Galik

Ele está desolado, devastado. Gomez sente como se alguém estivesse perfurando seu peito com uma estaca.

Primeiro ele notou os olhares, então as risadas altas e exageradas. Por fim vieram os toques, tão sutis e amedrontados no começo, mas que logo evoluíram para algo copioso e corajoso que faz com que o coração dele doa.

Gomez estuda elas. Cada movimento, sorriso, carícia, cada troca de olhares. Ele observa enquanto os olhos de sua esposa devoram outra pessoa.

Will não fala muito sobre sua aversão a sobremesas e coisas muito doces. Quando criança, todo mundo achava ele esquisito. Como adulto, sempre acham que ele está fazendo uma dieta estranha e não tem coragem de admitir. Aparentemente, o simples fato dele não gostar de doces não parece ser aceitável ou realista o bastante para as pessoas, é por isso que ele aprendeu a tolerar doces para no caso de se deparar com uma situação em que comer doces seja mais fácil do que entrar em uma discussão sobre seus gostos alimentares.

No entanto, o bolo de sorvete que Nico colocou em sua frente não era nada para se tolerar, mas sim para se apreciar.

Larissa zela pela mulher adormecida em sua cama. O corpo pequeno enrolado em uma bola, o rosto inchado de tanto chorar. Ela quer segurá-la e sem seus braços e protegê-la do resto do mundo, prometer que tudo vai ficar bem e nada nem ninguém nunca mais a vai machucar. Todavia, ela não pode fazer nada disso, então, com um aperto no peito, ela se contenta em vagarosamente roçar seus dedos pela pele macia da mulher, subindo por seus braços expostos até a face relaxada da ruiva, aproveitando para tirar uma mecha de cabelo do rosto dela.

Ela sente um nó em sua garganta, um peso em seu estômago e um desconforto em seus olhos. Larissa está usando toda a sua força para não gritar, não chorar, porém, como a figura diminuta da outra parece ainda mais pequena e frágil encolhida no centro da sua cama, torna tudo difícil.

Silenciosamente, Larissa Weems deseja poder voltar para antes, quando ainda era ignorante, para uma época em que não conhecia o ser dormente diante de seus olhos. Ela deseja poder voltar para os dias aquém-longínquos quando ela ainda não havia perdido seu coração para Laurel Gates.

“Yoko está certa. Weems é minha sugar mommy.” Wednesday responde sem notar todos os olhares em cima dela.

Nunca em milhão de anos, Wednesday teria imaginado que um velho projector, uma tela improvisada e o desejo genuíno de fazer algo gentil para outra pessoa poderia sair pela culatra dessa forma. Mas, sinceramente, considerando quem ela é e a qual família pertence, algo assim já era de se esperar.

Atordoada, Enid invade o próprio quarto sem cerimônia, mas ainda tomando cuidado para não ser notada e possivelmente morta. Wednesday, como originalmente esperado, estava em seu lugar junto a máquina de escrever, no entanto, ao invés de estar escrevendo, ela está… dançando?

Dar aulas para o fundamental não era o trabalho mais simples do muito, contudo, era muito mais fácil do que ser colega do Doutor; ele não era o pior professor do mundo nem a pior pessoa, ele era apenas ele e isso poderia ser um problema, especialmente se você fosse Clara Oswald.

Tendo a sala mais próxima a dela, Clara podia ouvir, cheirar e, desde que o Doutor abriu um buraco na parede, ver tudo que ele fazia em sala de aula.

Se alguém lhe perguntasse sobre a sua opinião sobre o Doutor, Clara diria: “Pode ser mais específico?”

“Ele é bom com as crianças”, ela diria. “Ótimo em matemática, ciências, filosofia, física e astrofísicas, e qualquer outra matéria. Ele é um cantor incrível e um excelente guitarrista”, essas são algumas das coisas boas que ela poderia dizer sobre ele.

Ela também poderia dizer que: “Ele é estupidamente barulhento, está sempre atrasado, nem sempre se pode contar com ele, extremamente bagunceiro, não se importa com a própria segurança, não consegue seguir ordens diretas e tem problemas com autoridades, e nunca parar de tocar aquela maldita guitarra ou cantar a plenos pulmões”.

A verdade é que Clara adora o Doutor, mas ainda poderia socá-lo em qualquer dia.

No final do convite, escrito com a sua letra, era possível ler: “Estou casando, mas o grande amor da minha vida é você”.