Stekky-

Apesar de tudo, eu me sentia como nunca havia sentido antes, eu me sentia vivo pela primeira vez na vida. Quem sabe apenas o risco, a adrenalina, a tentativa muito provavelmente falha de (tentar) sobreviver faça com que nos sintamos dessa forma.

O gelado suor escorria pela face da mulher, encharcava todos os lençóis de sua cama, não aguentava mais a dor, mas da mesma forma, era forte. Respirava pesadamente, o semblante encolhia-se em uma careta, até mesmo faziam-se presentes metafisicamente os berros. Sua cria não sairia de seu ventre, sabia disso.

Peguei-a pela cintura e colei nossos corpos, há séculos que não dançávamos dessa forma. Há séculos que não nos víamos.

Muitas coisas mudaram, percebo agora o quão alienado, quantas mentiras me foram contadas ao longo de toda minha vida, apenas vivi em um cárcere que logo matar-me-ia, e não deixaria sequer a memória de que um dia existi.

Mais uma vez, olho-me, e vejo tudo aquilo que não gostaria. Acho que o melhor é, realmente, tentar fechar os olhos e fingir que nada foi visto.

Queimada, como crème brûlée. Eis a forma como estás comigo, querida.

Menosprezado, tratado como baixo e olhado como se fosse da raça mais horrenda. Assim que foi grande parte de minha vida.

Mais uma vez, vejo aquilo que não alcanço, sinto aquilo que não toco e desejo aquilo que não posso. Amo-te, quero-te, mas apenas sinto essa chama ardente dentro de mim consumir-me a alma.