CloverHyuuga

Algumas pessoas são muito boas em descobrir esquemas e manipulações. Era exatamente assim que ele poderia descrever a vendedora da loja de livros da esquina de sua casa, Konan Shimizu: boa em descobrir coisas. Konan, na verdade, pensava justamente o contrário sobre si: não é que era boa em descobrir a verdade, era que Yahiko Sato, o cliente mais aguardado de todos os seus dias tediosos, era completamente transparente.

"Why do you come here and pretend to be just passing by?"

Se você não tem um vizinho pelado, então você é o vizinho pelado; é quase uma regra cósmica para o balanço do universo.

Há muitos anos, o assassinato de dois adolescentes, que culminou em uma pessoa ferida e o assassino morto, abalou a pequena cidade de Kitami, em Hokkaido. Mas o caso, porém, acabou virando uma mera lenda da cidade para os mais novos: não sabiam o nome do assassino nem da vítima que sobrevivera, apenas de duas pessoas que morreram, que poderiam nada ter a ver com tudo isso.

Infelizmente, eles estavam errados, pois uma nova série de assassinatos começa a acontecer. Com motivos nebulosos, a suspeita de que seja vingança (ou seria justiça?) por uma pessoa inocente começa a crescer, e com isso a desconfiança. Nem todos falam a verdade, e já não se sabe mais o que é mentira do que realmente aconteceu. É hora de desvendar esse mistério, pois há um inocente na mira da polícia, pronto para ser preso e indiciado, se o verdadeiro culpado não for pego.

— Não foi nada, nem está doendo. Além do mais, acho que ninguém acreditaria muito se contasse que eu machuquei os dois dedos do meio porque não tenho medo de morrer nem de brigar com idiotas bêbados.

O som da cidade se movendo era de certa forma reconfortante: enquanto todas as outras pessoas detestavam o habitual barulho das máquinas e pessoas durante a madrugada, não Konan. Era familiar, calmante, bem-vindo. Saber que a cidade não pararia mesmo que tivesse inúmeros relatórios para entregar na manhã seguinte e precisasse muito de um café. Enquanto digitava apressadamente os relatórios, imaginava quando poderia sair dali: pela quantidade de folhas, mais cinco minutos nesse ritmo e acabaria. Olhou no relógio, nove e cinquenta e quatro da noite, já era mesmo tão tarde ou o relógio estava errado?

A porta da sala se abriu, e mesmo sem olhar, ela sabia que pelo som dos passos suaves, mas imponentes, que era seu parceiro Pain entrando. — Péssimas notícias. — ouviu-o dizer.

Para mim, a arte é maravilhosa, não apenas visualmente falando: o som de uma pintura, por exemplo, não deixaria nunca de ser mágico para mim. O som da pintura, você diz? É, exatamente isso. Eu consigo ouvir o som das pinturas. Esse é o principal, mas ocasionalmente acontece de eu misturar alguns outros sentidos. Por exemplo, eu tenho absoluta certeza de que sexta-feira é vermelha, e que o mês de janeiro tem cheiro de lavanda, mas isso é incomum até para mim. Sinestesia, é o que se chama, e por causa dela, eu passei a amar arte.

De repente, a porta do quarto se abriu. Era Hinata, a colega de quarto da pintora que estava ali, visualizando a cena um tanto constrangedora. Percebendo então que poderia estar atrapalhando algo, ela ficou vermelha feito um tomate e disse rapidamente: — Eu não durmo há dois dias e não sei se isso é uma alucinação por causa da privação de sono ou se é real, mas em todo caso, d-desculpe por interromper o, hm, momento. Eu estarei na cafeteria, preciso mesmo de um café.

Parecia uma quinta-feira comum, exceto pela falta não justificada de uma funcionária da cafeteria La Fee Verte. Isso, por si só, não geraria alarde nenhum: funcionários faltam toda hora, imprevistos acontecem... Mas e quando a funcionária em questão desaparece? E quando uma pessoa misteriosa contata seus colegas para avisá-los sobre o paradeiro da desaparecida... E na verdade os leva até um cadáver?

Que segredos escondia essa moça para que fosse tão brutalmente morta assim?

Nem todo o açúcar do mundo encobre o amargor de um segredo.