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História Zehad - O Grifo e o Dragão - Novos amigos?


Escrita por: Renanboti

Capítulo 2 - Novos amigos?


Scarlet encontrava-se em mais um de seus sonhos estranhos, estava sentada no mesmo lugar escuro que sempre sonhava, abraçando-se aos joelhos e observando uma enorme poça d'água que não conseguia ver aonde terminava graças a escuridão, estava sentada sobre ela e não molhava o pijama rosado que vestia. Observando a reflexão estranhamente não via a si mesmo como estava acostumada nesses tipos de sonho, via apenas Yefran coberto de sangue, espada repousando na mão direita que a segurava com firmeza, o rosto do rapaz estava com uma expressão totalmente neutra, não se importando com os corpos a sua volta e o rio de sangue que estava se formando e os seus olhos azulados e sem expressão, observavam a escuridão que se aproximava. Por um momento ele conseguiu avistar a menina, aos poucos ele ia se transformando e a quantidade de sangue ia diminuindo junto a si mesmo, se transformava apenas em uma criança com a mesma expressão vazia, o mesmo brilho azulado nos olhos e desta vez vestia alguns trapos marrons, com uma espada quebrada em mãos.

Acordava com algumas batidas rápidas e leves na porta, ouvia o som de papel se arrastando no piso madeirado, levantou-se para ver o que havia causado tanto barulho e avistou um envelope em um papel branco, o que era considerado um luxo, ela levantava quase que em um salto e tropeçando nos lençóis, o quarto não era muito espaçoso mas tinha tudo o que precisava, um grande armário de madeira escura ocupava todo o canto direito do quarto e no esquerdo estavam duas estantes, uma para guardar livros e a outra para guardar troféus, entre elas estava um espelho oval. Removendo o selo do Grifo no envelope e levando um susto quando uma pequena explosão de pó mágico ocorria e logo desaparecia no ar, a ruiva revirava os olhos e retirava os 3 bilhetes do envelope. Começou a ler do primeiro.

"Bom dia!
Espero que o quarto esteja do agrado da senhorita, caso algum complemento esteja ausente, por favor, solicite na direção que também está marcada em seu mapa. 
A primeira semana deverá ser bem difícil para se acostumar com os horários, então tomei a liberdade de pedir aos professores que não se importem com os seus atrasos, e por favor, se esforce para conseguir acompanhar o ritmo da turma, terá o seu tempo para acostumar mas não podemos a esperar para sempre, precisamos que tome a iniciativa de ir até a biblioteca e começar a pesquisar e treinar, procure os professores no horário livre.
Presumo que notou todas as roupas novas em seu armário, peço que deixe isso apenas entre nós, segundo as normas a direção seria apenas autorizada a entregar os itens que foram enviados por responsáveis, no seu caso o conselho de menores da Capital, eles enviaram algumas roupas... baratas.. sabendo que nenhuma garota iria gostar de vestir aquilo, comprei as roupas que estão em seu armário e gostaria muito que não revelasse a ninguém, se perguntarem diga que ganhou de um doador.

Com atenção, Envira Walltsber, a diretora."

Ela chegou a abraçar o bilhete ao terminar a leitura, ficou óbvio que era da diretora apenas observando a forma das letras que pareciam terem sido feitas por uma máquina, a precisão e a atenção a cada detalhe são dignas de uma pessoa que está acostumada a administrar uma universidade e assinar centenas de papeis por hora. A primeira coisa que havia feito quando chegou no dormitório foi checar o guarda-roupas,nunca foi rica, a mãe as vezes deixava ela ficar com um vestido da produção uma vez ou outra quando os negócios davam certo, sempre sonhou em ter um guarda-roupas repleto de vestidos como o de uma filha de Jarl. O conceito que ela tinha sobre a diretora aumentava ainda mais, certamente era um exemplo a ser seguido, alguém a quem ela precisava se espelhar. Escondeu o primeiro embaixo da estante de livros e pegou o segundo bilhete.

"Venha para a oficina se precisar de alguém para conversar. O homem-máquina-grifo aqui do meu lado pode não falar muito mas ele é uma boa companhia para matar o tempo, não se esqueça de achar o meu hidromel, tem um tal de professor que é nórdico, talvez ele tenha uma ou duas garrafas, descubra quem ele é e ganhará outra barra!
Continue sendo simples e valorize o seu trabalho que tudo dará certo, seja como um anão! Bem, nem tanto, mulheres de barba não são nada bonitas! Mas você entendeu o que eu quis dizer!

Baum Hammerclad (Cara-de-Grifo também)"

A menina não conseguiu resistir enquanto lia e deu uma gargalhada, a letra descuidada sem dúvidas havia sido escrita pelas mãos de um anão que passou a vida inteira trabalhando em uma forja, de certa forma tinha curiosidade para saber como ele e o Yefran acabaram se conhecendo, parecem ser muito bons amigos. A terceira e última carta era do professor Squonky, avisando que a próxima aula irá ser no zoológico, a carta não tomou muito o seu interesse, apenas deu uma lida rápida e a colocou encima da estante, a letra do professor até que era bonita mas a apresentação que ele fez não era muito interessante, parecia que não era alguém que socializava muito. 

O feixe de luz que vinha da janela que estava bem alta na parede já indicava que estava quase na hora da refeição. A menina abria o guarda-roupas com um largo sorriso no rosto e observava todos os vestidos que estavam ali, ficaria indecisa se não fosse um que a chamou a atenção e o agarrou para vestir. Fazia diversas poses enquanto se admirava no espelho, o visual de garota do mato foi completamente alterado para o de menina da cidade, parecia a filha mimada de um comerciante. O vestido preto de veludo com a gola detalhada em renda branca e um laço vermelho sobre ela, duas fitas vermelhadas prendiam os cabelos ruivos da jovem, uma lágrima desceu pelo seu rosto quando viu a imagem de quando tinha 5 anos e ficava repetindo essas mesmas poses enquanto experimentava seus novos vestidos e sonhava em ter mais, logo essa imagem se tornou na pessoa que trouxe essa vida de volta.

Desta vez o refeitório estava lotado, era o horário do café da manhã e vários funcionários distribuíam chocolate quente e o que mais surpreendia a ruiva é que nem todos os alunos estavam ali, algumas meninas não haviam saído de seus devidos quartos e no caminho avistou gente na biblioteca e nos corredores, o povo dali parecia tão ocupado que ainda não teve tempo para falar com alguém que não seja a elfa, que quando não está cercada de pessoas, está lendo ou praticando seus feitiços. O cheiro de chocolate quente e café circulavam todo o local, era comum já que o inverno está quase na porta, os dias estão cada vez mais frios e uma bebida quente e pão com geléia estava caindo muito bem no estômago vazio, comia em paz e observava cada canto da cafeteria, identificando bem os grupos e as pessoas que iriam lidar ali, não iria sobreviver tanto tempo se fosse apenas uma garotinha inocente, nas ruas aprendeu a julgar o caráter das pessoas sem se envolver diretamente com elas e a aprender rápido pois não terá outra chance.

— Podemos nos sentar com você? —

Quase levou um susto quando dois meninos apareceram, um deles era branco e franzino, vestindo um suéter preto e largo com uma listra verde e uma camisa verde por baixo, tinha o famoso furinho no queixo e os olhos castanhos, o nariz fininho e usava uns óculos grande e com lentes espirais, fazendo o seu rosto parecer menor, cabelos castanhos, curtos e bem penteados parecendo que havia sido arrumado pela avó, era um pouco menor que a novata. O segundo menino parecia uma mistura de anão e elfo, era branco, tinha as orelhas pontudas e os cabelos lisos em um penteado de cuia, os olhos azuis e o rosto redondo, estava muito acima do peso e usava um suéter vermelho bem aberto com uma camisa branca por baixo, os dois estavam carregando bandejas de comida, a do gordinho estava quase transbordando de tantos sanduíches.

— Por que não? Não tem nome nos lugares. — Respondia a menina.

— Viu? Eu disse que ela parecia legal!— Dizia o baixinho, que logo levava uma ombreada de leve no braço.

Scarlet dava um sorrisinho de canto e voltava a atenção ao chocolate quente, segurando a caneca com as duas mãos e bebendo enquanto os meninos se ajeitavam na cadeira, o de óculos ficava a observando como se quisesse dizer algo e o outro parecia uma trituradora de sanduíches, depois de devorar um inteiro em questão de segundos lambia a ponta dos dedos e limpava o canto da boca, bebendo o canecão de chocolate quente e colocando a mão sobre as costas do menino franzino.

— Eu me chamo Rubro, você deve estar estranhando um elfo baixinho e eu entendo, meu pai é um elfo e minha mãe uma anã! —

— O meu é scarlet, na verdade mesmo se você fosse um anão ou um elfo eu estranharia, eu vim do norte, terra de gigantes, para alguns a maior parte do que acontece aqui são apenas lendas... nem acreditariam nas coisas que presenciei em apenas dois dias aqui! Me chamariam de louca! —

Era estranho ter uma conversa normal novamente, tinha que se controlar para não tagarelar, até porque o híbrido estava com 90% da atenção no outro sanduíche, mas o menino de olhos castanhos não havia nem tocado na comida, estava apenas a observando e as vezes direcionava o olhar ao amigo, se tornava até uma cena estranha ali, a menina estava quase na metade do pão com geleia.

— Quer biscoito? —

Duas palavras que o rapaz de óculos conseguiu pensar para quebrar o silêncio não foram muito boas, apenas reforçaram a sensação estranha que estava no local, ainda mais quando ele removeu o pacote da bolsa que estava repousada sobre a cintura e oferecia a garota, que recusava com a cabeça enquanto limpava a boca com um guardanapo, o que causava o Rubro a agarrar o pacote e tirar um biscoito de lá, dando uma cotovelada no franzino para que ele pelo menos se apresente.

— G-g-Gunderzywalderoctoson Loyd! Esse é o meu nome... mas pode me chamar de Loyd! Sou da capital mesmo, meus pais são fiscais de comércio.. —

Gaguejava no começo da apresentação, a menina fingia não perceber para o tranquilizar, o amigo apenas balançava a cabeça em desaprovação e devorava mais um sanduíche, antes que se instalasse um silêncio esquisito, a menina terminava a refeição e resolvia tomar a refeição e já ia se levantar para esperar a aula começar no devido local, mas o gordinho se manifestava.

— Esse nome é muito longo, todos chamam ele de Gunzy mesmo e ninguém tem problemas com isso! —

— Se for me chamar de Gunzy está tudo bem... só que prefiro Loyd, fica mais fácil das pessoas me levarem a sério... —

— Não é a forma que te chamam senhor Gunder...zy..walder...octo..son Loyd!! É como você se comporta, é a imagem que você passa a eles! Vocês só tomaram café do meu lado e já percebi detalhes que podem definir toda a personalidade de vocês e não tenho problemas com isso, apenas tente ser mais confiante e menos tímido, pelos mares! — Fazia uma pequena pausa. — Irei te chamar de Loyd ou de Gunder se não tiver problemas com isso, como já devem saber eu sou nova por aqui e vocês foram uns dos primeiros a pelo menos tentar puxar assunto comigo, já é um começo, em que classe vocês estão? —

Os dois avermelhavam com as palavras da ruiva, um momento era a menina quieta que testava concentrada em seu café, no outro havia se tornado em uma verdadeira tagarela, até se segurando para não falar ainda mais, ambos se preparavam para responder e Loyd tomava a frente.

— Estamos na E04, o professor Squonky, ele nos ensina sobre os animais e a vida das criaturas selvagens, é um grande amigo nosso e foi ele quem nos informou que tem uma aluna nova e promissora que foi direto para a nossa turma, presumimos que seja você pois combina quase que perfeitamente com a descrição... a não ser as roupas... —

— Qual é o problema com elas? —

Dizia em um tom sério e grosso, tinha um enorme zelo quando se tratava de suas roupas, mesmo que aquilo pudesse ser um elogio ela acabou levando para o lado errado, fazendo o menino ficar sem reação. Rubro percebendo o clima desconfortável rapidamente pensou em uma forma de explicar o que o amigo havia dito.

— O Gunzy quis dizer que disseram que era uma garota das terras congeladas, então não esperávamos a ver com roupas da capital. — 

— Ah, doaram algumas roupas da Capital, alguma alma gentil se sensibilizou com a minha história e enviou um monte de roupas novas, não posso reclamar, quem enviou tem muito bom gosto! —

Ela se segurava para não liberar mais informações, adoraria falar sobre os modelitos que havia planejado mas era melhor ficar calada antes que alguém desconfiasse de algo, não estava preocupada com o rapaz mas sim com as pessoas ao redor, era um local aberto e poderia haver várias pessoas com más intenções. Percebia-se que estava se aproximando o horário da aula, tanto que alguns alunos já haviam levantado e estavam indo rumo ao seu destino, então ela levantou e acenou para os garotos.

— Preciso ir, irei me preparar para a aula e dentro de uns 20 minutos estarei lá, até breve meninos, e tente terminar pelo menos um sanduíche, Loyd, você está muito magro... —

Rubro soltou uma gargalhada com o comentário da garota, Loyd ficou olhando para a barriga e depois deu uma cotovelada em seu amigo, os dois se levantavam e iam guardar as bandejas. Gunzy ficava observando a menina que lentamente desaparecia do refeitório e entrava no labirinto de corredores que era aquela Universidade, ele suspirava e acompanhava o gordinho.

Trinta minutos haviam se passado e a menina estava em frente a entrada do zoológico, era uma porta dupla de madeira com dobradiças de aço, pelo tamanho da porta dava para perceber que foi feita para passar criaturas gigantes ali, ela entrava e ficava boquiaberta quando via aquele enorme espaço, o local era fechado mas tinha várias janelas o iluminando, até mesmo no teto, o lado esquerdo e direito era composto por alguns quadrados com vegetação ou apenas terra e areia, existia um campo de força que brilhava em algumas cores de vez em quando, indicando que era aquilo o que impedia as criaturas que estava vendo ali de escapar, cerca de 50 alunos perambulavam pelo local observando as criaturas. Os seus pensamentos eram interrompidos quando um baixinho que aparentava estar na metade de seus 30 anos estendia a mão a garota, a cumprimentando. Tinha os cabelos castanhos cacheados e que iam até a testa, vestia uma jaqueta marrom e desgastada, utilizava um suéter bege e desbotado, o seu rosto era bonito, só aparentava ser desleixado, o rosto era caucasiano e tinha as famosas "covinhas", não era tão branco quanto os demais ali e parecia ser uma pessoa gentil.

— Sou o professor Squonky, estudo sobre as criaturas mágicas que habitam nosso mundo desde que tinha 5 anos, passei a maior parte da minha vida viajando das terras congeladas até os desertos de Noir, fui um dos primeiros a desbravar centenas de regiões e... bem, não é o que a interessa, está aqui para aprender sobre criaturas e irá aprender, eu adiantei toda a matéria antes do inverno pois nesse período as criaturas ficam mais reservadas, então não tenho mais conteúdo para este ano que infelizmente é o último que vocês vão ter relacionados a minha matéria, mas se quiserem eu sempre estarei para ensinar tudo o que eu sei. — Colocava a mão no ombro da menina e a guiava pelo espaço. — Você terá apenas alguns meses para aprender o que deveria ter aprendido em 4 anos, agora seria apenas observação, mas farei uma leve introdução sobre as criaturas, lembre-se que você sempre é bem-vinda aqui e tem alguns livros na biblioteca, quando digo alguns me refiro a milhares. —

Ele a guiava pelo local, caminhava com passos rápidos que chegavam até a ser cômico graças as suas perninhas, o homem poderia até ser confundido com um anão se fosse um pouquinho mais baixo e bem mais parrudo. Não dava nem a oportunidade da menina falar ou perguntar algo, afinal estava falando sobre a sua paixão, era visível o brilho nos olhos dele cada vez que olhava para alguma criatura, eles paravam perto de uma jaula com a temática rochosa, residia ali um Grifo, uma criatura gigante com o corpo de leão, asas e cabeça de uma águia, os olhos da menina brilhavam enquanto se aproximava boquiaberta.

— Sem dúvidas é o favorito da maioria, até hoje a sua origem é um mistério, dizem que eles residiam neste mundo muito antes dos elfos, humanos e anões existirem, sem dúvidas foram os guardiões da vida, fazem os seus ninhos em montanhas e caçam de criaturas pequenas até os maiores predadores, sempre mantendo um equilibrio entre as outras criaturas e são naturalmente resistentes a magia, dizem que eles foram originados da grande árvore... — 

— É majestoso... ou seria majestosa? Algumas pessoas do norte diziam que todos os grifos eram fêmeas e os machos eram uns tais de Torns, Karns, ou algo do tipo. — 

— São Keythongs, e não, não são todos, os Keythongs são apenas parentes dos grifos, tiveram um ancestral em comum, a alguns séculos atrás até achavam que eles eram os alphas por não terem asas e serem maiores, assim as fêmeas teriam asas para fazer os ninhos com mais facilidade enquanto os machos iriam caçar com maior velocidade. Ambos são resistentes a magia. —

Colocava a mão sobre a barreira mágica, olhos fixados na criatura, brilhavam como se estivesse vendo uma montanha de ouro, parecia que a criatura havia hipnotizado a menina, que só despertou quando a criatura correspondeu o olhar, tinha uma postura autoritária e vigilante, realmente lembrava o Yefran. O professor sorria ao ver a reação da menina, lembrava-se da primeira vez que avistou aquela criatura, quase achou que estava tendo uma alucinação.

— Se eu pudesse ser uma criatura eu seria um Grifo... — Juntava os dedos das duas mãos. — É uma pena a Ordem do Grifo não ter me aceitado por causa da minha altura... eu estaria disposto a sacrificar minha magia para beber a lágrima de grifo. — 

O professor nem percebia o quão estranho aquilo havia soado para a menina, a lágrima de grifo é o nome da poção do extrato da árvore élfica, misturado com alguns ingredientes secretos da OG se torna uma poção que remove qualquer traço de magia de quem a bebeu, mas o torna mais resistente a ela e dá a ele as propriedades de um grifo.

— Me sinto estranha professor Squonky, tenho o pressentimento que ele está vendo os meus pensamentos... a minha alma! Pelos mares... diga que é só superstição do povo do norte! Ou eles podem mesmo ler mentes? —

— Não se sabe, acredito que eles consigam ver algo além, por isso só conseguem seguir a uma única pessoa, esse aí é do General da OG, é um dos primeiros grifos a escolher um mestre em... centenas de anos! —

Os olhos brilhavam ainda mais por lembrar que Yefran é um capitão, talvez algum dia ele se tornaria o General e poderia ter o seu próprio, seria engraçado ver o lendário Grifo sobre outro lendário, talvez conseguiria até convencer o rapaz a deixar ela a voar por aí com o animal, voar deve ser a maior liberdade da natureza, ter o poder de ir aonde quiser e quando quiser! Dezenas de possibilidades passavam pela sua mente, o professor abria um largo sorriso e acenava em direção a porta, logo virou a cabeça para ver o que era e viu a diretora se aproximando com um longo vestido negro e caminhava a passos apressados e mantendo sempre uma postura reta, carregava 3 livros que a menina tentava identificar sobre o que eram, curiosa de natureza. Squonky não conseguia conter o sorriso e o brilho nos olhos.

— Bom dia diretora Walltsber, a senhora está radiante como sempre... estava fazendo a introdução do zoológico para a novata, e claro que a presença da senhora não está atrapalhando, pelo contrário, é bom a ter por aqui, assim pode compartilhar o seu conhecimento também! Ou veio aqui por outro motivo? —

A diretora sorria de canto e olhava para a menina, fazendo um carinho sobre a sua bochecha e depois voltando a sua atenção ao professor, a sua expressão alterava para de neutralidade ao ouvir suas palavras, a ruiva ficava apenas observando os dois tentando captar tudo o que iria acontecer ali, é uma boa chance para ver como ela recebia elogios, percebeu que a alteração de expressão ocorria cada vez que ele mencionava "senhora", fazendo o sorriso levemente desaparecer.

— Não sou casada então não tem o porque de me chamar de senhora, sem ofensas Squonky, muito pelo contrário, o considero um amigo e convenhamos que somos quase da mesma idade, então acredito que podemos usar o primeiro nome, Walter, ou se quiser podemos continuar usando apenas o segundo. —

Ela fazia uma breve pausa e caminhava para mais perto deles e acenava para uma criatura menor que um anão e que usava um pequeno manto, essa criatura se aproximava e Scarlet a observava de perto, ouvia os mesmos passos que ouviu quando estavam entregando a correspondência nos dormitórios, o barulho ela de patas tocando no chão, por baixo da manta estava um ursinho, ou algo muito parecido com um filhote de urso, esse segurava os livros e saia correndo a passos de pinguim para longe dali, deixando a ruiva boquiaberta, ela ficava apontando para ele e esperava a resposta do professor, que estava focado em observar a beleza do rosto da diretora, ela por vez riu e decidiu explicar a garota.

— É um Ursavar, são bichinhos pequenos e muito inteligentes, vivem nas florestas próximas a universidade, eles negociavam com os mercadores das estradas, trocando algumas coisas de dificil acesso da floresta por roupas e outras mercadorias, com o tempo passaram a trabalhar de guia e escoltas nas florestas, são ótimos entregadores, muito fieis e compromissados, bem caros também, acho que aprenderam com os anões... —

— Ah... então foi isso que entregou os bilhetes... — Lembrava-se dos vestidos. — E muito obrigada pelas boas-vindas diretora Walltsber, foi muito gentil em me enviar aquele bilhete! —

A mulher sorria e discretamente piscava a menina indicando que havia entendido que se referia aos vestidos, o professor não fazia a minima ideia do que estava acontecendo ali, e ela não havia respondido o que estava fazendo ali, na sua mente haviam apenas 2 possibilidades.

— Foi muito bom que a senh...orita tenha vindo nos visitar aqui, estava pensando em nos reunirmos esta noite para tomarmos um café e debatermos alguns assuntos sobre as turmas? —

— Desculpe mas não tenho tempo para isso, tenho muito trabalho pela frente. —

A resposta quase que instantânea fez a menina ter um pouco de pena do professor, estava óbvia as intenções dele, o mesmo parecia não notar que aquilo foi um fora, ou foi isso ou ele não desiste fácil, com aquilo ela teve a confirmação de que a diretora estava ali para ver o seu progresso, se tivesse ido para resolver algum outro assunto já teria resolvido, então essa era a hora de tomar a iniciativa.

— Diretora, poderia me esclarecer algumas dúvidas? Irei passar na biblioteca depois e o Squonky está sempre aqui, creio que ainda não terminamos nossa conversa, isso é claro se não estiver ocupada... —

— Eu sempre estou ocupada Scarlet, mas posso dividir um pouco da minha atenção com você, peço desculpas sobre isso, mas tenho responsabilidades que vão além da Universidade, como diretora sou representante de todos os magos humanos... podemos conversar melhor no meu escritório, isso é se o professor não tiver outros planos, é claro. —

— Não senhora, tenham um ótimo dia e lembrem-se que estou sempre aqui para ajudar, bom trabalho e me procure depois Scarlet, precisamos falar mais sobre os Grifos e os Keythong, também tem as sereias, Rilefantes, Dragões... —

Continuava citando várias criaturas, a diretora acenava com a cabeça e colocava a mão sobre as costas da menina, a guiando para a saída enquanto ele gritava o nome de algumas outras criaturas. Nos corredores o silêncio prevaleceu, ela caminhava de forma rápida até a sala, que o piso era de madeira e as paredes de pedra, algumas pinturas estavam penduradas na parede, pareciam que eram dos diretores anteriores,. O local era grande e lotado de prateleiras, prêmios e retratos. Envira sentava numa poltrona próxima a uma mesa de madeira coberta de papéis e livros, tudo estava bem organizados através de cor e os livros estavam com vários marcadores que provavelmente são coisas que ela acha que vale a pena revisitar, ela sinalizava para a menina sentar em uma cadeira de madeira em frente a mesa, tudo ali era muito luxuoso e limpo, percebia que a diretora era extremamente organizada.

— Já que está aqui pode perguntar o que quiser e espero que já tenha feito amizades por aqui, muitos acabam recebendo propostas para empregos aqui, então se preocupe sempre em ficar em destaque pelas suas habilidades, assim como tem pessoas que encontram o "par perfeito" aqui. —

A mulher começava a olhar para uma das pilhas de papeis organizadas por cor e começava a revisar folha por folha enquanto esperava a resposta da menina que estava sorrindo enquanto pensava por onde começar, além de ter tido uma semana agitada, iria passar o inverno dormindo e comendo embaixo de um teto, além de aprender mais sobre magia e sobre as criaturas deste mundo, ela suspirava com o rostinho um pouco avermelhado, destacando as sardas.

— Na oficina eu conversei com o Yefran, e com Baum, um anão muito simpatico! Conheci Gun... Loyd e Rubro, dois rapazes tímidos no refeitório, acho que o Loyd desenvolveu uma paixonite por mim, ele ficou me olhando da mesma forma que o Squonky olhou para a senhora! —

A diretora deu apenas um sorriso de canto e acenou com a cabeça, colocava os papéis de volta na mesa e pegava um livro verde, esse era o livro que havia entregado ao Ursavar, observando de perto a garota conseguiu concluir que era um livro sobre poções, nada surpreendente e que pudesse conquistar o interesse da garota, era esperado da diretora ler algo desse tipo, ficou um pouco decepcionada, esperava um livro de romance ou alguma paixão secreta.

— Nós sempre teremos pretendentes, Scarlet, os homens sempre são atraídos por mulheres bonitas, decididas e bem vestidas, assim como gostamos de homens bonitos, decididos e bem vestidos, é o ciclo da vida. Minhas responsabilidades como diretora vem antes de tudo, mas você é uma jovem que acabou de ingressar na faculdade, não faria mal de se envolver romanticamente uma vez ou outra, aproveitar a juventude. —

— Se adicionasse forte e misterioso acharia que estivesse falando do Yefran. —

As duas riam, Scarlet ficava um pouco envergonhada pelo que acabava de falar mas ao mesmo tempo agradecia mentalmente por ela ter rido, parando para pensar seria comum a diretora ter algum tipo de repúdio a Ordem do Grifo, afinal os magos poderiam considerar eles como carrascos e carcereiros. A diretora parava de rir e voltava a se concentrar no livro, por dentro estava feliz pela menina ter se aberto, era um sinal de que já estava se acostumando com o local.

— Tenho pena do Ursavar que entrega as suas correspondências, deve carregar toneladas de cartas de amor escritas por alunas sonhadoras e professoras querendo um rapaz novinho. Mas diga-me, tem algo que a parece preocupar. —

Scarlet congelava, a diretora e Yefran eram um dos poucos em quem podia confiar ali e mesmo assim os conheciam apenas a 2 dias, não tinha como saber qual seria a reação deles ou se a apoiariam incondicionalmente. A ruiva olhou para ambos os lados e aproximou a cadeira da mesa, se inclinando para frente como se fosse sussurrar.

— Conheci Elire, a princesa dos elfos, ela é meio metida mas isso não vem ao caso, me disse algo preocupante, que na escola existem pessoas com seus próprios planos, tramando alguma coisa, isso já era esperado de uma escola de magos, como diria qualquer ancião no norte. A senhora acha que estamos correndo algum perigo real? —

A expressão da diretora era alterada completamente, parecia que estava tendo lembranças de algo preocupante, a Scarlet confirmava os seus medos através da expressão da mulher, que nem tentou esconder a preocupação, ela se levantava da poltrona e caminhava até um dos quadros, era o diretor anterior, era um idoso com uma barba média e o olho direito era verde e o esquerdo era azul, os cabelos grisalhos e segurava um charuto, parecia um velho general de guerra.

—A humanidade está em guerra desde o seu primeiro suspiro, primeiro foi a guerra contra o ambiente, contra as criaturas, contra os próprios humanos, contra os elfos, os anões, a guerra marcou nossa história e como pode ver já sofremos 4 guerras em menos de um século, não queria preocupar os alunos mas não tem como esconder. já podemos ver a fumaça no horizonte.... a guerra de 7 anos atrás foi um massacre, Dolovan o antigo diretor foi forçado a levar estudantes para lutar na linha de frente do Império, nesta época enviaram milhares de soldados para a linha de frente, centenas de magos também, Dolovan também foi um, se tornou um homem frio e cruel, Yefran pôs um fim a isso depois dos eventos da Fenda.... as tensões continuam, com o norte e sul, mas não é isso que nos preocupa, essas guerras sempre terão, não importa o que fizermos. —

— Então o que a preocupa? O que pode ser pior que essa guerra? Não se esqueça que eu também fui uma das vitimas, sei muito bem as consequencias da Fenda, meu pai estava lá! —

— Não estava lá para saber a gravidade, mas o Yefran foi o único sobrevivente, então ele pode a informar mais sobre isso, caso esteja interessada em saber, o que me preocupa são os verdadeiros inimigos, todos usam a magia pelo seu interesse pessoal, mas alguns querem voltar a magistocracia que quase nos destruiu, a mesma que está corroendo Noir, eles não percebem que isso só nos jogaria em uma guerra contra os elfos e anões e desta vez eles não parariam apenas em uma geração de magos, acha que apenas magos morreram durante o exterminio? Qualquer um que tivesse o mínimo de conhecimento seria perseguido e queimado, se isso acontecer de novo os elfos não irão parar apenas com os magos, todos os humanos serão exterminados!

A menina congelava ao ouvir que o Grifo havia voltado da Fenda vivo, foi um acontecimento que matou milhares de soldados e foi o que causou a rendição do Norte, não teve muitas informações além de que morreu muitas pessoas ali, mas com o Yefran teria uma fonte do que realmente aconteceu, do verdadeiro poder que entrou em ação ali, mal conseguiu ouvir as próximas palavras da diretora, pouco a importava, apenas o que aconteceu com o seu pai.



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