Karina Bae sabia que a vida de estudante do último ano do Ensino Médio não era a das mais fáceis. São cobranças da escola pelo desempenho perfeito nos vestibulares, a pressão de ter que escolher tão prematuramente uma carreira para se seguir pelo resto da vida e ainda ter que fazer amizades para não se tornar um zero à esquerda no quesito "vida social".
Pressões comuns a todo jovem de dezoito anos, sim. E apesar de saber que comparações não deviam ser feitas, Karina não conseguia evitar sentir um enorme peso em seus ombros. Isso acontece quando seus pais aparentam levar a vida perfeita, aquela retratada em comerciais de margarina. Ou suas mães, como no caso de Karina. Irene Bae e Seulgi Kang. As pessoas mais sensatas, plenas e seguras do que faziam que Karina Bae conhecia. Duas pessoas que faziam Karina se perguntar se um dia cresceria o suficiente para poder dizer, de boca cheia, que havia se tornado uma adulta de respeito.
Para chegar lá, entretanto, Karina Bae teria que superar alguns desafios. Primeiro: decidir uma carreira e que tipo de vida gostaria de levar. Segundo: precisava de novas amizades. Além da prima, Giselle Uchinaga Kang, e da filha de uma das amigas de sua mãe, Vivian Ning. Mais especificamente, Karina precisava da amizade de Winter Kim, a aluna nova. Parecia ser legal.
Karina estava determinada e, mais importante do que isso, Karina Bae não estava sozinha. As mesmas mulheres que lhe deixavam de herança um enorme fardo podiam ser as mesmas pessoas a ajudarem Karina a cumprir com o próprio destino. E, se havia alguém a quem Karina Bae confiava a sua vida, esses “alguéns” definitivamente eram Irene Bae e Seulgi Kang.
Karina tinha um plano e ajuda em dobro. Estava confiante! Daria tudo certo, não daria?
Que fosse o que Deus quisesse! Ela faria por onde!
Kang Seulgi tinha motivos para manter seu hobby em segredo. O da escrita, para ser mais específica. Histórias originais que eram postadas por ela sob o nome de Rowoon. Podia não ser a melhor escritora do mundo, mas, pelo menos, suas histórias quase sempre alcançavam o topo entre as mais populares da categoria. Não que fosse uma categoria muito grande ou popular, também, aquela, de romance. Hm... lésbico. Era justamente por essa razão que, de jeito nenhum, as amigas poderiam saber daquele seu lado.
Podia não ser muito agradável, emocionalmente falando, ter que lidar com fardo de, ao mesmo tempo, ser uma das principais autoras de sua categoria e com a fama de "amiga encalhada" que tinha entre as amigas: Bae Joohyun, Son Seungwan, Park Sooyung, todas da Universidade Nacional de Seul, e Kim Yerim, a única estudante do Ensino Médio. Mas, por outro lado, Seulgi tinha recorrentes e fiéis leitores com quem podia contar, com quem podia ser completamente honesta.
Dentre eles, Tokkibi.
Tokkibi que a acompanhava desde o dia um. Desde o dia que Seulgi tomara coragem para postar a primeira história no site, quando ainda estava no terceiro ano do colegial. E era engraçado pensar que, depois de tanto tempo, a garota ainda aparecia a cada atualização, em todas as histórias de Rowoon. Chame Seulgi de dramática, mas era como se ela e a garota tivessem algum tipo de laço esquisito. Tokkibi tinha acompanhado todo o seu progresso como escritora ao longo dos anos, afinal de contas.
Sim, Seulgi tinha uma leitora favorita, e não tinha vergonha de assumir isso. Talvez porque Tokkibi ajudasse Kang Seulgi a se sentir menos como uma farsa, a fazer com que sua vida se parecesse menos com uma grande mentira. Principalmente depois daquela inesperada primeira troca de mensagens diretas entre as duas.
Irene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morais que seguia a risca, e, como aliada, sua vizinha e melhor amiga de anos, Yerim Kim.
Eram como as duas cavaleiras da moral e dos bons costumes, no São Leopoldo, uma escola que fazia muito bem o papel de expôr sem qualquer ressalva o que havia de pior nos tempos modernos: adolescentes inúteis, drogados, pais precoces e, cruzes, homossexuais.
Irene tinha seu próprio nêmesis. Sentia um calafrio subindo pela espinha só de se lembrar da figura. Não é como se Irene não soubesse pronunciar Seulgi Kang adequadamente, talvez falasse mais certo até que a própria dona do nome, mas tinha um ranço inexplicável por aquela garota, mais do que o comumente direcionado por Irene àquela “tribo”. Bem, eram quase tribais, mesmo. E Irene jurava de pé junto que aqueles olhinhos existiam para lhe desafiar, atiçar, perturbar, ou qualquer sinônimo possível.
Em resumo, para Irene Bae, a garota era quase a representação do tinhoso em plano terreno, motivo pelo qual parecia que tudo dava errado em sua vida.
Todas essas desgraças a faziam odiar ainda mais profundamente Seulgi Kang.
Era a primeira quinta-feira do primeiro mês de agosto do século vinte e um e Tiffany Hwang já não aguentava mais. E, não, o motivo não era o cansaço acumulado de um estudante dedicado do terceiro ano do colegial. O motivo era porre, mesmo. Esse comportamento festeiro da Hwang que não era muito do agrado de sua melhor amiga, Jessica Jung, sua melhor amiga desde... Tiffany não sabia desde quando. Na escola, provavelmente desde a sétima série. Mas tinha fotos dela com Jessica, as duas sem os dentes e com quase um metro de altura, em encontros da igreja que suas famílias frequentavam, então... É, Tiffany conhecia a peça havia tempo suficiente para não se lembrar desses detalhes. Tipo quando tinham se conhecido. Só tinha uma coisa, ou melhor, um ser humano que Jessica reprovava mais que as saideiras de Tiffany: Yuri Kwon. Sim, por algum motivo ela tinha nome de homem. Mas isso não impedia a garota de ser o sonho de consumo daquele monte de jovem punheteiro da sala. Nem o fato de a Kwon ser uma da meia dúzia de pessoas abertamente gays da escola inteira. Tiffany não sabia dizer se eram mais iludidos os meninos que tinham esperança de fazer Yuri mudar de ideia por eles, ou se era a própria Kwon, a mais iludida, já que estava na luta para conquistar sua amiga Jessica desde o segundo ano. Não que Tiffany não tivesse suas paqueras na escola, ela tinha. Tiffany só precisava de sorte, já que esperança, tinha de sobra, tanto quanto a Kwon. Por isso, Tiffany não costumava julgar Yuri, mesmo a garota sendo alvo de tanto desgosto de sua melhor amiga, Jessica.
A Jung que a perdoasse, mas, às vezes, era difícil resistir ao mal e não pensar cair, ou melhor, se jogar em tentação, viu...?
O outono havia chegado e junto com ele um novo ano escolar na Choongang High School. Era o primeiro dia de Bae Joohyun como veterana, no seu último ano do Ensino Médio, e completamente enganada quando pensou que seria um ano previsível quando se deparou com as mesmas pessoas na sala de aula, e isso incluía sua paixonite de longos tempos, Kim Junmyeon.
Joohyun achou que seria apenas mais um ano sem ter coragem de se declarar para o rapaz, até que um cupido literalmente caiu dos céus para ajudá-la. Bem, ou foi o que Kim Yerim lhe dissera que faria. O que realmente aconteceu é que a flecha do cupido idiota passara raspando por cima da cabeça de Kim Junmyeon e acertara a melhor amiga do rapaz, Kang Seulgi.
E, se a situação de Joohyun já não era das melhores, se tornou ainda pior por conta da má pontaria alheia. Maldito cupido estúpido!
- Seulgi-yah... Eu tenho que te contar uma coisa... ou melhor, perguntar. – Joohyun disse, após se afastar o suficiente para encará-la, deixando Seulgi um pouquinho triste pela falta dos beijos. Mas, pela forma como Joohyun mordia o próprio lábio inferior, um pouquinho apreensiva, a Kang tinha a certeza de que sua única resposta possível seria sim. Por isso, simplesmente aquiesceu para a Bae, lhe dando a segurança de que precisava. – Você topa ser minha... – Seulgi arregalou os olhos. De todas as situações que imaginara ser pedida em namoro, nenhuma delas contava com Bae Joohyun seminua em seu colo. Não que estivesse reclamando, claro.
A não ser que não fosse exatamente esse o pedido de Bae Joohyun...
escrita por DanshinQueen Concluído
Capítulos 10
Palavras 66.022
Atualizada
Idioma Português
Categorias Red Velvet
Gêneros Comédia, Lésbica / Yuri, LGBTQIAPN+
Wendy respirou fundo, sabendo o quanto seu próximo passo poderia ser decisivo para, quiçá, o resto de sua vida. Lá estava ela, em meio a um corredor escolar vazio e em frente a um armário azul de número 94, com um envelope cor de rosa em mãos. Havia o escrito com esmero, tomando cuidado especial com as palavras, com a caligrafia e com a apresentação da carta num geral.
Era agora ou nunca. O último ano de colegial havia começado naquele mês de março e ela tinha exatos 365 dias para ser notada pelo seu crush supremo, Lucas Wong, um aluno transferido de Hong Kong e bastante famoso pela participação no time de futebol e por tocar o saxofone junto a banda marcial.
Aquele seu plano tão secreto, compartilhado apenas com Bae Joohyun, sua melhor amiga, acabou se estendendo a mais uma pessoa quando, por infortúnio do destino, Wendy descobriu quem era a real dona do armário otário: a nem tão misteriosa assim, mas estranhíssima, Kang Seulgi. Não havia ninguém no mundo que pudesse convencer Wendy de que seu segredo estaria seguro nas mãos daquela garota.
Definitivamente, não era daquele jeito que ela esperava terminar sua vida escolar...
A música do momento era “What is Love 2k9”, e já era a terceira vez que Jessica a ouvia tocar no fliperama, em meio a sua jogatina. Mas, misturado aos sons dos jogos e de todos os outros adolescentes que se divertiam ali depois da aula, a repetição de músicas era a última coisa que tiraria o foco de Jessica Jung.
A estudante do último ano do colegial ajeitou os óculos de grau no nariz e inseriu mais uma ficha na máquina, tudo isso numa busca de colocar seu recorde naquela ali também. Era o passatempo da Jung ter seu username espalhado pelo maior número de máquinas possíveis daquele arcade – dava exceção àqueles que exigiam muito de sua energia física, como os de basquete, por exemplo. Não era difícil imaginar que a vida social de Jessica não recebia tanta atenção quanto os seus jogos eletrônicos favoritos, mas, mesmo assim, todos que frequentavam o lugar a conheciam. O fato de ela estar ali quase todo santo dia a fazia a cliente mais querida do proprietário.
Jessica tinha um problema que vinha a perseguindo havia algum tempo, três garotas para ser específica. Só não esperava que sua salvadora fosse também amiga do grupinho insuportável, a sua maior paixonite da escola, Kwon Yuri.
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