Endora_

Um dia uma criatura se deparou com uma descoberta impressionante. Em êxtase, se distraiu por um instante, e não percebeu cada volta era um passo mais perto do fim.

Numa manhã como outra qualquer, uma florzinha de coloração rara desabrocha para agitar o cotidiano das flores da campina.

Gianfrancesco não sabia dizer ao certo se era uma mulher bonita. Àquela distância, não via bem, mas qualquer que fosse a aparência que tivesse, ele sentia que não podia sair daquele teatro sem ter ao menos uma conversa com aquela bela criatura. 

Conseguia sentir nela a magia rara que poucas pessoas têm, e que só é reconhecida pelos poetas. É uma coisa sutil, que não pode ser definida ou descrita. Apenas está lá, e é irresistível.

No segundo ato, ela reapareceu, mas já não mais interpretava um homem. Na figura de um sonho, estava nua. Cobria-lhe o corpo apenas um véu, tão transparente, que ela podia ser toda vista. E este detalhe não a induzia a procurar exibir seus atributos de mulher, fosse nos movimentos dos quadris ou das pernas. Ela não precisava tentar parecer atraente, oferecendo-se aos olhos do público. Era inebriante sem qualquer esforço.

É difícil explicar como de repente você se tornou uma parte tão importante da minha vida. Eu mesma não entendo. Acho que é o que chamam de "amor à primeira vista".

Era a Idade Média. E na Itália, numa tarde ensolarada de verão, um camponês se apaixonou pela filha de um nobre.

Há muito tempo, num reino bem distante, vivia um rei que tinha dois filhos gêmeos.
O rei estava morrendo, e em seus últimos dias, uma preocupação inquietava a mente do velho soberano: quem seria seu sucessor no trono?

O Destino. Um moleque travesso, que tem a mania de brincar de reunir pessoas que ele mesmo uniu, ele mesmo separou — por este, por aquele motivo. Às vezes, por motivo nenhum —, pelo simples prazer de ver, depois de tanto tempo, o resultado de suas travessuras.

Era uma quinta-feira. Lembro-me de que chovia. O padre, em sua alinhada batina preta, lia um salmo, segurando a bíblia com as duas mãos, ambas trêmulas, pela idade e pela dor.

Anthony estava inconsolável. Chorava de joelhos na grama molhada. Pobre garoto.

Depois de inumada Agnes, quando todos já iam embora, eu, por alguma razão, não tinha vontade de sair dali. Continuei parada, de pé sobre os saltos que faziam doer meus calcanhares.

Anthony agora já não chorava mais. Apenas encarava as flores, a pequena lápide de mármore e a terra revolvida. Aproximei-me dele e me agachei sem dizer nada. Segurei sua mão. Ele me abraçou e chorou no meu peito, como uma criança.