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História Zehad - O Grifo e o Dragão - O Grifo!


Escrita por: Renanboti

Capítulo 1 - O Grifo!


Em uma cabana de madeira iluminada pelas chamas dançantes vindas de uma lareira, um local decorado com um tom clássico e simplista, móveis de madeira e tudo se resumia em apenas um cômodo aonde existiam duas camas, uma de casal e a outra de solteiro, a de solteiro é ocupada por uma jovem que aparentava estar no inicio da puberdade, tinha o corpo pequeno e de aparência frágil, a pele pálida e sardas que começavam no nariz e pingavam e terminavam no começo das bochechas, os olhos estavam em um azul bem claro e os seus longos, ruivos e selvagens cabelos iam até a cintura, características típicas do povo da terra congelada, ela estava com uma coberta verde que cobria quase todo o seu corpo, deixando apenas a cabeça para fora. Uma mulher que usava um vestido longo, de um verde claro desbotado e com as bordas marrons, sua pele era quase morena e seus cabelos lisos encontravam-se presos em um rabo de cavalo, negros eram os seus olhos e brilhavam cada vez mais que olhavam para a menina.

— Mas Khaf... eu achei que os grifos eram bondosos! — respondia a menina ao ouvir a história da mais velha.
— Grifos são bondosos enquanto você seguir as suas restrições. — Afirmava a mulher enquanto media a temperatura da testa da menor com a mão direita.
— O que acontece se eu não quiser obedecer as regras deles? —
— O Grifo vai descer dos céus e vai a encontrar, nada pode escapar dos seus olhos malditos! — Gesticulava com as mãos cada ação para reforçar o medo da menina. — E então ele vai usar suas garras para cortar e rasgar o seu ser, até ser apenas uma representação de seus sonhos e liberdades despedaçados... — Olhava fixamente nos olhos da menina, transmitia uma seriedade que a deixava sem reação, a menor não sabia o que dizer ou demonstrar.
— Isso é assunto para outro dia, durma, irei trazer mais um pouco de lenha, está começando a esfriar.. —

A jovem se encolhia na cama e fechava os olhos, achou que não seria adequado continuar aquela conversa, existia algo estranho no olhar da mais velha que logo deixava a cabana pela porta da frente, saindo na varanda que tinha vasos de flores espalhados por toda parte. Os arredores estavam cobertos por pinheiros, o gramado estava com uma fina camada de gelo, assim como a ponta dos pinheiros, faltavam apenas 2 semanas para o inverno, a respiração da mulher era evidente naquela brisa gelada.

— O Grifo certamente é paciente... — Suas palavras tinham o tom de tristeza, se voltava a uma figura que estava a observando os arbustos. — Estava justamente contando a sua história... —

Na total escuridão da noite surgia um cavaleiro alto e trajando uma armadura de aço prateada que cobria todo o corpo, deixando apenas um espaço retangular na viseira, apenas permitindo ver o brilho azul anormal dos olhos, as bordas da armadura estavam em um tom dourado e sobre o peitoral estavam umas escrituras em Chtolean, o idioma dos elfos, significava que havia sido forjado pela união dos anões e elfos, era o símbolo da ordem do grifo. Haviam duas espadas em sua posse, uma espada bastarda que tinha a lâmina reta e com dois fios, a guarda estava em forma de cruz e o pomo era totalmente redondo e fixo ao cabo e a segunda era uma versão menor dessa que estava embainhada do lado esquerdo de sua cintura, encima da bainha da espada maior. 

— Corte a atuação, embora eu tenha meus próprios motivos para arrancar a sua cabeça, tenho de fazer o meu trabalho que é assegurar aquela garota! — Afirmava sem demonstrar nenhum traço de emoção. — Apenas me esclareça o por que, olhe em volta, você tem uma pequena cabana no meio de uma floresta próxima a uma cidade, muita comida, paisagem bonita e um lugar calmo para um recomeço, por que não se contentou apenas por isso? Quer poluir a mente daquela jovem? Ou pretende sugar toda sua magia? — 

Khaf estendia a mão direita e se concentrava, uma pequena brasa se formava e logo se tornava em uma rajada de chamas que era absorvida pela armadura anti-magia do homem que parecia intocado pelas chamas que iluminavam aquela parte do quintal.

— Só conseguia ver o brilho nos seus olhos e graças as minhas chamas posso ver todo o "resplendor" do Grifo, esse azul deve ser o efeito das lágrimas de grifo... aposto que está conseguindo ver até a cidade... — Em um piscar de olhos ela já estava na frente do soldado que não demonstrava nenhuma reação, colocava as mãos sobre o elmo e o olhava nos olhos. — Não te esqueças que ainda deve-me tua vi... —

Aquela frase que já ouviu centenas de vezes e da mesma pessoa que havia lhe dito isso tantas vezes o pegou com a guarda baixa, cravando a espada sobre a barriga da mulher que se ajoelhava e olhava para cima, estava surpresa com a atitude do Grifo, era a primeira vez que o via demonstrar raiva, ele colocava a sola da bota sobre o ombro da bruxa e fazia impulso para remover a espada, cortando a sua cabeça logo em seguida e dando as costas, estava satisfeito por finalmente ter cumprido o que deveria a 10 anos atrás, dava uns dois passos em direção a casa e sentia um arrepio, sensação de perigo extremo, quando voltava a observar o corpo da mulher via que estava sofrendo uma mutação, a carne começava a se transformar em uma massa cinzenta e gosmenta, com um cheiro de apodrecido e os olhos ficavam negros, a boca sangrava.

— Uma abominação? Então estava sugando a magia e a força de vida da garota para fazer um contrato com um senhor negro... — Segurava a espada com as duas mãos, a esquerda estava entre o cabo e o pomo. — Previsível! —

Ameaçava fazer um corte vertical, no ultimo instante mudava para um corte na diagonal vindo de cima para baixo, utilizando a mão direita para empurrar o cabo e a mão esquerda para puxar o pomo gerando mais força no golpe que cortava a criatura no peitoral a fazendo se esparramar no chão, o Grifo pisava sobre sua carcaça e cravava a espada no pescoço, o aço queimava a pele tanto na parte que a espada atingiu quanto na parte que a bota tocava, a criatura gritava e segurava a lâmina, a carne se regenerava prendendo a espada e derrubava o rapaz, golpeando várias vezes contra sua armadura com as garras que ficaram duras como rocha, o cavaleiro conseguia se defender usando as manoplas de aço e sacava uma das adagas que estava presa na traseira de seu cinto e a cravou no olho direito da besta e recuperava a espada bastarda e desferia um golpe horizontal da esquerda para direita, a partindo ao meio e depois desferia um corte sobre vertical sobre a barriga, colocando as mãos sobre a abertura e a expandindo e removendo os intestinos, era a única forma de matar um regenerador. O sangue negro ia se espalhando enquanto a criatura se contorcia e o cheiro de podre emanava pelo local, a adrenalina, os estalos que fazia enquanto a carne apodrecia e desintegrava como se estivesse quiemando, além do cheiro forte, fez o rapaz perceber apenas no ultimo instante ele percebeu que criaturas se movimentavam nos arbustos.

"Licantropos"

Foi o único pensamento que atravessou a sua mente, alguns clãs inferiores de homens-lobos viram servos de bruxas para sobreviver, eles habitam as florestas e caçam tudo que tenha carne. O rapaz segurava a espada na altura da testa e a apontava a sua frente e observava os arredores, estava cercado de todos os lados. O primeiro homem-lobo atacava pela esquerda, correndo como se fosse um verdadeiro quadrúpede e a sua aparência é semelhante a mistura de um humano de estatura baixa com a pelagem e os caninos de um lobo raivoso, rapidamente o Grifo movia a espada da direita para a esquerda desferindo um corte que atingia o torso e parte do pescoço do lobo, o fazendo cair no chão como se fosse uma fruta podre caindo do pé, os outros 3 lobos atacavam e corriam em grande velocidade, com seus reflexos ele conseguia ficar de frente para um deles ao mesmo tempo deixando os outros 2 numa posição que precisariam passar por cima do que estivesse na frente, selvagens não são muito inteligentes. Segurando a espada com apenas a mão esquerda desferia um golpe com a ponta que perfurava o lobo a sua frente e com a mão direita sacava a espada que estava sobre sua cintura, em dois movimentos sacava e movia um pouco o punho para cortar o lobisomem que vinha um pouco a sua direita, largava a espada na mão esquerda e rapidamente agarrava pelo cangote o ultimo oponente, o erguendo e o empalando com a espada, soltando seu corpo sem vida do chão e arrancando a espada bastarda do corpo do primeiro, ia até a cabana e percebia que a porta da frente estava aberta, ao entrar recebia uma vassourada no elmo que não causava nenhum efeito, arrancava a vassoura da mão da menina e a mesma procedia a dar socos no peitoral de sua armadura, ao ver que não surtiu efeito ela recuava.

— Para trás soldado! Eu sei o que vocês fizeram com meus pais, vocês da capital são...

A ruiva não conseguia terminar a frase de tanto tremer, não demorou muito para o Grifo perceber que ela estava achando que ele era um soldado da Capital, a menina perdeu seus pais durante a guerra de 7 anos atrás, uma guerra que o rapaz ainda se arrepende de ter tomado parte. O norte sempre foi recluso do resto do mundo e grande parte nem ouviu falar da Ordem do grifo, a ordem formada por elfos, anões e humanos para controlar toda a magia dos 3 continentes, antes eram apenas 1 continente, a guerra serviu para anexar as terras geladas do Norte e o deserto do Sul. Os olhos retornavam a cor natural, preto, removia o elmo demonstrando os cabelos de tamanho médio, que iam um pouco abaixo das orelhas e de uma coloração negra, a pele branca e a face jovem, aparentando estar na faixa dos 20 anos, não tinha nenhuma cicatriz de batalha e parecia ser um príncipe encantado que fugiu de uma história com final feliz, a maior diferença é que em vez de um sorriso brilhante ele tinha uma expressão séria e não expressava nenhuma emoção, mesmo depois de ter enfrentado criaturas perigosas ou de estar frente a frente com uma menina em estado de choque.

— Eu sou sim um soldado, mas não sou da capital, sou da Ordem do Grifo, sei que estava espionando a "conversa", aquela bruxa não é a mulher caridosa que você pensa, ela pretendia sugar os seus poderes, por isso está tão frágil assim... —

Vasculhava a casa por um pouco de água, despejava o conteúdo de um jarro em um copo e depois bebida toda a água que estava no jarro, colocando o copo de madeira na mão da jovem que o segurava com as mãos trêmulas, não conseguia dizer nenhuma palavra.

— Me chamo Yefran, minha mãe era elfa e meu pai nórdico, sei que o povo daqui não tem muito conhecimento sobre a ordem. — Sentava na cama de solteiro. — Nós somos regidos pelos elfos, os anões forjam as armaduras anti-magia e os soldados se encarregam de encontrar jovens com talento de magia e os levamos para a Universidade, aonde irão aprender todos os tipos de feitiços e como os controlar, você tem esse potencial, como foi que o descobriu? Ateou fogo em uma árvore quando teve um descontrole emotivo? Fez a água do poço subir? Seja o que for, iremos ajudar você a controlar isso, bem, os professores irão, eu só sou encarregado de levar você em segurança e garantir o seu bem estar! —

Ele transmitia confiança em sua voz, que era grave e calma, mesmo não demonstrando nenhuma expressão conseguia a transmitir a sensação de segurança apenas com o olhar, a menina já estava cansada e bastante confusa, com medo de morrer e de ficar sozinha, quais escolhas ela tinha? Será que ela realmente tinha uma escolha? Ela pensava em dizer alguma coisa, só que seus pensamentos estavam muito embaralhados e sua visão começava a borrar, seus olhos iam fechando devagar e logo estava em um mundo escuro, apenas conseguia ver ela mesma como se estivesse olhando através da reflexão em um lago, ela tentava tocar aquela imagem e se ajoelhava, olhando fixamente em seus próprios olhos e franzia a testa.

"Ele colocou sonífero na água!"

Acordava em um local desconhecido, o coração acelerava ao olhar para aquele cômodo de pedra e repleto de camas com lençóis marrons, velas nas paredes ouvia movimentação em um possível corredor além da porta, parecia estar em um castelo, um bem luxuoso.

— Seja bem-vinda a universidade, espero que não tenha ficado com raiva do Grifo, ele não se importa muito com primeiras impressões... —

Ao ouvir a voz feminina, madura e doce o coração batia mais devagar, virava a cabeça e via a mulher que estava sentada ao seu lado, usava um vestido longo, preto e rodado, com as bordas brancas e um decote mediano, usava o colar de uma serpente que as pessoas da Capital consideram o símbolo da medicina, a pele era branca mas não chegava a ser pálida, era um tom mediano os olhos do tom verde-escuro, o cabelo preto e grande preso em um coque moderno, além do cordão usava um colar dourado, uma pulseira com pequenas moedas antigas e douradas, símbolo de nobreza, a menina ficava sem reação diante da beleza que enchia os seus olhos.

— Me chamo Envira Walltsber, sou a Diretora da Universidade e Regente de herbologia e da matéria de Regeneração, não tenha medo de mim, apenas se comporte e tome o dia para conhecer os arredores e os seus companheiros, você está entrando um pouco atrasada mas o seu mana é de nível 5 no mínimo, então a colocarei na turma E04, essa é a hora para tirar todas as suas dúvidas! —


A menina continuava a observar a diretora sem reação e sentia uma leve dor de cabeça, enquanto estava dormindo sonhou que alguém estava vasculhando as memórias, isso ia explicar a dor de cabeça e os pensamentos embaralhados, por ser curiosa ela não fazia rodeios e ia direto ao ponto.

— Me sinto estranha... vocês fizeram algo em minha mente? Sinto que minhas memórias foram bagunçadas... —
— Peço desculpas por isso Scarlet mas precisei acessar as suas lembranças para ver se realmente não tinha traços de magia negra, é o protocolo da ordem para eliminar qualquer pessoa com intenções malignas, o Grifo pediu para esperarmos até você recuperar e entender bem o que está ocorrendo por aqui, mas eu não tenho muita influência com os elfos... não pude fazer nada além de acatar as órdens mas garanto que nada de errado ocorreu durante o procedimento! — Levava a mão direita até o queixo — A senhorita certamente pegou o meu interesse, tudo indica que é uma maga elemental, os sentimentos aumentam a intensidade de suas chamas, só que você conseguiu reparar que estava invadindo a sua mente mesmo estando inconsciente e não tendo nenhuma experiência, você tem o potencial oculto de quem usa a razão para aumentar as suas ilusões... —

A menina tinha dificuldades para entender aquilo tudo, ela já sabia que podia atear fogo a coisas com apenas um pensamento, era difícil de controlar e precisava usar os sentimento, o oposto da magia elemental é a de alteração, magias que envolvem ilusões, criações e invocações, dominadas apenas por pessoas calculistas, chamadas de "serpentes" no norte. Ficou tão perdida na confusão e nos pensamentos que só reparou a imensa fome quando ouviu o seu estômago roncar, rompendo o clima de seriedade, era possível ver que a diretora segurou a risada.

— Ah claro... deve estar faminta! Eu tenho que atender aos meus deveres agora, gastei muito tempo cuidando de sua iniciação. — Entregava um mapa com varias marcações, era a planta da Universidade. — Deixei instruções de como chegar ao refeitório e ao dormitório, lembre-se que estamos na enfermaria, o Grifo está na oficina, recomendo ir conversar com ele. —

A diretora levantava e caminhava em direção a porta, tinha um andar autoritário e parecia ser uma pessoa muito ocupada, ela parava sobre o portal e colocava a mão esquerda sobre a madeira.

— Sempre terá refeições prontas no refeitório, as refeições principais são ás 8 da manhã, meio dia e ás 8 da noite, o toque de recolher é as 10 horas da noite e termina ás 6 da manhã, mas aconselho a não ficar muito tempo depois que escurece, os guardas não gostam. — Afirmava com uma certa frieza. — Quando houver alguma aula que envolva a turma E04 a senhorita será notificada, avaliações são feitas todo o final de semana e é livre para usar os campos de treinamento quando quiser, os professores quando não estão dando aulas em turma, poderá os encontrar em seus devidos locais, a biblioteca fica aberta das 8 da manhã até ás 8 da noite. — Fazia uma pequena pausa. — E NUNCA se aproxime das saídas sem autorização, não entre no jardim ou no zoológico sem a presença de alguma autoridade. Não faça magia na biblioteca, refeitório, salão e nos corredores. —

A menina apenas acenava com a cabeça digerindo toda aquela informação, realmente não queria saber o que acontece quando alguém é pego depois do toque de recolher, ela removia o cobertor e reparava que estava usando um vestido longo, simples e roxo, as mangas eram longas e as bordas eram pretas e sobre um apoio estava estendido um manto que era negro por no exterior e vermelho no interior, ela removia o papel com o nome e o vestia, olhava para o mapa e via o mapa muito bem detalhado, era um castelo com um jardim imenso atrás, uma área para as criaturas do lado direito, no final do corredor da ala direita fica a passagem para a oficina no subterrâneo, percebia que no dormitório a diretora havia marcado a localização de sua cama e de suas coisas, dava um suspiro e tomava coragem para sair pela porta. 

— Que os mares me ajudem! —

Os corredores também eram feitos de pedra e tinha um tapete vermelho os interligando, as brechas retangulares faziam a luz do dia entrar e clarear os corredores só que estavam muito altas para alguém enxergar algo além do clarão, algumas velas apagadas estavam montadas sobre a parede. O inverno estava na porta e era notável ao ver o corredor cheio de alunos encolhidos em seus mantos, se apressando para o salão ou para as suas devidas classes, a chegada da novata não causava muito alvoroço, era algo comum novos alunos chegarem no meio do ano, alguns até a olhavam com uma certa estranheza, talvez pelo fato de claramente ser do norte.

Na escadaria que levava até o subterrâneo as velas começavam a se acender enquanto ela se aproximava, a menina não se impressionou muito com aquilo, estava esperando algo mais extraordinário acontecer, já que era uma habitante das terras geladas numa universidade de magia e em uma classe avançada sendo que mal sabe controlar os seus poderes, apenas está feliz por ter um teto e comida garantida, cada vez que fecha os olhos se lembra das noites frias na vila, das vezes que teve que roubar comida para sobreviver e das surras que levava quando era pega, nada disso iria acontecer novamente, a promessa de uma nova vida enchia os seus olhos de emoção e distraia tanto a sua mente que só percebia o barulho das marteladas quando entrava pela grande porta de metal da oficina. É um local imenso com várias engrenagens na parede que moviam máquinas a vapor que transportavam os materiais entre a forja e os preparavam, formando armas ou armaduras, dezenas de anões trabalhavam ali e alguns soldados da Ordem do Grifo os ajudavam a organizar o equipamento, a distância ela via Yefran sem a armadura, usava uma camisa com mangas curtas azul claro e bem surrada, era especifica para trabalhar na forja, uma calça marrom que mais parecia uns trapos e uma bota de couro desgastada, sem a armadura ela conseguia ver a boa forma do rapaz tão alto que fazia os anões parecerem miniaturas.

— Bom ver que está de pé, peço desculpas por ter usado o sonífero, é que você estava em estado de choque e... — Terminava de verificar as espadas e olhava para a menina. — Não vou a confundir ainda mais, se tiver alguma pergunta faça, posso não ser um professor mas estou a quase uma década aqui...—

A ruiva pensava no que dizer, o Grifo por enquanto é a sua única oportunidade de ter um aliado caso algo de ruim aconteça, além disso ficou um pouco sem jeito depois de ter reparado em seus atributos físicos.

— Entendo. Só fez o seu trabalho.. —

Fingia não estar zangada com o rapaz, raramente demonstrava os seus verdadeiros sentimentos pois não estava acostumada a lidar com pessoas. Yefran parecia ter reparado em algo e um silêncio estranho se formava no local, ele sabia que ela havia fingido e parecia não se importar muito com aquilo, recomeçando a organizar as espadas e ferramentas.

— Não estou tentando passar um sermão, só é uma lição de vida! Estive na mesma situação quando tive a sua idade, talvez eu era mais velho por um ou dois anos, não importa muito. — Continuava a checar se as lâminas das adagas estavam afiadas. — Na Ordem do Grifo é simples, faço o meu trabalho e vou para casa. A vida de um mago é diferente, se você for imparcial você morre, se fizer as escolhas erradas você morre, se fizer as alianças erradas morre, morte, morte e mais morte! — 

O medo começava a ser visível no rosto da jovem, suas bochechas brancas começavam a ficar rosadas. Yefran pegava uma espada e a removia da bainha, a segurando com uma mão e observando as características da lâmina, aquilo durou alguns segundos até ele recuperar o foco e terminar o seu discurso.

— Minha espada é perigosa, ela pode machucar a pessoa que esta a minha frente e a mim mesmo, sua magia é ainda mais perigosa pois ela pode afetar todos da oficina, talvez da Universidade inteira, um continente, varia de acordo com a intensidade dos poderes... — 

Guardava a espada e se aproximava da ruiva, a olhando profundamente nos olhos com o rosto completamente sério, Scarlet não conseguia mover um músculo, estava totalmente focada na fala do rapaz, o seu tom de voz e a seriedade com o que dizia tudo aquilo prendia tanto a atenção das pessoas que ela não conseguia pensar em uma resposta, um anão os observava.

— Os mares já te prejudicaram por conceder esse dom, é uma órfã que não tem nada além dos poderes que é um peso que carregará por toda a vida! Nada será fácil para você, mas isso não quer dizer que deva desistir! Deve aprender a controlar os seus poderes e utilizar para o seu próprio bem, se fizer pelo bem de outros irá se desmotivar e perder em um abismo sem caminho de volta! Faça as coisas do seu jeito, sendo liberar as emoções ou as esconder criando uma máscara, o que importa é a sobrevivência. —

Sentia um calafrio com a ultima frase, havia lembrado do que Khaf havia dito sobre o Grifo, a possibilidade das palavras serem direcionadas ao Yefran se tornava mais forte a cada momento, a sua mente não conseguia mais suportar tanta informação e a fome não ajudava, quando ela pensava em dizer alguma coisa um dos anões se aproximava com uma garrafa.

— Deixe de encher a mente da garota com essas bobagens Yefran! — Dava um tapa no braço do Grifo. — Ela acabou de chegar e é do Norte, não deve saber nada sobre a Universidade! — Colocava a garrafa de madeira na mão da garota. — Bebe um pouco de Bafo de Dragão! Se tem algo que vocês do norte entendem é a bebida! Isso deve limpar sua mente um pouco! —

Yefran arrancava a bebida da mão da garota em um movimento rápido e atirava a garrafa para o outro lado, um anão a agarrava com muita felicidade e começava a beber. O não que estava próximo a eles era bem barbudo, com a barba castanha indo até a barriga e os cabelos grandes, soltos e bagunçados, parecendo palha, o nariz era redondo e vestia um macacão cinzento e surrado e fedia a bebida.

— Do Norte ou não ela ainda é uma criança e não irá tocar em uma gota de álcool nos terrenos da Universidade! —
— Deixe de se preocupar com tudo, deixe o trabalho um pouco de lado e perceba que ela só é uma garota confusa e que precisa de algo para purificar a mente! —
— Eu nunca bebi mas prefiro comer alguma coisa logo, estou morta de fome! Mas obrigada pelo apoio, senhor??—

O rapaz e o anão ficavam a observando um pouco surpresos, em um instante ela era um vegetal e no outro se tornou uma menina meiga e educada, o anão se aproximava e estendia a mão grossa e não reparava que estava suja de graxa, Scarlet retribuiu o gesto sem hesitar, não demonstrou sentir nojo da sujeira, o anão logo notava aquilo.

— Me chamo Baum Hammerclad! Sou da casta dos ferreiros e sou o responsável pelos reparos das armaduras das "fadinhas do grifo" — Yefran apenas o olhava de canto. — Está olhando o quê? Meu povo luta apenas com martelos e chaves de reparo e saem sem nenhum arranhão, já vocês humanos parecem que tratam as armaduras como se fossem sacos de pancada! —

O rapaz fingia que não escutava e a menina deixava escapar uma gargalhada, que foi interrompida pelo olhar do Grifo, a fazendo gelar e avermelhar, até que ele deu um sorriso de canto e se direcionou a outra mesa para checar as partes da armadura. Mesmo que breve aquele sorriso foi o bastante para ela perceber que ele era mais que um soldado em uma armadura prateada, era um ser humano com problemas e responsabilidades, não uma lenda de um Grifo malvado. Baum aproveitava a distração e sussurrava para a garota. 

— Ei! Eu sei que você é uma ladra! Nada contra! Pelo contrário, por aqui é difícil achar hidromel, nunca bebi mas dizem que é uma maravilha do norte! Por aqui eles não deixam muita bebida passar e os anões quase nunca deixam a oficina, então se você "esbarrar" em algum hidromel por aí e sem querer o perder na minha mesa, o trabalho na oficina é muito pesado, eu posso me distrair e perder algumas coisas por aqui, talvez uma barra de chocolate ou duas... — 

Ao ouvir a palavra "chocolate" a menina ficava com o rosto rosado e dava um sorriso largo e infantil, qualquer tipo de doce é raro de se encontrar, apenas são produzidos na parte mais favorecida da capital e nas festas dos Jarl, já se infiltrou como serva em uma dessas festas e conseguiu roubar algumas guloseimas e viu de perto o que era o tal hidromel que o anão tanto queria, ela apenas confirmava com a cabeça.

— Estamos em uma Universidade de magia, com certeza eu consigo achar algum estudante que consiga conjurar hidromel, talvez transmutar... posso aprender a fazer isso! — Dava um sorriso de canto, um tanto diabólico. — Posso encontrar por aí, de qualquer forma preciso de algum incentivo para começar a busca, um adiantamento seria ótimo! —
— Você nunca viu um anão antes garota? Ninguém simplesmente tenta negociar com um, mas gostei do seu espírito, quando se trata de uma bebida forte posso deixar o orgulho de lado... —

Pegava uma chave e destrancava uma das gavetas embaixo da mesa de ferramentas, puxava um embrulho branco e pequeno que continha meia dúzia de bloquinhos de chocolate, colocava nas mãos da menina que logo guardava sobre um compartimento que havia no manto.

— Não coma tudo de uma vez, já deve saber a raridade disso mas entre os estudantes isso é como Zefril, talvez possa usar como moeda de troca se precisar de alguma ajuda! —

O anão gentil e esperto certamente se tornou um bom aliado a garota, agora tem uma forma de conseguir o capital do local e sabe o que é e como irá funcionar. Baum estava fazendo aquilo tanto por querer o hidromel quanto por pena de Scarlet, ele sabia que a vida dela não será tão fácil, mas para a menina é o contrário, está se tornando ainda mais fácil conseguir comida e... comida! 

— Tenho que ir para o refeitório agora, estou quase morrendo de fome! Obrigada pelas dicas e pelo chocolate senhor Baum! E senhor Gr... Yefran, obrigada! —
— Não precisa agradecer, será sempre bem-vinda na oficina! Lembre-se do meu hidromel! —

A ruiva corria rumo ao refeitório e o anão acenava com um sorriso no rosto, depois que ela ia embora ele dava as costas e agarrava um martelo, antes de voltar a trabalhar em uma armadura, olhava para o Grifo com uma certa incerteza nos olhos e o perguntava.

— Ei Rapaz! — Yefran o olhava de canto, sabendo exatamente o que ele iria dizer. — Espero não perdermos ela para os revoltadinhos bebedores de leite de cobra! —
— Ela me lembra alguém que conheci há muito tempo, não vai se rebelar. —

O refeitório é um local enorme, foi feito para abrigar ao menos 800 estudantes, ele era composto por 5 mesas retangulares de madeira de qualidade e 10 fileiras de assentos, o local é decorado com os pratos e talheres de prata e tapetes vermelhos e amarelos interligando as fileiras, vários quadros de alunos notórios estavam pendurados sobre as paredes de pedra. Estava um pouco vazio por não ser horário de refeição principal, a maioria dos alunos estavam nas áreas de lazer ou treinando, apenas um grupo de 20 pessoas estava amontoado na frente, esse grupo olhava para Scarlet enquanto ela estava indecisa na área de serviço, olhando para os diversos tipos de pão, frutas e vegetais em uma variedade que nunca havia visto antes, se aquilo era o aperitivo então o prato principal deve ser a nível de um Jarl, acabava por pegar um pouco de tudo e sentava-se na parte mais vazia, preferia comer em paz e não gostava da forma esnobe que todos os outros a olhavam, a maioria era formada por elfos, o que a ruiva estranhava por nunca ter visto um no Norte.

— Temos mais uma novata por aqui, se pensa em ser a número um está dois anos atrasada, não se preocupe, ainda pode ser a número dois! —

Scarlet evitava responder aquela outra menina de cabelos loiros, levemente cacheados e longos com um rosto fino e reluzente e dava para perceber facilmente que tinha as orelhas pontudas, o rosto e as orelhas denunciavam que era uma elfa de sangue puro, ouviu dizer que eles são muito esnobes e a viu rodeada por várias pessoas. Não sabendo o que fazer nessa situação apenas ficava calada e aproveitava a comida, a elfa dava um sorriso de canto e sentava ao seu lado, apenas com um pãozinho em mãos.

— Só queria deixar isso claro de primeira, não precisa me olhar com essa cara, se alguém aqui demonstrar ser melhor eu admitirei e depois tentarei superar essa pessoa se é que ela existe. — Dava uma mordia e mastigava por um tempinho até engolir e voltar a falar — Como estou aqui a mais tempo e sou a melhor aluna daqui é o meu dever a explicar exatamente como funcionam as coisas por aqui, a diretora provavelmente já deu os detalhes básicos e está cheio de corvos para dar outros detalhes, o problema é que esses dois pontos de vista são muito extremos, o povo daqui é muito extremo, eles a vêem como carne nova, mais uma possível ovelha para o rebanho. — Ficava totalmente séria. — Apenas aprenda a dominar sua magia, ouvi dizer que a diretora a colocou em uma turma mais avançada, aproveite isso e não fique para trás, desenvolva seu conhecimento e não deixe um dos lados a influenciar, depois que se formar saia daqui e não se meta em nenhuma disputa, apenas viva sua vida e tudo estará certo!

Scarlet parava de comer quando se interessa pelas palavras da elfa, tem um conhecimento limitado sobre a universidade mas sabe muito bem como o mundo de fora funciona, cheio de conspirações e de gente tentando passar por cima dos outros, aquilo não era tanta novidade assim, só que quando se trata de magia tudo é mais perigoso, um passo errado naquela Universidade e poderia perder a vida.

— Scarlet e meu sobrenome não importa mais, irei fazer o meu próprio! 14 anos e gosto de frutas vermelhas e doces! Além de bebidas quentes! —
—Elire Barensar, filha do atual rei do reino dos elfos e futuramente farei meu próprio nome ser conhecido sem a influência de meu pai, irei começar por me tornar a melhor maga que já pisou nesta Universidade e depois a irei mudar completamente, tenho 16 anos e o Grifo é meu. —
— Tem vários grifos... —
— Só foi um teste para saber a sua verdadeira relação com o Grifo, na verdade prefiro garotas, é que estavam dizendo que você tinha algo com o Yefran, o que é claro que é uma mentira descarada, só queria saber se você ao menos gostava dele. —

Scarlet avermelhava com a resposta da garota, tanto pelo fato de achar que foi uma pergunta indireta para saber se ela também gostava do mesmo sexo quanto o pensamento de se apaixonar por alguém que conheceu literalmente ontem, se é que realmente passou um dia desde o ocorrido que perdeu a consciência, bebida um pouco de água e dizia em um tom calmo, mentindo para Elire.

— E quem não gostaria do Yef? Por atrás de toda aquela armadura e musculos deve ter um homem carente e... —
— Não tente mentir Scarlet, você não é muito boa nisso...— Se aproximava e sussurrava em seu ouvido. — Eu também menti sobre gostar de garotas, eu li o relatório dos bruxos que leram a sua mente... você não deve ter medo do Grifo e sim da organização que aqueles dois espiões ali fazem parte... não saia depois do toque de recolher! —

Quando a elfa recuava a ruiva percebia que haviam dois estudantes as observando desde o inicio da conversa, eles tentavam disfarçar mas depois que Elire abriu os seus olhos não conseguiu mais tirar aquilo da cabeça, com organização ela provavelmente deve ter se referido aos magos rebeldes, se fosse a Ordem do grifo ela não teria excluído o Yefran da sentença. As duas continuavam a refeição sem trocar nenhuma palavra, Scarlet se perguntava se o Grifo da história da bruxa realmente era uma metáfora para o rapaz.



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