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História Zehad - O Grifo e o Dragão - A Pena e a Espada


Escrita por: Renanboti

Capítulo 3 - A Pena e a Espada


Passou apenas uma semana desde o primeiro dia da ruiva na universidade, ela ficou explorando a biblioteca e lendo alguns livros sobre a magia e o Império de Zehad, assim como a vida dos elfos e anões, tudo aquilo era misterioso para ela, apenas o Jarls e seus filhos tem acesso a uma boa educação no norte, sabem que existem elfos e anões mas acreditam que a maior parte do Sul é apenas a cidade dos humanos, a Capital.

O dia seguinte seria o dia de avaliação da turma e o foco seria a demonstração das capacidades mágicas de cada um, Scarlet foi posta em uma turma avançada por demonstrar ter um certo potencial com a magia elementar, o único problema era que não conseguiram detectar a sua falta de controle, o que é normal para uma jovem na puberdade, o descontrole emocional também afeta o desempenho e a intensidade da magia. Outro fator que a atrapalhava era a incerteza sobre o que realmente aconteceu na Fenda, o povo do Norte não sabia muito do que aconteceu lá, afinal apenas Yefran sobreviveu ao massacre dos dois exércitos e não conseguia decidir se era recomendável o fazer certas perguntas sendo que mal o conhece, a guerra afetou as pessoas de diversas formas e o seu modo frio de agir poderia ser uma de suas consequências.

Caminhava até a oficina, os outros alunos estavam muito focados em seus estudos ou suas disputas para perceber a novata e ela também contribuí a isso se afastando dos grupinhos, ela gosta de estar perto de pessoas, o problema é que se acostumou com a solidão. Gunzy e Rubro são os únicos que buscam conversa com ela, percebeu que os meninos são bem intencionados e não são mal vistos pelos demais, apenas não se destacam como a Elire, que simplesmente sorria e acenava para a ruiva cada vez que a via mas desde aquele dia nunca disse alguma outra palavra, talvez estaria com medo de levar atenção indesejada a Scarlet, ou simplesmente não tinha a menor vontade de conversar, o que para a novata estava tudo bem. A diretora sempre retirava um sorriso da menina a cada vez que ela a via com o andar autoritário pelos corredores, monitorando cada aluno e cada canto, era necessário devido a posição importante, ela representava todos os magos da Universidade, não podia sequer cometer algum erro ou deixar algo passar por debaixo de seu nariz, infelizmente sempre está ocupada, mas sempre arruma alguns minutinhos para enviar uma carta. O professor Squonky a surpreendeu com o conhecimento e gentileza, embora seja um pouco entediante as vezes, ele é um bom homem, parece ser um grande amigo de Loyd  e Rubro, quase sempre andando com eles na biblioteca ou no zoológico.

O calor da oficina era reconfortante, mas não para Scarlet, se acostumou com o frio das terras de gelo e qualquer mudança de temperatura a incomodava, tanto que nos corredores os alunos estavam encolhidos em seus matos e ela, com os cabelos soltos e bem penteados, sem usar nenhum capuz ou roupas grossas, apenas uma camisa bordada bege com mangas que iam até o cotovelo e o broche da ordem do grifo na parte direita, uma saia vermelha que media um pouco abaixo dos joelhos e sapatilhas com meias brancas e longas. Os anões estavam tão focados no serviço que nem reparavam em sua presença ali, o som de toneladas de metal batendo em uma superficie sólida ecoava por todo o local, além do som que as esteiras que funcionavam a manivela faziam, tudo ali era feito através do trabalho duro dos anões, que puxavam correntes para levantar placas pesadas de metal ou giravam imensas manivelas. Através da fumaça conseguiu avistar a diretora, que como sempre estava usando um belo e longo vestido preto que era destacado pela pele branca da mulher, uma vista que poderia encantar até o coração mais gelado. Aparentava estar discutindo algo importante com Yefran, as vezes ela se perguntava o por que dos dois estarem quase sempre conversando, magos poderiam ver os soldados da Ordem do Grifo como os seus carcereiros.
— Desculpe se estiver atrapalhando... queria muito falar com você Yefran. — Dizia em um tom tão baixo que eles mal conseguiam ouvir. — Se não for incomodo... —

O rapaz desviava o olhar a diretora que retribuía o gesto de forma positiva, mesmo sendo um gesto sutil, apenas um olhar, a menina percebeu que ele havia perguntado se deveria acabar com o que estavam discutindo ali ou se seriam abertos com a menina, felizmente para a curiosidade da ruiva, escolheram a ultima opção.

— Não está atrapalhando nada, apenas estávamos discutindo sobre um ogro que migrou para a floresta próxima a universidade e como o General me deixou responsável pela segurança eu percebi que por não ser uma ameaça muito grande, no máximo 2 soldados da Ordem já iriam dar cabo dessa criatura! —

O rapaz era o primeiro a responder e o fazia de forma automática, sempre no mesmo tom indiferente, a diretora dava um sorriso de canto um pouco cínico, a menina percebeu que se tratava de algo além da ameaça, também se tratava do orgulho. A Walltsber se aproximava um pouco mais do Grifo, ficando apenas a um passo de distância e depois voltava o olhar a ruiva.

— Dois Grifos para fazer o trabalho de um mago? Precisamos demonstrar que somos eficientes, além disso creio que o cavalheiro esteja apenas interessado em ir em uma caçada com um anão que deveria estar monitorando a oficina e um cavaleiro do Império que nem deveria estar se envolvendo nos assuntos da Universidade, nós temos uma imagem a manter, sabia? —

O coração de Scarlet se acelerava enquanto ela lentamente se aproximava do Grifo e o olhava com um sorriso vitorioso e com uma postura autoritária, não havia como questionar pois ela estava correta, seria inaceitável o representante, o supervisor da oficina e um visitante tratar de assuntos da Ordem como se fossem uma simples brincadeira entre amigos. Ficava indecisa sobre qual lado ficar, não queria ficar contra a diretora mas também queria respostas do Yefran, precisava satisfazer os dois lados.

— Eu preciso de pratica, e uma oportunidade! — Um sorriso se formava no rosto da ruiva enquanto tomava coragem e se aproximava dos dois. — A senhora confiou em minhas habilidades e me pôs em uma turma avançada pois acreditou que iria aprender rápido, eu vim lendo e praticando sobre a magia de fogo e seria uma ótima oportunidade para demonstrar que eu mereci toda essa confiança! Por favor, deixe eu ir com o Yefran e os outros! —
— Absolutamente não! —

O homem negou quase que de imediato, a diretora por um instante olhava para o final da sala um pouco pensativa, dando as costas aos dois e caminhando com as pontas dos dedos das duas mãos se tocando, ela se virava e dava a resposta final
— Sou a responsável pelos alunos, você é apenas o responsável pela segurança deles, então seja um bom Grifo e faça o seu trabalho, vai ser importante para o aprendizado da menina, a magia não pode ser desenvolvida se ficarmos a tratando como um bebê —
— Já está tudo preparado, vamos ou não? —

Baum interrompia a conversa antes da resposta do rapaz, ele carregava um machado de metal e duas machadinhas na cintura, ele vestia uma camisa com mangas longas de couro e bem estufada, calças brancas com protetores de joelhos de metal e botas de couro reforçado com metal. Scarlet ficava feliz por poder ir, tanto que teve que conter a vontade de abraçar a diretora, Yefran continuava no tom sério e por um instante a menina conseguiu ver um sorriso de canto em seu rosto, bem discreto mas mesmo assim exibia muita beleza.

— Sim, senhora! —

A Walltsber avermelhou um pouco, tanto que a ruiva deixou escapar uma risada sobre a reação da mulher, é bom lembrar que ela não gosta de ser chamada de "senhora" por quem não é mais uma criança, percebeu que mesmo aparentando estar no começo de seus 30 anos, ela era bem sensível com a sua idade. Milhares de respostas já haviam sido formadas em sua mente, mas lembrou que tinha uma menina por perto, sorriu e deu uma piscada a ela, junto a um sorriso reconfortante.

— Fique de olho nos rapazes por mim, e não se preocupe, o visitante não é tão irresponsável quanto eles. Apenas se comporte e me deixe orgulhosa! —

A menina acenava com a cabeça e o sorriso da diretora aumentava, ela olhava de canto para o Grifo e depois ia caminhando até a saída sem dizer nenhuma palavra. Yefran já estava juntando algumas partes de sua armadura mas não era o conjunto que ela estava acostumada, era uma versão bem mais leve e versátil, ele colocava a manopla de couro com algumas partes de aço no exterior e umas braçadeiras, todos tinham detalhes azuis nas bordas, o anão o ajudava colocar o peitoral de aço que no cobria a camisa azul e com mangas longas que usava, calças brancas e já estava usando as botas de metal, apenas encaixava os protetores de joelho. Ele percebia que a menina estranhava a armadura.

— Só vamos caçar um ogro na floresta, sei o que vou enfrentar e como irei enfrentar, não preciso usar a armadura completa, é muito trabalhoso colocar e depois tirar apenas para fazer um passeio na floresta! —
— Entendi, desculpe por ter aumentado um pouco a tensão entre vocês, eu só queria ajudar. —
— Não tem motivos para se desculpar, se a diretora não fosse assim a universidade já teria explodido, ela foi um pouco rude mas teve boas intenções, para ela é instinto se preocupar e superproteger quem está a sua volta, se não fosse a união entre pessoas e ideais a universidade nunca teria sido formada. —

Tudo ficou claro na mente da ruiva, a Walltsber estava usando a negação como forma de impedir que o Grifo se envolvesse em algum escândalo, como é um dos capitães da OG e possivelmente o futuro General e o merecedor da confiança do atual. Um homem se aproximava do trio, ele vestia um macacão branco e com um capuz que não o utilizava, a armadura tinha a aparência bem mais simples, sem as bordas azuis e sem as marcas da Ordem. Seus cabelos eram lisos, longos e castanhos, assim como os olhos e a barba média e bem arrumada, seu rosto tinha pequenas marcas de cortes próximas aos olhos e aparentava ter uns 45 anos, parecia ser bem organizado e sério, típico de alguém da capital, ele se aproximava de Scarlet e a fitava sem ao menos abaixar a cabeça.

— Apresente-se agora, está diante de um cavaleiro real! — Afirmava com um tom de soberania.
— Is-car-le-ti.. senhor... —

A menina chegou até mesmo a gaguejar, o homem não aguentou e soltou logo uma gargalhada junto Baum. Ele se posicionou um pouco a sua frente e cerrou o punho direito levanto-o até o peitoral da armadura e se curvou um pouco, se recompondo ainda com um sorriso no rosto, o anão não conseguia mais parar de rir, irritando ainda mais a menina que não sabia o que acabou de acontecer ali.

— Só estava brincando, me chamo Arfã. Senhorita, peço perdão se a assustei muito, é que não consegui resistir a tentação, pelo seu visual presumo que seja a menina do Norte que foi resgatada das garras da Bruxa malvada! — Continuava com um sorriso no rosto. — Isso daria um belo conto de fadas, espero que a termine com um final feliz! Ou minha filha não iria gostar da história, se algum dia quiser a contar é claro, é uma aluna da universidade, é um pouco mais nova que você! —

Um brilho tomou os olhos do homem quando mencionou a filha, Scarlet mesmo ressentida deu um sorrisinho de canto, parecia ser um homem de família e que levava a vida na gentileza e as vezes na brincadeira, de muito mal gosto pelo ponto de vista da menina.

Saindo da universidade a ruiva contemplava uma das vistas mais belas que já teve, as paredes de pedra do castelo estavam começando a ficar cobertas por uma fina camada de neve, assim como as árvores e a grama próxima ao local, a imensa construção de pedra foi feita sobre um monte, tinha um enorme espaço entre o castelo e as muralhas que formavam um círculo perfeito em volta da construção, dava para ver que os carpinteiros planejaram tudo simetricamente, não existia nenhuma pedra mal posicionada ou destacada. A decoração era feita com vários tecidos vermelhos e azuis posicionados de forma retangular, todos bem alinhados entre as janelas, não chegava a ser um palácio mas também não era uma prisão.
Fora das muralhas a menina conseguia ver a floresta, infestada de pinheiros e de arbustos, avistava até mesmo alguns ursalar patrulhando o local com pequenas bestas, caminhando por uma trilha entre os arbustos junto aos rapazes ela ia deixando a universidade para trás, sendo observada pelos soldados que estavam em seus postos na muralha. Os homens usavam elmos prateados com a frente aberta, apenas com um protetor nasal básico, não precisavam de muita armadura para enfrentar um ogro.

— Vocês 3 continuem avançando, os magos detectaram o ogro bem a frente, alguns minutos de caminhada, ficarei de escolta caso apareça alguma outra criatura, nunca se sabe. —

Afirmava o Grifo enquanto desaparecia entre  algumas árvores sem ao menos dar a chance dos outros se despedirem, Arfã sorria e balançava a balançava a cabeça, já conhecia o rapaz a um tempo e era algo típico, assumia a liderança e a menina ficava no meio, o anão andava lentamente com as mãos firmes no machado que estava implorando para ser usado na carcaça de um ogro infeliz.

— O senhor parece o conhecer bem, sem ofensas mas pelo que eu percebi o Yefran não parece ser uma pessoa muito sociável...apenas me pergunto como vocês se conheceram e como se tornaram amigos! Acho que ele não gosta de mim... —
— Sua curiosidade é notável menina, pode te servir muito bem, ou muito mal! Depende de como a usar... por hoje irá se servir bem! Não teria dito boas coisas sobre você se não gostasse, precisa ser atenta com ele, a cada gesto, ele prefere se expressar com ações, se quiser o fazer falar o procure quando não estiver no trabalho, quando está vestindo aquela armadura ele é apenas um soldado, não conseguirá nada além do que ele está sendo pago para fazer e se o procurar quando estiver fora de seu horário de trabalho irá ter um ótimo amigo que poderá confiar em todas as ocasiões! Nunca conheci alguém tão preciso e leal! —

Scarlet ficava com as bochechas rosadas, a curiosidade era um de seus pontos fracos, não conseguia resistir a fazer uma pergunta, parecia uma criança impaciente que perguntava cada coisa que via a seus pais, pais... quando essa palavra veio a sua mente ela lembrou que deveria ter insistido para ir com Yefran para saber mais sobre a guerra que levou a sua família, pelo menos mais sobre a fenda.

— Percebi o quanto era dedicado, também não ajuda que passei um tempo sendo ignorada pelas cidades do norte, eles não aceitavam refugiados nem moradores de rua, os orfanatos estavam lotados, a economia estava quebrada graças a maldita guerra que só trouxe desgraça e levou os meus pais... —
— Sinto muito quanto a isso, sinceramente. — Arfã colocava a mão sobre o ombro da menina e a abraçava, o gesto de carinho inesperado a fez avermelhar, já fazia um tempo que não ganhava um. — Perdi vários amigos nessa guerra, bons homens, o que doeu mais foi saber que estavam sobre meu comando, não tenho nada contra o norte, seu povo não teve outra escolha a não ser a guerra, vocês culpam os seus Jarls mas o nosso Imperador também foi culpado, deveria ter ao menos cedido algumas terras na fronteira, nem estamos as utilizando! Até entendo a questão tática, ainda consideram o povo das terras congeladas como bárbaros, mesmo os nórdicos tendo os expulsados daquela terra eles apenas os substituíram, mas acredito que merecem uma chance e com o tempo iriam ver como as coisas são prosperas aqui e iriam se unir a capital, assim poderiamos marchar para Noir, as terras desertas do continente do Sul! Com a infantaria composta pelos temíveis machadeiros das terras congeladas, a cavalaria da Capital bem organizada e potente, para servir como a ponta da lança ou quem sabe o martelo! — Os olhos do homem brilhavam ao mencionar as táticas. — Junto aos magos, dizem que 10 magos valem por 10.000 soldados, vi com meus próprios olhos durante a guerra que era verdade, já vi um mago estraçalhar toda a linha de frente dos nórdicos, mais de 500 mortos em questão de segundos! — Fazia uma pausa e assumia uma expressão séria e preocupada. — Iria precisar de um Imperador mais competente para isso, assim como um ótimo general, esse poder não deve ser utilizado para disputas de território aonde haveria apenas morte e destruição, deve ser usado para acabar com a magistocracia em Noir, tornar aquilo uma terra prospera e depois acabaremos com o mundo sombrio! As terras da escuridão iria tremer com a vista daquele exercito, quem sabe assim finalmente teremos o apoio do reino dos elfos, com seus arqueiros e magos de combate, os anões iriam adorar fornecer as armaduras, mas faz séculos que não lutam na linha de frente. —

Baum permanecia indiferente diante todo aquele discurso, anões gostavam mais de dinheiro que qualquer outra coisa, são pessoas tradicionais e que adotavam um sistema de castas, antes eram conhecidos como ferreiros, guerreiros ou mercadores, agora os que ainda se consideram guerreiros vendem os seus serviços como mercenários, os ferreiros se juntaram com os mercadores e praticamente são uma ultima casta, isso gerou um grande avanço tecnológico, é bem difícil entrar na cidade dos anões, mas os que entraram dizem avistar grandes estatuas de metal que se movem e liberam grandes quantidades de vapor, bestas que em vez de atirar flechas atiram pequenas bolas de metal e até mesmo uma carruagem sem cavalos e outras invenções.

A ruiva ficava sem reação perante as falas do homem, cada vez que piscava os seus olhos lembrava de casa, da neve, do frio e do terror que circulou pela cidade enquanto os homens e mulheres partiam para a guerra, o povo nórdico estava desesperado, a caça estava ficando escassa e algo estava acontecendo que os peixes estavam todos morrendo, sem a pesca eles tiveram que tomar alguns territórios da fronteira, os homens lutaram como leões, dizem que todos os rapazes carregam machados desde pequenos e as mulheres carregam uma espada e escudo para defender a sua casa caso a força do homem falhe, e foi o que aconteceu. Mesmo lutando como predadores os nordicos foram derrotados, tudo graças ao evento da Fenda, que estraçalhou dois exercitos e acabou com a força principal de combate nordica e depois a elite da capital, a cavalaria, finalizou o trabalho, não foi uma vitória para Zehad, já que perdeu muita mão-de-obra e ficou mal visto pelos elfos, seus monitores.

— Conheço alguns irmãos que adorariam participar da batalha e também conheço outros que adorariam vender algumas espadas e machados. Eu? Gosto de uma mistura dos dois, primeiro iria vender meus equipamentos, depois iria testar alguns machados novos no campo de batalha! —

Scarlet deixava escapar ma gargalhada com a simplicidade que Baum descrevia o que faria no campo de batalha em relação a Arfã, era óbvio que o exercito da Capital é bem mais tático, ainda mais com um representante com a mente aberta, os anões são pessoas de mente fechada e cabeças duras, no sentido literal, os ossos deles são mais fortes que o normal e tem uma concentração de músculos maior por baixo de toda a gordura, além de sua resistência ao calor. Aquele assunto estava a deixando deprimida, então apenas abaixou a cabeça e ficou pensando em outra coisa a dizer, até lembrar que ele tinha uma filha.

— Havia citado que tem uma filha na Universidade, ela está a muito tempo? Se ela for tão gentil quanto o senhor eu adoraria a conhecer, essa universidade precisa de gente menos esnobe... —
— Se a senhorita me acha gentil, irá se encantar ainda mais com a minha filha! Ela é tão reluzente quanto Alura! Parece uma bonequinha de tão bonitinha! A 10 anos atrás iria me juntar a Ordem do Grifo, foi no dia da iniciação que descobri que minha esposa estava grávida, desisti antes de beber a lágrima do grifo, tinha feito todo o treinamento mas naquele momento já sabia que tinha uma missão importante, é uma das poucas decisões que não me arrependo! Cada vez que vejo o seu rostinho lembro que fiz a escolha certa. —
— Sem querer me intrometer mas você fica paparicando muito a menina, deixe que ela tenha as suas próprias asas de agora em diante, você e sua esposa visitam tanto a Universidade que já até pensamos em fazer um quarto para vocês! —
—  Sei disso Baum, mas vocês anões já nascem com um machado na mão direita e uma ferramenta na mão esquerda, não podemos comparar nossas crianças, minha esposa vem tentando me tirar um pouco do pé dela, mas não consigo ficar longe. —
— É melhor uma criança ter muito a presença do pai do que não o ter por perto, eu já tive os dois e o primeiro é bem melhor, confiem em mim, 7 aniversários sem o meu pai machucaram mais do que qualquer outra coisa que a vida pode atirar em mim. —

O silêncio se instaurava quando Scarlet terminava de falar, a pena tomava conta do coração do homem e do anão, sabiam que um abraço só ia a fazer desabar, então o melhor a fazer aquele momento seria focar no trabalho que estava a sua frente. Por alguns minutos eles caminhavam em silêncio até avistarem Yefran um pouco afrente, com um joelho tocando o chão e observando uma pegada com os seus olhos azulados, parecia que ele havia detectado alguma coisa, levantava a mão fazendo os 3 pararem e dava 3 passos para trás, sacando a espada. Algumas arvores eram derrubadas ao redor deles e viam uma criatura grande passar entre as árvores, o grifo se virava para a direita, segurando a espada com as duas mãos, Hammerclad preparava o seu machado com um sorriso no rosto e a expressão determinada, Arfã colocava Scarlet para trás e sacava a sua espada de cavalaria, a segurando com uma mão. A criatura surgia a alguns passos de Yefran, Arfã sorria e olhava para trás, vendo a menina um pouco assustada.

— Quer ver como ele vai fazer o famoso urro para nos assustar? É típico de ogro.. —
O ogro realmente fazia o urro, inclinando a cabeça para frente e soltando um poderoso grito que faziam os cabelos de todos ali balançarem ao vento, Scarlet soltava uma risada da forma cômica que Arfã deduziu o que o monstro iria fazer, ele parecia um humano, gordo, cabeludo, com uns 3 metros e com a pele cinzenta, só tinha alguns tufos de cabelo nojentos na cabeça. A menina respirava fundo e juntava as palmas das mãos, respirava fundo e fechava os olhos, concentrando suas emoções e expelindo umas chamas entre as palmas da mão, que iam se afastando e depois a atirava contra o ogro, mas apenas algumas faíscas se formavam e o atingiam, o fazendo recuar um pouco com o impacto e depois ficava olhando para a garota, sem sofrer nenhum dano, ele levantava o tronco de árvore que estava segurando e desferia um golpe de cima para baixo, Arfã a abaixava e o anão parava o tronco com o seu machado, medindo forças com o Ogro e teria perdido se não fosse a ajuda de Yefran, que segurou a espada pela palma das mãos, deixando os dedos atrás da guarda e equilibrando a espada ali, depois a atirando no olho direito do ogro que gritava de dor e removia a espada, dando alguns passos para trás e a atirando no chão.

— Scarlet, concentre um pouco mais a sua magia! Tente pensar em algo que desperte emoções fortes, sendo raiva ou amor, deixe que essa emoção tome conta do seu coração e.. já sabe o resto! Apenas concentre-se! —

Gritava o rapaz quando correu para recuperar a sua espada, o ogro tentou o golpear com o ante-braço mas os reflexos superiores garantidos pela Lágrima de Grifo falaram mais alto, ele desviou deslizando pelo chão e agarrando a espada, depois se levantava e saltava nas costas do monstro, passando seus braços pelo seu pescoço e tentando cortar seu pescoço mas a pele parecia ser dura como uma rocha, o monstro ia perdendo o equilibrio e Arfã aproveitava para desferir vários golpes de espada contra sua barriga, todos faziam um pequeno corte. Baum achou a solução para o problema da pele dura, se levantou e recompôs, agarrando o machado firmemente e com uma mão próxima ao cabo e golpeou com força o tornozelo da criatura, o machado funcionou como um martelo, batendo na pele rochosa e rachando os seus ossos, o ogro gritava de dor com uma intensidade que quase os surdava, fazendo Yefran sair de suas costas e segurar a espada com uma mão no cabo e a outra na lâmina, mirando bem e cravando em sua axila, o fedor era intenso mas isso não o fazia recuar.

— Chuta ele nas bolas, é assim que a gente resolve isso lá nas montanhas! — Gritou o anão.
— Ele não tem bolas!—

Arfã responde com uma cara de nojo, a criatura era lenta demais para ser levada a sério, mas o seu fedor era intenso, parecia que havia acabado de sair de um lixão, olhando em seus olhos deu para perceber que estavam totalmente vermelhos, e dos cortes saiam alguns parasitas que caiam sobre sua armadura, ele rapidamente tirava os bichinhos amarelos e verdes e se distanciava um pouco, Yefran percebia o que estava acontecendo quando viu os mesmos parasitas irem para a sua lâmina, rapidamente ele cravava a espada no ogro e dava um empurrão em Baum, posicionando ele e Arfã na frente de Scarlet.

— Essa coisa está morta! E infestada de parasitas! Scarlet, é agora, lance suas chamas nele e em nós mesmos, é a melhor forma de garantir que essas coisas vão morrer mesmo, não se preocupe, nossas armaduras vai bloquear sua magia! —

Ao ouvir o pedido do Grifo ela manteve os olhos abertos, observando bem a criatura e focando nela, esquecendo nos três rapazes ali, as chamas tomaram conta de seus olhos enquanto desenterrava suas memórias mais doloridas, nas palmas de suas mãos se formavam brasas que faziam um calor confortável em suas mãos, ela liberava aquela magia como se estivesse se livrando de uma parte de seu sofrimento, um turbilhão de chamas era formado a sua frente, chamas intensas que tomavam um tom alaranjado e poderoso, queimando o ogro e os parasitas, quando ela parava de utilizar as chamas perdia as forças e desabava, Arfã a segurou antes que caísse no chão e ela tocou em sua manopla, a quentura de sua mão e um pouco das chamas que restou literalmente queimou aquela parte da armadura em segundos, fazendo ele retirar a mão antes que queimasse, as chamas se apagavam.

—O que foi isso? Você me deu uma armadura fajuta, Baum! —
— Não pode ser... um anão nunca mente! Eu mesmo testei essa armadura com ajuda de outros magos na oficina, e eram mais experientes que ela! Não importa o quão intensa nenhuma chama mágica iria obliterar essa armadura, nem ao menos derreteu, ela praticamente desintegrou! A não ser que... —
— Não, não pode ser, teve um problema na sua armadura, depois teremos que revisar todas as outras com os anões, confundiram algum material! Agora levem ela para a universidade e chamem os magos, teremos que levar o corpo para o exame. —

Com a resposta de Yefran o anão apenas balançou a cabeça positivamente, Arfã pegou a menina no colo com cuidado e junto a Baum foi até a Universidade, Yefran ficou para trás para averiguar o corpo da criatura, se aproximando bem do corpo queimado ele retirava a espada da carcaça queimada e via que uma parte da lâmina havia derretido, por um instante parecia impressionado, logo atirava a espada para o lado e voltava a examinar a criatura com os seus olhos.

Desta vez tinha mais um de seus sonhos estranhos, via a floresta pelos olhos do ogro, uma visão distorcida e esverdeada, como se estivesse sendo manipulada como um fantoche, via uma sombra mover as suas mãos conforme o ogro andava e avistava o grupinho, atacando a menina logo em seguida. Ela acordava na enfermaria, abria os olhos devagar e enxergava tudo branco, ainda estava um pouco zonza e seu ouvido zunia, via a diretora e Yefran conversando, mas apenas via as suas bocas se movendo, os sons eram distorcidos. Envira cuidou dela enquanto estava inconsciente.

— Tem certeza que não esteve envolvido com a pele do ogro? Os parasitas a deixaram mais rígida, talvez tinha alguma substância que derreteu a espada e a armadura, não pode ser chamas de dragão. —
— Senh.. Envira.. — O rapaz olhava a mulher nos olhos e juntava a ponta do dedo indicador com o polegar, levantando a mão até o queixo. — Eu tenho certeza que foram chamas de dragão, talvez Khaf queria algo mais que uma maga jovem para ritual, queria roubar seus poderes! O que mais poderia desintegrar a armadura e derreter a minha espada! Tive sorte de não ser queimado! —
— Hm... talvez carne de grifo assada não sairia tão mal assim, ouvi dizer que é uma iguaria... — Ela dava um sorriso ainda desacreditando nas palavras do rapaz. — Não podemos tirar conclusões precipitadas, pode ser apenas um novo parasita que está se espalhando por aí, pode ser o que causou o ogro a migrar, temos que averiguar antes que se espalhe a criaturas da floresta e depois achar a fonte, nem tudo está relacionado a magos, deixe seu preconceito de lado! —

Ela poderia estar certa mas só dizia aquilo para o deixar ainda mais nervoso e se aproximava ainda mais dele, o coração de Scarlet bateu forte quando o viu a colocar contra a parede e a olhar em seus olhos com um certo ódio, os dois deveriam evitar hostilidades, já que naquele mundo qualquer desastre era colocado na conta dos magos, a maior parte das pessoas não tinham acesso a magia, só um pequeno grupo tem, o que gera muito ódio e inveja, a Ordem do Grifo foi feita justamente para controlar esse grupo e ali a ruiva percebia que os grifos estavam mais para executores que professores, talvez Khaf estivesse certa.

A diretora parecia não se incomodar com a ação dele, pelo contrário, fazia um gesto infantil e de deboche, mesmo literalmente contra a parede ela achava uma oportunidade de irritar ainda mais o rapaz, ela aproximava um pouco o rosto e lentamente colocava a língua para fora, dando um pequeno sorriso e olhando em seus olhos azulados, vendo o olhar de esmeralda que a mulher tinha ele lentamente foi perdendo a postura de irritado, até mesmo o foco de seu olhar se mudou para a boca da mulher, que retrocedia a lingua devagar e tocava o nariz ao dele, Yefran aproximava um pouco mais o rosto da mulher, as suas feições o encantava, parecia hipnotizado com a sua beleza.

— Não tente bancar o menino independente, você sempre seguirá ordens Yefran, por enquanto não é um general, um dia vai ser, é habilidoso, mas sempre ficará atrás de mim, a sua mestra! —

Ela dava um sorriso de canto e vitorioso, o rapaz sabendo que havia perdido aquela briga, recuou e ficou calado, refletindo no que acabou de acontecer e deu as costas sem dizer nenhuma palavra, caminhando até a saída. Scarlet fechou os olhos e agradeceu mentalmente por não ser avistada, ali ela aprendeu que o verdadeiro poder não estava na espada, não estava no fogo, mas sim na diplomacia, estava na mente.



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