•••
Jungkook corria atrasado para sua aula de Cálculo atravessando descuidado o corredor principal do colégio, até o momento em que trombara em alguém levemente mais alto e que tinha uma feição longe de ser boa.
- Com licença? Estou atrasado – disse quando tentou desviar, mas o mais alto lhe impediu de fazê-lo.
- Precisamos conversar Jeon – disse cruzando os braços e se pondo na frente de Jungkook quando este tentou desviar mais uma vez.
- Não pode ser outra hora Namjoon? – perguntou frustrado, provavelmente a porta da classe já havia se fechado e ele teria que pegar uma autorização para entrar na mesma.
- Não – pegou o moreno pelo pulso e arrastou-o até o banheiro do terceiro andar, que normalmente ficava vazio – Se acalme, eu quero conversar civilizadamente.
- Estou ouvindo – relaxou os músculos se sentando sobre a pia e recostando-se no espelho, enquanto Namjoon abria uma das cabines bem a sua frente e se sentava na tampa do vaso sanitário.
- Quero saber quais são as suas intenções com o meu irmão – se o loiro não tivesse sido tão sério e se estivesse falando sobre qualquer outra pessoa Jungkook teria gargalhado. Mas não era qualquer pessoa, era Taehyung, e Jungkook sabia exatamente suas intenções com Taehyung.
- Kim, eu sei que isso tudo deve ser novo pra você e ainda pode ser meio difícil aceitar, mas as minhas intenções com o Taehyung são as melhores possíveis. Nunca em toda a minha vida eu gostei de alguém, ninguém nunca me fez ter vontade de ser um cara de uma pessoa só, mas o seu irmão é diferente, ele me deixa... encantado – disse olhando para baixo e Namjoon pôde ver aquele brilho diferente em seus olhos.
- Jungkook. Quando eu ouvi seu nome eu sabia que o conhecia; fui pesquisar sobre você e achei várias fotos em sites de fofoca fajutos mostrando como o Jeon é um pegador. Fotos com várias pessoas e nenhuma delas se repetiam e isso me deixa com receio de confiar em você, porque eu posso aceitar essa ideia de você e meu irmão juntos, mas se você machucá-lo eu vou te deixar do mesmo jeito que deixei o Kyungsoo – suspirou pegando fôlego por ter falado tudo tão rápido.
- Namjoon, eu quero namorar o Tae, eu sei que eu não preciso pedir sua permissão pra isso, e talvez você ache que está muito cedo, mas eu quero fazer direito – suspirou descendo da pia para em seguida apoiar suas costas na mesma – Eu não quero avançar em nada com ele sem que tenhamos algo mais sério, e essa é uma coisa tão nova pra mim quanto pra ele, acredite.
- Você tem o meu apoio, eu só quero ver o meu irmão feliz, ele já sofreu demais por causa da nossa família – levantou-se estendendo a mão para Jungkook – Temos um acordo? Você não machuca o Tae e eu deixo seus dentes no lugar?
- Temos um acordo então – sorriu. Estava surpreso pela mudança repentina de Namjoon, mas não iria negar que isso lhe dava alegria – O que te fez mudar, assim do nada?
- Não te devo satisfações – soltou a mão do moreno e correu os dígitos pelos próprios fios loiros – Mas saiba que toda aquela situação com o Kyungsoo me fez perceber o quão babaca eu estava sendo; era só um capacho dele e ele me fez fazer coisas que agora percebo quão ruins elas eram, e me arrependo de muitas delas – Começou a andar até a porta e colocou seus dedos sobre a maçaneta, mas antes de abri-la, proferiu – Não me decepcione Jeon, eu não vou ter medo de quebrar sua cara por causa do teu nome.
•••
- E ai Namie, falou com ele? – Sun Hee perguntou sentando-se ao lado do amigo no banco do pátio.
- Falei, e ele quase me convenceu – deu uma forte mordida em seu sanduíche e bufou.
- Namjoon...
- Relaxa, vou dar uma chance pra ele – disse fitando o nada e causando um suspiro aliviado na amiga – Mas se ele pisar na bola já sabe – o vento tirou suas madeixas do lugar e ele não pareceu ligar.
- Sim, eu sei... – fez-se um longo período de silêncio. Um silêncio agradável onde ambas as partes pareciam estar em seu próprio mundo, e digeriam as informações recolhidas durante o dia – O Kyungsoo não apareceu ainda, não é?
- Fez bem em não aparecer. Até o Jeon quer quebrar a cara dele – deu outra mordida no alimento; parecia estar descontando sua raiva no amontoado de carne, carboidrato e vegetais – Eu juro que se eu vir ele na rua não vai ter ninguém que vai me impedir de mandá-lo para um hospital, de preferência em um saco preto.
- Calma, ele não vai ser assim tão canalha de aparecer na sua frente tão cedo – apoiou suas mãos macias sobre os largos ombros de Namjoon.
- Assim espero.
•••
O homem no topo das escadas mantém um olhar pesaroso sobre si, provavelmente ficou a par de tudo que acontecera em sua ausência, e agora procuraria satisfações. Um arrepio correu pelo corpo de Namjoon quando o tal homem soltou um riso nervoso e veio até si com o andar pesado.
- Você por acaso está querendo o meu fim? – Namjoon suspirou enquanto aguardava a aproximação do mais velho.
- Pai...
- Nada de pai – o homem prostrou-se a sua frente e se sentou no sofá da frente – Você por acaso tem alguma noção do problema que essa sua briguinha com o Do me causou? – passou as mãos pelo rosto e mordeu os lábios. A sua expressão era de pura fúria apesar de seu tom de voz ser mantido controlado.
- Mas pai, ele tentou machucar o Tae, tentou tocar nele, eu... – Namjoon quase conseguia sentir seu coração saltar e as mãos soarem frio por causa do medo que se apossou de seu ser – Eu sei que o pai dele é seu cliente, mas-
- Era Kim Namjoon, era meu cliente. Era, não é mais, por causa de você e daquele meu enteado nojento – seus punhos estavam cerrados e Namjoon estava surpreso por ainda não ter levado uma surra – Aquele moleque, aposto que ele encheu essa sua cabeça vazia de merdas – se levantou rapidamente e retirou o seu cinto de couro, dobrando-o e o ajeitando na mão direita – Suba.
- Pai, por favor – Namjoon tentou implorar pela piedade daquele homem, mas ele sabia que não adiantaria, e também sabia que teria marcas daquele dia em questão por um bom tempo; e seria sua sorte, se o mesmo não acontecesse com seu irmãozinho.
- Agora – seu tom de voz poderia fazer as pernas de qualquer um bambearem. Namjoon apenas obedeceu, já tentando se lembrar onde guardara seu kit de primeiros socorros e a caixa de remédios que a governanta lhe dera meses atrás; lhe seria de bom uso em alguns minutos.
•••
- Eu vou pedir o Tae em namoro – disse entrando em casa e deixando sua mochila no corredor de entrada.
- Ué, mas já? – Will perguntou espantado e olhou para seu filho franzindo o cenho.
- Antes disso eu vou levar ele pra sair algumas vezes – se jogou no sofá e bufou – Eu acho... Eu não sei fazer essas coisas pai. Me ajuda?
- Uh... – ficou pensativo por alguns segundos e estalou sua língua no céu da boca – Vamos fazer o seguinte; eu tenho que terminar de empacotar as minhas coisas para a mudança, e assim que eu acabar nós dois vamos sair e eu vou ter o resto da tarde para conversarmos.
- Eu te amo pai – levantou-se e correu para seu quarto – Vou tomar um banho.
- Você tem sorte de eu estar de folga – gritou ainda da sala e em seguida gargalhou pela atitude do filho. Ter alguém o faria bem, estava mais sorridente, mais carinhoso, arriscaria dizer até mesmo mais responsável, e como o bom pai que era não podia fazer menos do que apoiar e ajudar seu filho.
Jungkook gostava de estar se sentindo assim: diferente. Mas já havia se passado uma semana desde que conversara com Namjoon e não vira o garoto na escola depois disso. Mandou algumas mensagens para Taehyung mas o mesmo não as respondeu.
Pedira para Will que este trouxesse alguma informação do paradeiro do pequeno. Seu pai apenas lhe dera o recado transmitido por Taehyung de que seu padrasto havia lhe tomado seu telefone e que ficaria alguns dias com horário para chegar em casa.
Will lhe contara que o menor parecia abalado, meio cabisbaixo e isso desesperou Jungkook. Ele não soube dizer desde quando tinha essa necessidade imensa de ter certeza de que o outro estava bem.
Passou o dia anterior pensando no que poderia fazer para alegrá-lo e como ficaria esses dias sem poder levá-lo para dar uma volta depois de seu ensaio como vinha fazendo, e Jimin lhe perguntara: por que diabos ainda não pedira Taehyung em namoro? Era óbvio que todos achavam que ainda estava meio cedo mas o baixinho apenas retrucou dizendo que não havia motivo para adiar o óbvio. Estava sim, mais do que na cara que os dois se gostaram desde o primeiro momento e Jungkook se apaixonava pelo pequeno a cada sorriso tímido que ele lhe dava.
Sua primeira reação fora dizer para o amigo que estava paciente e que tudo tinha seu tempo. Mas depois pensou melhor e a sensação de não poder chamar Taehyung de seu começou a lhe assombrar. Tiraria esse tempo em que seu padrasto estava no seu pé para planejar uma semana cheia de encontros e momentos juntos, e no final desta, ele faria o pedido.
Boa sorte Jungkook, você vai precisar.
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