almostmila

A vida tem sido uma eterna despedida. Um constante adeus e até nunca mais. Um adeus para as pessoas, outro para as coisas, os momentos, as oportunidades, as histórias... Tudo culmina em uma despedida, nunca em uma permanência

Apesar das flores e das cores do céu, a princesa que ali estava não era feliz. Todos os dias ela saia para os jardins do seu palácio e se perdia no labirinto vivo que o cercava. Inevitavelmente, sempre encontrava o caminho de volta. Sempre sozinha. Não havia ninguém para salvá-la. Nunca houve ninguém que a olhasse como ela gostaria de ser vista.

Uma vez me disseram que uma pintura impressionista se baseia na sobreposição de cores cruas, com pinceladas sobrepostas de forma que as cores não possam se misturar. É assim que me lembro de ti. Te vejo colorido, mas cru. Sobreposto, mas sem misturas. Tu és tão tu, que vejo em ti muito mais que o nascer do sol. Vejo o sol, o porto, os barcos e até a névoa que os abraça.

Ela sempre andava em frente, jamais olhava para trás. Foi isso que disseram para ela, no passado. Disseram que olhar para trás seria a pior coisa que ela poderia fazer, que isso a faria se arrepender de coisas das quais ela não precisa se arrepender. Então ela só não olhava.

Naquela noite, decidi que me deitaria cedo e acordaria antes das seis horas. Mesmo que não estivesse funcionando bem ultimamente, eu sempre trabalhava melhor pela manhã, devidamente descansada e após um bom café. Teria que funcionar dessa vez. Só que naquela noite, diferentemente do habitual, eu tive um sonho.

Em uma manhã de terça-feira, na padaria dos Bread, América conhece um estranho rapaz que, depois de sua primeira aparição, vai até lá todos os dias para desfrutar das delícias que ela e a irmã produzem. Com o tempo, os sorrisos trocados por sobre o balcão vão ficando cada vez mais adocicados e seus corações se aproximam de mansinho após cada encontro açucarado, mas o jovem rapaz não é claro quanto às suas origens e muito ainda será descoberto.

O planeta está mudando, as temperaturas estão ficando cada vez mais extremas, mas eu acho que não é só isso. Algo dentro de mim também mudou e isso faz o frio durar. Algo dentro de mim sempre vai até lá e deixa a porta aberta para quando ele quiser chegar.

Sempre fora assim, desde que conseguia me lembrar. A casa grande e oca estava sempre cheirando a café, aquela música estava sempre tocando e eu estava sempre na janela no domingo de manhã, admirando a vida lá fora que eu perdia, todos os dias. Só que, naquele domingo, alguma coisa mudou dentro de mim.

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