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Phoenix, Arizona.
point of view; Justin Bieber.
Com o rugir da noite, cheguei a minha casa com a família embalada no sono. Aninhei-me ao corpo adormecido da esposa e forcei-me a despistar todo o temor que assombrava-me. Sob o odor adocicado vindo dos fios dourados de Sasha, finalmente, consegui dormir e sentir-me a salvo.
[...]
No dia seguinte, devido ao cansaço, permaneci a cochilar quando a loira retirou-se para o trabalho. Nem tive tempo para explicar-me o atraso. No entanto, de certa forma, considerei algo bom. Tão logo, à tarde, encontrei a aluna conforme combináramos.
Após fofocar a mim a respeito do homem contratado para ocupar o cargo o qual outrora fora preenchido por mim em Phoenix School, surgiram algumas dúvidas da garota sobre células-tronco. Demonstrei-a alguns artigos científicos recentes, estudos em andamentos e teorias em referência.
Apesar de mostrar-me interessado no assunto, ora dispersava os pensamentos... ora embolava-me com as palavras. De fato, eu estava aéreo. Não obstante, a aluna com os cabelos castanhos seguia, nitidamente, o meu voo.
A garota envolvia a região borrachuda do lápis em seus lábios expressivos. Os orbes vagavam sobre a lição diante de si, ao mesmo tempo em que os meus capturavam as suas feições absortas. Assemelhavam desentender cada palavra ali disserta, no entanto expliquei-a os termos técnicos e sempre considerei-a uma pequena prodígio.
Abgail, contribuindo para a taciturnidade, volveu-se a mim no instante no qual cocei outra vez a ferida em meu cotovelo. Até esse ato monótono, não pude perceber o quanto a morena havia de estar inquieta.
— O que há, senhor Bieber? — indagou. A rechonchuda desfez-se num semblante angustiante. — Apenas eu enxergo algo preocupante nestas feridas?
Pousei as minhas íris âmbares sobre o empolado, reprimindo os meus lábios, estirando-os em minha face.
— Não serão pomadas que adiantarão no seu problema. — a jovem proferiu em um esbravejo, no entanto mantive-me silencioso, ao mesmo que a herdeira de quadris largos indicava os tubos de creme os quais venho utilizando. Umedeci os lábios. — E vejo que está ciente disto. O que o doutor lhe disse?
Esbugalhei os olhos ao dito da garota e engoli em seco ao recordar-me das palavras duras vindas do homem com jaleco branco. As rugas em sua face juntaram-se ao dar-me a notícia do pouco tempo de vida o qual eu havia de ter. Prendi a respiração e soltei-a com pesar.
— Eu estou com câncer, Abgail. — disparei, sem nenhuma preliminar. Fui ágil. De uma forma em que a palavras obtiveram resultado também em mim. Foi tão amedrontador ouvir as palavras serem ditas por mim quanto foi quando pelo doutor. — Há um tumor agravando-se em meu intestino.
Abgail reprimiu-se em seu assento, com os olhos a desviar os olhos. Fitei-a conduzir as suas mãos gorduchas aos lábios, cobrindo-os. As madeixas escuras sobre os seus ombros largos oscilaram-se ao negar-se em assimilar o fato.
— Senhor Bieber, eu não sei nem o que dizer... — as mãos abandonam a boca. — Quanto tempo somaria a sua condição, caso o senhor concorde em fazer quimioterapia? — sem ter um valor como resposta, dei com os ombros. — Acatará ao tratamento?
Não arriscar-me-ia. Não havia sentido algum estender algo que estava para findar-se. Seria um sofrimento adicionado a um momento já de grande fragilidade.
Neguei num maneio. Abgail contorceu a decepção em seu semblante.
— Este tratamento dificultaria em demasiado o sustento de minha família. — expliquei-me, mais para um desabafo. Por um instante, parecia que eu tentava convencer a mim mesmo. — Lidamos com situações complicadas, ultimamente...
Percebi o quão úmido encontrava-se o meu rosto, denunciando a minha fraqueza em conviver com a falência. Nunca fora rico, porém o estado financeiro naquele momento batia o recorde dos quais suportara. Pude notar certo tremor em minhas mãos, apertei-as em punho ao cerrar os lábios.
— Eu destruí minha família, Abgail.
Sem mais protestos, transbordei o olhar. Para minha surpresa, a menina rechonchuda ergueu-se e abraçou-me. Os fios castanhos grudavam em minha face umedecida. Os soluços involuntários abandonavam a garganta, enquanto os braços largos tentavam inutilmente acalmarem-me.
— Arruinei tudo. — balbuciei entre a respiração trôpega. — Não verei Jeremy crescer. Nunca realizarei os sonhos de Sasha. — grunhi, quase em forma de berro. — A culpa é minha, Abby. Amassei todos os planos listados para o futuro.
— Não culpe-se, senhor Bieber. — interrompeu meu desabafo. — Por favor, não lhe consultaram quanto a doença, ninguém escolhe adoecer. Nunca mais repita estas palavras, professor.
Minhas pernas bambeavam. Sentei-me brevemente sobre a mesa, como se aquele simples gesto puxasse o mal de mim. Encarei os olhos castanhos da aluna, a qual fitava-me na esperança de uma calmaria. O meu peito preenchia-se e murchava repetidamente, a pressa deu espaço à serenidade, e, assim, o pulsar desesperado do coração normaliza-se. A prodígio estava certa.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Não existia palavra para ser dita, a menos que fosse um palavrão com todo o meu repúdio por estar doente antes da meia idade.
— E-eu sei que não é o melhor momento para dizer isto, mas... — a morena rompeu a quietude — não posso mais esperar para contá-lo um sonho o qual sempre tive.
Ergui meus olhos, os quais outrora percorriam a poeira sobre o chão, para a menina parada diante de mim. Os meus lábios não preocuparam-se em abrir um sorriso, proferindo, talvez, as palavras com mera rispidez.
— Contar o quê?
— O senhor conhece a minha paixão por genética, certo? — assenti, quando a herdeira de curvas avantajadas começou a falar. — Sempre quis modificar os cromossomos e produzir células-tronco livre de mutações. Quero dizer, elas seriam muradas, contudo de forma pura. É um plano um tanto utópico, entretanto a meta é formar uma sociedade imune a doenças genéticas e autoimunes.
— Não é utópico, isto é impossível. Nem pode-se usar células-tronco assim. — repreendi a aluna com bochechas rechonchudas. — Não obstante, posso ajudar-lhe a aperfeiçoar esta ideia. A senhorita imagina uma sociedade semelhante?
— Basicamente. Durante sua aula de clonagem, confesso que inspirei-me um pouco a mais. O que o senhor acha?
— Acredito que haja grande chance de dar merda, mas conte comigo. Não tenho nada a perder. Estou dentro!
Os lábios expressivos esticaram-se num sorriso amplamente surpreso. As íris castanhas brilharam com meu aviso, junto às sobrancelhas as quais franziram.
— Mesmo? O senhor não acha-me louca? — gargalhei com a indagação. Acredito que aquele tenha sido o único momento espontâneo no meu dia.
— Sim, no entanto, se agirmos corretamente, esta será a melhor maneira de garantir um futuro digno à minha família. — retruquei.
Esperançosa, os dedos roliços capturaram a cadeira onde sentara-se instantes antes. A madeira arrastou para perto de mim, estacionando próxima aos meus pés. O quadril vasto posicionou-se ali. Às pressas, o lápis retornou a mão, e a lição volveu-se ao contrario num piscar de olhos. Preparada para escrever cada palavra que escapasse de minha boca, Abgail aparentava estar ansiosa.
— Como seria possível?
— Ao invés de células-tronco, poderíamos codificar o seu próprio DNA. Cloná-lo-íamos e, a partir da cópia, modificaríamos cada fração suscetível a mutações cancerosas. — o grafite deslizava rapidamente sobre o papel branco. A estudante anotou cada palavra a qual eu proferia, conforme explicava o plano. — Algo que poderia funcionar seria vendermos as células clonadas para as clínicas de fertilização in vitro. A gente pode descobrir qual sequência de nucleotídeos é responsável pela cor dos olhos e cabelos, para que nossos clones não sejam exatamente iguais a você.
— Iguais a mim? Desculpe-me, professor, mas eu não represento nem um terço do que o padrão de beleza da sociedade decreta.
Neguei com a cabeça, deslizando a mão áspera sobre os fios de cabelo raspados. A aluna roubou-me outra gargalhada doce.
— Criaremos o nosso.
Pude notar pontinhos de luz na imensidão castanha diante de mim. Sem dúvida alguma, aquele olhar vibrava em êxtase. Abgail não podia desmerecer-se por estar acima do peso. Suas curvas eram instigantes, bem como seus olhos com a mesma cor dos cabelos. Não havia motivos para a sociedade venerar fios claros, pesos mínimos e olhos azuis. A maior parte do mundo não encaixava-se nestes quesitos.
Curaremos a população não só de doenças físicas como também do grande mal do sistema: inferiorizar uns aos outros.
— Senhor Bieber, adorei todas as suas ideias, entretanto estou com uma dúvida. — concordei com cabeça, dando a entender que continuasse a pergunta. — Onde faremos estas experiências tão complexas?
— No meu porão há um pequeno centro de pesquisas, mas não sei suportaria um estudo deste porte... Se a Marlene não odiasse-me, nós poderíamos utilizar o laboratório do colégio.
— E se entrássemos escondidos?
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