vampireblood

"Querida lua,

Já se passou seis meses desde que deixou esse mundo e me pergunto o que eu poderia ter feito de diferente na época. Lembro-me do modo como segurou minha mão pedindo silenciosamente para que puxasse a tomada que te mantinha viva e ao meu lado. De fato, eu não queria ter feito aquilo, me sentia — e ainda me sinto — um assassino só de pensar naquela possibilidade de te deixar morrer."

Quando o vi pela primeira vez éramos apenas duas pessoas que viviam em mundos diferentes. Eu, vindo de uma família milionária, mas com o desejo de pintar que era sempre reprimido. Ele, uma simples pessoa que vivia sua pacata visa sem saber o quão angelical era.

De início resisti a ideia louca que passava pelo meu corpo naquele momento, sentindo o desejo de pegar uma tela e tinta de aquarela para realizar uma pintura daquele corpo que sequer havia visto, mas que já sentia que necessitava vê-lo.

[...] Meus pais me olhavam com um olhar estranho, me pegavam em meu quarto arranhando minhas próprias orelhas. A música se tornava um horror para mim, qualquer coisa tocando nas rádios transformava o que eu ouvia em meu próprio mundo algo pavoroso e isso me fazia perder o controle.[...]

[...]“Devemos terminar”
“Não é você, sou eu. Entende?”
“Eu sinto muito, eu não queria que as coisas terminassem assim...”
“Bem, espero que continuemos bons amigos. Certo?”

Essas frases me fazem pensar. Por que raios o amor existe? Digo, passamos horas e horas, sete dias por semana, cerca de 30 (31) dias por mês ao lado de alguém que gostamos, fazendo de tudo por ele, e para que? [...]

[...] O gosto, o aroma, a sensação que me passava... Tudo era muito... Novo, talvez? O gosto era como se eu estivesse no outono, o aroma como se fosse à mistura de inverno com primavera, e a sensação... Não, não vou falar que era como o verão, a sensação me dava calafrios, como se estivesse em meio de uma nevasca. O sangue era gostoso, a sensação melhor ainda, mas não havia como eu parar, eu não desejava parar... [...]

[...]Os últimos meses haviam sido um pesadelo. Nancy morreu no dia 23 de fevereiro daquele ano, ela havia lutado bravamente contra o tumor que havia se formado em sua cabeça. O mesmo tumor que apesar de ter sido operado por um ótimo neurologista acabou voltando, o mesmo tumor que a fez passar horas da madrugada chorando de dor, o mesmo tumor que acabou lhe negando continuar a ter a vida que tinha... O mesmo tumor que retirou a vida de sua amada... [...]

[...] Eu roubaria por ele, mataria por ele, morreria por ele... Se dependesse de mim de tudo eu era capaz desde que eu pudesse vê-lo sorrir, desde que eu pudesse ter o prazer de vê-lo com um sentimento de felicidade intensificado a ponto de se iluminar nos raios solares que tanto amava. [...]

[...] Desde que nasci meus pais sempre me diziam que eu deveria ser perfeito, estudar muito, trabalhar bastante, ser alguém na vida e ter uma vida plena e feliz... Mas o que é exatamente esta vida “plena e feliz” de que tanto falam? O que é toda essa conversa fiada de que quanto mais nos esforçarmos melhor será o nosso futuro? [...]