Gans_

Minha amiga estava certa quando disse que o tempo na cidade grande te dessensibiliza e banaliza os moradores de rua.

Na cidade grande; o ônibus está para o Metropolitano, tal qual a pedra está para Sísifo.

Até onde o desejo de ser especial pode levar? Ser taxado de único é mais brilhante do que de louco.

Cerca de 4 anos atrás, dentre o Japão inteiro, 16 figuras receberam seu primeiro chamado para o que foi batizado de "teste social de alto investimento". Este evento, para os tabloides, atraiu mais olhares do que nunca, afinal, os convidados de tais encontros eram, segundo seus patrocinadores, aqueles que foram avaliados por HAL, uma inteligência artificial de alto nível, como os seres definitivos do cargo ao qual foram designados.

A partir deste diagnóstico e com a própria I.A atuando como um mordomo, essas diferentes figuras, duas vezes ao ano, começaram a frequentar o chamado Jardim, um bioma criado artificialmente para simular uma cidade auto sustentável, possuindo o pico de tudo o que é tecnológico em si. 

Muita atenção foi direcionada aos escolhidos, com vários, até então chamados de ninguém, a experimentando pela primeira vez graças ao Jardim. E, ainda que os eventos realizados dentro do local não tenham sido divulgados para o grande público, todo o misticismo sobre uma reunião de figuras capazes de perder seu próprio nome e se tornarem a epítome de algo maior foi o bastante para criar uma relação simbiótica que sustentou toda a estrutura do projeto. Assim, após tantos anos ocorrendo, toda situação tornara-se até mesmo esperada, como um evento comum nos calendários do Japão.

Sem desconfiança dos pais, da grande mídia ou até das autoridades, a reunião tomou a máscara de mais um evento patrocinado por ricos sem uma noção melhor de onde gastar o seu dinheiro, com a preocupação sobre o que lá acontece sendo cada vez mais ignorada. Um mundo separado onde, se alguém se machucar, mais ninguém além dos 16 se importará de ouvir.

E é por ter chegado a este ponto que o experimento social poderá começar de verdade.

— Vagas Abertas —
Masculinas - 01/08
Femininas - 00/08

Seu sorriso quase bruxo é demoníaco e perdura em minha mente como um pesadelo.

Parece que entrei num limbo de uma segunda-feira especificamente triste de dois mil e vinte — que eu particularmente gostaria de esquecer — e lá fiquei, presa, sem sentir a passagem do tempo, como numa torre com uma frigideira na mão, esperando um príncipe ou um ladrão, tanto faz, desde que me tirasse do lugar onde minhas forças eram sugadas.

Marasmo é perda;

Das areias finas da baía dos Bordeu's, suas águas sobre antigas ruínas;
Que visão e tanto foi a queda, cheirava a fim de verão e damasco.

Nunca mais (se foi) a mesma, nem você, nem as águas, nem a baía. Toda noite já é tarde demais e, a perda, à sussurrar-me.

Ah!... fosse eu a poer nesse dourado-do-mar. À lavrar-me na água, escondido do que toca a superfície, esquecer dos meus pecados.

A revirar, revirar, revirar... água sobre água, aveludar espuma e infiltrar-me aos teus pés, até o manto.

eu ainda acho que sou a mesma. Ainda gosto do mesmo chá, ainda me vejo no espelho e não me reconheço, ainda roubo o primeiro pedaço do bolo. Espero estar enganada, tenho medo da permanência.

Em passos furtivos através da obscuridade,
um lampejo minúsculo transita vagarosamente
numa tentativa corriqueira
para escapar das teias aconchegantes
das quais somente o breu proporciona.