Deux

E antes que me perguntassem, sim, eu conhecia cada sinal estampado naquela pele pálida. Fazia questão de beijar um por um em todas as manhãs em que eu acordava ao lado de Kouyou. Sabia onde encontrá-los, como tocá-los e, principalmente, tudo o que eles significavam para nós.

Porque você sempre foi uma bagunça, e ainda que eu usasse todas as minhas armas, eu jamais seria capaz de colocar tudo no lugar.

E por mais histórias que o contasse, Takanori jamais cansaria de dizer indiretamente o quanto o amava.

A única coisa que o professor não sabia era que, para conseguir derreter o coração de gelo do ruivo ele precisaria de um café quente, disposição para oferecer-lhe um abraço apertado e o único astro que ele mais odiava. O Sol.
Por que quanto mais perto ele chegava, mais lágrimas transbordavam por seus olhos. E o ruivo se via sem saída sempre que aquilo acontecia.
— Já ouviu falar em 'fusão'? São as leis da natureza... Você não pode ir contra elas.

Ele era do time de basquete, e assim como todos os outros senpais descolados, ele estava cheinho de garotas ao seu redor. Eu não sei ao certo explicar o que diabos eu senti quando ele me olhou. Talvez primeiramente eu tenha sentido aquela dor horrorosa da bolada que levei no meio da cara, mas vê-lo com os olhos arregalados, me pedindo desculpas e perguntando se estava tudo bem comigo fez com que eu me sentisse meio idiota.

Então um dia você me disse que havia voltado a falar com ele... Com seu primeiro amor. Com o cara que conheceu lá pelos seus quinze anos e nunca deixou de amar, na verdade. Eu juro que tentei entender que talvez vocês realmente se tornaram amigos de novo, depois de tanto tempo, mas quando eu perguntei se você gostava dele, você disse que não sabia, isso eu não conseguia entender.

Era engraçado porque todo fim de tarde o garoto estava lá, com fones nos ouvidos e um pirulito na boca. Sempre no mesmo vagão, sempre no assento em frente ao seu. Perguntava-se se ele fazia aquilo de propósito ou se era apenas uma coincidência.
E mesmo odiando tanto aquela mania que ele tinha de estragar seus dentes com todo aquele açúcar, passou a se perguntar o quão doce seria um beijo seu.

Em um presente onde a confiança e a fidelidade estavam a ruir aos poucos, manter-se de pé era a única saída. Mesmo com tantas cicatrizes e lembranças mortas dentro de si, ele sabia, que apesar de tudo, ser o mensageiro de tristezas o faria manter-se inerte. Afinal, todos eram fracos... Kouyou queria apenas ser forte.


「Venomous Project」