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História Ruídos de Saturno - Fragmentado


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Hello, hello!
Pós-Rock in Rio e um ano de Illuminate, estão todos em êxtase? Eu estou. Há uma semana, Shawn pisava no palco do RIR e me deixava em prantos na platéia. Já estou com saudades, inclusive, estava com saudade de postar aqui. E hoje o hinário completa um ano de lançamento mundial. Parece que foi ontem, meu Deus!
Dei uma revisada por alto no capítulo, então desculpem os erros.
O capítulo ficou um pouco maior que os demais, mas a carga das cenas precisava de um pouco mais de detalhes, afinal, a história já está se encaminhando para o fim.
Tenham uma boa leitura!
Vejo vocês nas notas finais ♥

Capítulo 16 - Fragmentado


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Fragmentado

Eu tive um sonho. 

Este, entretanto, não era nem perto dos que costumo ter. O peso que sustenta minha imaginação me leva para Saturno nas horas em que fico inconsciente; em outras, o espaço é o meu lar, as estrelas servem como pequenos tijolos que o estruturam. Porém, indo contra este padrão, no sonho desta noite não havia estrelas, planetas, poeiras galácticas ou qualquer outro elemento que me atraia. 

Surpreendentemente, havia, apenas, Iris e eu. Era um dia ensolarado, o que tornou seus olhos mais brilhantes que o normal; conversávamos sobre banalidades, sorríamos a todo segundo, como se não existisse o desconforto pelo tempo com os lábios esticados. Então, sem que um simples aviso fosse dado, ela me beijou. Pela primeira vez, ela quem tinha tomado a iniciativa, não o contrário. E mais intenso do que qualquer sonho que já presenciei. 

A sensação do beijo ainda está em mim, agora que acordei. Ela está presa em meus lábios. A acompanhá-la, a vontade de que aquilo se torne realidade. 

Felizmente, o destino parece estar a meu favor. 

Hoje é sábado, um dos dias da semana que mais aguardo. A ocasião em que Iris chega a qualquer horário, e as horas passam como num passe de mágica, fazendo com que eu deseje voltar para o início da manhã, só para que nossos momentos juntos sejam revividos. 

Acabo tendo que me acostumar com os sentimentos despertados pela presença de Iris, contudo, não posso afirmar que gosto deles, é difícil lidar com algo do qual não entendo. Alguma hora as respostas aparecerão. Tenho certeza. 

Quando percebo uma movimentação suspeita no andar debaixo, sei que ela chegou. Ansioso, paro em frente ao espelho, após vestir uma camisa de tecido macio, a abrir mão do casual moletom por conta do calor. Meus cabelos estão na típica textura volumosa de sempre, uso os dedos para penteá-los, aproveitando o tempo para questionar a mim mesmo se Iris os prefere mais comportados ou não. 

Por que a opinião dela possui tanta importância? 

Confuso, decido descer de uma vez, para que possamos, enfim, conversar. Quero que ela me diga se pensou no beijo durante esses dias que se passaram, assim como eu; se a coragem me permitir, perguntarei. 

Faço o caminho pelos degraus com um pouco de pressa. Todavia, palavras confusas roubam a minha atenção, o que me faz parar ainda no início da escada. 

— Sendo sincera, sei aonde a senhora pretende chegar com essas insinuações. — posso reconhecer a voz de Iris. 

Seu tom ríspido me preenche de curiosidade e faz com que eu prenda a respiração. Nunca a ouvi falar daquela forma antes. 

— É simples: concordei com suas vindas à minha casa durante os finais de semana, imaginando que, em algum momento, o Shawn se cansaria disso e as coisas voltariam ao normal. — ergo uma das sobrancelhas e escorrendo mais um degrau abaixo. — Eu estava errada, pelo jeito. Muitos dias se passaram e esses encontros continuam acontecendo. O que significa que Shawn talvez possa não querer se afastar de você. 

— E eu também não quero me afastar dele... — é inevitável o sorriso em meu rosto. 

— Deve! Pensei em conversar com ele sobre essa situação, mas conclui que ele não entenderia. As coisas com Shawn são complicadas... — posso ouvi-la estalar a língua. — e é aí que está o problema, Iris: Shawn não entende muitos assuntos. Você é jovem, bonita, provavelmente está atrás de um relacionamento duradouro, se não gosta de uma vida mais "livre". Shawn não pode lhe oferecer certas coisas. — meus lábios entreabrem com o que escuto. — Ele não pode entrar num relacionamento onde precisaria de cuidados a todo momento, ou de se policiar em relação a suas ações e as conversas. 

Sem entender o porquê, minhas mãos tremulam, bem como meu corpo se aquece. 

Ao mesmo tempo em que quero interrompê-la, almejo ouvir tudo que mamãe tem a dizer. Esta deve ser a parte dolorosa do sonho bom. Não é real. Não quero acreditar que seja. 

— Sinto que Shawn está encantado com você, e isso não é bom. Ele necessita de atenção completa, isso meu marido e eu fornecemos. Você não pode arriscar iludi-lo com a idéia de que algo entre vocês dará certo, sabendo bem lá no fundo que é impossível. — minha visão se embaça sob as lágrimas que inundam os olhos. — É difícil admitir, mas meu filho não é como nós. Nunca será.

Infelizmente, este fato o priva daquilo que garotos da idade dele possuem. 

— A senhora me desculpe, mas Shawn é meu amigo, tudo o que eu quero é lhe fazer bem... — minha mãe a interrompe. 

— Então não lhe deixe criar expectativa sobre vocês. 

Neste momento, eu não consigo ouvir uma palavra a mais. Toda minha animação e vontade de descer se desfaz. Meus dedos agarram os braços e esmagam-nos, como se neste gesto minha raiva fosse transferida. Com lágrimas por todas as partes de meus olhos, volto os passos até o quarto de costas. Ao entrar, tranco a porta. 

No ínfimo instante, percebo que, em silêncio, meu coração se despedaça gradativamente. As pernas fraquejam. É praticamente impossível me manter de pé. Sem forças, sinto o chão sustentar meus joelhos. Os pulmões abraçam meu coração com mais força que o de costume, aparentam segurar os fragmentos, não obstante, o apoio é em vão. 

No quarto vazio, entre quatro paredes, o único som é minha respiração falha. Em segundos, ela cede espaço a soluços esporádicos, seguidos por murmúrios. Projetos de palavras se embrenham em minha garganta, nada sai. O desgosto me enforca. Estou preso em minhas próprias linhas invisíveis: minha incapacidade. 

Antes que eu pudesse perceber, engoli Saturno. Os anéis, que eu tanto os endeusei, envolvem meu pescoço. Sou meu próprio assassino; o culpado por tudo. 

Iris não tem culpa de ser doce, tratar-me bem ou ter se tornado uma necessidade para mim. Eu quem me deixei iludir pelo modo gentil como me trata, minha ânsia pela presença se deu justamente por como faz com que me sinta.

Não foi premeditado, ninguém quis que isso acontecesse, eu nem ao menos sei o que esse tal "isso". Inclusive, tento entendê-lo todos os dias. 

A única certeza que tenho é de que esta dúvida me corrói, machuca. Eu a odeio. Detesto carregá-la por toda parte. 

Consumido por esta fúria, cerro as mãos em punho e, antes que eu possa prever, esmurro a madeira fria e dura da porta. A dor invade os meus dedos, percorre minhas veias e alimenta brevemente o zangar de meu corpo. As lágrimas que sucedem o soco são quietas, mas certeiras; elas me lavam por dentro. Soluço, mordendo meu lábio inferior. 

— Shawn? — é a voz de Iris. Não quero vê-la. — O que foi esse barulho? Está tudo bem? 

— Vá embora! — grito de volta, sem acreditar no que estou a fazer. 

— O quê? 

Esmago ainda mais os dedos contra a palma de minha mão. 

— Vá. 

— Acho melhor você ir. — consigo escutar meu pai avisá-la. — Ele ficará bem, peço desculpas. 

Cerro meus olhos, na tentativa falha de que menos lágrimas me escapem. 

— Shawn, sou eu. Posso entrar? 

Não respondo, apenas encaro a chave na fechadura. 

— O que foi esse barulho? Você está bem? 

Engulo em seco, esforço-me, desta forma, para que a mágoa desça goela abaixo. 

— Por favor. — sussurra. 

Lenta e sorrateiramente, seguro a chave. Minha mão treme, não sei se de medo pelo que está por vir ou ainda consumida pela raiva. Giro-a, destravando o trinco. Ouço algo mexer na maçaneta e deduzo que seja sua mão. Assisto-a ser aberta e dou espaço para que a porta se escancare de vez. 

— Você está bem, meu filho? — nego. — Quer me contar o que lhe aflige? — balanço a cabeça outra vez. — Posso ficar com você então? Prometo não fazer nada. 

Assinto. 

Papai se senta no chão, próximo ao meu guarda-roupa e encosta a cabeça na quina. Ele se mostra curioso, porém, seus lábios não deixam escapar nenhuma pergunta. Apenas me espia, sem ser invasivo. 

Fecho a porta outra vez. Preencho ambos os pulmões de ar e esvazio-os, a expulsar toda tensão que há em mim. Junto ao penso do suspiro, foge uma lágrima de um de meus olhos. Capturo-a rapidamente. 

— Ela já foi? — indago-o tão baixo que preciso repetir a pergunta. 

— Acredito que sim. — suspiro de novo. — Vocês brigaram? Por que não quis vê-la? 

— Mamãe acha que sou encantado com ela... — desabafo. 

— Não ligue para o que sua mãe diz, ela só está preocupada. — reviro os olhos. — Nós estamos. 

Cruzo os braços, em expressão de tédio. Observo os objetos perfeitamente organizados sobre a escrivaninha. Com o canto dos olhos, espio o pai no chão. 

— Iris não me acha inútil. 

— Ninguém acha... — antes que ele possa terminar a frase, intrometo-me. 

— ... mamãe sim. Ela disse que eu nunca serei como os outros garotos da minha idade. 

— E é verdade. Você sempre será diferente, mas isso não é uma ofensa. Longe de ser. 

— Eu só queria ser um garoto normal, ..., Iris faz com que eu me sinta assim. — papai sorri. — Desculpas. Quero me desculpar com ela. Fui muito grosseiro, ela só queria ajudar. Estraguei tudo. Tudo. 

Inundado, agora pela tristeza, deixo-me levar na correnteza até o homem sentado no chão de meu quarto. Acomodo-me ao seu lado e assisto-o interromper os movimentos. 

— Você é ótimo, filho. Ela o adora, provavelmente entendeu que você não está em um bom dia. — analisa. 

— Espero que sim, porque, no lugar dela, eu me sentiria muito triste. — confesso, soltando uma risada curta de nervoso. — Não posso perdê-la, papai. Iris se tornou minha estrela preferida. 

— Então, não se preocupe, Shawn. Não importa o quanto a gente reclame, as estrelas nunca mudam do lugar. Até nas noites inebriadas. 

Sem que ele precise libertar uma sílaba sequer, atiro-me nos braços largos do pai e desabo-me chorar. Suas mãos grandes apóiam em minhas costas e afundo o rosto na curva de seu pescoço.

Agora, percebo que o abraço de meu pai é capaz de afrouxar os anéis de saturno que me sufocam e me trazer de volta. 

Envolto pelos braços largos do homem que contribuiu para que eu viesse ao mundo, percebo o quão gratificante é tê-lo por perto. Estou protegido. Finalmente. Como em um sonho bom.


Notas Finais


Mil vezes obrigada por lerem até aqui!
Ficamos extremamente felizes a cada favorito, comentário e elogio. A leitura de vocês nos é uma honra, muito obrigada ♥
Com amor,
Lali

► Disfarce Invisível • https://spiritfanfics.com/historia/disfarce-invisivel-9197476
▶ Conheça Amputado (escrita por Lali) • https://spiritfanfics.com/historia/amputado-7215366
▶ Conheça Hurdle (escrita por Jess) • https://spiritfanfics.com/historia/hurdle-8473781


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