verlak

Nem sempre eu vivi no escuro.
Eu pude ver as cores, mesmo que menos vivas que as outras pessoas. E eu também vi as coisas, o sol, os animais… As pessoas. Eu era normal, como qualquer outro garoto de oito anos. Meu dom, como mamãe dizia, era desenhar. E meu desenho favorito, que eu podia repetir mil vezes sem me sentir enjoado, era ele.
Levi Ackerman.

Eren ignorou os fogos de artifício quando eles começaram a pipocar no céu alguns minutos antes da virada. Também não deu tanta bola assim quando seu relógio de pulso apitou meia noite. Só tinha olhos para Levi. E foi exatamente por isso que puxou-o para beijá-lo uma vez mais. A mistura do champagne, do morango e do Ackerman era embriagante. Não poderia ter começa o ano de melhor forma, comentou consigo mesmo, sentindo o coração acelerado quando as bocas se desgrudaram.
— O que você desejou? — ele perguntou, surpreendo Eren.
Ainda um bocado zonzo, o castanho volveu:
— Que esse momento nunca acabe — sorriu, corando pelo pedido bobo.

Era uma analogia, afinal. O lugar vazio era como sua estrutura: oca. Apesar de haverem objetivos a conquistar e aqueles já alcançados, não tinha algo que lhe afagasse o âmago. No final das contas era apenas um imóvel bonito, mas que, por dentro, precisava desesperadamente de um morador para dar-lhe personalidade.

Kim Taehyung era sua exceção. Era o raio de sol dos seus dias nublados. A tempestade de fogo que assolava sua vida, queimando e esfriando, contraditoriamente, todos os dias. Enchia suas veias de vida, sua carranca de sorrisos, sua cama de movimentos e sons. Fazia-o romper, aos poucos, a estrutura de seu casulo. Era sua crisálida e sabia que, quando saísse dali, não seria mais o mesmo. Sendo eterno ou momentâneo, aquele garoto iria sempre fazê-lo sentir-se bem. Mesmo com as brigas, os momentos em que pensava que era velho e ranzinza demais, em que não conseguia levar as bobagens para a brincadeira… Continuava respirando fundo até acalmar-se e poder abraçar o mais novo.

Ah… amava aquele garoto com expressão inocente e instinto luxurioso.

Fosse por sua sexualidade não assumida ou apenas pelo fato de que as pessoas não lhe pareciam interessantes, Jungkook gostava mais de personalidades que corpos. Via-se desejoso ao encontrar personas diferentes, altivas, decididas e que não se deixassem enganar por sua atuação. Aquelas que ousassem encará-lo por mais de meio segundo e vissem ali muito mais que um estereótipo de bom corpo e aparência.
E, ali estava Park Jimin. O garoto que escondia não apenas o corpo, com aqueles moletons grandes, mas também quem era. Jungkook queria entender quem era ele, o que havia além do que seus olhos captavam. Afinal, ele parecia, também, viver sob um disfarce.

[3shot – JiKook]

Para o mais novo, as palavras doeram quase mais que vê-lo aceitar tudo aquilo. Não objetou, não contrapôs, não fez nada. Levi apenas aceitou e se foi, batendo a porta, levando consigo uma parte de si. O primeiro soluço foi alto, transformou-se num grito, e quando viu já tinha os braços do melhor amigo em volta de si. Mesmo que o toque não lhe desse suporte, era bom saber que não estava sozinho, ao menos… Naquele instante, enfrentando aquela dor sufocante…
Eren desejou não ter amado Levi.

Riren/Ereri - Mpreg

Afinal, não é um dia feliz.
É um dia em que todos olham para você, mas de olhos fechados. Isso quer dizer, todos querem lembrar de você, dizer o quanto tem sentimentos bons e energias positivas, mas… Você já perdeu contato com muitos e, bem verdade, a maioria absoluta não te conhece. Se nem ao menos você mesmo consegue responder a “quem sou eu?”, como eles podem afirmar que você seja isso ou aquilo? Por que estão usando tantos adjetivos pesados, quando não tem provas de nenhum?
Talvez num passado não tão distante você tenha sido assim, mas agora? Se nem mesmo o ar prossegue igual dia após dia, nós iríamos? A cada poente, a cada aurora, a cada crepúsculo, uma parte sua se esvai e outra se integra.

Passou a língua pelos lábios machucados, sentindo o gosto do sangue seco. A lembrança de tê-los ferido era inexistente. Porém, quantas outras vezes fora daquele modo? Os cortes nos braços, os tufos de cabelo, as marcas roxas… Nunca se lembrava como, mas sempre o porquê: a dor física era real. Quando o mundo todo gritava que o que estava sentindo não passava de drama, ele tinha de tentar convertê-lo para ferimentos que poderiam demonstrar, mesmo que pouco, sua tormenta, não?